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O teto de madeira da cabana, olhar para algo assim dá uma sensação diferente. A madeira que é feita a cabana é escura, consequentemente, a do teto também. Tem algumas teias de aranhas no canto, um pequeno lampião pendurado no meio dele, além de ser um pouco inclinado. É um teto que não há nada de mais nele, mas é hipnotizante ficar o olhando.

— Você gosta de aranhas?

— O quê?

Ouço a voz confusa maga.

— Tipo assim, tem pessoas que têm medo de aranhas, mas elas são tão incríveis. Elas trabalham para fazer uma teia em um lugar estratégico e não precisar ir caçar no futuro, como também, suas teias são feitas de um jeito tão simétrico, que chega a ser bonito. Elas não podem ser fofas, mas não fazem ninguém mal a ninguém. Bem, algumas são venenosas e matam pessoas, mas isso não importa.

— Eu acho que importa… — ela sussurra para si mesma.

— Eu acho legal que elas nos ajudam indiretamente. Comendo insetos. Um ser minúsculo, que, literalmente, podem—

— O que que você está falando? — A maga me interrompe no meio do meu monólogo.

— Bateram na minha cabeça e estou um pouco tonto. Talvez seja isso.

— Acho melhor você descansar hoje.

— Também acho. — Continuo a olhar para o teto.

Paro de falar por uns instantes e volto ao meu monólogo: — Literalmente, podemos matar eles com um dedo. Imagina a quantidade de insetos que estariam andando por aí se um dia as aranhas sumissem… A retirada de um item de um sistema pode causar consequências inimagináv—

— Onde você quer chegar?

— Faço nem ideia, só falo o que aparece na minha mente. Normalmente eu não falaria isso… Aliás. — Rolo pela cama até ficar no canto dela e conseguir olhar a Hecatis. — Existe alguma magia para ressuscitar pessoas?

Ela parece pensar em algo para me responder. — Não, pelo conhecimento que temos, isso é impossível.

— Uma pena. — Rolo de volta para o centro da cama e olho o teto, mas então volto para a borda, rolando. — E para voltar no tempo?

— Também é impossível.

— Uma pena. — Volto a olhar para o teto, até que tenho outra ideia e rolo. — E poder conversar com pessoas mortas?

— Impossível.

— Uma pena…

— Mais alguma pergunta?

— Consegue usar alguma magia de cura em mim? Os hematomas começaram a doer.

— Não tenho essa magia ainda.

Solto um suspiro e me penduro na cama, ficando de cabeça para baixo, assim consigo enxergar a Hecatis completamente. Ela levanta o rosto do livro e me encara, mesmo não conseguindo ver seu rosto por causa do capuz.

— Esse capuz é mesmo útil? Tem alguma magia nele?

— Não é assim que a magia funciona… e sim, esse capuz é útil. — Ela descansa o livro nas suas pernas. — Ele me evita vários problemas, como alguém esbarrando em mim de propósito para arranjar confusão. Ser um demônio chama atenção. Além de que isso é bem mais prático, fico na minha sem ninguém me incomodar ou me xingando, então economizo bastante tempo para estudar.

— Impressionante. Acho que preciso de um capuz também… — penso alto.

— Você só precisa de algo que cubra seus olhos e mais nada.

— É mesmo, você está certa.

Meu ouvido começa a zumbir e minha visão a latejar de tanto ficar de cabeça para baixo, então me ergo novamente, me sentando de pernas cruzadas no meio da cama.

— Você consegue soltar uma bola de fogo? — eu pergunto.

— Eu não falei outro dia que não consigo?

— Não me lembro.

Ela solta um suspiro.

— E bola de água?

— Não.

— Bola de terra?

— Não.

— Bola de ar?

— Não.

— Bola de fogo?

— Quê…?

— Ah, já perguntei isso.

— Você está bem? Bebeu alguma coisa estranha? — ela me pergunta.

— Acho que não.

— Talvez seja melhor você dormir um pouco. — fala a maga.

— Acho que sim. — Me deito na cama e volto a olhar para o teto. — Teto feio. — Desvio minha visão dele, porque é chato de o olhar.

Cabeça está doendo…

— Oh, maga. — Rolo para o canto da cama.

— Oi?

— Qual livro você está lendo?

— História da Magia.

— É de quê?

— Magia.

— E…?

— História.

— Entendo.

Rolo para o meio da cama. Estou estranho, melhor descansar. Olho uma última vez para o teto e fecho meus olhos. Tudo fica escuro, ouço a mão da maga mudando de folha o seu livro e os alunos treinando fora da cabana. Só não se mexer.

Quando abro os olhos, depois de um tempo suficiente, a luminosidade me ataca. A dor de cabeça piorou. Me sento na cama com os olhos fechados.

— Conseguiu descansar? — Ouço a voz da Hecatis.

— Acho que sim.

Abro meus olhos e vejo ela na mesma posição lendo o livro.

— Voltou ao normal?

Paro uns segundos tentando entender o que ela disse e me dou conta do que falei antes. — Desculpa por isso.

— Não se preocupe. — Ela vira uma página.

Suspiro e volto a deitar. Aquela pancada que tomei na cabeça me deixou bêbado, sem nem ter chegado perto de uma bebida.

— “Você gosta de aranhas?” — Ela começa a rir.

Me encolho na cama por causa do comentário dela.

— Te aconselho a não beber nada no futuro — a maga fala.

— Vou seguir seu conselho…

— Liga não. Vou contar para ninguém.

— Não me importo com isso — eu falo.

Abro meus braços e olho para o teto. As aranhas ainda estão lá fazendo suas teias. — Tem uma coisa que quero perguntar para você.

— Mais do que você perguntou antes? Pode falar.

Continuo a olhar para o teto. — Tem realmente nenhuma maneira de aquelas magia que falei existirem?

— As de ressuscitar e falar com os mortos?

— Sim.

— Não, não tem. Como falei antes, a magia não é algo muito fora do comum, na verdade, tudo nela faz sentido. No máximo, bem no máximo mesmo, seria você reimplantar as exatas memórias de uma pessoa com um cérebro que tenha as mesmas funções de um cérebro humano. E nenhum dos dois existem agora, nem o cérebro, nem a magia de reimplantar. Infelizmente, não há nenhuma maneira de trazer alguém de volta a vida. Muito menos, conversar com os mortos, isso talvez até seja mais difícil que ressuscitar alguém.

— Nenhuma maneira, né…?

— Sim, a não ser, que você mesmo crie uma magia de algo assim. — Ela fala isso brincando, mas essa ideia fica na minha cabeça.

— Como se cria uma magia?

— Te aconselho a desistir dessa idéia de magia de ressuscitação. Vários já tentaram isso e não conseguiram. Mas se você realmente quer fazer, você vai precisar de muitos recursos. — Em todo momento, ela fala com uma tranquilidade, como se soubesse tudo sobre magia de cor. — Pesquisar incessantemente, estudar ainda mais, saber como se escreve uma magia, vários assistentes, milhares de coisas estão envolvidas na criação de uma magia, que não posso nem explicar. Simplificando, você tem que ir a um lugar que te ajude com isso.

— A Universidade Mágica?

— Sim, esse é um lugar para isso.

Ir para essa universidade já está concretizada nos meus planos. Tenho que ir para lá de qualquer jeito. Só preciso saber como e quando. Preciso arranjar dinheiro para a viagem, mas não pedirei para o Kayatos, também preciso saber onde fica a universidade, o que é mais importante. Vou ter que concluir esse centro de treinamento e depois trabalhar para a guilda por um tempo, assim conseguirei o dinheiro.

— Tem alguma restrição de entrada para a Universidade Mágica?

— Não, qualquer um pode entrar. Mas, se quiser ser um aluno, precisa pagar a matrícula. Claro, se você já tiver despertado seu núcleo de mana, a matrícula é de graça.

Isso já me poupa alguns problemas, como não poder entrar por não ser um mago ou alguém influente.

— Quanto é a matrícula?

— Várias moedas de prata.

— Várias…?

— Sim, várias. Lá tem o conhecimento de toda a raça humana e demoníaca, pagar tanto para ter tal conhecimento é o de menos.

Se realmente for várias moedas de prata, vou ter que passar muito tempo na guilda fazendo missões, já que uma moeda de prata sustenta uma família por algumas semanas. Um jeito de agilizar ganhar a quantia necessária, seria conseguir chegar em primeiro no final do centro de treinamento, onde o Kayatos falou que a guilda daria recompensas para o vencedor. Se isso for algo como uma carta de recomendação da própria guilda, ou dinheiro, a quantidade de tempo necessário seria reduzida, inclusive se for uma recomendação, porque poderei escolher missões melhores e exclusivas.

Ir para a Universidade Mágica já está certo. O Kayatos até me aconselhou a ir antes, então eu ia, porém agora tenho outro motivo para ir. Do jeito que a maga falou, vou passar um bom tempo lá até conseguir criar uma magia. Bem, não é algo que me importo.

— Você quer ir para lá, né? — fala a Hecatis.

— Sim.

— Então parece que vamos nos encontrar no futuro.

— Parece mesmo — eu falo. — Provavelmente, serei seu aluno.

— Você ser meu aluno seria bem estranho… colegas de classe seria melhor, ou, sua veterana de escola.

— Acho bem mais provável ser minha professora, do que colega de classe… Seria estranho uma maga com experiência estudando na mesma classe que um novato.

— Faz sentido. Então serei sua veterana.

— Provavelmente. — Olho para o teto com a cabeça latejando.

Passo o dia todo deitado e com a cabeça doendo. Como não quis incomodar mais a Hecatis, não conversamos. Depois de um tempo, o Temmos e a Demcis chegam, perguntam como eu estou e voltam a ir treinar. Apenas encaro o teto de madeira até anoitecer e todos irem dormir.

No meio da madrugada, desço da minha cama, passo pelo grande corredor escuro e silencioso, então saio da cabana, encarando uma escuridão, caminho pelo campo. Escuto só meus passos e as árvores. Olho para cima e vejo o céu nublado, o vento frio ataca minha pele. Nenhuma novidade, esse é o cenário desde que cheguei aqui, as mesmas árvores, o mesmo frio, o mesmo céu cinza, tudo se repetindo como uma rotina, sem nada de especial acontecendo.

Ando até o refeitório e, em vez de me sentar nas cadeiras, me deito na mesa. Estico meus braços para o lado e olho para o teto aberto, vários troncos colocados lado a lado com um grande espaço entre eles, se chover aqui, todo refeitório se molha. Não tem parede, para proteger do frio, e nem telhado, para proteger da chuva. Bem, isso não é tão diferente do que dormir em uma floresta. Fico deitado esperando o sol nascer.

Quando vejo o céu sair de um azul escuro para um mais claro, me sento na beira da mesa, com os pés balançando, e olho para horizonte, onde o sol irá nascer. Dessa vez, não tem os cantos de pássaros no fundo, apenas o silêncio. Vejo uma luz laranja subir ao fundo, mas é uma luz fraca. Espero mais um pouco para ver a alvorada, porém a situação não muda, só tem uma pequena luz laranja no horizonte. As nuvens cinzas cobrem todo o sol.

Desço da mesa e volto até a cabana, abro a porta do quarto devagar, ando por ele em silêncio, observo os três dormindo e subo na cama, me sento com as pernas cruzadas, esperando o momento de ir treinar.

Olá, eu sou o Ender!

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