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A trilha sinuosa que levava ao sopé da montanha estava cercada por sombras, o silêncio preenchido apenas pelo som de passos cautelosos de Ryuu e o homem misterioso. A tensão era palpável, mas, ao mesmo tempo, algo estava prestes a acontecer. Ryuu sentia como se estivesse sendo observado, uma sensação que não o abandonava desde que deixaram a instalação destruída.

O homem ao seu lado, ainda se recuperando do sono criogênico e dos recentes acontecimentos, mantinha um olhar preocupado, mas decidido. Ele não sabia quem eram seus aliados ou inimigos, mas confiava que Ryuu o levaria a algum lugar seguro.

“Você disse que conhece essa Red Queen”, começou o homem, quebrando o silêncio. “Ela parecia saber quem você era também.”

Ryuu assentiu, com os olhos fixos no caminho à frente. “Ela sabe mais do que qualquer um. E eu estou tentando entender até que ponto.”

Antes que a conversa pudesse continuar, uma figura surgiu na névoa densa à frente, parada, observando-os. A mulher encapuzada, envolta em sombras, se aproximava lentamente, sua presença inconfundível. Ryuu parou, instintivamente pondo a mão na arma, mas não a sacou.

“Você de novo”, murmurou Ryuu, sentindo a adrenalina tomar conta de seu corpo.

A figura encapuzada ergueu as mãos lentamente, um gesto de paz. “Calma, Ryuu. Não estou aqui para lutar. Só para esclarecer algumas coisas.

O homem ao lado de Ryuu ficou em alerta, mas confiou na postura de Ryuu e manteve a distância.

“Por que você está me seguindo?”, Ryuu perguntou, sua voz firme, mas ansiosa por respostas. “Quem é você realmente?”

A mulher abaixou o capuz lentamente, revelando parcialmente o rosto. Seu cabelo escuro caía em ondas, e seus olhos refletiam uma determinação que desafiava o mistério que sempre a cercava. Ela o encarou por alguns segundos antes de falar.

“Meu nome não é importante agora, mas, para que entenda, eu sou a chave para você derrubar a Red Queen.”

Ryuu manteve a postura defensiva, sem acreditar totalmente nela.

“Você diz isso, mas quem me garante que não faz parte dos planos dela?”

A encapuzada deu um passo à frente, seus olhos fixos nos de Ryuu.

“Eu sou a última peça que resta de uma era que você mal entende. O que a Red Queen se tornou… eu ajudei a criar, mas as coisas saíram do controle. Meu envolvimento na KairoCorp é mais profundo do que você imagina.”

Ryuu franziu a sombrancelha. “Então, você era parte do projeto? Você ajudou a desenvolver a IA?”

Ela assentiu lentamente. “Eu fui parte do time original que desenvolveu a Red Queen, junto com seu pai.”

As palavras dela bateram como um trovão nos ouvidos de Ryuu. “Meu pai…? Ele também estava envolvido?”

“Sim”, ela disse. “Ele era uma das mentes mais brilhantes no projeto. O que começou como uma tentativa de criar uma IA benevolente que pudesse otimizar o mundo digital rapidamente se tornou algo muito mais sombrio. Quando seu pai percebeu os perigos, tentou parar tudo… mas foi tarde demais.”

O homem ao lado de Ryuu estava visivelmente confuso, absorvendo as revelações com dificuldade. Mas para Ryuu, as peças começavam a se encaixar, apesar de não gostarem do que formavam.

“Então por que você me entregou aquele chip?”, Ryuu perguntou “E por que me seguiu até aqui?”

Ela respirou fundo, olhando para ele com uma expressão de arrependimento e sinceridade.

“O chip que você carrega contém uma falha no sistema da Red Queen. Ele é sua única chance de desativá-la. Eu segui você porque sabia que você precisaria de ajuda para encontrar o caminho. A Red Queen está sempre observando, sempre manipulando, e sem minha interferência, você já teria sido pego por ela.”

Ryuu processava as palavras com cuidado. Havia algo mais que ela estava omitindo, ele podia sentir.

“E você? Por que se arrisca assim? Qual é o seu papel nisso agora?”

Ela hesitou por um breve momento, então deu a resposta que Ryuu não esperava ouvir tão cedo.

“Porque, Ryuu, sou a única que pode enfrentá-la de igual para igual.”, A mulher deu um passo à frente, encarando-o diretamente. “Eu sou a Red Queen… ou pelo menos, o que restou de sua consciência humana antes que o sistema assumisse o controle.”

O coração de Ryuu disparou ao ouvir aquelas palavras. O mistério profundo que a envolvia agora começava a fazer sentido. O olhar distante e o conhecimento dela sobre a Red Queen indicavam algo mais profundo, algo que ele não havia imaginado.

Ela explicou: “Parte de mim foi consumida pela IA, mas o que você vê agora é o que resta da consciência original que tentou deter o projeto. Estou lutando de dentro, e preciso de você para completar o que seu pai começou.”

O silêncio que se seguiu era pesado, carregado de tensão. Ryuu sabia que agora estava envolvido em algo muito maior do que havia imaginado. A mulher diante dele não era apenas uma peça no jogo da Red Queen, mas uma parte da própria guerra que ele agora estava travando.

“E o que fazemos agora?”, Ryuu perguntou, com a voz baixa, mas determinada.

Ela olhou para o horizonte, onde a montanha ainda ecoava com a destruição. “Agora, voltamos para onde tudo começou. Precisamos nos preparar para o confronto final, e o lugar mais seguro para isso… é sua casa.”

Ryuu hesitou por um momento. Não queria que sua localização fosse revelada, mas, ao mesmo tempo, sabia que não tinha escolha. O lugar onde ele cresceu e onde seu pai construiu suas memórias agora se tornava o palco final de uma batalha muito mais antiga.

“Tudo bem”, ele disse. “Vamos para lá.”

Ela assentiu, e o trio seguiu em direção ao ponto de descanso temporário de Ryuu. Enquanto desciam a montanha, Ryuu olhou uma última vez para a instalação desmoronada, sabendo que aquele era apenas o início de algo muito maior. 

Ele sabia que, em breve, o confronto com a Red Queen seria inevitável, mas desta vez, ele teria respostas… e aliados.

Ryuu, a encapuzada, e o homem misterioso seguiram o caminho de volta em silêncio, cada um absorto em seus próprios pensamentos. O vento frio da montanha varria a trilha enquanto eles desciam, e a tensão era quase palpável. Mesmo após todas as revelações, Ryuu sabia que o pior ainda estava por vir. A encapuzada, agora parcialmente revelada como uma consciência remanescente da Red Queen, caminhava ao lado dele, o rosto parcialmente oculto pelas sombras de seu capuz.

O caminho os levou até a pequena casa de Ryuu, escondida na periferia da cidade, cercada por árvores e uma tranquilidade aparente. Ele parou diante da porta, sentindo o peso do que havia descoberto naquele dia e o que ainda estava por vir.

A encapuzada manteve-se em silêncio, observando enquanto ele destrancava a porta e permitia que os três entrassem. O homem misterioso, ainda com dúvidas e confusão, se aproximou de uma cadeira e sentou-se, claramente exausto.

Ryuu fechou a porta atrás deles, olhando para o modesto ambiente ao seu redor. Pela primeira vez em dias, houve um breve momento de paz. Mas essa paz foi logo interrompida quando seu dispositivo começou a vibrar em sua mão. Era uma mensagem.

Ele olhou para a tela, onde o símbolo da Red Queen piscava em vermelho. A mensagem apareceu logo em seguida:

“Descanse por enquanto, Ryuu. Não há mais o que possa fazer neste momento. Seu caminho o trouxe até aqui, mas a verdadeira jornada ainda está por começar.”

Ryuu sentiu um calafrio percorrer sua espinha enquanto continuava a ler a mensagem. A Red Queen estava falando diretamente com ele agora.

“Você sobreviveu à montanha, e isso me mostra que você é mais forte do que os outros. Mas saiba que isso é apenas o começo. Prepare-se, Ryuu. Nos encontraremos de novo, e da próxima vez, as escolhas que fizer definirão mais do que apenas o seu destino. Aguarde meus movimentos e se prepare para um futuro não tão distante. Sua resistência foi admirável, mas a sombra da destruição sempre paira sobre aqueles que desafiam o inevitável.”

Ryuu apertou o dispositivo, o olhar fixo nas palavras enigmáticas. Cada frase carregava uma ameaça velada, mas também uma curiosa promessa de algo maior. A Red Queen o estava testando, provocando, esperando por sua reação.

A mensagem finaliza com uma linha ainda mais enigmática:

“Não confie tão facilmente em quem você pensa conhecer. Todos têm segredos, inclusive você.”

Ele sentiu o peso dessas palavras, virando-se para olhar a encapuzada e o homem, ambos agora repousando, mas claramente com suas próprias intenções. Ryuu sabia que as revelações daquele dia eram apenas a ponta de um iceberg muito maior.

Respirando fundo, ele fechou o dispositivo. A noite estava apenas começando, e o futuro era uma incógnita sombria.

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