Selecione o tipo de erro abaixo

São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

BRUNA

— Ei… Bruna! Esther! Acordem!

— Hã? O quê? Eu dormi!? — grita Esther.

— Faz silêncio! Droga, minha cabeça!

— Senhorita… Bruna… Você está… Em estado… Grave. Se perder mais… Sangue… Vai morrer.

— Eu estou bem! Só me fala se já chegamos.

— Não… Não… Está. Recebi ordens para… Levá-la até um… Local para… Se tratar.

— Tá falando sério? Eu não preciso disso! Onde estamos!?

Ao olhar pela janela, vejo um eletro posto da Evolve, a mesma marca do carro em que estamos. Nos fundos do posto, há uma loja de conveniência, que provavelmente é o local para tratamento do qual Carry está falando.

— Tem uma… Pequena… Drogaria… Naquela loja.

— Vamos fazer compras!? Oba! — Esther vibra.

— Com que dinheiro?

— Fiquem… Tranquilas. Dificilmente tem… Alguma loja… Funcionando.

— Ah, ela tem razão, Bruna. Quem vai sair pra trabalhar com o mundo nesse estado?

— Certo, certo. Vamos só pegar o que precisamos e sair o mais rápido possível. — digo enquanto saio do carro.

— Acho que você vai precisar me carregar até lá, Bruna. — diz Esther, estendendo os braços na minha direção.

— Ah… Você é muito inconveniente, sabia?

— Boa… Sorte… Para vocês duas.

Em seguida, coloco Esther em minhas costas e ando até a loja de conveniência.

No caminho, fico perdida em meus pensamentos devido à dor e cansaço que me impedem de raciocinar direito. Por mais que não queira admitir, não consigo esconder que não estou bem. Até um caminho curto como esse está parecendo uma maratona para o meu corpo. Como ainda estamos vivas depois de tudo que passamos? Será que valeu a pena?

— Bruna! Você tá pensando demais de novo né!?

— Eu…

— Foco, Bruna! Eu falei que iria te ajudar, não falei? Vamos encontrar o Dr. Maximus!

— Certo…

— Aliás, como ele é?

— Bem, eu sei pouco sobre ele. Ele é careca e… Tem as mãos macias.

— É sério? De todas as coisas…

— O quê?

— Deixa pra lá.

— Olha, o Maximus me ajudou quando alguns soldados da EDEN me sequestraram. No início, eu não queria trabalhar pra ele, mas estou começando a ceder a essa ideia.

— Você sendo grata a alguém? Uau! Deve estar passando mal mesmo!

— Cala a boca…

Assim que entro na loja, vou até o setor de medicamentos. Porém, chegando lá, perco o equilíbrio e caio no chão com Esther.

— Bruna, você tá bem!?

— Eu só… Estou cansada.

— Pode deixar o resto comigo, vou pegar alguns suprimentos.

— Mas, e a sua perna?

— Eu me viro. Você já cuidou bastante de mim. Agora, descansa aí e me deixa cuidar de você.

Na sequência, Esther pega algumas ataduras e usa para enfaixar o meu olho, entregando-me também alguns analgésicos para aliviar a dor.

De repente, um estrondo de vidros quebrando e estilhaços voando preenche a loja de conveniência, fazendo meu coração disparar.

— O que foi isso!? — pergunto, em pânico.

Meus olhos se fixam na figura alta que caminha em meio aos destroços: um homem forte, loiro, de olhos azuis, fumando um cigarro com um sorriso despretensioso.

— Abaixa, Bruna! Ele vai nos ver, cacete! — Esther sussurra.

— Tá bom, tá bom. — digo, escondendo-me atrás da prateleira.

Então, o homem olha para a entrada da loja, como se estivesse confuso.

— Ah! A porta tava aberta esse tempo todo! Quem diria? — Ele debocha de si. — Bem, vamos ver o que temos aqui.

Em seguida, ele se aproxima da bancada do caixa e começa a mexer na caixa registradora.

— Esse maluco tá tentando roubar a loja? — Esther pergunta.

— Parece que sim.

Ao abrir a caixa registradora, o humor descontraído do homem muda rapidamente.

— Porra, não tem nada aqui!? Vai se foder, Evolve!

Então, a fumaça de seu cigarro ativa o alarme de incêndio, ligando os aspersores da loja.

— Mas, o quê!? — Ele grita.

A água começa a jorrar dos aspersores, molhando tudo ao redor, deixando-o irritado com a situação, enquanto eu e Esther nos mantemos escondidas, observando cautelosamente.

— Merda, o meu cigarro apagou!

Ele olha ao redor, buscando uma saída ou algum meio de se proteger da água que o encharca.

— Bruna, pede ajuda pra Carry.

— Certo!

Então, tento contactar Carry pelo bracelete, porém, não obtenho resposta.

— É, somos eu e você, Esther.

— Droga! — Ela reclama.

Repentinamente, meu olhar cruza com o do homem misterioso e ele me encara, com seus olhos azuis penetrantes fixando-se nos meus, enquanto uma mistura de surpresa e curiosidade toma conta de seu rosto. Sabendo que deixá-lo agir primeiro seria perigoso demais, saio de trás da prateleira e aproximo-me lentamente do homem, perguntando:

— O que você quer!?

Ele sorri de forma irônica em resposta, enquanto a água escorre por seu rosto.

— Oh, parece que encontramos uma corajosa aqui. — Ele dá uma risada baixa. — Não se preocupe, querida. Eu não estou interessado em causar problemas pra vocês. Apenas estava em busca de algumas… Aquisições pessoais.

— E o que garante que podemos confiar em você? — Esther questiona, saindo de trás da prateleira.

O homem ergue uma das mãos, mostrando-a vazia.

— Acredite ou não, sou um homem de princípios. Tenho o meu código. E agora, com essa água irritante, acho que é hora de dar o fora daqui. Estou satisfeito com a minha… “Visita”.

Porém, antes que ele consiga sair, a porta e as janelas da loja são rapidamente seladas por chapas de metal.

— O que tá rolando!? — Esther pergunta.

— Droga, eu odeio surpresas. Pelo visto, deve ser aqui mesmo. — diz o homem com conformidade.

— Do que você tá falando? O que deve ser aqui?

— O esconderijo de um tal de Maximus.

— Maximus!?

— O quê!? A Carry enganou a gente, Bruna!

Em seguida, todas as prateleiras são recolhidas pelo chão, deixando a loja completamente vazia.

— Eu não acredito que caímos nessa…

— Veja pelo lado bom, Bruna. Vamos conhecer ele mais cedo do que esperávamos.

— Ah, então quer dizer que vocês também estão aqui para conhecer esse cara.

— É…

— Bom, é um prazer. Me chamo Damian Dean e sou um mágico renomado.

— Mágico? Certeza que você não é um renomado ladrão? — Esther zomba.

— Ora, todo mundo tem seus passatempos.

De repente, a loja de conveniência começa a descer, como um elevador.

— Que engenhoso! A loja de conveniência era apenas uma camuflagem. — diz Damian, visivelmente admirado.

— Caramba! Que tecnologia incrível! — Esther fala com entusiasmo.

— Nossa, que grosseria minha. Não perguntei os nomes das duas senhoritas.

— Me chamo Bruna, e essa toda animadinha aí é a Esther.

— Oi!

— Bruna? Esse é um nome ótimo.

— Não pedi pra você avaliar o meu nome.

— Nossa, que moça amarga! Ela é sempre assim, Esther?

— Ela é, sim, já vai se acostumando.

— Interessante…

Após alguns minutos descendo, o elevador chega ao subsolo, e a porta da loja se abre, revelando um grande túnel.

— Acho que ele quer que a gente siga por esse túnel. — Damian comenta.

— Bruna…

— Sua perna, né? Eu te carrego.

Com cuidado, ajudo Esther a se levantar e acomodo-a em minhas costas novamente. Em seguida, começamos a caminhar pelo túnel, que é iluminado apenas por algumas lâmpadas fracas que pendem do teto. O ambiente é frio e o eco dos nossos passos ressoa pelas paredes de concreto. Enquanto isso, Damian assobia despreocupado, deixando-me irritada.

— Dá pra você parar!?

— Hm? Parar com o quê?

— Com esse barulho irritante!

— Ah, isso também incomoda a senhorita?

— Incomoda! Olha, por que você tá aqui, hein!?

— Bom, eu já falei. Tô aqui com o mesmo objetivo que vocês.

— Não! Eu quero saber o real motivo pra você estar aqui!

— Ah, entendi, entendi. Então, que tal você me contar o seu real motivo?

— Vish, agora ele te pegou, Bruna. — Esther brinca.

— Quer saber mesmo!? Eu acordei amarrada no teto de um celeiro, fui capturada e levada até uma mansão cheia de malucos, tomei um tiro no olho e, agora, estou quase morrendo! Quer um motivo melhor!? Eu não lembro de nada sobre mim, nem o meu nome verdadeiro!

— Ah… — Damian fala como se não conseguisse encontrar palavras para continuar a discussão. — Eu também não lembro de nada sobre mim. É por isso que estou aqui, para encontrar respostas.

— O quê!? Você também não se lembra!? Como pode estar tão calmo e tranquilo!?

De repente, a nossa conversa é interrompida pelo som de passos se aproximando, acompanhados de uma voz que diz:

— Não briguem, crianças. Perder tempo com discussões desse tipo é inútil.

— Maximus!? — Nós três gritamos.

Diante de nós, está um senhor de idade, careca, vestindo um jaleco branco. Além disso, seus olhos amarelados brilham na escuridão do túnel.

— É, eu sei. Temos muito o que conversar, não é? Os ferimentos primeiro, as perguntas depois. Não quero ver vocês empacotarem tão cedo. Sigam-me.

Ao emergirmos do túnel, somos recebidos por uma visão impressionante. À nossa frente está um laboratório em formato redondo, repleto de equipamentos futuristas e monitores que piscam com informações. No meio do laboratório, há um supercomputador que grita em alto:

— Sejam… Bem… Vindos!!!

— Você também tá aqui, Carry!? — grita Esther. — Por que você não nos contou do esconderijo!?

— Ha… Ha! Eu… Não queria… Estragar… A surpresa.

— Mas, o quê!?

— Não ligue pra isso, Esther. A Carry adora fazer brincadeiras desse tipo. — informa Maximus. — Bruna, coloque-a naquela maca ali.

— Ei, pera aí, pera aí, coroa! — Damian interrompe. — Você mal se apresentou e já quer que elas confiem suas vidas a você? Pelo menos responda porque não temos nossas memórias.

— Senhor Damian, eu realmente admiro sua vontade de proteger as meninas. — diz Maximus enquanto se aproxima. — Sendo franco, eu odeio ser portador de más notícias, mas, caso ainda não tenha percebido, vocês três estão mortos.

— Mortos?

— Sim, deve ser por isso que não lembram de nada. Agora, eu vou falar só mais uma vez. Se não quiserem morrer de novo, eu sugiro que confiem em mim.

Nesse momento, a discussão dos dois começa a parecer confusa em minha mente, com palavras distorcidas e sem sentido. Mesmo que eu tente manter o foco, é como se as palavras de Maximus estivessem cada vez mais distantes.

— Bruna, você está me ouvindo!? Droga, ela perdeu muito sangue! — diz Maximus, com sua voz parecendo ecoar ao longe. — Leva ela pra maca, Damian! Rápido!

As vozes de Maximus e Damian se misturam até ficarem incompreensíveis, e as luzes do laboratório parecem piscar em um ritmo acelerado.

— Bruna! — grita Esther.

São Francisco (US-CA) (4 de março, 2025 D.C.)

BRUNA

Uma sensação úmida e áspera atravessa meu rosto de um lado para o outro, despertando-me.

— Nossa, ela tá demorando muito a acordar. Depois, eu que sou preguiçosa.

— Ei, Lincoln, sai de cima dela! — grita Maximus.

Ao abrir meu olho esquerdo, vejo um gato preto me lambendo.

— O quê? Onde eu tô? — murmuro.

— Caramba, eu falei que não era pra acordar ela! — diz ele, tirando o gato de cima de mim.

— Uau, ela acordou, mesmo! Boa Lincoln!

Nesse momento, Esther vem até mim em uma cadeira de rodas.

— Eaí? Como você tá se sentindo?

— Melhor, eu acho…

— Você precisou de muito sangue e o Maximus teve que reconstruir uma parte do seu rosto.

— Sério?

— Sim, mas a melhor parte é que…

— Você tem um olho novo. — Maximus completa. Experimenta tirar a faixa.

— Um olho biônico, Bruna! Isso não é incrível!?

Então, eu removo a faixa que cobre meu olho direito.

— Tá me vendo aqui? Hein? — Esther pergunta.

— Eu já tava te vendo antes, sua maluca. Mas, tô bem impressionada pra falar a verdade. Eu tô enxergando muito bem com o olho direito, melhor que antes, talvez. Como você fez isso, Maximus?

— Bom, acho que você não entenderia uma explicação sobre o procedimento. Mas, a tecnologia nos permite fazer esse tipo de coisa, entende?

— É… acho que entendo sim. Aliás, você parece bem, Esther. Apesar da… 

— Cadeira de rodas? Relaxa, eu tô bem! O Maximus disse que o Jim cuidou muito bem dos meus ferimentos. Me tratou como um verdadeiro profissional da área!

— Mas, por que a cadeira então?

— Ele me pediu pra não andar por um tempo e ficar aqui no laboratório repousando. Acho que isso vai acelerar minha recuperação ou sei lá.

— Isso é bom, isso é bom. Mas, acho que tem alguma coisa errada com você, Esther.

— Alguma coisa errada!? — Esther fala com espanto. — Como assim, Bruna!?

— Eu estou vendo números na sua cabeça.

— Números!? Ela bateu a cabeça!? O que isso significa, Maximus!?

— Significa que a cirurgia foi um sucesso. Tenta focar mais nesses números, senhorita Bruna.

“1%”

— Um por cento? Isso é…

— O Quociente de Laplace da senhorita Esther? É sim.

— O meu Quociente de Laplace? Como você…

— Vou explicar tudo que sei para vocês. Bruna, sei que deve estar cansada, mas pode fazer-me o favor de chamar o senhor Damian? Ele deve estar na cozinha. — Ele diz, apontando na direção do local.

— Tá, eu posso ir.

Olá, eu sou o Zagalu!

Olá, eu sou o Zagalu!

Comentem e Avaliem o Capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥