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Capítulo 16 – Conflagratus – parte 5

Talvez… Talvez eu tenha exagerado.

 Pego o corpo de Lucius estendido sobre o chão e jogo em cima de minhas costas. Está gelado, mas está tudo bem. Eu acho. Ao menos tudo ficará bem no final… eu acho.

 O uso de quintessência é uma dádiva dos deuses e é justamente por isso que não devemos abusar e usar com frivolidade. É um dos principais ensinamentos do Collegium Religiosi e do Instituo Magia também, de certa forma.

 É até mesmo possível morrer por conta dum uso descuidado, uso descuidado como o que Lucius acabou de realizar.

 A sorte dele é a razão de espírito de ser um Conflagratus, é necessário mais do que isso para abater um animal histórico.

 Com o corpo dele em minhas costas começo a andar em direção ao palácio, ao seu quarto novamente. Também começo a pensar melhor sobre a situação, ele realmente está completamente apagado.

 — Vou ter que avisar que algumas cousas aconteceram…

 Não será surpresa se ele não acordar hoje, amanhã ou até mesmo depois de amanhã. Hahaha… meus pais ficaram pasmos ao ver isso.

 Ao mesmo tempo em que a culpa é minha, ela não é. Em nenhum momento eu pretendia levar isso para o campo de batalha, alguém é convencido dalgo por ser espancado?

 Não sei. Talvez. Sim, é. Céus, eu odeio quando eu mesmo me refuto!

 Através de comentários sarcásticos, irônicos e ácidos eu simplesmente pretendia deixar Lucius desconfortável e pensativo sobre a situação, não estava em meus planos ele irritar-se comigo e tentar… Bom, tentar matar-me.

 É de praxe contestar que a maioria das pessoas ignoram situações adversas que acontecem em suas vidas e que, supostamente, não possuem um efeito direto na vida da mesma.

 O famigerado «Elefante rosa no meio da sala», não que eu saiba o que é um «Elefante» de fato, só sei o que é por meio de livros. E sei que ele é grande, ter um no meio da sala seria incomodativo. 

 Ao sentir-se com medo, sentir-se ameaçado, sentir-se aflito, o ser humano tende a evitar a situação, fato ou existência que lhe causa tal sentimento, isto é óbvio: ninguém gosta de sentir emoções negativas.

 E eu diria que isso não é um fator «humano», mas humanoide em essência. Encaixes e juntas psicológicos são universais, afinal.

 E qual é a solução para tal situação? O confrontamento direto e assertivo ao assunto para a resolução do problema. E era isso que eu pretendia fazer com Lucius, ou, bem, fiz.

 Desgastar o seu estado de espírito ao ponto de que ele não iria mais suportar o momento, o incômodo tornar-se-ia insuportável, sim, insuportável. Ele seria encurralado ao ponto de que suas opções de ações ou dizeres seriam agir ou agir.

 Esse era o plano, mas eu desconsiderei uma peculiaridade básica sobre o modo de agir das criaturas: o animal encurralado surta e fica agressivo.

 Essa é uma das soluções que as pessoas usam para «resolver» seus problemas, fracas pessoas. E quanto mais fraco esse animal, maior será o seu surto…

 — Quem fez essa escada tão longa não pensou que alguém poderia ter que subi-la a carregar um corpo nas costas?! — reclamo sozinho.

 Felizmente poucos momentos após a minha reclamação eu já me encontro em frente ao quarto de Lucius, abro a porta e gentilmente o coloco em sua cama. Retiro as suas botas, pois dormir com botas é feio.

 Abro o seu criado-mudo, pego um papel e uma caneta de tinta preta. Não irei enrolar em minha mensagem, sucinto serei, escreverei apenas o que aconteceu para se alguém aqui vir não assustar-se ao achar que o próximo patriarca da família bateu as botas.

 Ao pensar melhor, será que eu deveria ter o deixado de botas para não pensarem isso?

 Termino de escrever o bilhete e o deixo em cima do criado-mudo preso pelo próprio peso da caneta que há pouco usei.

 Após isso, saio de seu quarto. Ainda meio zonzo e perdido com toda a situação. Afinal, não é todo dia que tu tens que carregar o corpo do seu irmão mais velho desmaiado para o quarto.

 Deveria eu ir para o meu quarto e finalmente dormir? É algo plausível de fazer no momento, já são 2 horas da madrugada, vi no clepsidra do quarto do Lucius, contudo a adrenalina em meu corpo não iria deixar-me em paz nessa situação.

 Enquanto eu penso sobre o que fazer, a minha barriga já sabe o que quer: comida. Ao parar para pensar, não são barrigas, estômagos, algum tipo de animal?

 Quando em estado de fome, assim como um animal que olha o seu dono deliciar-se com a coxa de uma ave em sua mão, elas roncam e pedem comidas. Quando a passar mal, assim como um animal que faz o que seu instinto manda em quaisquer lugares, elas desandam e–

 Melhor não terminar esse tipo de pensamento. Não quero enojar-me e enojar-te, leitor. Ultimamente eu tenho deixado a minha mente pensar livremente até demais…

 Certo, preciso comer. Novamente desço os degraus da escada, mas felizmente desta vez sem nenhum peso adicional a pressionar-se contra as minhas definidas dorsais.

 A cozinha está em minha frente. Um breu total igual ao resto da casa. Ativo o cristal mágico preso ao teto para iluminar o cômodo, a luz branca reflete no piso feito de mármore claudiano, o mais comum em cozinhas.

 Em ataques antelucanos a cozinha eu costumo pegar alguma fruta e tomar algum copo de suco para saciar o meu apetite. Afinal, não seria muito sagaz realizar uma «ceia» com muita comida ou comidas pesadas a ser veras que em momentos voltarei ao estado profundo de sono.

 Contudo, não creio que eu vá dormir em breve ou até mesmo dormir ainda hoje. Então posso dar-me o luxo de consumir algo mais elaborado.

 A caminhar até o fundo da cozinha eu chego à porta que dá acesso aos armazéns do palácio. Minha escolha é: uma garrafa de vinho e um lombo de porco. Poupa-me tempo o fato de que ambos estão armazenados no mesmo lugar.

 É incrível pensar que conseguimos armazenar por tanto tempo alimentos, sei que há muito tempo isso não era tão comum como hoje em dia.

 Deixe-me apresentar tal tecnologia para ti, sei que um plebeu como ti não sabes o que tais tecnologias tão avançadas são. Céus, como eu sou gentil.

 Usamos para armazenar alimentos os zeeres, são grandes vasos constituídos dum tipo de metal que conduz exemplarmente calor: cobre. Um vaso menor é colocado dentro de outro vaso maior, com algum tipo de material que absorva calor.

 Em geral areia molhada nas casas menos abastadas e gelo nas casas nobres. Isso faz com que o zeer esfrie na medida em que a água ou gelo evapora, a permitir que os alimentos dentro do vaso permaneçam frescos e propensos ao consumo.

 Só é necessário constantemente trocar tais materiais, mas temos escravos o suficiente para realizar tal tarefa todos os dias se quisermos.

 Não sei se eu conseguiria viver a ter apenas alimentos secos, congelados ou fermentados armazenados em casa. Aprecio lanches a qualquer momento, lanches frescos e suculentos.

 Retiro o tecido molhado que fica em cima do zeer para pegar primeiro a garrafa de vinho tinto, após isso abro outro zeer e tiro um pedaço de carne de porco, cerca de 1 quilograma, em conjunto de outros alimentos que também usarei.

 Primeiro eu pego uma faca e começo a fazer vários cortes no pedaço de lombo, desta forma o tempero conseguirá penetrar mais facilmente na carne e criar o gosto carnoso desejado.

 Após isso pego uma cebola, retiro suas cascas, um alho, que também retiro suas casas, um limão… que tu já sabes o que eu irei fazer com suas cascas, um pouco de vinagre e sal. Jogo todos dentro dum pilão de mármore e começo a socá-los até virar uma só cousa.

 — Soca. Soca. Soca…

 Por ter se passado alguns minutos a amassar todos esses alimentos no pilão, eu paro. Pego essa mistura e despejo completamente sobre o lombo.

 Espalho bem para o tempero poder penetrar profundamente na carne, após isso pego uma grande folha de planta, embalo o prato com lombo e o coloco no forno.

 O jeito que eu estou a descrever o que faço no momento… Sembra-me dum passo a passo que vemos em livro de receitas, só faltou os verbos no imperativo. Pega! Retira! Faze!

 E eu realmente não sou o melhor do cozinheiro de todos os tempos, mas como um homem acho que posso dizer que sei fazer o básico muito bem.

 Eu poderia ter acordado alguma serva e tê-la feito fazer comida para mim, mas… acho que eu já estourei o limite diário de perturbar alguém em seu sono hoje.

 Com o lombo totalmente preparado eu o levo ao forno.

 — Agora é só esperar 30 minutos, depois virá-lo e esperar mais 15 minutos. Não é? — reafirmo para mim mesmo.  Sozinho na cozinha de madrugada, enquanto preparo um «lanche». É, realmente, vai ser tedioso esperar esse tempo todo…

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