O Dilliam olha para mim, sorrindo. — Quatro contra um? Isso é covardia — fala ele. Alguns capangas aparecem atrás dele. — Se forem brigar, briguem pelas regras certas, não é? — pergunta para o Maksi.
O Maksi estala a língua e sai da multidão, os seus vários subordinados, escondidos prontos para me atacar, o seguem. O garoto loiro que me encara fica confuso, provavelmente pelo seu chefe sair e deixar ele. Esse garoto se entreolha com o seu grupo. O Dilliam se volta para nós. — Briguem um contra um. Sabe, eu não gosto muito de oprimir os outros, vai que essa pessoa fica forte, mas ainda continua ressentida comigo. Olha a oportunidade que eu perderia. Então, lhes peço humildemente, não façam isso com meu querido Morrigan. — Ele volta para a multidão e observa de longe. — Aliás, ele não é um demônio.
Olho para o loiro, que agora está perdido sem saber o que fazer, dou um passo para trás e fico em posição de luta. Se eu conseguir o vencer de um jeito que as outras pessoas não me incomodem mais, talvez terei paz por um tempo. O loiro me olha preparado para lutar e fica em posição, seu olhar muda de perdido para ódio. — Seu demônio de merda! — Ele avança até mim.
Fico parado esperando ele me bater, então quando ele me ataca, ignoro seu golpe vindo para minhas costelas e soco seu rosto, mas ele consegue se esquivar no último momento, dando um pulo para o lado. Aproveito que ele ainda está tentando se posicionar e viro meu corpo dando um chute alto. Com sorte ele se esquiva novamente, porém senti meu pé atingir algo e, quando olho para ele, vejo seu nariz escorrendo sangue. Parece que quebrei.
O loiro fica com ainda mais raiva, não vem me atacar. Não é tão impulsiva como pensei, então ele deve ter vindo me provocar por ordem do Maksi. Bem, isso agora parece óbvio.
Surpreendendo ele, o ataco, finjo que farei um chute alto e uso uma rasteira nele. O garoto cai de costas no chão.
Ouço passos rápidos atrás de mim e pulo para o lado. Uma das pessoas dá uma voadora no ar e quase vai ao chão. Boto as minhas mãos no bolso do casaco, mas logo as tiro quando um soco vem ao lado do meu rosto, porque uso meu braço para desviar o soco. Esse garoto que acabou de me socar, recua e mantém uma distância em sua base de luta. Outro garoto aparece e fica na outra direção, me cercando. O loiro, que se levantou, e o da voadora, ficam cada um em uma direção diferente.
O Dilliam não disse que ia impedir eles de me atacarem em grupo? Olho para trás e vejo ele me observando em uma completa paz, como se tivesse vendo um show.
Os quatro correm para me atacar em simultâneo. Apenas corro para o que está na minha frente, que fica sem reação quando vou até ele. Ele tenta recuar, mas pulo para frente, finco meus pés no chão, faço a posição do golpe e soco com tudo sua barriga, fazendo um “oss!”, inconscientemente. Minha mão entra fundo no abdômen dele, que o faz se espremer. Quando tiro minha mão de seu abdômen, ele cai no chão e geme de dor.
Olho para trás e vejo um soco vindo no meu rosto, não tendo tempo de me esquivar, tento evitar que o punho atinja uma parte importante e seguro ele com a cabeça.
Ziiing…
Meu ouvido começa a zumbir e minha visão fica preta por uns instantes, porém não paro só com isso, chuto para frente, adivinhando a posição do meu adversário. Sinto que atingi algo. Perco o equilíbrio com esse chuto e me ajoelho no chão. Quase que imediatamente, a minha visão volta, um pouco embaçada, e vejo um vulto vindo até mim. Mesmo com tudo ao redor girando e com vontade de vomitar, faço minha base de luta e espero ele vir, mas assim que ia atacar ele, sinto uma dor nas minhas costelas, que me faz tropeçar e cair no chão. Eu consigo rolar e voltar a ficar em pé, então vejo que um dos integrantes do grupo me atacou por trás. Preciso manter os três à vista.
Eles vêm correndo até mim ao mesmo tempo, e eu espero eles. Relaxo parte do meu corpo, quando eles chegam a uma distância de me atacar, não faço nada e continuo parado. Assim que um me ataca, movo apenas minha cabeça, dou um passo para frente e meto uma joelhada nele, só que não paro só com uma, seguro entre seu braço e pescoço, dando várias joelhadas em um curto espaço de tempo. Antes que algum dos dois me ataque, solto ele e recuo para longe. Ambos que sobraram correm até mim, dessa vez, eles tentam sincronizar seus ataques, não indo atacar um de cada vez, sendo algo bastante burro que eles estavam fazendo, pois, têm superioridade numérica.
Eles ficam em ambos meus lados, vindo até mim em uma sincronização absurda, é como se eles fossem gêmeos que compartilham seus pensamentos, igual à telepatia. Eles chegam perto e me atacam, ao mesmo tempo, com chutes, um baixo e outro alto, então foco em defender um e esquivar do outro, porque evitar os dois chutes seria impossível para mim. Sinto uma dor tremenda na minha canela quando defendo o chute de um, olho para o rosto desse que me chutou. Ele faz uma careta de dor e o me impressiono por ele ter uma tatuagem na bochecha.
Ainda com a perna na minha canela, subo meu pé e tento pisar na sua perna, mas ele tira antes que o atinja, por isso acabo batendo no chão, o que levanta poeira. Antes que eu possa preparar meu próximo golpe, vejo algo vindo na minha visão periférica e me esquivo. Um punho passa por frente do meu rosto, então volto meu corpo para o contra-atacar, porém, um chute atinge as minhas costas e pulo para frente, tentando não cair no chão.
Sem tempo para me equilibrar, defendo com a perna um chute baixo e me esquivo de um soco. Dou um passo na direção naquele que me chutou e o golpeio na barriga. O de tatuagem aproveita essa abertura que fiz e tenta me atacar, mas me defendo com os braços. Dessa vez, o ataque vem de outra direção e o bloqueio com o outro braço. Assim que tiro minha atenção dele, o de tatuagem me ataca e desvio o ataque dele usando o mesmo braço. Quando me defendo de um, o outro aproveita a abertura e me ataca.
No momento em que desvio um ataque do tatuado, ignoro o golpe vindo nas minhas costas e avanço nele. Ele recua e eu o sigo. Ele para e me soca. Esquivo do seu golpe e me agacho, pego na sua cintura e o empurro em direção ao pilar do refeitório. Quando bato suas costas lá, sinto ele cuspir saliva instintivamente em mim, aproveito isso, rastejo no seu corpo e o pego no pescoço, dando um mata-leão. No momento em que seu parceiro chega, uso o corpo do tatuado de escudo para ele não me atacar. Ficamos assim até o Dilliam aparecer. — Eu não disse para lutarem um contra um?! Por que vocês o atacaram tudo ao mesmo tempo? — Ele faz um sinal de mão e seus capangas pegam o corpo dos desmaiados e seguram o parceiro do tatuado. Encaro o Dilliam e ele parece ignorar meu olhar.
Se não ia me ajudar, para que esse espetáculo todo? Empurro o tatuado, que está com a cabeça azul, para os capangas. O Dilliam anda até mim e fala comigo. — Impressionante. Muito impressionantemente! Não sabia que você ia conseguir aguentar quatro ao mesmo tempo. Como você aprendeu a lutar assim? — Sem me deixar falar, ele continua. — Desculpa por não ter ido te ajudar antes, era que eu estava curioso como seria o desfecho. — Ele estende a mão. — Amigos?
Apenas saio da multidão e ando até a cabana. Quando entro no quarto, tiro a camisa e vejo vários hematomas espalhados pelo meu corpo. Isso vai doer muito amanhã. Ouço o barulho da porta abrindo e a Demcis, o Temmos e a Hecatis aparecem.
— Isso foi foda demais! — grita a menina ao passar pela porta.
Visto minha camisa e sento na cama de baixo. — Pensei que você só tinha um físico forte, mas parece que também sabe lutar — fala o Temmos.
— Né!
— Bem, eu não queria lutar agora — eu falo.
A garota me diz: — Parece que você tem um ímã para atrair confusão. Já tretou quantas vezes nesses poucos dias? — Ela começa a rir.
— Três? — pergunta o Temmos.
— Provavelmente — responde a garota. — E olha que desses dois foram no primeiro dia.
— Mas eu não fiz nada para eles… — Me deito na cama e olho para a parte de baixo da beliche.
A Hecatis, que está apoiada na parede ao lado da porta, fala: — Eles não precisam de um motivo para fazer isso.
Ainda deitado, viro a minha cabeça para a olhar. — Verdade.
— Bora apostar quando será a próxima briga do Morrigan? — A Demcis pula e se senta na sua cama.
— Acho que ainda vai ser essa semana. — O Temmos se senta ao meu lado.
— Também acho isso — fala a garota. — O que você acha, Morrigan?
— Vocês sabem que posso apenas arranjar briga com alguém e ganhar a aposta, né?
— Ah… é mesmo. Mas você não faria isso, faria? — Ela se inclina na cama, quase caindo dela.
— Quem sabe? Aliás. — Me viro para o Temmos. — Você não tem treino?
— Oh… — Ele se levanta da cama e sai correndo do quarto.
— Também vou indo. — A Demcis desce da cama e vai treinar.
A Hecatis anda até a sua cama, se senta nela e pega um livro para ler. Me levanto da cama do Temmos e subo na minha. Um silêncio toma conta do quarto.
— Você não vai fazer nenhum treino daqui, não é? — pergunto para a maga.
— Não envolvendo força. — Ela não tira os olhos do livro.
Paro por uns instantes e falo: — Então… Por que você está aqui?
— Quem sabe…
Me deito na cama e olho para o teto. — É por isso que você usa capuz, né?
— Com certeza.