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Depois disso que falei, os alunos saem um contra os outros se ameaçando. O que não vai adiantar em nada. Provavelmente, se eu deixar acontecer, eles vão arrumar briga entre si e esquecerão de mim. Seu foco vai estar direcionado a um inimigo imaginário. Um inimigo que pode ser qualquer um. E, se pode ser qualquer um, todos são inimigos.

Coloco a mão no bolso e enxergo a confusão acontecer. Xingamentos e ameaças, tudo por causa de uma competição e dinheiro. Uma moeda feita de madeira, que fora do CT, não significa nada. O porquê deles fazerem isso, eu não entendo, mas funciona.

Alguns pequenos grupos se afastam com medo e observam de longe. Também faço o mesmo, até que ouço um grito, que chama a atenção de todos. — Achei o Lobo! É ele!

Um grupo de pessoas cerca uma única, que claramente está assustada. Uma gritaria ocorre e a maioria vai até esse suposto Lobo. Perguntam se é mesmo ele o Lobo, ou onde está o totem dele e como ele arranjou um totem de ovelha, mas essas perguntas são ofuscadas pela agitação. Continua assim até que alguém acalma eles.

— Vamos fazer a votação — fala um rapaz loiro, aquele que acalmou todos. Consigo ver um sorriso no seu rosto devido a todos os olhares nele, pelo menos, eu acho que esse sorriso é devido a isso. — Falem o porquê acham que esse garoto é o Lobo e, então, iremos votar. 

O barulho de conversas paralelas aumenta, mas após um tempo, se acalmam e fazem a votação. Uma multidão se reúne em volta do acusado e dos acusadores.

— Podem falar. — O rapaz move a mão como um juiz na frente deles. A conversa para e um silêncio toma conta.

Primeiro, um dos acusadores fala: — Quando chegou a hora de pegar os totens, fiquei de olho para ver alguma reação incomum. Já que em muitas competições, essa parte do início é muito importante. Eu sei como esses professores agem. — O garoto olha em volta. — Então, nessa hora, eu vi ele fazendo uma cara de surpresa e logo depois escondendo seu totem rapidamente! Fiquei atento a ele toda hora depois disso. Mas não para aí! Eu ouvi ele falar para seus amigos que era o Lobo.

— Eu disse brincando! — o acusado grita. — Até eu estava rindo com meus amigos. Vocês vão desperdiçar uma chance se me acusarem para os professores! 

— Hmm… — O rapaz que finge ser um juiz coloca a mão no queixo. — Se isso é tudo, vamos fazer a votação. Quem é contra levanta a mão.

Poucas pessoas levantam.

— Quem é a favor de acusar ele para os professores, levanta a mão.

Quase todos os alunos levantam. O acusado solta um suspiro e diz: — Vocês vão se arrepender se me acusarem.

O juiz mirim anda até o acusado e conversa com ele. — Bem, você não vai sofrer nada. Tecnicamente, nada vai acontecer com você. Só se acalmar.

Os alunos andam atrás do acusado e do juiz em silêncio, até que os dois chegam em frente do professor. — Não, ele não é o Lobo — diz o professor após o juiz perguntar.

— Eu disse que não era eu.

Xingamentos e resmungos saem das bocas dos alunos. O descontentamento e a raiva por perder uma chance é solto. Parte da raiva é direcionada ao menino que acusou, que apenas coloca a mão atrás da cabeça com um sorriso e pede desculpas várias vezes.

Horas se passam e algumas acusações falsas acontecem nesse tempo. Consegui desviar o foco deles de mim, por isso, fiquei de lado vendo tudo isso acontecer sem ser incomodado. Se tudo ocorrer certo, ficarei sem problemas até o final.

Mas, infelizmente, não posso contar com isso. Os alunos acusam todos, sem exceção. Logo vai chegar minha vez, e terei que argumentar contra eles. E se usarem um pouco mais a cabeça, vão perceber que agi suspeito no começo. Como o Dilliam percebeu. Então, preciso de algo para eles se distraírem de mim.

Um aluno, que é amigável comigo, aparece ao meu lado e me pergunta de maneira casual quem acho que é o Lobo. Aproveito essa chance. Olho para uma certa direção enquanto digo. Se eu puder usar ele, é uma chance.

— É só uma teoria. Então, não diga a ninguém. — Movo minha cabeça, apontando ela para o Maksi. — Percebeu que ele não fez nenhuma movimentação até agora? Vocês sabem como o Maksi é ativo, isso não é estranho para ele? Ficar quieto e meio que “escondido”. É só uma teoria besta, mas acho que ele está escondendo algo.

Vejo um pequeno brilho nos olhos desse aluno. E ele sai, porém, antes promete que não vai contar a minha teoria para ninguém. Um minuto depois, percebo ele a falar alguma coisa com seus amigos e todos, ao mesmo tempo, olham para o Maksi. A fofoca se espalha ainda mais como um vírus.

E logo, a maioria fala sobre isso.

O Maksi olha estranho para todos, que lhe dão espiadas “discretas”. Mas, ainda ninguém tem a coragem de acusá-lo e fazer uma votação. Claro, boa parte dos alunos do CT está sob seu comando. E, mesmo que houvesse uma votação, seria difícil a maioria votar contra ele. A única coisa que eles precisam, é de um pequeno empurrão.

Já estão nervosos, pois acham que irão perder dinheiro. Mesmo que, tecnicamente, não perderão nada, só não vão ganhar. Além de que, as tentativas fracassadas de acusar alguém, deve ter ocasionado um pequeno estresse neles. Um sentimento de frustração. Bem, e quando ganharem um alvo que é, em parte, invencível, mas não totalmente; onde eles podem jogar suas frustrações sem medo de perderem uma chance de acusar, porque sabem que não vão ganhar contra ele, porém, com uma pequena esperança de ele ser o Lobo; sua frustração vai ser direcionada ao Maksi. E, qualquer outra pessoa, inclusive eu, vai ser ofuscada por isso. É o que espero que aconteça.

De longe, vejo alguém ir falar algo no seu ouvido, então uma expressão de raiva é feita no seu rosto. Pronto. Só deixar ele cavar a própria cova aos poucos e depois dou um empurrão. Seu cenho fica franzido e seus dentes rangem. Provavelmente, não vai sair do controle só como isso.

Olho oara o Dilliam e faço um sorriso só com a boca. Ele me olha de volta e dá uma pequena risada. 

Parece que ninguém vai questionar o Maksi, então terei que fazer isso. Entrelaço meus dedos e levo meu braço para cima. Ouço alguns estalos na minha coluna e solto um suspiro. A fumaça cobre minha vista e movo, fazendo a fumaça ir contra meu rosto. Ando em sua direção com as mãos no bolso.

Mas paro no meio do caminho. Isso não vai funcionar. Olho ao meu redor e procuro alguma pessoa ideal. Conheço boa parte dos alunos e suas personalidades. Acho um rosto que talvez funcione. Não ando direto até ele, mas dou várias voltas entre a multidão, como se eu procurasse o Lobo, até que paro ao lado do grupo do garoto que escolhi e ouço sua conversa com seu grupo. Dá para ver só pelas suas expressões e seu penteado que ele é alguém esquentado e não pensa muito.

Acho o momento certo e entro na conversa deles. O seu grupo não acha isso estranho, porque estão familiarizados comigo, então acho uma oportunidade na conversa e falo: — Se o Maksi for mesmo o Lobo, ninguém fará nada. Parece que todos são medrosos e tem medo de acusarem ele. Infelizmente, se ninguém fizer nada, todos iremos perder. — Atiço o garoto ainda mais com algumas palavras, até que seus olhos brilham.

— Eu vou lá — ele fala. — Ninguém vai fazer nada mesmo. E precisamos das moedas.

Toco no ombro dele e falo: — Boa sorte. Se ele for te bater, pode contar comigo.

— Valeu. — Ele começa a andar em direção ao Maksi. Há poucos metros dele, o garoto hesita, mas logo depois anda de volta com mais confiança.

Não consigo ouvir daqui, mas vejo as sobrancelhas do Maksi se apertarem ainda mais. Os capangas rodeiam o garoto, mas não faço nada por um motivo. Os alunos neutros, aqueles que provavelmente não têm moedas e estão estressados, ajudam ele.

Como dominós caindo, mais vão ajudá-lo. Esse parte do empurrão necessário Enquanto ando para ver isso de um lugar melhor, a Demcis para a minha frente com um sorriso. — Você é um desgraçado. Você é o Lobo, né?

Dou de ombros.

— Sabia! Por que não me contou? Ia ser interessante te ajudar. 

— Não tive oportunidade para contar.

— Aham. Claro. Não teve oportunidade. — Ela me olha com certa raiva. — Mas, tudo bem. Então, o que você fez agora? Não é coincidência você ir falar com aquele lá e logo depois ir arrumar briga com o Maksi.

— Só vou usar o Maksi como bode expiatório. Fazer o foco de todos sobre ele.

— Certo… isso é tenebroso da sua parte.. Só me lembre de nunca ser sua inimiga.. 

Converso um pouco com ela, ao mesmo tempo que uma confusão ocorre ao fundo. Depois, conto ao Temmos. Ele só falou um “entendo” e deitou no chão de neve. Me sento ao seu lado e observo o que acontece com o Maksi, como um filme. Ninguém bateu no outro, ainda. Mas, se continuar assim, não vai demorar muito tempo para que ambos os lados comecem a brigar. Bem, isso talvez seja um problema caso o Maksi ganhe, ou os alunos exaurem seu estresse e consigam pensar claramente.

Uma pipoca caía bem agora, pena que só tem essa neve suja ao meu lado. Daqui a pouco, quando a tensão tiver alta entre ambos os lados, e uma briga estiver quase a acontecer, vou remediar a confusão e fazer os alunos acusarem e não acusarem o Maksi. O importante é manter os focos fora de mim e, caso o Maksi for acusado e mostrado que ele não é o Lobo, meu plano não dará certo.

Após um tempo a ver o que acontece, me levanto e tiro a neve da minha roupa com calma. Ando devagar até onde rola a briga e, quando chego, peço para um aluno me contextualizar. Assim que entendo a situação, ando até a confusão. O primeiro olhar a pousar em mim é do Maksi. Ao verem minha presença, os alunos silenciam-se, esperando que eu fale algo. Crio um sorriso amigável e começo a falar. 

— Vocês estão discutindo há um tempo e ainda não acharam uma solução para essa confusão. Fiquei um tempo de fora para ver vocês se resolverem, mas percebi que a situação já estava bem pior. 

Tiro as mãos do bolso e gesticulo com elas.

— O treinador nos falou que não precisamos usar a força, a não ser que queiramos isso. Isso quer dizer que dá para achar a solução sem brigas. — Curvo meu tronco para eles. — Peço desculpas por sugerir fazer ameaças para ganhar. A minha mente estava a milhão tentando pensar em algumas soluções e só achei essa plausível. Mas, agora acho que dá para resolver isso pacificamente.

Levanto o tronco e olho para o céu. Está na metade do dia. Como estamos no ápice do inverno, os dias ficam curtos. Só mais um tempo e ganho isso.

— Precisamos organizar isso antes de tudo. — Chamo o garoto loiro juiz e a multidão se afasta. Sobra eu, o garoto e o grupo do Maksi no centro da multidão.

Sem nem mesmo olhar para ele, consigo sentir a aura do Maksi de estresse e ódio. Ele está a ponto de explodir. Então, vou ter que arranjar algum jeito de não colocá-lo contra a parede e, mesmo assim, o acusar.

Bato a palma para fazer todos olharem para mim. — Simplificando, pelo que entendi. Um dos lados acusa o Maksi e seu grupo de esconderem o Lobo, devido a atitude suspeita. E o outro diz que não fizeram nada.

Olho para o grupo do Maksi. Tirando o próprio, tem mais três pessoas no seu grupo. Uma garota estranha, um garoto bem alto e forte e outro com pouca presença. Quatro pessoas no total. Hmm…

— Vocês podem mostrar seus totens, por favor?

— Eu já mostrei essa merda e não vou mostrar de novo.

— Então não quer mostrar… — falo baixo o suficiente para quem está perto de mim ouvir e me viro para a multidão. — Certo, não vam–

— E o seu totem?! — grita o Maksi atrás de mim. — Você que está agindo de maneira suspeita desde o começo! Foi o primeiro a aparecer, tentou criar regras sem ninguém pedir ou nada acontecer. Você é a pessoa mais suspeita!

Olho para baixo e balanço a cabeça enquanto solto um suspiro. — Eu sei que sou um demônio, mas não precisa levar seu rancor para a competição. Só quero achar o Lobo e fazer todos ganharem suas moedas…

A multidão olha com desprezo para o Maksi. Sua fama não é a das melhores.

— Mas eu não disse nada sobre dem—!

Dou um passo para frente. — Falando em atitude suspeita, por que você está se escondendo desde o começo? Não fez nenhum movimento e nem tentou ajudar a achar o Lobo. Só ficou quieto. Isso não é estranho? — Me viro e todos balançam a cabeça. — Se você quisesse, com seu pessoal, já teria encontrado o Lobo nos primeiros minutos. Mas você não fez nada.

A cabeça dele começa a ficar vermelha. É melhor eu dar um passo para trás agora.

— Mas, tudo bem. Eu também me afastei um pouco depois do começo, porque não queria me envolver na briga. Provavelmente, essa é a razão de você não ter feito nada. Só deixar a competição rolar e ficar em paz, porque não precisa de moedas e nem tentar ganhar uma competição tão sem graça. — Coloco a mão no bolso e ando pelo círculo. — Porém, isso não muda o fato que você agiu suspeito desde o início.

Ouço ele falar um: — Você também… —, mas ignoro ele e continuo a falar.

— Você, com certeza, está escondendo algo. Não estou dizendo que é você o Lobo, mas pode ser outra pessoa. — Encaro o grupo dele.— Temos cinco tentativas restantes e seu grupo tem quatro pessoas, incluindo você. Se usarmos as nossas, ainda sobraria uma.

Ele solta uma risada. — Vocês são um bando de imbecis burros. Só gastarão suas tentativas inutilmente. Mas saibam, se não for nós o Lobo, é esse demônio desgraçado que é! Votem nele! 

— Claro. Se não for vocês, podem usar sua última tentativa em mim.

Observo para os alunos e eles parecem apreensivos em gastar suas tentativas.

— Pessoal, lembrem-se. Eles são nossas únicas suspeitas, se não for eles, não será mais ninguém. É agora ou nunca. Temos que sacrificar isso pelo bem de todos. Fazer uma jogada arriscada. Uma aposta certeira. Se não fizermos agora, com toda essa suspeita sobre eles, quem vai ser depois? Só serão chutes aleatórios! Preferem uma jogada arriscada com um mínimo de chance, ou um chute para o vento? Bem… vão ser vocês que decidirão. Eu não posso fazer mais nada. 

Atravesso a parede de alunos e ando até a Demcis em silêncio. Deixa eles roerem suas mentes. Já dei o empurrão várias vezes nessa direção, agora é só deixar rolar pela ladeira.

Sento na neve entre a Demcis e o Temmos. Observo os alunos discutirem e o Maksi me acusar de longe.

— Você não vai se ferrar depois que provarem que o Maksi e resto não são os Lobos? Tipo, só vai sobrar você de culpado.

— Não acho. Mas, qualquer coisa dou um jeito. — Caio para trás, que faz a neve voar, e olho para o céu azul. De canto de olho, percebo que os alunos andam até onde os professores estão. Não precisei esperar o tempo acabar.

Depois de um tempo, consigo fazer eles acusarem outra pessoa devido a confiança que eles têm em mim, então eu ganho. Houve uma pequena confusão quando provaram que o Maksi não era o Lobo, porém, não desconfiaram de mim. Foi como se a fala repetida do Maksi não fizesse efeito e eles se esqueceram disso. Provavelmente, foi por causa da reputação que construí, que não deu para eles nem cogitarem ser eu, e da frustração dele, que deve ter me ofuscado. Bem, não posso saber o que passa na mente deles.

Na entrega das moedas, os alunos se reúnem na fila, ainda tristes por terem perdido. Então, o treinador fala: — Foi uma competição interessante de ser vez. E vi que usar a cabeça não é o forte de vocês. Mas, sem delongas, quem tem o totem com esse desenho venha.

Ninguém aparece por alguns segundos. E depois de um minuto em silêncio, ninguém aparece e o treinador volta a falar.

— Parece que essa pessoa não vai mostrar seu rosto. Bem sábio da parte dela. Então, vou entregar as moedas mais tarde para o Lobo.

O treinador sai e os alunos discutem quem poderia ser o Lobo, mesmo eles não terem descoberto antes.

Não quero manchar a reputação que construí devido a essa competição. 

No quarto nos aquecendo, a Demcis fala: — Você é um grande desgraçado.

Olá, eu sou o Ender!

Olá, eu sou o Ender!

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