The Little White Church, minutos antes.
“Complicações estão presentes aqui. Uma criança sob o domínio de um Mephisto. Preciso formular um plano mais eficaz.”
Mikael percebeu que deveria empregar menos energia negativa em suas ações após observar Benjamin ao lado de Klaus. A determinação de não ferir a criança direcionou sua estratégia, ganhando prioridade sobre os demais aspectos.
Contudo, uma análise detalhada revelou que Benjamin não exibia os sintomas típicos da transformação que Klaus costumava impor às suas vítimas, convertendo-as em criaturas terríveis. Isso trouxe um alívio a Mikael – aparentemente, as corrupções de Fritz não tinham atingido o menino.
— Vamos ser breve, afinal, estamos em um lugar sagrado. — disse ele, com um toque de desdém. — Eliminar você aqui soa até como uma piada.
Klaus sorriu sardonicamente em resposta, como se soubesse que Mikael estava subestimando ele. Por outro lado, o centro involuntário das atenções, Benjamin, não disse nada, seus olhos inocentes contrastavam com a ansiedade que crescia ao seu redor.
“Eles não voltaram.”, observou Klaus em relação a ausência de Wolfgang e Mavie. “Isso implica em uma coisa…”
Foi planejado que Wolfgang e Mavie se encontrariam na igreja após completarem a última tarefa, que exigia que eles recolhessem os cadáveres e utilizassem suas almas para um ritual em honra ao poder oferecido para o Rei.
Fritz desconfiou da quantidade de tempo que havia se passado desde então e chegou à terrível conclusão:
“Estão mortos.”
Sentindo-se perfeitamente satisfeito consigo mesmo, se alegrou.
“Obrigado por isso, vocês também fizeram parte desse jogo.”
Sem dúvida alguma, o Mephisto foi o cérebro por trás de tudo isso.
No princípio, Klaus Fritz era uma mente obscurecida por ambiguidades, desejos e anseios de um adolescente comum. Entretanto, à medida que o caos da ideologia nazista permeava essa mentalidade, ocorreu uma metamorfose sinistra. Os horrores observados, o compromisso com ideais distorcidos e a imersão na loucura comunitária corroeram gradualmente a humanidade dessa pessoa.
O surgimento dessa criatura, alimentado pela erosão da moral e da ética, evoluiu para uma força malévola dentro da sua consciência, uma mistura hedionda de influências pervertidas e concepções deturpadas.
O Mephisto, uma vez à espreita nas profundezas da sua mente, estabeleceu uma presença irrefutável, lançando uma sombra enervante sobre tudo o que antes era considerado humano. A sombra dessa transição significava não apenas a decadência individual, mas também uma representação da imoralidade que assolava um país inteiro.
Klaus era um Mephisto que vivia entre o povo da Alemanha, fazendo-se passar por um cidadão comum e escondendo sua verdadeira natureza de lobo em pele de cordeiro. Sua intenção era jurar lealdade a uma entidade, o que o levou a forjar uma aliança duvidosa com Erich Schneider. Essa coalizão secreta apoiaria tentativas inescrupulosas de consolidar o governo do ditador. Fritz prometeu melhorar sua posição dentro do partido e apoiar os objetivos ditatoriais do regime.
Schneider, Mavie e Wolfgang mereciam crédito por seguir o método de Klaus. Por outro lado, ele colocou seus associados em risco ao incorporá-los em seus planos sem se preocupar com a segurança deles.
Seu brilho surpreendente, serenidade sobrenatural e destemor assustador os tornaram figuras indispensáveis em sua ambição.
— Posso sentir o quanto isso vai moldar o futuro desta realidade. — declarou, com um braço estendido em direção à Mikael. — Poder máximo, liberdade, é tudo o que ele deseja.
Os primeiros passos do homem em direção ao Mephisto eram como adentrar um labirinto interminável.
O corredor começou a distorcer-se, torcendo e esticando-se de maneiras que desafiavam a geometria. As sombras projetadas pelos candelabros dançavam nas paredes, criando ilusões efêmeras que desafiavam o entendimento.
O cheiro do incenso se tornava intoxicantemente intenso, envolvendo Mikael em uma bruma enigmática que parecia pulsar com vida própria.
— O que…?
As rugas da sua testa alargaram-se, mostrando o quão profundamente preocupado estava com a ameaça iminente. A iluminação constante da vela criava sombras vivas e ondulantes com as quais parecia comunicar segredos e promessas demasiado delicadas para serem ouvidas. Ele sentiu uma rigidez em seus pensamentos, como se sua própria consciência estivesse presa por correntes.
Estas correntes revelaram sua presença enquanto serpenteavam pelas janelas como sombras vivas, assumindo forma física e se desdobrando como tentáculos em busca de sua presa.
— Ele foi rápido no truque.
A expressão de Mikael era uma combinação de surpresa e preocupação. Seus olhos, ampliados pelo medo, espelhavam o desconforto diante do perigo que enfrentava.
Com agilidade e instinto apurado, ele antecipou o perigo das correntes antes que se tornassem totalmente visíveis. Ele se abaixou rapidamente à medida que as correntes surgiam, rastejando pelo solo.
Suas mãos tocaram o chão e ele se jogou para cima, executando um giro suave para se esquivar das tentativas iniciais de outras correntes de agarrá-lo.
Suspensa no ar, a igreja expandia-se e contraía-se, dando a impressão de estar a 20 metros de altura.
— Esse lugar… — Olhou em volta com incredulidade. A visão ao seu redor parecia real demais para ser uma mera ilusão. — É ridículo.
As sombras brincavam nas paredes, desenhando figuras fugazes e sinistras. O próprio ar era mais pesado, como se tivesse sido impregnado de uma energia inexplicável.
— Deve haver um jeito de sair dessa.
Mikael sentiu uma pressão crescente em sua consciência, uma sensação angustiante de que as leis da realidade estavam desmoronando ao seu redor. O espaço e o tempo pareciam se misturar e se entrelaçar, gerando uma experiência bizarra que desafiava todo o raciocínio convencional.
Ele lutava para manter a compostura diante da contradição de um ambiente ao mesmo tempo familiar e estranho. A distorção da realidade era uma força invisível, porém tangível, que o cercava, criando um oásis de estabilidade relativa no meio do caos sensorial.
A luz que se infiltrava pelas janelas criava uma miragem, uma ilusão transitória que confundia Mikael. As correntes avançavam rapidamente em sua direção, ávidas por alcançá-lo.
Ele estendeu seu braço esquerdo em direção às correntes e utilizou o Bang, repelindo-as com a força de uma onda cinética.
— É isso!
Naquele instante, ele compreendeu que suas habilidades poderiam ser empregadas para lutar contra as forças que o queriam confinar em uma realidade distorcida.
A sensação de domínio sobre as energias ao seu redor lhe dava um controle preciso em meio ao desconhecido. Mikael empregou o Bang sem vacilar, porém, desta vez, adotou uma nova técnica: posicionando o dedo indicador nas têmporas.
O som retumbante reverberou, mas, curiosamente, o disparo não representava uma ameaça vinda de fora. Ele tinha canalizado a energia para si próprio, buscando transcender a realidade distorcida que o envolvia.
A consciência dele despertou imediatamente, como se tivesse saído de um coma profundo causado pela tremenda habilidade de Klaus Fritz, a Prisão Mental.
“Tão rápido?”
Quando recobrou a consciência, a surpresa nos olhos do Mephisto era evidente, constatando a rapidez com que Mikael tinha quebrado a ilusão que o envolvera.
A experiência enganadora durou minutos, mas foram apenas alguns segundos sob o efeito da técnica. A simulação vívida e realista de Klaus distorceu a sua perceção, mergulhando-o num mundo imaginário, mas incrivelmente real.
Mesmo em seu estado perigoso, ele exibia um sorriso confiante e falou:
— Não foi o suficiente!
O olhar firme e o comportamento resoluto de Mikael mostraram que, mesmo diante do perigo, ele se apegava às suas crenças. Seus olhos brilhavam com bravura, prontos para enfrentar qualquer desafio que Klaus pudesse lançar em seu caminho.
Ao se aproximar de Mephisto, o que deveria ter sido seu momento de vitória foi interrompido por uma sensação penetrante que atravessou seu pescoço. A força que antes procurava enredá-lo com ilusões agora apresentava um perigo real.
“Como…? Não acabou?”
Acreditando ter escapado da Prisão Mental, percebeu seu erro. As garras da ilusão permaneciam ativas, agora se manifestando de maneira física e intimidadora.
Novas correntes se fecharam em torno dele, formando uma prisão de metal. O frio do ferro comprimia sua pele, e a pressão letal em seu pescoço se intensificava. Num movimento súbito, a corrente em seu pescoço o arrastou em direção à porta, suspendendo-o ali.
A ilusão criada pelas correntes sobrecarregou os sentidos dele, deixando-o tonto e exposto. A luta se desenrolava não apenas no plano físico, mas também nas intrincadas teias da mente, onde as linhas entre realidade e ilusão se embaralhavam cada vez mais.
Conforme a pressão das correntes se intensificava, Mikael percebeu que fugir demandaria mais do que mera força bruta. Ele precisaria descobrir como se desvencilhar das armadilhas da Prisão Mental e retomar o controle de sua percepção da realidade.
— Ah… é um prazer observá-lo tentando fugir. É um truque curioso, não é? Sua angústia é agradável, um saboroso diálogo entre o seu espírito e o meu desejo de possuí-lo.
Aproximou-se, exibindo um sorriso arrogante no rosto enquanto concentrava seu olhar em Mikael, prometendo tortura e agonia.
— Considerando seu poder, sua alma deve ser extraordinária. — A ideia emergiu claramente. — Oh, a quantidade de poder que conseguirei extrair de você é absolutamente incrível.
Klaus pressionava as palmas das mãos contra as correntes, ativando sua técnica Cicatrizes. Uma aura de energia negativa emergiu, envolvendo-as, transformando-se com uma vibração destrutiva.
Eles transcenderam o materialismo convencional e se tornaram manifestações de feridas. Não eram apenas lesões no corpo físico de Mikael, mas também em sua existência. Cada uma delas parecia corroer memórias, emoções e a essência de ser, um sofrimento que ia além do físico.
O rosto de Mikael, enquanto isso, exibia uma expressão de desafio e agonia, desafiando o aperto cruel das correntes e as impressionantes provocações de Klaus.
— Isso é intrigante. Sua alma é incrivelmente poderosa, cheia de resistência e força. Ainda assim, aqui está você. Imagine o que poderíamos fazer juntos se você se rendesse livremente.
O Mephisto sorria enquanto as correntes se apertavam, saboreando a miséria alheia.
— Sua alma será o ponto central da grande cerimônia do Mundo Carmesim. Uma contribuição significativa para a libertação do Rei. Sua essência luminosa servirá como o portal para a liberação. Ah, como a escuridão anseia pelo presente de sua alma!
Ele encontrava prazer na brutalidade de suas palavras, degustando cada sílaba de ódio. Seu deleite transparecia na forma como ele se regozijava com o sofrimento de Mikael, antecipando o sacrifício próximo da alma do homem em um ritual maligno.