— Como você fez isso? — pergunto para a maga enquanto ela ainda está abraçada com a Demcis.
— Sim! Como? — A garota encara a Hecatis. — Uma bola gigantesca desse tamanho. Até senti meu cabelo arrepiar depois disso.
Talvez pressionada, demora para responder. — Simplificando, só deixei a Mana “dura” e levantei a neve com a Mana. É uma magia básica e que todos os magos devem ter.
— Entendo.
Sinceramente, pensei que a Hecatis estava controlando a gravidade para fazer a neve levitar. Porém, essa minha hipótese não levou em conta que ela conseguiu lançar a bola de neve, então não faz sentido. Mas, continua impressionante. Se fosse outro material, seria fatal.
Visito minhas memórias e lembro de algo. — Foi a mesma magia que você usou para levantar os troncos no começo, né?
— Sim.
Os olhos da Demcis brilham. — Consegue me levitar também?!
— Dependendo de como, sim.
A garota dá um pulo para trás animada, abre um sorriso no rosto e fala: — Me levita.
— Não.
Bem, ganhamos a última competição. Foi até rápido essa. Provavelmente, até ir embora, vamos ter um tempo livre. Vejo a maga começar a andar de volta para a cabana com o pessoal e sigo ela, porém, antes um braço se enrola em volta do meu pescoço. Olho para o lado e vejo o sorriso falso do Dilliam.
— O professor disse que amanhã de manhã, vamos embora. Mas ele falou para organizarmos uma festa de despedida hoje de noite. Os professores também vão ajudar. Então, não fique enfurnado dentro do seu quarto. Apareça. Leve seu grupo também. É só isso. Tchau.
Sem eu ter a chance de falar alguma coisa, o Dilliam corre de volta para seus amigos.
Festa de despedida? Parece chato, mas não tem motivo para não ir. A Demcis também tentaria me arrastar caso não fosse; não tenho outra escolha.
Enquanto ando até o quarto, olho para o Maksi de longe. Por enquanto, vou descansar. Depois continuo com o plano. Ganhar essa competição não mudaria o resultado final. Ele e o Dilliam ganharam uma miríade de competições em comparação a mim. Talvez, até me prejudique um pouco, pois o plano das armas não deu certo e só ganhei devido à Hecatis. Bem, penso nisso depois.
Caminho até o quarto e subo na minha cama. Todos já estão aqui e um silêncio toma conta do lugar. Como no primeiro dia. Mas, esse silêncio é diferente.
— Três meses… — a Demcis sussurra deitada na cama dela.
Ninguém tenta quebrar o silêncio. Nem mesmo a animada da Demcis. Como se o clima anterior sumisse e todos se dessem conta que não terá mais nada igual a esses últimos três meses. É desconfortável.
— Sinceramente, disse que ia ser caçadora e depois mercenária, mas não tenho ideia do que fazer. Eu quero dar um futuro melhor para a minha família, então tive a chance de vir aqui.
Ela rola pela sua cama e fica borda dela, olhando para o chão.
— A aldeia toda juntou o dinheiro para eu vir para cá. Claro, a aldeia não é muito grande, então não foi muitas pessoas. Disse para eu virar uma aventureira e ser famosa, assim poder dar de volta o dinheiro deles. Mas, eu realmente não sei o que fazer depois daqui. Não tenho um destino claro igual a vocês. Qualquer coisa está boa. Mas não quero voltar de mãos abanando para eles.
Fica um silêncio por alguns momentos, até que a Hecatis quebra esse silêncio.
— Você vai descobrir com o tempo. Não adianta pensar sobre. Se você parar para pensar sobre isso, não vai encontrar o que você quer fazer, e sim o que precisa ou que você tem que fazer. Só continue vivendo normalmente e um dia a ideia vai aparecer na sua mente. É o que eu acho.
— Entendo… — Ela solta uma pequena risada. — Que silêncio melancólico. Está me dando agonias isso. Vamos mudar de assunto. — A Demcis se senta na cama e me olha. — Aliás, seu plano deu certo, né? Você ganhou a competição.
— Sim. — Olho para um teto por um pequeno tempo. — Mas, não foi devido a competição.
— Sério?
— No momento que o Maksi comprou as armas, o plano já foi concluído. Bem, ainda não acabou. Então, parcialmente concluído. — Observo uma aranha tecer sua teia enquanto olho para o teto. — Ainda falta uma parte.
— Aquele Maksi é um saco mesmo. Bem feito para ele
— Não é por causa dele que estou fazendo isso.
— Hmm… diga mais, caro Morrigan. — Viro minha cabeça para o lado e vejo ela com os dedos cruzados e seus olhos vidrados em mim.
Sigh…
— Não ligo para ele. Nunca liguei. É só uma criança com sérios problemas de atenção, senso de superioridade. O bullying dele é inútil. Depois de sair do CT, provavelmente nunca vou encontrá-lo e tudo isso não vai importar.
— Entendo. Eu acho… Então, qual é a outra parte de seu grandioso plano, caro Morrigan?
— É a coisa mais simples que tem. Você poderá ver daqui a pouco. Só preciso descansar um momento.
Fecho meus olhos sem dormir. Deixo meus batimentos acalmarem e a pressão no peito abaixar aos poucos. Desacelero meus pensamentos.
Também não sei o que fazer.
É certo que irei para a Universidade, mas depois disso? Depois de encontrar as respostas que quero. O que faço? Volto para cuidar da taberna, ou farei missões mercenárias até me aposentar?
Inspiro lentamente e solto o ar devagar. Na escuridão da minha mente, tento não pensar sobre isso. Tanto faz o que for fazer. Não importa. Viver como mercenário não é um futuro ruim e é para isso que entrei no CT. Lutar para a Guilda Mercenária; eu acho.
Desde que tenha paz, faço as missões sem problemas. Nada de mirabolante, ou especial. Só uma rotina que sei o que acontecerá amanhã e depois de amanhã. Como no bar da pousada. Atender pedidos, comer e atender pedidos. Sem nada excepcional, mas é tudo que quero e preciso.
— Hey, Morrigan. — A voz da Demcis passa pelo meus ouvidos. — Quando vai fazer o restante do seu plano. Ficar aqui deitada em silêncio é chato. Não sei como você e a Hecatis conseguem.
Sigh…
— Se quiser, posso ir agora… — falo sem abrir os olhos.
— Sério? Então vai lá!
Sento na beirada da minha cama e olho para a garota com um sorriso no rosto. — Quer aprender a meditar? É bom. Ficar em silêncio por um tempo. Em paz. Você deveria tentar.
— Não, obrigada. — Ela pula da cama. — Agora, vamos. Faça a sua mágica acontecer. Hmm… não seria mágica. Faça seu plano acontecer.
Pulo da cama e passo pela porta que a Demcis segura. Ambos saímos da cabana. Os alunos estão dispersos pelo campo de neve, mas meu olhar cai no Maksi, que conversa com seu grupo perto das árvores.
Só uma coisa antes. Procuro o Dilliam e chamo a atenção dele, também faço um sinal. Ele apenas mantém seu sorriso e começa a andar e reunir seu grande grupo. Rapidamente, um amontoado de alunos se juntam e o Maksi percebe isso. Observo acontecer ao lado da porta da cabana com a garota.
— Demcis.
— Eu.
— Como você consegue irritar pessoas com facilidade, tenho um trabalho nem tão difícil para você.
— “Como você consegue irritar pessoas com facilidade”? Vou fingir que não ouvi isso e considerarei um elogio. Então, o que quer?
— Atice o Maksi para me atacar. Sem fazer o seu grupo também vir.
— Nem é tão difícil mesmo. Na verdade, essa é a coisa mais fácil que posso fazer desde que cheguei aqui. Acho que até aqueles dois anti sociais conseguem fazer isso com pouco esforço. Bem, vou fazer meu trabalho.
Dando pequenos saltos, ela anda até o Maksi e seu grande grupo, que agora encara o do Dilliam com suas armas. Foco minha audição nela e consigo ouvi-la assobiar. Ando devagar até o local da briga para ouvir o que ela dirá.
Ela enrola os braços em volta dele, que fica desconfortável, e aponta para mim. Forço minha audição para ouvi-la. — Está vendo aquele ali andando até nós com uma cara de bunda? Ele pediu para você ir desafiá-lo. Na verdade, ele me mandou vir porque achou que se ele viesse você ia arregar e caçar ele com seu grupo, em vez de sozinho, como um covarde. Sabe?
Ela abaixa a mão e encara o rosto do Maksi ainda com os braços em volta do pescoço.
— Então, por que não lutam agora?