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Quando terminamos de comer, guardo tudo.

— Ah… Estou cheia… — Demcis arrota alto enquanto bate na barriga estufada.

Por que será? 

Olho para a panela vazia. Eu só comi um prato e o Temmos, dois. O restante da comida foi devorada pela Demcis e a sua companheira: Hecatis. Talvez a mana tenha alguma coisa a ver com isso, mas parecia que desde o começo ao final, a maga comeu no mesmo ritmo frenético.. 

Bem, segundo ela, os Controladores de Mana não precisam, em parte, das suas necessidades básicas, como comer. Me impressiono que ela tenha comido tanto, mesmo assim. 

— Morrigan, a partir de hoje, você é o nosso cozinheiro profissional. Sough… — Ela soluça e, por um momento, pensei que ia vomitar. — Então, quand– Sough. Quando vai fazer a prox… Sough. … ima refeição?

— Você acabou de comer.

— Tsk.

— E você já arrumou suas coisas? Vamos sair amanhã com o grupo.

— Eu sei, depois arrumo.

Olho para o céu e o sol. Daqui a pouco vai anoitecer. As nuvens alaranjaram-se e o vento fica mais frio a cada minuto. 

Saio do refeitório e deito na neve, aproveitando meu último pôr de sol no CT. Coloco minhas mãos atrás da cabeça e relaxo o corpo nesse colchão de neve. Só de olhar para isso, minha respiração desacelera e meu olhar fica hipnotizado.

Sinto mais três pessoas se deitarem também ao meu lado. Em silêncio, olhamos para o crepúsculo. 

— Por que estamos deitados na neve?

— Cala a boca, Demcis.

— Sim, senhor.

Em silêncio, olhamos para o crepúsculo.

— Mas, por que na neve? É gelado.

Sigh…

Depois de vários minutos assim, com comentários ocasionais da garota, vemos a lua, estrelas e a escuridão tomar conta do céu. Enquanto isso acontece, o Dilliam e o restante dos alunos organizam a festa. 

Uma fogueira gigante é formada e a risada se espalha pelo lugar. Quando levanto com meu grupo, olho para a atmosfera alegre que se criou no campo do CT. Aquela aura séria e de treinamento de antes, sumiu. O refeitório é agora um lugar onde colocam as bebidas e comidas. Metade das mesas e todas as cadeiras foram levadas para fora. 

Enquanto ando para perto da fogueira, vejo o Dilliam sair da cabana com algum tipo de instrumento de sopro na mão. Algumas outras pessoas surgem com ele, também com instrumentos estranhos. 

Assim que todos saem, o Dilliam começa a tocar seu instrumento. Uma melodia escapa dele como uma flauta. Segundos depois, os outros instrumentos começam; um que parece um violão, outro que é um tambor, entre vários outros.

Todos os alunos dançam e comemoram ao redor da fogueira. Mesmo estando de noite, nesse exato momento, o mundo parece clarear devido a música e a felicidade de todos.

— Vou dançar também. — Demcis se afasta de nós. — E, vocês três, parem de serem anti sociais e venham também.

Entreolho com eles, depois dou de ombros e vou com a Demcis. A maga e o Temmos me seguem. Paro ao lado da roda de dança e percebo algo. Não sei dançar. Bem, não há muito o que fazer sobre isso, vou comer um pouco.

Assim que me viro para ir ao refeitório, sinto um braço puxar meu casaco. Sem chance de resistir, sou trazido para o círculo e obrigado a andar junto deles.

Arrastado pelo colarinho, peço ajuda com os olhos para a Hecatis e o Temmos, porém, eles dão de ombros e não fazem nada.

— Mexe esse corpo! Não fique todo duro assim! Não é todo dia que tem uma festa assim com tanta comida e pessoas — grita a Demcis enquanto não me solta de jeito nenhum. — Move os braços, pule! Faça o que quiser, deixe seu corpo ir.

Andando em círculos, com o alto som de passos e da música, tento fazer o que a Demcis disse. Sem jeito, dou pequenos pulos igual aos outros alunos, o que é uma tentativa falha e desisto.

— Continua assim! Se você parar de pular, amasso suas bolas no pilão.

De repente, uma energia toma conta do meu corpo e volto a pular. Aos poucos, me solto e, quando menos percebo, estou no mesmo ritmo dos outros.

Quando damos uma volta, vejo a Demcis puxar o Temmos e a maga e jogar ambos para mim. Agarro a roupa do menino, para ele não sair voando e ele agarra a da Hecatis. Eles passam pelo mesmo processo de ameaça que eu e começam a pular também. 

Nós quatro, em fila, dançamos juntos no ritmo da música.

Quando ficamos cansados e suados pelo calor das pessoas, mesmo estando no meio do inverno, sentamos no chão perto da fogueira.

— Isso foi divertido.

O som da música e de passos continua ao fundo. A agitação ainda não acabou e, se depender do Dilliam, só vai realmente acabar quando amanhecer.

— E, sinceramente, nunca vi a Hecatis se mexer tanto nesses três meses. — A Demcis começa a rir.

É verdade isso, ela nunca se mexeu tanto desde o início, porque nunca foi aos treinos e, quase nunca, nas competições.

Olho para ela e pergunto: — Agora que o CT terminou, vai nos dizer o porquê de você ter vindo?

Ela mastiga um pedaço de pão com as duas mãos e fica em silêncio por um tempo. — Depois te conto. — Um sorriso aparece no seu capuz.

Certo… Estico minhas mãos ao fogo.

— Morrigan, posso conversar com você um pouco. — De pé, o Temmos toca no meu ombro.

— Claro. — Me levanto e ele anda até um canto escuro da cabana, onde apenas uma parte da luz da fogueira atinge.

— Então… você sabe que um dos objetivos deste CT, é recrutar os alunos, certo?

— Sim, o treinador me explicou sobre isso no começo.

Ele parece hesitar sobre falar, como se escolhesse as palavras certas.

— Esse é o porquê de eu ter vindo. Na verdade, apenas vim para observar e recrutar quem eu achar decente ou com potencial. Nesse tempo, sempre procurei algum possível candidato; nos treinos, competições. E, achei um, que não tem nenhuma afiliação ou se juntou com outro alguém. Você.

Hum.

— Observei você o tempo todo e você é a pessoa perfeita para eu recrutar.

— Por que eu? Você podia recrutar umas dez pessoas diferentes, ou qualquer outro alguém.

— Mandaram-me escolher qualidade sobre quantidade. 

— Por quê?

— Bem…

Preciso processar algumas coisas. Temmos veio aqui a mando de uma pessoa; ele mesmo falou isso há um tempo. Então, a ordem dessa pessoa foi recrutar algum soldado forte. Quem é que mandou ele? Hoje ele falou sobre alguma coisa da côrte. Temmos é um nobre? Ou foi ordenado por um nobre a vir? E quem é esse nobre? Se tal pessoa precisou mandar alguém para cá e não quis recrutar vários alunos, então não deve ser alguém muito influente, deve ser algum nobre de casta baixa. 

— Não sei se posso contar isso ainda, mas falarei para você. Vim por causa da ordem da princesa do reino.

… A princesa…? Do reino…? 

Com toda certeza, não é um nobre de casta baixa… 

— Pode repetir, por favor?

— Huh? Claro. A princesa me mandou vir aqui recrutar alguém forte para ajudá-la.

— Princesa?

— Sim. Então, continuando, ela não pode chamar atenção devido a confusão que está ocorrendo na capital. Se ela der qualquer sinal de querer entrar na luta política, ela morre. Principalmente, se alguém souber que ela está recrutando soldados. Então, esse é um dos motivos para nós escolhermos qualidade acima de quantidade. Não chamar atenção.

Essa luta política… Desde a morte do rei, vários de seus filhos tentam conseguir o trono. E, claro, misteriosamente, aqueles que conseguem morrem e a luta continua. Esse ciclo dura anos. Me impressiono que essa princesa esteja viva, mesmo tendo chance de ser rainha.

— Por causa disso, quero recrutá-lo. Assim, você aceita nos ajudar?

Seguir o Temmos até a capital, lutar contra outros nobres, provavelmente, conseguir fama e, caso vença, até um título e riqueza?

— Não.

São poucas notícias que chegaram até mim, porém, aquelas que chegam, são assustadoras. Parece que rola algum tipo de massacre diferente a cada mês nesse reino. Dizem que a capital ficou manchada de sangue e corrupção. Ninguém confia em ninguém. Nobres fracos se afastam, os fortes entram para a luta. Só algum tipo de idiota iria se enfiar nessa confusão por conta própria. Além disso, tenho que ir à Universidade Mágica, então não quero desviar meu caminho para brigar em uma luta que não é minha.

Os olhos dele se abrem em choque. Sinto um pouco de pena do Temmos, porém, não quero ir atrás de briga, só quero viver em paz. 

— Realmente me desculpa por isso, mas não quero me meter com política. Eu odeio qualquer coisa que envolva política. Realmente, me desculpa. — Toco no ombro do Temmos e saio. 

Sinceramente, não quero ir para a capital. Espero que o Temmos ache outra pessoa para recrutar, porque é impossível eu ir para lá e me meter com a aristocracia desse país. Minha cota de lidar com políticos acabou há muito tempo.

— Hey! Hey! Hey! — A Demcis cutuca meu ombros. — O que o Temmos queria?

— Esqueci.

Depois de um tempo o garoto volta e senta em silêncio. — Depois de o CT acabar, você vai viajar, né? — ele me pergunta.

— Sim.

— Então, vou com você.

Olá, eu sou o Ender!

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