Um disparo de cuspe foi jogado contra o rosto do vampiro, fazendo sua feição se tornar de ódio puro. Um tapa foi desferido na cara dela como resposta, limpando na mesma hora a saliva incessantemente.
— Uma resposta inevitável de um mero animal. Se está com medo, fique tranquila que eu não a matarei. Eu preciso rejuvenescer e me recompor para o ritual, então vou sugar a sua juventude.
— Você vai cair.
— Vou, é? E quem vai me derrubar?
No quarto de Momo, nos andares inferiores, Toru e Antoinette entravam naquele momento. Rapidamente notaram a falta da amiga, mas a passagem se mantinha aberta desde então. Toru entrou no quarto correndo e foi olhar a passagem:
— S-Senhor Toru, não é bom entrar aí. O grão sacerdote diz que é proibido usar as passagens não convencionais, por isso ele fechou a maioria.
— Proibido? Mas passagens secretas são tão legais… — Adentrou mesmo assim.
— S-Senhor Toru, por favor! Se entrarmos aí, ficaremos com problemas.
— Por que? Qual o problema? Não tem curiosidade? — Apontou para a escadaria que subia o local.
— O problema é que você tem curiosidade demais.
— A Momo deve ter passado por aqui.
— Pior ainda! E-E se ela acabar perdida ou pior!!
— O que seria pior do que ficar perdida aqui? — O ruivo arqueou a sobrancelha com uma feição confusa. — Esse lugar é bem bonito e tal, mas não tem nada para fazer.
— Hum? Para onde você vai quando sair?
— Vou para a capital me formar. Quando você é um mago formado, ganha vários benefícios na jornada. Pode ganhar uma base, aparecer em revistas e o mago imperador elege, quase sempre, um mago oficial.
— Mago imperador? — Antoinette fez um bico pensando no título. — Faz tanto tempo que não vejo o mundo lá fora que não sei mais o significado de nada. Então você quer ser um nobre, senhor?
— Não me chama de senhor, pode me chamar de Toru. O mago imperador não é só um lorde ou um nobre, ele é o topo da magia. Ele pode fazer o que quiser e quando quiser, então eu quero isso.
— O que é que você precisa fazer tanto, que precise de um título como este?
A dupla acabou adentrando a passagem secreta de um jeito ou de outro. Os dois percorriam aquele corredor frio e estreito, chegando nas escadas. A caminhada era lenta durante a conversa, então diante aquela questão, o mago ruivo apontou a si mesmo com o polegar:
— Eu vou ser rei. Quero fazer um reino para todos.
— Isso é tão legal!! Espero poder ver isso acontecer.
— Você está convidada para ele! — Encarou-a sorrindo gentilmente.
Na sala divina de Nosferatum, o vampiro supremo agarrava Momo pela garganta. Ela estava imóvel pelas linhas de sangue que perfuravam seu corpo, então paravam a circulação sanguínea de propósito.
— Renfield, ordene que os guardas sombrios levem a carcaça dela com as outras. Agora com licença, pirralha.
— Ele vai acabar com você…!!!
— Meu tempo de diversão já acabou, por favor, não fale muito ou vai doer… bom, farei doer de qualquer jeito. — Ele gargalhou e uma luz roxa era emanada de sua palma.
— M-Minha energia… meu corpo…
Momo tinha sua juventude, energia vital e idade sugados pelo vampiro. Sua palma venenosa absorvia secando o corpo dela e envelhecendo-a cada vez mais. O corpo dela ia diminuindo e ficando magricelo, enquanto seus cabelos iam se tornando branco e com corte Chanel.
A visão da garota quase desaparecia, então o vampiro largou-a quase no ponto de se tornar pó. Visualmente Momo parecia ter seus noventa anos. Ela estava trêmula com as mãos juntas na barriga fina, com suas bochechas murchas e caídas.
Por outro lado, Nosferatum mudava de fato. Ficava mais alto, com menos rugas e quaisquer resquícios de cabelo, ou barba, desapareciam. Seu corpo simplista se tornava musculoso e bem definido, tornando sua pele verde reluzente. Os olhos tornavam-se negros e vermelhos, enquanto os lábios aumentavam de tamanho cortando a bochecha.
— O que você fez? — A voz da maga era murcha e tímida.
— Eu absorvi sua juventude, primata. Devia ter aceitado beijar meus pés e ter aceitado ser minha. Agora vai ficar presa na jaula dos primatas por um bom tempo.
— Você vai cair para ele, monstro maldito. — Um sorriso singelo e esperançoso, seguido de uma lágrima se formava nas expressões dela.
— M-Mestre! — Renfield apontou para a mesma direção da passagem secreta atrás do quadro.
— Hum? — O lorde virou-se confuso.
Uma conversa nada discreta era notada naqueles corredores nos interiores das paredes. A voz feminina insistia no garoto não aparecer, porém o mesmo retrucava afirmando que queria muito saber onde aquele lugar dava.
No mesmo instante Toru caiu no tapete daquele andar, enquanto Antoinette caiu junto ao tentar segura-lo e impedi-lo. Rapidamente se levantam e observam todo o lugar em que estavam.
O rosto da cultista ficava ainda mais pálido percebendo os quadros e outras riquezas. Este era um sinal que estava no salão divino do seu deus, ao qual chamou atenção ao expelir sua aura ameaçadora.
Os olhos da dupla eram arregalados frente aos animais e algo além: Winston decapitado. Momo idosa tentou caminhar na direção deles, mas Renfield e dois guardas sombrios surgiam para segura-la. Ambos eram sombras humanoides puras.
— Senhor Winston!!! O que aconteceu aqui!? O que significa isso, grão sacerdote?
— Renfield, eu não te disse para fechar aquela passagem?
— Perdão, mestre. Fecharei agora mesmo… — De cabeça baixa, Renfield prosseguiu até o quadro com a passagem.
A feição de Toru se mantinha séria e silenciosa, encarando aquela cena com os olhos arregalados. Sombras tomavam seu rosto, então Momo conseguiu reunir voz diante a velhice, fazendo um dos soldados arrastar ela com mais brutalidade até fora daquela sala:
— Toru! E-Eu não pude proteger o senhor Winston, por favor, me perdoe! Mas por favor, Toru, acabe com ele!
— Vahaha! Então eu ia cair para ele, é? O moleque catarrento? E você, ratinha? Você ousa trair o seu senhor então.
— N-Não, mestre! Senhor, eles não fizeram nada. E-Eu pensei que só se alimentasse de animais e…
— Você não sabe de nada, ratinha. E você, moleque? Quem é? — Encarou o mago ruivo percorrer pacientemente até o corpo de Winston.
— Momo, eu não sei o que aconteceu para você ficar capenga desse jeito, mas eu estou feliz que você estava com o tio no fim das contas. — Toru ignorou o vampiro e criou uma flor delicada, colocando sob o corpo caído. — Isso parece ser coisa sua, careca. — Encarou diretamente Nosferatum após a acusação.
— E se for, vai fazer o que, primata?
— Toru, cuidado! Ele é Deus. Ele é o nosso senhor sombrio, o fundador do culto…
— Falando nisso, ajoelhe-se, sua rata traidora. — Apontou a ela e todo corpo da garota pesava forçando-a a ajoelhar. — Só me alimentei desse velho e da primatinha que prenderam. Se quer gritar, garoto, essa é a hora. Pois depois disso tudo, você não vai…
Nosferatum era interrompido por um chute direto do ruivo, ao qual estava revestido de madeira e mana, fazendo o vampiro ser pego de surpresa. Os lábios eram cortados, mas começavam a se regenerar rapidamente.
— Que abusado você, moleque…
Novamente interrompido por ouro golpe do ruivo, ao qual criou uma perna de cipó, acertando em cheio o rosto da criatura. Isso frustrava ela ainda mais, porém a fúria do ruivo começava apenas agora.
Toru lacrimejava e, portanto, tinha olhos mergulhados no vermelho do ódio. Após cada golpe intenso e bruto, Tepes se recompôs com velocidade e defendeu o último ataque do ruivo. Era um soco direto, então o vampiro desviou com um salto enorme.
— Não sei quem é você e nem o que tu’ quer, mas sei que você matou o tio e magoou a Momo. Fique sabendo que acabar com você não é nem o começo do que farei contigo, careca. Espero que esteja preparado para morrer.
— Outro do tipo sonhador amigo de todos? Odeio esse tipo! — Suspirou limpando os lábios sujos de sangue e pousando no chão. — Sua amiga disse o mesmo e olha o que aconteceu: suguei toda juventude dela. O que faz achar que será diferente?
— Ela é educada, mas eu sou só um caipira do interior. Eu vim do lixão, então meus limites são um pouco diferentes! Se sobreviver, garanto que vai me ver como diabo, deus-careca.
Toru apenas sentia a morte de Winston. Antoinette não conseguia se mover, porém podia notar o quão distorcido a visão do vampiro era contra todos ali. Sua fé caiu por terra, enquanto a vontade de Momo subia.
Ela estava sendo presa em um andar misterioso, mas sentia seu coração palpitar com cada golpe do ruivo. Afinal foi lhe pedido e prometido, então em cada golpe Toru daria tudo de si para ajudar sua amiga.