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— Entendo — responde a Demcis. — Então, acho que terei de esperar para falar o assunto que eu quero. — Ele apenas continua a falar, como se não estivesse tramando nada. — Mas, enquanto isso, só quero nos conhecer. Vocês já sabem meu nome, e eu sei a de boa parte de vocês. Vamos manter uma boa relação, não de amigos, se quiserem, mas sim de… — Ele para um segundo pensando em algo. — Aliados. Acho que esse é um bom termo.

Olho para ele por um tempo antes de falar. — Por que “aliados”?

A gente vai fazer uma aliança para quê? Não temos nada contra quem se aliar.

— Oh, certo. Talvez você não saiba muito sobre isso. — Ele se inclina na mesa.

— Não sei sobre o quê?

— Simplificando, tem vários nobres tentando recrutar o pessoal daqui, eles querem recrutar pessoas para lutar na guerra política que está rolando na capital, é algo mais complexo, por isso não vou me aprofundar. Só que, além dos nobres, há também vários clãs mercenários tentando recrutar, e há dois principais clãs, os maiores dessa região. Já que eles tem bastante influência na guilda, conseguiram mandar seu pessoal para aqui dentro, muito mais do que os nobres. Assim sendo, esses clãs se dividiram em dois grandes grupos, cada um liderado pelos maiores da região, como uma grande aliança onde engloba dos menores aos maiores.

A Demcis interrompe o Dilliam. — E você é de um desses dois grandes grupos?

— Correto — ele responde rapidamente.

— E quer nos recrutar? — ela continua a perguntar.

— Novamente correto.

Demcis continua interrogando ele. — E por que a gente se uniria a você?

— Não seria exatamente se unir — Dilliam responde. — Só quero manter uma relação favorável.

… Ele é bem direto ao ponto.

— Por enquanto não vai rolar nada — Dilliam continua. — Também há grandes chances de não rolar nada até o final. Apenas quero garantir.

— Garantir o quê? — pergunta a Demcis.

Ele olha para ela, então começa a explicar seu motivo. — Pelo que percebi, vocês não estão em nenhum grande grupo, por isso, eu ia recrutar vocês para se juntar a gente, mas agora percebo que isso não vai acontecer. Agora só quero garantir que não vão para o outro grande grupo, porém acho que não vai ser necessário. — Sinto algo no seu olhar, mas não sei dizer o que é. — O líder do outro grande grupo, desse centro de treinamento, é o Maksi, e como posso dizer… ele não gosta muito de demônios. — Ele me encara por alguns segundos.

— Acho que você não vai precisar se preocupar então — diz a Demcis. — Já que, pelo que você falou, ele não vai nem querer chegar perto da gente.

— É, acho que sim — ele a responde. — Mas, como eu disse, só quero manter uma boa relação entre nós. Vocês são fortes, então é sempre bom ter contato com alguém assim. — Ele se levanta e começa a sair. — Sempre que quiserem falar comigo, estou à disposição.

Dilliam volta para o seu grupo de amigos. A nossa mesa fica em silêncio até que a Demcis fala. — Cara chato. — Ela tira seu sorriso do rosto.

— Sim — eu digo. — Bem, mas manter uma relação com ele aqui não deve ser ruim. Segundo suas palavras, vai ter várias pessoas tentando recrutar a gente, então fingir que estamos do lado dele deve impedir que os outros venham nos importunar.

— Pensando assim, é verdade — responde Demcis. — Se bem que, eles só vão importunar vocês três, provavelmente nem vão ligar para mim. — Ela solta uma risada.

Além dos nobres, agora também tem esses clãs mercenários. Já ouvi o Kynigos falando isso com alguém, mas não prestei atenção sobre, então não sei o que são esses clãs, vou precisar investigar melhor depois. Mas pensar que aquele Maksi é o líder de um grande clã aqui nesse centro de treinamento… parece que não vou ter mesmo nenhuma paz aqui. Espero que ele esqueça sobre mim e, de preferência, fingir que nem existo. Agora o Dilliam… ele é de um desses dois grandes grupos, que não é o mesmo do Maksi, ele também parece ter bastante influência aqui, já que só vejo ele acompanhado com várias pessoas o bajulando, talvez outro líder? No meio dos meus pensamentos, percebo o treinador Kayatos andando até o meio do refeitório.

Ela para lá e começa a discursar. — Espero que tenham descansado, porque vamos para o próximo treino. Formem grupos de quatro pessoas, as mesmas pessoas que estão no seu quarto. — Ele se cala por alguns instantes para observar os alunos. Eu, a Demcis, a Hecatis e o Temmos nos olhamos. — Com seus grupos formados, vão para lá! — O treinador aponta para o outro lado do campo de terra gigantesco, perto de onde está a corrida de obstáculos. O treinador caminha até lá, os alunos se levantam da mesa e seguem ele, o nosso grupo também faz o mesmo.

Chegando lá, os alunos ficam espalhados esperando a ordem do Kayatos. — Estão vendo aqueles troncos alí. — Viro meu olhar e vejo vários empilhados, cada com um tamanho enorme. — Quero que cada grupo leve eles ao redor do campo até eu mandar parar. — Ele olha para a direção do nosso grupo. — E claro, não é permitido magia.

O treinador chama o primeiro grupo para ir, eles param na frente da pilha e tentam arrastar um com esforço, enquanto eles fazem isso, a pilha desaba e rola pelo chão. Percebo o olhar de constrangimento do grupo. Eles continuam a tirar o tronco, até que conseguem levantar ele, o colocando no ombro de cada um, então o Kayatos manda eles irem. O grupo anda com dificuldade devido ao grande peso nas costas, mas não é só por isso, eles estão completamente dessincronizados.

O treinador chama outros grupos, e eles têm as mesmas dificuldades. Ele chama outro e outro, até que chega a nossa vez. Nós quatros caminhamos lentamente até os troncos. Parado na frente deles, como estão colados um ao lado do outro, arrasto um para fora. Olho para o resto do grupo e nos organizamos. Eu fico na parte da frente com a Demcis, e na parte de trás, fica o Temmos e a maga. Todos nos abaixamos e seguramos no tronco. A Demcis começa a contar até três. Quando ela termina de contar, uso minha força para tirar o tronco do chão, logo após, coloco minha mão na parte de baixo dele e o levanto até meu ombro, os três também fazem o mesmo.

Com a cabeça em uma posição desconfortável, começo a andar, cada passo é difícil de fazer, porque além de ter esse peso nas costas, também é preciso o equilibrar, e isso não é só eu que tenho que fazer, também é os outros três. Caminho um passo de cada vez, bem devagar, tentando manter um ritmo baixo.

Olho para frente e vejo um aluno tropeçando, fazendo cair o tronco no chão. Eles têm dificuldades para levantar novamente o tronco, assim o nosso grupo ultrapassa eles. A gente parece ter uma ótima sincronização, não perdemos o equilíbrio até agora. Como é um campo de terra, há vários buracos e deformações no chão, fazendo ser ainda bem mais difícil não deixar cair no chão. Caminhamos lentamente até chegar nas árvores do outro lado do campo, por isso, bem devagar, começamos a nos virar, usando pequenos passos. Assim que viramos em 90°, continuamos a andar com a visão das árvores na nossa lateral.

Demos uma volta inteira. Meu ombro dói e minha perna está pesada com apenas uma volta. Assim que íamos fazer nossa segunda volta, alguém do nosso grupo tropeça, rapidamente uso minha mão para segurar o tronco e fincar minha perna no chão. Parece que foi o Temmos que tropeçou, mas ele conseguiu voltar em poucos instantes, por isso o tronco não caiu.

No meio da volta, ultrapassamos vários participantes ofegantes e cansados, mas também há grupos que ainda não se cansaram, inclusive o do Dilliam e Maksi.

Meu coração bate acelerado, consigo ouvir ele no meu ouvido, além da minha respiração pesada. A Demcis não está tão ruim igual a mim, mas consigo perceber que ela também se cansou. Acho que o mais cansado é o Temmos, já que ouço o som da sua respiração até aqui, e, impressionantemente, a menos cansada é a Hecatis. Não ouço nada vindo da sua direção, nem sinto como se o tronco estivesse pesado para ela. Será que isso é magia? Mas o treinador proibiu isso, ele já teria percebido algo assim. Bem, ela simplesmente pode ser forte.

Demos outra volta com muito esforço, minha situação nem piorou ou melhorou, apenas continuei ofegante e com o coração acelerado. Nosso ritmo diminui, porém, continuamos em uma velocidade maior que a maioria dos alunos.

Continuei a dar vários passos, enquanto vejo como estão os participantes. Tem vários no chão, outros descansando em pé com o tronco nos ombros e alguns andando normalmente, porém assim que chegamos a uma parte desnivelada, o Temmos tropeça e derruba o tronco. Instintivamente, pulo para o lado tentando não deixar ele cair no meu pé ou machucar minha coluna. Sem esse grande peso nas minhas costas, sinto como se estivesse muito mais leve e com meu ombro nas nuvens. Aproveito este momento para respirar e acalmar meu ritmo cardíaco. Me viro para olhar o Temmos, então vejo seu rosto e corpo completamente suado, sua caixa torácica subindo e descendo rapidamente, além do seu rosto vermelho e exausto. Olho para a maga, porém só consigo perceber sua respiração pelo movimento do manto que, por acaso, está bem lento para um esforço desse nível. A Demcis também parece estar tranquila se comparado aos outros participantes, ela deve ter uma ótima resistência..

Ao mesmo tempo em que recupero meu fôlego, sinto um olhar penetrante em mim, me viro para trás e vejo o treinador nos olhando fixamente. — Acho melhor voltarmos — digo para o grupo, ao me mover de volta para reerguer o este grande peso. Eu e a Demcis seguramos ele em um lado, a Hecatis e o Temmos do outro. Começo a contar até três e levantamos ele até nossa cintura, olho de novo para eles e conto novamente até três, quando termino a contagem, todos nós se agachamos rapidamente e levantamos o tronco para cima de nossas cabeças. Movo ele com foco até meu ombro e recomeçamos a caminhada.

Demos mais uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze voltas no campo. Assim que ouço a voz do treinador mandando parar, imediatamente solto o tronco, dessa vez, não aproveito a sensação de leveza, mas sim, caio no chão segurando meu ombro. Consigo ouvir ao meu redor vários gemidos de dor e suspiros de alívio. Meu coração parece que vai explodir. E aliás, não é só um ombro que dói, eu e a Demcis trocamos de lugar várias vezes, e, por isso, ambos doem igualmente. Não consigo nem levantar mais meu braço.

Deitado no chão, me viro para olhar os outros. Todos, sem exceção, estão ofegantes ou segurando seus ombros, até a maga. O Temmos parece que vai ter um infarto, ele segura seu peito deitado no chão e gemidos saem da sua boca, seus braços tremem, na verdade, todo o seu corpo treme de fraqueza.

Depois de minutos deitado, me levanto. Ainda há várias pessoas espalhadas pelo chão, parece até corpos jogados. Ando até a maga que parece já ter se recuperado e fico ao seu lado em silêncio. Observo as pessoas em dor e noto quem se levanta. — Eu vou matar esse treinador — reclama a Demcis, que acaba de chegar.

— Cuidado — alerto ela. — Ele pode te ouvir.

— E? — me responde com um tom de raiva.

— Se tiver outro treino, ele pode pegar pesado com você por causa disso.

— Tsk! — A garota estala a língua e reclama mal humorada ao meu lado.

Com o tempo, vários alunos se levantam e o treinador aparece para mandar a gente descansar no refeitório. Já deve ser a hora de comer.

Olá, eu sou o Ender!

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