9 de Agosto.
Sombras se estendiam pelo terreno árido da escola sob um céu pintado em tons solenes, onde se reuniam pais preocupados, desesperados por qualquer notícia que aliviasse seus piores temores ou oferecesse um vislumbre de consolo.
A sensação generalizada de incerteza pairava pesadamente no ar, com sussurros de angústia que se espalhavam pela atmosfera agitada. Policiais e equipes de emergência trabalhavam incansavelmente para solucionar problemas da tragédia, motivados pela urgência da situação.
Simultaneamente, Pesquisadores trabalharam incansavelmente para coletar informações, reunindo meticulosamente a sequência de eventos em um esforço para entender como um ato tão hediondo poderia ter se desenrolado.
Vestindo um sobretudo preto, roupa social e uma gravata vermelha, o líder se manifestou, sua camisa adornada com a insígnia suntuosa da U.E.C. Em um olhar grave e pesaroso, ele deu um passo à frente para se dirigir aos pais angustiados reunidos do lado de fora da escola. Assumindo o peso do momento, ele tentou esclarecer as coisas em meio ao manto de mistério que envolvia a situação.
— A Unidade entende que este é um momento profundamente perturbador e sensível. Queremos reiterar nosso compromisso total em apoiá-lo e garantir que as memórias das pessoas perdidas sejam honradas adequadamente.
Com uma breve pausa, o homem permitiu que suas palavras se acomodassem e ressoassem entre os adultos aflitos presentes. O silêncio que se seguiu foi pontuado apenas por soluços e lágrimas que teimavam se libertar.
— Além disso, estamos totalmente comprometidos em trabalhar com as autoridades para conduzir uma investigação apurada sobre os eventos que levaram a esse incidente. Utilizaremos todos os recursos disponíveis para garantir que a verdade seja trazida à tona e que a justiça seja feita de acordo com a lei.
A seriedade de suas palavras foi ressaltada por seu olhar impassível, como se cada promessa proferida carregasse o peso da justiça e da redenção.
— Embora reconheçamos que não há palavras que possam substituir os entes queridos perdidos, esperamos que, trabalhando juntos, possamos percorrer esse caminho difícil e zelar para que suas memórias sejam reverenciadas.
Ao concluir sua fala, o homem permaneceu, oferecendo um olhar compassivo aos cônjuges em luto que enfrentavam uma tristeza imensurável.
10 de Agosto.
No coração da escola, um memorial improvisado floresceu. Fotografias emolduradas, algumas vibrantes e alegres, outras adornadas com mensagens de amor manchadas de lágrimas, transformaram o corredor outrora comum em um refúgio de lembranças espontâneas.
Ali, pais, professores e crianças se reuniram em uma silenciosa comunhão de pesar. Seus olhares, carregados de tristeza compartilhada, falavam muito sem que uma única palavra precisasse ser dita.
Os rostos sorridentes capturados em fotos, provas das vidas perdidas, serviram como um potente lembrete da alegria que eles proporcionaram às pessoas que mais os amavam.
Mas o silêncio tinha um peso adicional. Além das perdas mútuas, houve uma reviravolta na comunidade. A mídia ficou fascinada com a catástrofe, e um editorial expressou a indignação em ebulição. Foi um grito de angústia e indignação, uma condenação direta da violência que havia destruído o mundo deles.
“Erguemos as nossas vozes para condenar veementemente o responsável por este ato atroz, exigindo a mais severa punição. Que a memória deste ato de violência hediondo permaneça gravada na história como um terrível e inegável lembrete da nossa necessidade urgente de enfrentar o mal e proteger vidas inocentes.
Este é o pior dos pesadelos, uma cicatriz profunda e indelével na alma da humanidade que clama por justiça e ação decisiva para garantir que a nossa sociedade seja um lugar seguro para todos, especialmente para as vítimas cujas vidas foram brutalmente ceifadas.
Entretanto, em vez de nos limitarmos a lamentar, temos de agir, assumir responsabilidades e reformar o país, para que um dia possamos dizer verdadeiramente que honramos a memória daqueles que perdemos.
Honrar a memória daqueles que perdemos não deve ser apenas uma declaração de condolências vazia, mas um compromisso coletivo de mudança. Não podemos deixar que esta tragédia seja esquecida pelo tempo, como tantas outras. Temos de transformar a nossa dor em ação, a nossa tristeza em determinação. Não podemos continuar a ser prisioneiros da nossa própria negligência. A nação tem de acordar para o custo contínuo da inação, para o preço do nosso silêncio em relação à violência que nos aflige.
Os nossos corações estão pesados, mas é tempo de agir, de nos responsabilizarmos pela tragédia que permitimos que persista.”
– The Boston Globe.
O editorial publicado nos jornais diários foi um apelo urgente para que a sociedade unisse forças para construir um futuro mais seguro.
11 de Agosto.
Eu estava chegando a uma encruzilhada, um ponto decisivo em minha jornada da adolescência à vida adulta. O peso do futuro recaía sobre mim, fosse a decisão de frequentar a universidade ou o terrível desconhecido do mercado de trabalho.
Todavia, assim que a necessidade de ir embora, de escapar do peso dessas decisões, começou a me dominar, um incidente inesperado colocou uma sombra negativa sobre tudo, inclusive sobre mim. Era a antítese da juventude, uma força que parecia aniquilar a vida e o otimismo em seu caminho.
A exploração despreocupada das possibilidades deu lugar a uma incerteza assustadora. Era esse o mundo em que eu estava prestes a entrar? Um mundo onde a vibração da vida poderia ser extinta em um instante? A universidade, um emprego, um futuro – tudo isso parecia trivial diante de um destino tão cruel.
— Bom dia, bela adormecida.
Ouvi o som do bater de palmas após o chamado, que era de uma voz masculina.
Levantando lentamente minhas pálpebras, mesmo que minha visão estivesse muito turva, conseguia ver suas pernas.
— Ele parece estar finalmente recuperando a consciência. A sessão está prestes a começar.
Não tinha ideia do que ele estava dizendo, menos ainda do que se tratava.
Balancei a cabeça de um lado para o outro com a sensação de estar totalmente fora de ordem.
Ao observar os arredores, ficou claro que o local em que eu me encontrava estava abandonado há muito tempo, e seu estado decadente sugeria anos de negligência sem nenhuma esperança de restauração: estruturas em ruínas, pintura descascando como pele queimada pelo sol, pisos cobertos de poeira e detritos, janelas quebradas que possibilitavam a passagem da luz solar em raios irregulares.
Não havia dúvida em minha mente de que eu estava do lado de fora. Isso era algum tipo de brincadeira? Eu não estava tão perdido a ponto de esquecer tudo, estava?
— Tá legal?
— Ah…
Ele se abaixou. Finalmente, pude ver seu rosto, embora não tenha conseguido identificá-lo.
Fiz outra tentativa de mover minhas mãos, contudo, sem sucesso. Elas estavam presas em esferas de metal conectadas a correntes ligadas à parede. Ambas pareciam ter sido feitas de uma substância altamente durável.
— Que apertado…
Sentia minha pele doer graças a essa massa pressionando audaciosamente contra minha carne.
— E aí, como se sente? Tá melhor agora? Passou 3 dias desacordado. — Ele puxou uma cadeira que estava próxima e se sentou. — Você fez um maior estrago naquela escola. A gente não podia deixar que você continuasse.
— Quem é–
Como era a pergunta mais aparente, ele respondeu imediatamente:
— De uma maneira mais resumida, somos uma força-tarefa, a famosa U.E.C., ou melhor, Unidade Expedicionária de Caça. Prendemos e matamos criaturas perigosas como vocês, Mephistos.
O rapaz vestido com uma roupa social social anunciava isso não como um blefe ou uma metáfora.
— … O quê?
— Não vai ser nada fácil explicar mesmo. — Suspirou. — Você só está aqui porque é uma dessas coisas. Parece que existe um ser vivo dentro de você. Elas geralmente surgem de alguma forma de negatividade por parte do ser humano e assumem o controle de sua mente e de seu corpo.
— … Do que cê tá falando?
— Bem…
Ele estava olhando para mim quando aproximou seu rosto, tornando nítido a cor vermelha pintando seus olhos.
Mesmo que um pouco, meus sentidos já estavam suficientemente recobrados para entender o que ele dizia.
— Você é o primeiro exemplo de ser humano mortal de enorme poder. Isso faz de você metade humano, metade Mephisto. Tem ideia do que são essas histórias de híbridos? É basicamente isso.
— Eu… entendi foi nada. — Tentei mover de novo os meus braços e falhei. — Por que diabos eu tô preso aqui? Que parada é essa?!
— Foi o que eu literalmente acabei de responder. Mas, pelo que parece, você ainda é muito jovem, por isso que é tão burro.
Ele então se levantou da cadeira, zombeteiramente e com uma risada provocativa, e pegou o relatório técnico na prateleira à sua direita.
— Hey! Nem sei quem você é, mas já te odeio!
Deu-me uma olhada fugaz. Parecia não ter sido afetado pelo que ouvira; na verdade, manteve a mesma face de serenidade.
— Isso é perfeitamente normal. Não é a primeira vez que alguém diz isso só para mim.
Começou a ler cuidadosamente cada linha da informação minuciosamente detalhada, segurando firmemente o papel entre os dedos.
Nome: Krynt Hughes.
Idade: 17 anos.
Gênero: Masculino.
Altura: 1,72 metros.
Peso: Aproximadamente 70 kg.
Cor dos Olhos: Castanho-escuro.
Cor do Cabelo: Castanho-escuro.
Descrição Física: Krynt Hughes é um jovem de constituição física magra, com cabelos pretos caídos sobre a testa. Seus olhos são penetrantes, dando-lhe uma aparência inquietante e perturbadora.
Tatuagens/Cicatrizes: Não há informações sobre tatuagens ou cicatrizes visíveis.
Comportamento Notável: Hughes é notório por seu comportamento extremamente violento e obsessão por práticas sádicas. Sua obsessão por derramamento de sangue e maquiavelismo levou à estrita proibição de qualquer forma de contato com outros seres humanos.
Observações Adicionais: Este indivíduo representa uma séria ameaça à sociedade. As autoridades são aconselhadas a abordá-lo com extrema cautela. É possível que Hughes esteja sofrendo de distúrbios mentais graves; portanto, recomenda-se que qualquer contato seja feito por profissionais.
Medidas de Segurança: Krynt Hughes representa uma ameaça grave à segurança pública.
Dada a natureza de seus crimes e seu comportamento imprevisível, medidas de segurança extensivas foram implementadas:
Isolamento Total: Krynt Hughes será mantido em isolamento rigoroso para evitar qualquer tipo de contato com outros Mephistos ou membros da equipe da instituição. Essa medida é fundamental para garantir a segurança de todos os envolvidos e minimizar qualquer risco potencial de incidentes. O isolamento rigoroso é uma precaução necessária, dada a natureza do caso e a possível ameaça que ele representa.
Vigilância 24 Horas: O monitoramento constante será realizado por meio de câmeras de segurança, com funcionários qualificados para garantir que não haja tentativas de fuga ou comportamento agressivo por parte do Mephisto. Essa vigilância contínua é fundamental para manter a segurança e a ordem na instituição, garantindo que qualquer movimento perigoso seja detectado e tratado imediatamente.
Avaliação Regular: Serão realizadas avaliações regulares para monitorar de perto a condição de Krynt Hughes. Essas avaliações são essenciais para acompanhar sua condição física e mental ao longo do tempo, permitindo a intervenção adequada caso haja alguma mudança significativa em seu comportamento ou estado de saúde.
Restrição de Visitas: Visitas restritas a profissionais autorizados.
Aviso: Qualquer tentativa de violar as medidas de segurança resultará em ações legais imediatas. Este registro é confidencial e estritamente para uso oficial das autoridades competentes.
A órbita negra sobre mim era descrita em cada palavra e sílaba. Crimes relacionados com a violência e atos de instigação ao ódio saltavam das páginas, compondo um quadro perturbador do que eu tinha feito.
Mais do que nunca, parecia que as precauções de segurança não eram apenas apropriadas, mas também vitalmente necessárias para preservar a sociedade contra o mal que eu representava
— Nem fodendo! Como que eu faria uma porra dessa?! — exclamei, em total descrença enquanto olhava para ele.
— É exatamente isso que estamos tentando descobrir. Por enquanto, só sabemos que você foi possuído por essa coisa que está aí dentro.
Ele olhou novamente para o papel.
— Você também possui uma doença hereditária: esquizofrenia.
Com um olhar torto e incrédulo, perguntei:
— Como é a conversa?
— Você apresentou sintomas de esquizofrenia nos três dias que se passaram desde que o trouxemos para cá, como falar sozinho ou ter alucinações. Mas agora que finalmente posso perguntar… — Aproximou-se, segurando a ponta de seu queixo, aprofundando nosso contato visual. — O que exatamente você tem?
Recuei por centímetros a cabeça antes de respondê-lo.
— Erm… eu… geralmente ouço uma voz bizarra dizer algo dentro da minha cabeça, só isso.
— Você sabe quem é?
— Não…
— É o suficiente.
Ele voltou de novo para aquela estante.
— Uhm… então… qual é seu nome mesmo?
— Desculpa, não nos apresentamos para criaturas mantidas em contenção, é a regra básica.
— Tsc. — Estalei a língua, chateado.
Um nó de frustração se apertou em minhas entranhas. Lá estava eu, sendo tratado como um paciente psiquiátrico por alguém que eu mal reconhecia. Três dias, segundo ele, haviam se passado. No entanto, a névoa em minha mente se recusava obstinadamente a se dissipar, as horas perdidas eram um abismo em minha memória. Pareciam mais três horas agonizantes presas nessa confusão.
“Esse cara…”
Tinha uma presença imponente que inundava o espaço com um ar autoritário.
Suave como a seda, o seu cabelo caía-lhe em cascata à volta do pescoço, numa forma dourada que brilhava ligeiramente com a luz circundante, no entanto, os seus olhos vermelho-rubi, que pareciam transparecer uma intensidade sobrenatural que transcendia a normalidade, eram o que chamava-me a atenção.
Sua vestimenta, que incluía uma camisa branca, gravata vermelha, calça e sapatos pretos, lhe davam um ar profissional. Talvez essa aparência fosse a assinatura da organização à qual ele pertencia.
“Mesmo que eu tente provar o contrário, ele não vai se importar. É melhor eu esquecer isso.”
As probabilidades estavam contra mim, e as chances de uma solução rápida diminuíam a cada momento. Mas aqui estava eu, à deriva em um mar de solidão. Essa solidão, seja da agitação de uma cidade ou da beleza tranquila de uma ilha do Oceano Pacífico, parecia um túmulo vivo. Era uma sensação que ia além da distância física, um peso esmagador em minha mente que ameaçava me engolir completamente.
Ao contrário de outros jovens com esperanças e aspirações, eu me encontrava em um estado de ambiguidade. A vida para mim era uma experiência desconcertante, sem um caminho óbvio ou um grande objetivo. A perspectiva de um futuro satisfatório sempre pareceu uma ilusão distante, fora de alcance.
Em vez de buscar expectativas grandiosas, encontrei paz nos pequenos prazeres que enriqueciam minha existência diária. Os relacionamentos genuínos que estabeleci com outras pessoas, aqueles momentos de riso e compreensão compartilhados, tornaram-se minhas luzes orientadoras no terreno caótico da vida. Foi nesses momentos efêmeros de conexão humana que encontrei algum significado, um senso de pertencimento que transcendeu o vazio de um futuro incerto.
“Mesmo assim, cara. Ninguém merece viver desse jeito.”
Aqui eu sou apenas um pássaro em uma gaiola, ou algo muito pior.
Alguém que conseguiu perder toda a sua liberdade.
“A vida deveria ser muito melhor do que isso, né?”
Então é isso que chamam de inferno. Eu não poderia imaginar que fosse tão ruim assim.
— Está terminado. — declarou, virando-se para mim. — Na verdade, isso pode ser um indício de esquizofrenia paranoide, mas são necessárias mais pesquisas. É uma possibilidade maior de que algo esteja escondido em seu subconsciente. Você não ouviu as vozes, não ouviu? Isso é tudo o que há para dizer.
— E o que vai acontecer comigo depois?
— Nós vamos te executar.
Isso estava fora de cogitação.
— Como é?!
Eu gelei, sem dúvidas.
— Haha! Você ficou tão branco — ele ficou sério de repente. —, mas é verdade. A força-tarefa não é babá de criaturas como você, então já eliminamos suas vidas da maneira mais rápida.
— Espera aí, então eu vou morrer e é isso aí?
— É? Você faz perguntas tão óbvias.
— Olha aqui, seu oxigenado! Já pode parar com essa brincadeirinha de morte porque eu nã…
Ele acertou um chute forte bem no centro do meu estômago, fazendo com que eu pelo menos cuspisse salivas.
— Merda… Tu tá ficando doido?
— Era só pra você parar de reclamar.
Ele deu um sorriso cínico.
Eu puxei um ar pela boca para recuperar o fôlego. Aquele chute realmente doeu até nas minhas tripas.
— Eu juro que não tive intenção nenhuma.
— Não tem como negar, mais de 40 alunos foram mortos por sua causa.
— Faço nem ideia de como isso rolou! Sério, acredita em mim!
— Não tem jeito de alterar isso, a sua sentença de morte já foi decretada.
A notícia me atingiu em cheio, um soco brutal. O medo, cru e primitivo, inundou minhas veias. A ideia da morte, tão jovem, tão não vivida, era um peso monstruoso em meu peito. A indignidade de morrer virgem, um golpe cruel em uma vida que eu mal entendia.
O universo, esse bastardo caprichoso, tinha me dado essa mão justamente quando eu estava começando a ver a luz, a me livrar de algumas das minhas tolices juvenis.
— Ah… Tá, saquei.
Era isso, então. Minha última apresentação, uma chamada de cortina sem bis. O arrependimento, um gosto amargo, encheu minha boca. Eu ansiava por retroceder, reescrever esse roteiro miserável, evitar os erros, as mágoas, as oportunidades perdidas. Mas o tempo, esse desgraçado, avançava.
O desespero me cobriu como uma mortalha. Isso não era um jogo, não havia espaço para bravatas ou negação. Apenas… tristeza.
Uma tristeza generalizada e sufocante. Minha vida, um caminho sinuoso sem um destino claro, oferecia pouco consolo diante do inevitável. Não havia grandes realizações para marcar minha existência, apenas uma coleção de momentos, alguns alegres, outros de partir o coração, todos passageiros.
— Eu… posso falar com minha mãe?
Deveria ter uma última conversa com a pessoa que esteve comigo nos últimos 17 anos, porque é aqui que a linha termina.
— Receio que não possa. Mas não se preocupe, conseguimos falar com ela por meio da escola. Ela já está bem informada sobre tudo.
A aceitação, uma pílula desagradável de engolir, era a única opção na mesa. Havia realmente outra opção? A resposta, um eco oco em meus pensamentos, não me dava muito conforto.
Eu me virei, em uma tentativa infrutífera de esconder as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Apesar da fachada de força que eu estava tentando projetar, a verdade era uma torrente de gritos que ameaçava romper a barragem.
O homem me observava de onde estava encostado na estante, comunicando-se pelo celular. Seu semblante compassivo e calmo examinou cuidadosamente minha situação. Ele hesitou por um momento antes de falar, absorvendo o quadro diante de si.
— Tá bom. Decida-se.
— O quê…?
Guardou o celular no bolso e se sentou na cadeira à minha frente.
— Qual alternativa você prefere: devo morrer ou ficar aqui?
— E-espere um segundo… o que cê quer dizer com isso?
Encarei-o com uma expressão horrorizada.
— Percebi que você estava se sentindo mal, tipo um cachorrinho. Quer viver mais tempo? Quer dizer, é o que todo mundo quer, no fim das contas.
— Sim, mas…
— Então, qual é a sua escolha? Você quer lutar contra essa coisa que se prendeu a você ou prefere enfrentar a morte aqui?
Minha mente girava em busca de respostas, enquanto o homem à minha frente mantinha seu olhar sóbrio.
— Como assim, cacete?! Não é como se eu tivesse escolhido vir pra cá!
Ele balançou a cabeça, como se já tivera ouvido essa justificativa inúmeras vezes.
— Todos nós enfrentamos decisões difíceis na vida, mesmo que não as tenhamos tomado. A verdadeira questão é: como você vai reagir? Você pode aceitar o destino e deixar tudo desmoronar aqui, ou pode lutar, resistir ao que está acontecendo e, talvez, encontrar uma saída.
Um pavor frio percorreu minha espinha quando suas palavras ecoaram em minha mente. Havia uma verdade nelas, uma dura realidade que eu não podia ignorar.
Mesmo assim, o medo, um companheiro primitivo e indesejável, arranhava minhas entranhas.
Por que eu seria poupado? Essa força-tarefa, uma foice pronta para colher a destruição, não prometia misericórdia. A lógica arrepiante de sua declaração pairava no ar, um lastro sufocante em meu peito.
— Não vou cair nessa parada! O que mais vocês tão querendo? Já acabaram com a minha vida e agora vão me matar de vez!
— Pois é… — Ele soltou um suspiro fundo. — Tava pensando em te dar um salvo, mas mudei de ideia.
Ele se levantou da cadeira e deu um passo em direção à porta de saída.
Antes de sair, disse:
— Amanhã começa sua execução. Prepare-se, até logo!
Esse foi o ponto em que minha opinião mudou de um para outro.
— Espere!
Gritei de aflição antes mesmo da sua partida.
— Pelo amor de Deus… Eu quero viver! Não deixe esses caras me matarem, por favor! Me dá uma força!
Vi um sorriso em seu rosto até que fechasse a porta e a trancasse com um tilintar metálico.
Um suspiro cansado escapou de meus lábios, com uma onda de desânimo inundando-me. A dor familiar da impotência corroeu as bordas da minha esperança.
— Me perdoe por tudo, mãe.
Olá, eu sou Nyck!
Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!