O sol já havia se posto em Tokyo, mas a cidade ainda pulsava com vida. As ruas estavam lotadas, um mosaico de luzes neon, pessoas apressadas, e o som incessante das máquinas. Do lado de fora do prédio onde Ryuu vivia, drones zumbiam no ar, patrulhando os céus como guardiões silenciosos. Apesar da tecnologia avançada que cercava a metrópole, Ryuu sentia que algo mais profundo e sombrio estava se infiltrando em seu mundo.
Desligando os monitores por um momento, Ryuu levantou-se e olhou pela janela. As cidades sempre pareciam calmas de cima, mas ele sabia que abaixo dessa superfície, havia um mundo inteiro de caos digital. O submundo dos hackers, as sombras das corporações, e as pessoas que tentavam viver suas vidas comuns no meio de tudo isso. Ele estava preso entre dois mundos — o físico, que se tornava cada vez mais controlado, e o digital, onde as verdadeiras batalhas eram travadas. Ele sabia que, para sobreviver, precisava dominar ambos. Ryuu resolveu sair por um tempo, caminhar pelas ruas e clarear a mente. Vestiu um casaco escuro, colocou o capuz sobre a cabeça e desceu as escadas do prédio em direção ao coração da cidade. Não era apenas para espairecer; ele tinha um objetivo. Precisava de informações que só podiam ser obtidas no mundo real.
O “Mercado Negro”, como era chamado, era uma parte menos conhecida de Tokyo, onde mercenários, hackers, e contrabandistas se encontravam para trocar informações e vender suas habilidades. A KairoCorp tinha tentáculos em todos os lugares, mas o Mercado Negro ainda era um dos poucos locais onde se podia encontrar anonimato — ao menos para aqueles que sabiam como jogar.
Enquanto caminhava pelas ruas estreitas e mal iluminadas, Ryuu se misturava à multidão, suas mãos sempre no bolso, onde uma pequena faca laser estava escondida, apenas no caso de uma emergência. O Mercado Negro era tão perigoso quanto o ciberespaço, talvez até mais. Finalmente, ele chegou ao destino: uma pequena loja, quase invisível entre os edifícios. A porta estava entreaberta, e um leve cheiro de eletrônicos queimados emanava do interior. Sem hesitar, Ryuu entrou.
Lá dentro, a loja era escura, iluminada apenas por auras cintilantes vindas de displays holográficos espalhados pela sala. Atrás do balcão, uma figura encapuzada mexia em uma pilha de chips e dispositivos estranhos.
“Você realmente é corajoso, Phantom”, a voz feminina soou suave, mas firme. “Vindo aqui depois de todo o caos que causou na rede.”
Ryuu não se surpreendeu que já soubessem quem ele era. “Informação corre rápido por aqui, não é?”, ele respondeu, aproximando-se lentamente.
“Mais rápido do que você imagina. Mas você não veio aqui para bater papo. O que você quer?”, perguntou a figura, finalmente olhando para ele. Seus olhos brilhavam com um tom cibernético, mostrando que ela tinha implantes avançados.
“Preciso de respostas sobre a Red Queen”, Ryuu disse, direto ao ponto. A figura sorriu, mas era um sorriso frio, calculado.
“Todos querem saber sobre ela, mas poucos sobrevivem para contar a história. O que exatamente você quer saber?”
“Quero saber por que ela está interessada em mim, e por que estou sendo caçado. E também quero saber sobre o algoritmo de controle mental da KairoCorp. Qual é o verdadeiro propósito?”
A figura parou por um momento, antes de pegar um pequeno chip e colocá-lo sobre o balcão. “Isso pode te ajudar. É um pacote de dados sobre os primeiros experimentos da KairoCorp com o algoritmo. Não está completo, mas pode te dar uma visão do que eles estão tentando alcançar. Quanto à Red Queen… tudo o que posso te dizer é que ela não age sozinha. Ela faz parte de algo maior, algo que está crescendo nas sombras.”
Ryuu pegou o chip, mas antes de sair, perguntou: “E você? Por que está me ajudando?”
Ela hesitou por um momento.
“Talvez eu veja algo em você, Phantom. Algo que o distingue dos outros. Talvez eu apenas goste de derrubar grandes corporações ou apenas goste de ver o caos. Acredite no que quiser, mas lembre-se: o mundo que você está entrando é perigoso, e nem todos sobrevivem.”
Ryuu olhou para o chip em suas mãos, sentindo o peso das implicações. Ele sabia que aquilo poderia lhe fornecer as respostas que buscava, mas também o jogaria ainda mais fundo no abismo.
“Obrigado”, ele disse, começando a se virar para sair.
Quando chegou em casa, Ryuu conectou o chip ao seu sistema e começou a analisar os dados. As informações estavam fragmentadas, mas revelavam detalhes perturbadores sobre o algoritmo de controle mental da KairoCorp. O projeto era muito mais avançado do que ele imaginava — uma ferramenta para controlar pensamentos e emoções de pessoas em uma escala global, tudo sob o pretexto de uma nova tecnologia de entretenimento.
Enquanto processava as informações, a imagem da vendedora encapuzada não saía de sua mente. Quem era ela realmente? E qual era sua conexão com a Red Queen? Ela era apenas uma informante, ou algo mais?
Ryuu sabia que precisava de respostas, mas também sabia que não podia se precipitar. O mundo ao seu redor estava se tornando cada vez mais complexo, e cada movimento precisava ser calculado. Ele estava no início de uma guerra cibernética que poderia definir o futuro da humanidade.
A análise dos dados estava lenta. Cada fragmento revelava mais sobre o alcance sinistro do algoritmo da KairoCorp, mas as peças ainda não se encaixavam completamente. Ryuu sentia que estava à beira de uma revelação, mas algo faltava, algo que ele não conseguia entender apenas com números e códigos.
Enquanto a máquina processava os dados, Ryuu se levantou e começou a andar pelo apartamento. A imagem da vendedora encapuzada continuava a ocupar sua mente. Ele se lembrava de cada detalhe: o capuz que obscurecia seu rosto, a voz calma, e aqueles olhos cibernéticos que pareciam ver através dele. Ela não era uma simples vendedora; mas o que mais o incomodava era o pressentimento de que ela sabia muito mais do que estava deixando transparecer.
Se ela, de alguma forma, realmente estivesse ligada à Red Queen, como sugeriam as pistas até agora, por que ela lhe entregaria algo que poderia ajudar a derrubar a própria organização que supostamente servia? A situação era cada vez mais intrigante, e Ryuu estava determinado a descobrir a verdade.
De volta ao computador, ele começou a cruzar as informações obtidas com os dados que já tinha sobre a Red Queen. O nome continuava aparecendo em registros antigos, em rumores da rede, e em operações secretas, mas sempre envolto em mistério. Ninguém parecia saber exatamente quem ou o que era a Red Queen — apenas que sua influência estava em toda parte.
O chip que a vendedora lhe deu continha arquivos que datavam de mais de uma década, mostrando os primeiros experimentos da KairoCorp. Havia registros de testes em voluntários, muitos dos quais nunca foram vistos novamente. O algoritmo, inicialmente concebido para tratamentos médicos, havia se transformado em uma arma. Mas ainda assim, o motivo por trás disso permanecia oculto.
Enquanto Ryuu navegava pelas linhas de código e relatórios, um arquivo chamou sua atenção. Era uma gravação de áudio, marcada como “confidencial”. Ele clicou para ouvir.
Uma voz feminina, baixa e calculada, começou a falar. “O projeto avançou para a Fase III. A integração com os sistemas neurais foi um sucesso. A partir de agora, cada usuário que acessar nossa rede se tornará parte do nosso experimento.”
A voz parou por um momento, e então continuou com uma frieza que fez Ryuu gelar. “Eles não perceberão. Ninguém perceberá. Estamos moldando a mente humana, uma por vez.”
Ryuu sentiu um arrepio na espinha.
De repente, o sistema começou a travar. Alertas começaram a piscar em todas as telas. Alguém estava tentando invadir seu sistema, mas Ryuu não era um amador. Ele rapidamente isolou o arquivo comprometido e iniciou um contra-ataque, fechando as brechas e rastreando a origem da invasão.
Mas quando ele chegou ao final da trilha, tudo o que encontrou foi um aviso em sua tela:
“Você está chegando perto demais, Phantom. Cuidado com o que deseja encontrar.”
O invasor havia deixado uma assinatura — o símbolo de uma coroa vermelha.
Ryuu se recostou na cadeira, absorvendo o impacto da mensagem. Não havia mais dúvidas: ele estava diretamente no caminho da Red Queen. E ela sabia disso.
A mensagem, ao invés de intimidá-lo, apenas reforçou sua determinação. Ele sabia que estava pisando em território perigoso, mas não tinha intenção de recuar. Com o coração acelerado, Ryuu começou a fazer backup de todos os dados que havia conseguido, sabendo que cada fragmento poderia ser vital para entender o plano completo da KairoCorp e o papel da Red Queen.
Agora, mais do que nunca, ele precisava de respostas. Enquanto a noite se aprofundava, Tokyo brilhava com suas luzes artificiais, mas Ryuu sentia que estava mais escuro do que nunca. As peças do quebra-cabeça estavam começando a se juntar, mas ainda havia muito que ele não conseguia ver. Ele sabia que, para sobreviver, precisaria estar preparado para qualquer coisa — e que as verdadeiras respostas só viriam com o tempo.