— Vamos na Guilda primeiro para pegarmos nossas licenças, depois comprar suas coisas — falo. — Também quero ver qual é a recompensa do CT.
— Certo. — Ao meu lado, com um capuz, a maga responde. — Quando vim aqui uma semana antes do CT começar, percebi que essa cidade era grande. Mas, ao andar por aqui, é ainda maior do que imaginei.
— Sério?
Para mim, é de tamanho normal. Até de certa forma pequena. Porém, acho que é devido a minha experiência na Terra. Se considerar a época, é bem grande de certa forma.
Olho ao meu redor e por cima das construções próximas.
— Nunca desviei muito desse caminho. Só saia da pousada quando pediam. A Metys que conhece. — Olho para trás e vejo a garota conversar com a Demcis enquanto riem bastante. — Tinha dias que ela saia e sumia um dia inteiro.
Devagar, Temmos aparece ao nosso lado e aponta para a muralha central. — O que é aquilo?
— Hm… Não sei bem, mas lá tem um castelo grande no centro, que é onde os nobres ficam. Ao redor ficam as casas de grandes comerciantes. Em geral, dentro daquela muralha é, praticamente, uma casta social acima. Não cheguei a ir até lá ainda, mas pelo que o Kynigos me disse, há lojas de luxo, casas gigantescas e apenas tem pessoas arrogantes.
— Entendo.
— Ah. Também só pode entrar com permissão. Kynigos disse que ele só entrou devido ao seu alto rank na guilda.
— Falando nisso, qual o rank do seu pai na guilda? — Hecatis pergunta.
— Rank B.
Temmos me olha surpreso e a maga fica em silêncio.
Com as sobrancelhas levantadas, Temmos me pergunta: — Ele é Controlador de Mana? Porque é impossível subir além do Rank C, sem pelo menos ser um.
— Não. Ele disse que conseguiu subir a esse nível por prestígio e pela quantidade de missões que fez. Acho que ele é um dos poucos Rank B desta cidade.
— Seu pai é mais impressionante do que pensei — fala a maga.
— Minha mãe também é Rank B. — A cabeça da Metys aparece do nada entre meus ombros. — Ambos são bem famosos na guilda. Às vezes eu pedia aos tios da guilda para me dar comida e quando eu falava que eles eram meus pais, eles quase me davam a feira inteira de presente.
— Dois Rank B… — Temmos e Hecatis entram em uma reflexão profunda.
A Demcis aparece também. — Qual será nossa posição mesmo?
— Devido a concluir o CT? — penso e respondo ela. — Os cinco primeiros serão Rank C e o restante Rank D.
— Hmm… Então o Morrigan vai ser Rank C e nós Rank D…?
Sim.
— Injusto…
Acho que ser Rank D é bom… Levaria anos para sair do Rank F (Primeiro Rank), até o D. Pois, o que conta é mais sobre a confiança da guilda sobre a pessoa do que a força. Mas, bem, foi um ótimo investimento ir ao CT.
Chegamos na rua principal e entramos na guilda. Meu nariz entorpece pelo alto cheiro de suor e ferro. Várias pessoas reunidas em grupos dos mais variados gêneros e alturas. Mas todos têm algo em comum. Uma certa voracidade.
A guilda tem duas partes principais, nas quais são divididas por uma escada. À direita tem o quadro de avisos e o balcão, à esquerda tem uma área de descanso/encontro com várias mesas e cadeiras. Não é um bar, pois não vejo nenhuma bebida. Provavelmente, é onde os mercenários se organizam para as missões.
Andamos em direção à fila enquanto alguns olhares se focam em nós. Cumprimento os amigos do Kynigos que viram eu e a Metys e esperamos até chegar a nossa vez.
Olho para a jovem atendente e falo: — Somos alunos do CT, queríamos pegar a nossa licença.
— Certo, só um segundo. Falem seus nomes.
Fazemos tudo que ela pede e depois de alguns minutos recebemos um cartão de madeira junto com um papel.
— Esses são o cartão de vocês e o comprovante de pertencimento a guilda. Por favor, não percam nenhum dos dois. Para refazê-los, será necessário pagar uma taxa. Mas, antes de irem, assinem esse documento.
Tento ler, mas antes a maga fala.
— Está dizendo que caso algum de nós morra, seja torturado, ou sequestrado. A guilda não tem nenhuma obrigação de reembolsar nada. E qualquer ação feita pela guilda para ajudar em tais situações assim, será de livre e espontânea vontade da guilda.
Temmos fala: — Simplificando, caso alguém de nós morra, eles não têm nada a ver com isso.
— Que maravilha. — A Demcis solta um suspiro. — Por que escolhi ser mercenária…?
Pego a caneta que a atendente emprestou e assino meu nome, que, por enquanto, é uma das únicas coisas que sei escrever.
Todos assinam, menos a Metys, e a atendente guarda o papel em algum lugar.
— Parabéns, agora vocês são oficialmente mercenários da nossa guilda. Já podem pegar missões, quaisquer dúvidas, podem falar com alguém do balcão ou perguntar para algum veterano.
— Obrigado.
Saio da fila e olho com mais atenção o cartão mercenário.
Parece ser uma madeira bem resistente. Há um grande C esculpido nele e ao lado tem meu nome junto com meus dados e algum tipo de ID. Nada de muito especial.
Guardo o papel e o cartão dentro do bolso do casaco. Agora preciso pegar minhas recompensas.
— Metys, sabe onde está o Presidente da Guilda?
— O tio Miriari? Provavelmente na sala dele. Ele nunca gosta de sair de lá.
Certo. Subo as escadas sozinhos e ando pelo corredor até chegar em uma das portas.
Toc, toc.
Espero um pouco e ouço alguém me mandar entrar. Abro a porta devagar e vejo o Presidente da Guilda sentado em sua cadeira com vários papéis sobre a mesa dele.
— Oh! Morrigan. Tanto tempo. Você cresceu bastante. — O Presidente aponta para uma das cadeiras em frente à mesa. Ao me sentar na cadeira, ele pergunta: — Então, o que o filho do Kynigos quer comigo?
Antes que eu possa responder, ele continua.
— Ah! Verdade. Você estava no CT e ficou em segundo, né? Veio buscar a recompensa?
— Sim.
— Claro.
Ele se levanta e vai até um armário no canto da sala. Nele ele tira algumas coisas e as coloca em cima da mesa entre a bagunça de papéis. Também retira algo da gaveta.
— Como você pegou o segundo lugar, são três coisas que você ganha. Esses três objetos na mesa. Primeiro, esse cartão aqui. É igual ao seu cartão da guilda, mas tem algo de especial. Ele permite que você entre em lugares especiais, nos quais normalmente você não entraria. Você usa ele colocando o nome da guilda como testemunha que podem confiar em você.
Ele me dá o cartão e pega um papel.
— Esse documento aqui permite que você pegue de graça qualquer item dos afiliados da guilda. Claro, até certo preço. Então, se quiser pegar alguma arma, use esse papel.
Ele me passa o papel.
— E esse outro aqui… — Ele levanta para uma adaga que está dentro de uma bainha deslumbrante. — É uma faca de cortar pão extremamente decorada. Deve dar um bom dinheiro caso queira vender para um aristocrata. — Ele tira da bainha e vejo a lâmina afiada da adaga.
Vejo todos os itens que ganhei. — Obrigado.
— Agradeça a si mesmo. Você que conquistou isso. Nem grandes clãs mercenários tem isso que você tem.
Guardo tudo nos meus bolsos e agradeço mais uma vez.
— Bem, tenho algumas coisas para fazer, mas sempre estou aqui caso queira falar comigo. — Ele se levanta e aperta minha mão. — Espero grandes feitos de você.
Encontro meu grupo ao descer a escada, então pergunto para a maga enquanto saímos da guilda. — O que você quer comprar?
— Livros e alguns materiais.
— Vocês vão querer alguma coisa? — Olho para trás e pergunto.
Temmos responde sem pensar muito. — Vou precisar de algumas armas.
Olho a Demcis pensar.
Também vou comprar armas. Acho até que já posso usar o documento que ganhei.
Bem…
— Metys, nos guie… Não sei o porquê vocês estão me seguindo… Não conheço essa cidade…
Ela e a Demcis começam a rir até que a garota nos leva até a biblioteca.
É um prédio bem grande, ao lado da rua principal. Há vários ornamentos nas paredes e uma grande palavra acima da porta. Provavelmente, escrito biblioteca. Parece ser bem construído e resistente. O prédio é uma obra de arte por si próprio. Cria certo contraste em relação às outras contrações da rua.
Ao entrar, a primeira coisa que sinto é o nostálgico cheiro de papel. Mas fico surpreso quando olho para dentro. Tem um pequeno muro separando a entrada do restante. Nessa primeira parte, tem uma porta giratória de algum tipo de vidro e é guardada por um funcionário.
Só que isso não é o mais importante.
O teto sobe por vários metros; é como se fosse outro céu. Porém, as estantes de livros acompanham o teto. E todas estão cheias. São várias fileiras. O aroma de papel, se mistura com o de madeira e poeira. Também, todas as partes estão devidamente clareadas e, devido a isso, as estantes refletem em um tom marrom característico.
O quanto de dinheiro foi gasto para construir tudo isso? É difícil achar isso até no mundo moderno. A tecnologia e até a cultura desse mundo me impressiona. Para investir em um lugar assim…
Parando para pensar, vivo aqui há anos e não conheço a cultura… Não sei de nada, na verdade.
Chegamos em frente ao funcionário na entrada, assim, a maga tira o seu Cartão da Guilda e deixa ela passar sem problemas. Fazemos a mesma coisa e chega minha vez de mostrar o cartão. Tudo dá certo e empurro a porta giratória.
Ao passar para o outro lado, vejo as estantes mais de perto e me surpreendo mais uma vez com o tamanho. Em ambos os lados, há algumas mesas como se fossem caixas de supermercado. Só que apenas duas dessas mesas têm pessoas; ambas lêem livros desocupadamente.
— Normalmente, você precisa pagar para entrar. É bem caro, mas com um Cartão da Guilda, pode ser a Mercenária ou Aventureira, eles dão um desconto. A partir do Rank D, é de graça.
Olho para a Metys e fico um pouco confuso, mas ela me nota e fala: — Eu conheço o pessoal daqui. Pai sempre me levava para cá. — Ela dá de ombros. — Você nunca quis ir quando ele te chamava.
Faz sentido.
— Bem, vou tentar achar os livros que quero. Mais tarde eu apareço. — A maga sai.
A Metys sai com a Demcis e só sobra eu e o Temmos aqui em um silêncio constrangedor.
Coloco a mão no bolso e ando por fora das grandes prateleiras com ele atrás de mim. Os corredores de livros bem iluminados levam a mais outros corredores, como se fosse um labirinto. Vejo algumas mesas a cada certa distância com livros aleatórios em cima. O tom marrom do piso, teto, paredes e estantes, cria uma atmosfera única aqui. Até o silêncio amplifica tal atmosfera. É possível até sentir o gosto da madeira apenas pelo cheiro.
Olho novamente para o teto fechado, sem nenhuma janela. De onde vem essa iluminação? Não enxergo tochas ou algo do tipo.
Entro em um dos corredores e passo a mão por cima das prateleiras empoeiradas até que acho uma fonte de luz, que, quando minha mão encosta, sinto um calor nas pontas dos dedos. Mas, não tem nada visível ou tátil.
— É uma Magia Sensível. — Me viro para o Temmos e ele também olha para a fonte de luz.
— Como assim?
— É uma forma de utilizar certas magias sem a necessidade de escrever elas no seu Núcleo de Mana. É quase sempre usada para fazer magias simples, como essa de iluminação. Elas precisam de uma revisão periódica, então não é muito eficiente para grandes magias.
— Entendo.
Enquanto passo minhas mãos pelas capas dos livros, penso em algo. — Você sabe ler?
— Sim, fui instruído desde criança.
Em silêncio, chegamos ao fim dessa fileira de estantes. Nos meus lados, mais corredores se estendem até o além.
Tem palavras escritas ao lado das estantes, forço a minha memória para adivinhar o que está escrito em cada uma, até que entro em um corredor onde parece ter livros mais simples.
Passo meus dedos pelas capas até que paro.
— Seu verdadeiro nome é Temmos?
— Sim. Não sou conhecido, então não há motivo para esconder meu nome. Na verdade, os planos estão convergindo… Bem, deixa para lá.
Pego o livro onde minha mão parou e abro ele. Parece simples o suficiente para que eu possa estudá-lo sozinho.
— Você vai continuar me seguindo, né?
— Sim, até que eu possa trazê-lo.
— A situação na capital não está muito apertada para que você possa esperar tanto?
— A Princesa tem bastante tempo. Ela também é bem paciente.
Sigh…
— Você sabe que eu vou para a Universidade Mágica depois daqui, né?
— Não me importo.
Sigh…
Certo.
Não vai ser assim que vou fazer ele me deixar em paz.
Vago um pouco pelos corredores até que vejo uma mesa de madeira vazia e me sento nela com o Temmos. Abro o livro e fico em silêncio enquanto tento entender as palavras escritas.
Ah… Sigh…
Fecho o livro e o coloco de lado.
Olho para o Temmos em minha frente, apoio meu queixo sobre meus dedos cruzados e fico em silêncio por um tempo.
Os seus olhos encaram os meus.
— Qual a sua relação com essa tal de Princesa?
— Fomos criados juntos e agora trabalho em função dela. Já que também fui instruído com esse propósito.
— Por que ela precisa de apenas um soldado forte?
— Contratar vários soldados chamaria muita atenção, por isso quanto menos for, melhor. Mas, para isso não ser dinheiro gasto inutilmente, esse soldado teria que ter um potencial ou força admirável.
— Você ainda não explicou o porquê.
— Assim que você se juntar a nós, eu falarei.
— Hah... Claro. — Sem querer solto uma risada sarcástica.
Ele quer que eu me junte a ele de qualquer jeito, mas ainda não confia em mim o suficiente para me dizer o porquê. Bem persuasivo.
Imaginando um pouco… Se eu me juntar a alguém que precisa esconder sua força, provavelmente morrerei por algum nobre mais forte. Agora, se eu me juntar a eles e depois traí-los, também irei morrer, pois duvido o Temmos ou quem o criou desse jeito, me deixar escapar. Se eu continuar rejeitando também, tem a chance do Temmos acabar me matando; para poder continuar seu plano em segredo…
Se eu matar o Temmos para me livrar disso, também tem chances de haver retaliação por aqueles que comandam ele.
Sigh…
Vou ler.
Abro o livro e tento desvendar o que está escrito nas primeiras páginas por vários minutos. Cada palavra parece um mistério, porém, destrincho elas aos poucos e, pelo menos, consigo montar umas frases na minha cabeça aos poucos. Já melhorei muito nesse quesito.
Duas vozes se aproximam e me viro devagar para olhá-las. Demcis e Metys conversam na mesma intensidade que antes, só que agora com o volume das suas vozes um pouco reduzido. Um pouco.
— Fazendo o quê? — Demcis se inclina para o meu livro. — Parece um livro infantil.
— É um livro infantil…
— Hm… — Ela faz um sorriso estranho e sai em encontro à Metys. Tudo isso enquanto me encara com esse sorriso.
Apenas quero aprender a ler…
Ela desfaz o sorriso e dá uma pequena risada. — Sabem onde está Hecatis?
— Não. Ela sumiu. — Fecho o livro e me levanto com ele nas mãos.
Andamos pelos corredores da biblioteca, que são como um labirinto, enquanto a conversa flui. Até mesmo o calado do Temmos começa a conversar.
Parece que, devido à atmosfera estressante do CT sair aos poucos de nós, mais todos se soltam. Até sinto o meu corpo mais cansado. Toda a tensão se esvai aos poucos e é como se meus sentidos relaxassem.
Até não usar a espada ficou estranho. É como se uma parte do meu corpo faltasse e ao colocar minha mão na cintura, às vezes me assusto, pensando que perdi a espada.
— Olha ela ali. — Aponta Metys para um dos corredores.
Estamos quase no final da biblioteca e vejo a maga ler um livro em frente a uma estante. Bem… com uns dois livros flutuando ao lado dela e um carrinho com incontáveis livros. Ela nos vê chegar e flutua um dos livros até o topo e coloca mais dois no carrinho.
De longe, consigo até ver um sorriso de felicidade nela. É como se a Hecatis estivesse em casa.
— Pronto — fala a maga, claramente, animada. — Já peguei tudo que preciso.
Olho de novo para o carrinho, o qual anda com dificuldades devido ao peso sobre ele. Em quantos dias será que ela consegue ler tudo isso?
A maga chega ao meu lado e se surpreende com o livro na minha mão. — Meus pais me deram esse livro quando criança. Nostalgia. — Saudades, junto com um sentimento misterioso para mim, brilha no olho dela.
Andamos de volta ao início bem devagar enquanto conversamos. E, a todo momento, pedindo para a Metys e a Demcis pararem de falar alto.
Volto com o grupo àqueles “caixas de supermercado”. A mulher que conversava com outra funcionária, para o que fazia e entra em um dos caixas para nos atender. De primeiro momento, ela se surpreende com a quantidade de livros no carrinho.
— Não acho que vocês possam levar tantos livros de uma vez…
Sem falar muito, a maga tira o cartão da guilda e um outro cartão. A mulher passa o olho no cartão da guilda sem se importar muito, mas quando ela vê o outro cartão da Hecatis, ela compreende algo.
— Certo, agora faz sentido. Então, como você já tem experiência nisso, não preciso falar aquelas normas todas, né? — Vendo o olhar de preguiça da funcionária, a Hecatis concorda.
A funcionária pega os livros um por vez e anota em certo papel. Após pegar todos, ela pede para a maga assinar embaixo e me chama.
Ela vê meu livro e pergunta: — Primeira vez?
— Sim.
Ela solta um suspiro. — Certo… assina esse papel com seus dados para criarmos seu cartão.
A maga vem para meu lado e me ajuda a preencher, depois disso, dou o papel de volta para a funcionária e ela sai. Após alguns minutos, volta com um cartão em mãos. É quase do mesmo estilo do cartão da guilda, com a diferença que há o número “1”, em vez da letra “C”.
— Vou te dizer algumas regras — diz ela com um rosto cansado. — Para pegar emprestado um livro, é necessário ter no mínimo nível 3 nesse cartão. Esses níveis são conquistados por tempo e confiança. Para comprar, não há muita burocracia, é apenas assinar um papel confiando que você lerá o livro e o que poderá devolvê-lo na mesma condição depois de lê-lo. Entendido?
— Sim.
Ela me passa o papel e eu assino como a maga fez.
Quando pego o livro e começo a sair com todos, penso em algo.
Tiro um cartão do meu bolso e abordo novamente a funcionária, que me olha com certo ódio. Mostro o cartão para ela e pergunto se ganho alguma coisa com ele.
É o cartão que ganhei hoje mais cedo do Presidente da Guilda.
O olhar dela se abre em surpresa e seu cenho se enruga em confusão. — Como você conseguiu isso?
— Ganhei.
— Hm… Isso é realmente seu?
— Sim.
— Hmm… — Ela faz uma pausa longa. — Me dá seu cartão da biblioteca, posso mudar seu nível se quiser. — Entrego para ela e vejo um “5” escrito nele. Pergunto se tenho mais algum direito e ela responde: — Você pode acessar uma parte privada da biblioteca, caso queira.
Sua forma de falar comigo muda bastante.
Olho para trás e vejo a maga com as sobrancelhas levantadas e ouço ela dizer bem baixo. — Até que se esforçar no CT te ajudou bem.
— Me siga — fala a funcionária.
Pergunto para ela se posso levar a Hecatis comigo, mas ela disse que só eu tenho a permissão.
Falo que volto depois para o grupo e saio com ela. Andamos pelos cantos da biblioteca até uma escada na parede. Ao subir nela, vejo algumas portas com um grande espaço entre elas. Andamos até chegar em uma porta no final e a funcionária abre para mim com suas chaves.
— A partir daqui apenas você pode entrar. Peço para que não danifique nada e que não leve nenhum desses livros para fora desse quarto. Ficarei aqui fora, quaisquer dúvidas, me chame.
— Certo.
Entro no quarto e me deparo com uma grande escuridão e um forte cheiro de poeira. Mas, após alguns segundos, uma luz fraca ilumina todo o quarto. É um grande espaço com vários livros em todas as paredes. Ainda continua um pouco sombrio, mesmo com a luz ligada. As paredes são de uma madeira mais escura que a da biblioteca, o que intensifica a sombriedade da sala. É bastante evidente que ninguém usa esse lugar há anos. Dou um passo e a madeira no chão range alto. Back! A porta atrás de mim se fecha e eu fico sozinho nesse espaço.
Inspiro o ar cheio de poeira e olho com mais detalhes. Todos os livros são velhos e acabados. Tem algumas mesas no meio com velas e cadeiras. Meus passos fazem o ranger da madeira continuar alto até que paro no meio da sala.
Uma sala privada à apenas aqueles com autorização…
Me aproximo de umas das prateleiras e toco na capa dos livros. Dá para perceber como esses livros são velhos. No mínimo, décadas. O papel já passou do tom amarelado e está em uma cor difícil de descrever.
Passo o olho rapidamente pela estante e um livro de capa dura chama a minha atenção. Retiro ele e vou até a mesa. Quando coloco o livro na mesa, a vela acende sozinha.
Legal.
Abro a capa com as páginas dele prontas para saírem voando a qualquer movimento. Folheio com cuidado e vejo as letras…
As letras…
Quê?
Essa letra aqui.
Meu olho foca em uma única palavra de uma página cheia de centenas dela.
Porque é uma palavra que já conheço.
Formada por caracteres latino.
No caso, é uma palavra formada por seis desses caracteres:
Guerra.
Rapidamente, passo as folhas e vejo algumas ilustrações que me deixam cada vez mais confuso.
É mostrado várias vezes figuras humanas com pedras na testa indo contra si mesmos. Não é uma foto, mas é uma pintura muito real. É como quadros renascentistas.
O que está acontecendo…?
Ao passar as folhas, encontro cada vez mais palavras e pinturas.
Está escrito em uma língua desconhecida e as imagens são muito desconexas para ligar os pontos. É impossível entender o que está escrito.
Pego outro livro, outro, outro e outro. Mas não nenhum tem o mesmo assunto.
Paro por um segundo e percebo minha mão tremer.
Por quê?
Por que isso está aqui?
Não faz sentido.
Sento em uma das cadeiras com falta de ar.
O que é esse mundo…?
… E onde estou?
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