2 ANOS ATRÁS:
Em um mundo onde segredos antigos e magia se entrelaçam, bruxos e demônios compartilham o mesmo espaço, mas permanecem ocultos na obscuridade. O reino de Brystal: a região com a maior quantidade de casos relacionados a atividades demoníacas. Nenhum outro lugar se compara e é por isso que os Bruxos existem, eles têm um único propósito em suas vidas: defender a raça humana.
Morte, medo, sangue… Essas palavras ecoavam na mente de Jack enquanto ele estava imerso em um pesadelo profundo. O mundo ao seu redor parecia desmoronar, consumido pelo caos. As labaredas das chamas devoravam as casas, árvores mortas se erguiam como sentinelas silenciosas, e os gritos das pessoas ecoavam pelos becos sombrios. O jovem de cabelos bagunçados e olhos heterocromáticos, Jack Everest, estava preso a esse pesadelo apocalíptico.
Ele olhou para todos os lados, e tudo o que viu foram chamas e mais chamas. Podia sentir o calor em sua pele. As sombras das chamas dançavam em seu rosto, espelhando sua impotência. As vozes começaram a aumentar sua intensidade, e os galhos retorcidos das árvores mortas se estendiam em direção ao garoto, que nada podia fazer. Em meio ao caos, Jack começou a escutar uma voz distante chamando pelo seu nome.
— Jack! Jack! Acorda! — disse seu irmão Erik, tentando despertá-lo.
Com um sobressalto, Jack voltou à realidade, seu corpo coberto de suor e tremendo. Ele estava deitado na pequena alcova da taverna onde vivia com seu irmão. Erik, seu irmão mais velho, estava de pé ao lado da cama, preocupado.
— Você teve aquele sonho de novo, não foi? — perguntou, com seu olhar cheio de compaixão.
Jack assentiu, ainda sentindo o eco das chamas em sua mente. O sonho, ou melhor, o pesadelo, era um visitante frequente em suas noites. Erik saiu do quarto, e Jack levantou com um bocejo. Ele vestiu suas roupas gastas e desceu para a taverna, onde o velho dono e quase uma figura paterna para eles, Sam, já estava servindo o almoço. Com sua barba bem cuidada e cabelos ruivos, Sam era um homem rude e grosseiro, mas ainda demonstrava um certo afeto pelos irmãos.
— Você está acordando tarde de novo, Jack! — rosnou Sam. — Não vai conseguir nada na vida dormindo o dia todo!
Jack, com um sorriso sarcástico, respondeu:
— Ah, mas a vida aqui na taverna é tão emocionante que preciso aproveitar todos os momentos!
Ele sabia como provocar Sam, e o velho dono da taverna apenas resmungou, voltando para o balcão.
Erik, mais calmo e sonhador, continuou a conversa com o irmão:
— A propósito, quando a gente chegar à Capital Real, eu vou me alistar nos Paladinos. Só mais dois anos, e eu posso me tornar um defensor do reino!
Jack deu de ombros e brincou:
— Paladinos, hein? Defendendo o reino e tudo mais?
Ele não entendia a empolgação de Erik, que idealizava os Paladinos como heróis.
— É claro, Jack! Alguém precisa fazer o que é certo. — Erik suspirou, sonhador. — Não vou ficar por aqui para sempre.
Jack, por outro lado, tinha ambições diferentes. Ele não compartilhava o mesmo idealismo de Erik. Para ele, a vida na taverna era boa o suficiente, e ele não via necessidade de se tornar um herói. Além disso, ele tinha seus próprios segredos e habilidades que preferia manter ocultos.
— Enquanto isso, eu só quero ficar rico e viver uma vida tranquila. — Jack piscou para o irmão e deu uma risada. Erik não sabia o quão diferentes seus destinos seriam.
O almoço continuou em um clima leve, mas uma sensação de inquietação pairava no ar. Um velho estranho entrou na taverna, seu rosto vincado pela idade e olhos que pareciam conter segredos sombrios. Ele começou a falar de coisas estranhas, mencionando monstros, demônios e segredos antigos que vagavam pelas sombras.
— Monstros… demônios… eles estão lá fora, escondidos nas sombras. O mundo está mudando, e a escuridão está se espalhando. — O velho falou em um tom conspiratório, olhando ao redor como se temesse que alguém o estivesse ouvindo.
Sam, o velho dono da taverna, se irritou com o tom sombrio do velho e seu discurso perturbador.
— Chega dessa conversa maluca, velho! — Sam rosnou enquanto balançava um pano de limpeza. — Não encha a cabeça dos meus clientes com suas bobagens assustadoras.
O velho olhou para Sam com um olhar sério, mas decidiu não insistir. Ele sabia que era inútil tentar convencer os outros do que sabia ser verdade.
Jack decidiu brincar um pouco com o velho para aliviar a tensão. Esticou a mão até a sombra que dançava no chão e, com um gesto rápido e habilidoso, moldou a escuridão em uma flor vermelha escura. Em seguida, retirou um pedaço de papel do bolso e trocou a flor pela folha, exibindo um truque que costumava fazer quando queria impressionar.
O velho ficou surpreso, sua boca se abrindo em um sorriso amarelado.
— Ah, rapaz, você tem talento, mas isso não é nada comparado ao que está lá fora. — O velho apontou para a janela, como se esperasse encontrar algo aterrorizante do lado de fora.
Jack sorriu com orgulho de seu truque, mas o velho logo se levantou da mesa e deu uma olhada ao redor da taverna, como se estivesse se preparando para partir. Ele se aproximou dos irmãos e sussurrou:
— O fim está próximo, crianças. Fiquem alerta.
Então, o velho saiu da taverna e desapareceu na rua movimentada.
Após terminarem o almoço, Sam disse aos irmãos que deveriam ir até a feira comprar frutas com Dona Martha, a vendedora que era famosa por ter as melhores frutas da cidade. Jack e Erik se despediram de Sam e partiram para a feira, curiosos para ver o que encontrariam lá. Os dois então seguiram pelo caminho de paralelepípedos que os levaria até o local. O sol estava alto no céu, e a cidade parecia mais animada do que nunca, com vendedores anunciando suas mercadorias e crianças correndo pelas ruas. O cheiro de comida deliciosa pairava no ar, misturando-se com o aroma adocicado das flores que enfeitavam os cantos das ruas.
Enquanto caminhavam, Erik puxou conversa com seu irmão.
— Você teve aquele pesadelo de novo, não é Jack? — novamente perguntou, preocupado.
Jack assentiu, olhando para o chão enquanto continuavam andando.
— Sim, foi bem intenso desta vez. Aquelas chamas… aquele caos… Eu realmente não sei o que significa, mas é como se algo ruim estivesse se aproximando.
Erik colocou a mão no ombro de Jack, transmitindo apoio.
— Não se preocupe com isso, mano. Talvez seja apenas um pesadelo, ou talvez seja só sua mente tentando fazer sentido das coisas.
Jack forçou um sorriso.
— Espero que você esteja certo, Erik. A última coisa que eu quero é que algo ruim aconteça.
Erik balançou a cabeça, como se quisesse mudar de assunto.
— De qualquer forma, estamos indo comprar frutas pro Sam, então não vamos estragar o dia com pensamentos sombrios.