Sinto o sol bater no meu corpo, então abro os olhos. A Demcis ainda está deitada na minha coxa. Está dormente, não consigo sentir meu pé, que cabeça pesada. Olho para trás e vejo o Temmos em pé se alongando com o seu bastão. Ele acena com a cabeça para mim e eu retribuo. O Dilliam ainda dorme.
Ouço um bocejo e vejo a Demcis abrindo os olhos. Ele se senta e finalmente consigo sentir a circulação de sangue na minha perna, tento me levantar, mas sinto um cãibra na coxa e desisto. Ela me encara com os olhos com sono.
— Que foi? — ela me pergunta.
— Não sinto meus pés e minha calça está molhada de baba.
— Ah.. desculpa…
Depois que a cãibra passa, me levanto e alongo um pouco as pernas e as costas. Ficar na posição de lótus a noite toda com um peso nas pernas não é muito confortável. Depois de alguns minutos o Dilliam acorda, e entramos para dentro da floresta.
— Vamos para onde? — a Demcis pergunta.
— Eu vou beber água — eu respondo. — Mas, passarei no acampamento no caminho, para ver quantas pessoas perdemos ontem.
— Certo.
Após andar por um tempo, chegamos no acampamento.
— Tem quase nem metade de antes — a Demcis comenta.
Perdemos aproximadamente, pelo que posso ver, ⅘ de alunos só nesse. Vejo o braço direito do Dilliam andar até nós. Ele é o líder que designamos para aqui. Nos cumprimentamos, então começamos a conversar sobre o que aconteceu. Ele nos fala que fizeram um ataque surpresa, mas eram poucos, só que nunca paravam de vir. Por que eles usaram essa estratégia? Também queriam adiar a batalha final? Ele nos conta mais alguns detalhes até que voltamos para dentro da floresta.
— Estou com fome… — resmunga a Demcis.
Quando vimos o rio, saímos das árvores com cuidado e fomos beber água. Faço uma concha com a mão e bebo a água gelada. Depois de beber, ficamos na borda das árvores em frente ao rio.
— O que você fez ontem? — o Temmos me pergunta.
— Também estou curioso — fala o Dilliam sorrindo.
— Bem… como eu não podia mandar um acampamento inteiro lutar, já que teria outros problemas, tive que pensar em uma solução, só que não acabei achando uma boa, mas ainda tinha uma ideia, que eu não queria usar, porque só funcionaria dependo do que o Maksi fizer. Não dá para mandar um acampamento inteiro, mas dá para mandar parte dele separado. Isso não enfraqueceria o acampamento que se separou e também podia enviar os reforços. Então, mandei separar o acampamento 2 pela metade para os reforços, e a outra metade se juntaria ao acampamento 3.
Começo a desenhar na terra.
— Com o acampamento 3 mesclado, mandei eles darem uma volta na floresta e irem para o lugar do acampamento 1 esperaram, pois eu não queria um confronto total e adiantar a batalha, já que estragaria meus planos A outra metade do 2, 1 usada para os reforços, mandei se esconderem e esperarem o momento certo. Depois falei para o 1, o que estava sendo atacado, recuar para onde o 2 estava, então fizemos uma emboscada. E para evitar um confronto total, mandei eles saírem quando derrotarem certos números.
— Agora faz sentido… — o Temmos fala consigo mesmo.
— O problema era que se o Maksi realmente quisesse um confronto total, ele poderia fazer a hora que quisesse. Felizmente, ou infelizmente, pois perdemos vários alunos do jeito que aconteceu, ele não quis.
— Você não conseguiu pensar em outro melhor? — pergunta a Demcis.
— É minha primeira vez tomando a liderança em algo assim… então, não. Não consegui achar as ideias e, principalmente, tentar entender o que o Maksi estava pensando. O jeito que ele fez arruinou todas as outras medidas de preparação que fiz.
— Certo.
Levantamos do chão e fomos em direção ao QG. Daqui a pouco tudo recomeça.
— Está cansado, Temmos? — eu pergunto.
— Não, estou bem.
Depois de tudo que ele fez ontem, sozinho ainda por cima, é normal ele estar fraco hoje, principalmente, porque não comemos nada. Essa questão da comida ainda vai haver problemas, depois de terminar a competição, e todos estarem cansados, como não vai ter mais refeições grátis feitas pelos professores, a maioria vai passar fome. Só aqueles que ganharem a competição vão ter comida, o restante vai ter que caçar.
— Dilliam — chamo ele.
— Oi? — Ele se vira para mim, sorrindo apenas com os lábios.
— Posso perguntar algo?
— À vontade.
— Você é amigo do Maksi, certo?
— Sim.
— Como é ele? Personalidade, força, inteligência.
Dilliam olha para cima pensando com a mão no queixo enquanto anda pela trilha natural entre as grandes raízes das árvores.
— Conheço ele desde a infância, nossos pais… como posso dizer? São parceiros…? Ambos são os líderes de dois clãs mercenários, que você já deve saber. E por causa disso, brincávamos juntos o tempo todo. Ele sempre foi competitivo e teimoso, mesmo criança. Odiava perder, quando perdia para mim, chorava e ficava com raiva a semana inteira e tentava ganhar de mim em outras coisas o tempo inteiro.
Os olhos do Dilliam brilham quando fala de suas memórias antigas, até seu sorriso agora parece ser verdadeiro.
— Mas, aos poucos, de um jeito que eu nem percebi, ele foi mudando até chegar hoje Se antes era teimoso, agora ele superou isso várias vezes.
— E sua força e outros quesitos? — eu pergunto.
— Ele me vencia em brincadeiras de força e velocidade, e eu em brincadeiras de inteligência, ou em fazer amigos. Naquela época, ele só tinha eu e mais alguns poucos amigos. Antes ele me vencia na maioria das vezes, porém, às vezes eu ganhava algumas. Agora, sinceramente, nem penso o vencer em força. O Maksi está em um nível que não posso superar mais. Se não fosse sua técnica, que é bem ruim, e seus pais, ele nem precisaria estar aqui nesse CT.
Isso deixa as coisas um pouco complicadas para nós…
— Ele também é inteligente, mas não é um dos seus pontos fortes. Acho que é isso que você queria saber, não?
— Sim, obrigado.
Se o Maksi tiver realmente essa força que o Dilliam descreveu, eu não conseguiria vencer. Olho para trás e vejo o Temmos encarando o vazio com o seu bastão nas mãos. Acho que vou ter que contar com ele.
Quando chegamos no QG, ficamos em silêncio. A próxima luta que vai rolar é a final. O Maksi e nós perdemos vários alunos, e não precisamos mais de joguinho, é só ir lutar de frente. Tenho uma ideia de onde estão e, provavelmente, devem estar me esperando lá. A luta final que decidirá qual grande grupo vai ganhar, ou melhor dizendo, qual líder vai ficar com todos os totens.
— Bora se aquecer um pouco. — O corpo do Temmos cobre o sol, já que estou deitado no chão, e encaro seu rosto.
Me levanto e limpo a grama da minha roupa. O Temmos vai até a Demcis e faz o mesmo convite, ela solta um suspiro e o segue. Ela está treinando conosco desde do dia que mergulhamos no rio juntos.
Ficamos nós três lado a lado e imitamos os golpes que o Temmos faz. É como uma dança ou kung-fu. Depois de alguns minutos fazendo isso sem descansar, nossos suores pingam no chão até que o Temmos para.
— Não vamos nos esforçar até o limite agora… — falo ofegante. — Ficamos sem comer por um dia e várias horas, e logo precisaremos lutar de novo. Só isso está bom.
— Posso continuar sozinho? — O Temmos pergunta sem emoção.
— Eu aconselho que não.
É melhor não se exaurir agora, já que não é um treino, e sim uma competição. O treino é feito especialmente para não precisar se esforçar ao máximo na competição. Vejo ele andando para continuar, porém, ele para no meio do caminho e senta no chão. Deve ter entendido o porquê de não continuarmos. Bem, consigo ver em seu rosto um pouco de descontamento.
Vejo a Demcis mexendo no seu arco, cuidando dele.
— Acabou as flechas?
— Sim. Foi quando lutei contra aquela menina maluca. Estou pensando em fazer umas depois. Por enquanto, vou só deixar esse arco descansar. — Vejo mais atentamente o que ela está fazendo, então observo-a ajustar a corda do arco, apertando ou afrouxando.
Me viro para o Dilliam e o vejo olhando para o céu. Hoje não tem muitas nuvens, mas consigo ver algumas mais ao longe chegando. Até está um pouco menos frio.
—Acho que todos devem ter se reunido, vamos? — falo para eles.
— Entendido. — O Temmos se levanta do chão.
— Certo. — A Demcis guarda o arco no ombro.
— Bora. — E o Dilliam mostra o seu típico sorriso.
Andamos em direção ao acampamento 2. Uma das ordens era que todos se reunissem algumas horas após o nascer do sol para atacar. Como temos menos pessoas agora, não há problema em juntar todos em um só acampamento.
Chegando lá, vejo vários alunos espalhados conversando, quando aparecemos, uns vieram falar com o Dilliam e nos ignoraram. Assim sendo, ao andar pelo local, encontro o careca e a menina pequena juntos, o braço direito do Dilliam, e os outros dois do grupo do careca. Esses foram os líderes que escolhi, felizmente, todos estão vivos. Bem, não escolhi eles por habilidade de liderança, ou algo do tipo, e sim, por confiança. Pelo menos, eles iam tentar fazer acontecer.
Falo com eles um pouco, até que Dilliam chama a atenção de todos: — Hey! Me escutem! Essa aqui vai ser a última batalha da competição, todos os planos que fizemos foi para ter sucesso aqui! Vamos enfrentar aquele desgraçado do Maksi, que só faz merda, e ensinar uma lição a ele! Então, para aqueles companheiros que perderam, vamos ganhar essa merda!
— Ooohhh!!
— Yeahhh!!
— Vamos!!
Os gritos dos alunos ecoa por todo o local. O Dilliam manda os alunos irem e depois anda até nós.
— Dava para fazer um discurso melhor, senhor — fala o Gyarte, braço direito do Dilliam, rindo da cara dele.
— Cala a boca — fala o Dilliam também rindo. — Então… vamos? — Ele me olha.
Sigo os alunos até chegar em um espaço aberto dentro da floresta, onde nossos inimigos, incluindo o Maksi, nos espera.
- acampamento 2↩