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Apesar de que a linhagem é o fator primário que determina a capacidade mágica de um humano, elfo, anão ou homem besta, os deuses foram gentis em permitir suas criaturas a treinarem a sua capacidade mágica, esforçarem-na e superarem o estágio de platô que elas prontamente se encontram.

 Escolas mágicas, grupos e associações de magos ou exércitos nacionais particularmente buscam realçar em direção ao impossível a capacidade mágica pessoal dum indivíduo.

 Por ser o Instituo Magia a maior academia mágica do mundo, eles são a vanguarda nesse assunto. Uma academia que reúne magos dos 3 continentes de Salvatoris.

 É uma das poucas instituições que ultrapassa os limites fronteiriços e detém sedes em todos os países. As outras seriam os outros colégios que ofereçam serviços essenciais para todos.

 O ilustre conceito do «BCR»: Batalhar, Comercializar e Rezar. Que homem de bem não aprecia e necessita de ao menos uma dessas cousas em sua vida para torná-la melhor? Ou até mesmo todas elas em conjunto.

 Milan, o irmão da Beatrix, em seu direito de primogênito, foi-se ao Instituo aos seus 14 anos estudar e praticar magia. E de lá retornou aos seus 18 anos com ótimas qualificações, suas notas, inclusive, foram melhores que a do meu irmão em sua época do colégio.

 Devo dizer que, assim como eu, Milan, é alguém que prefere mais o «B» do que o «C» ou «R» em sua vida. Já o meu irmão… bem, ele prefere… alguma outra letra? Realmente não sei.

 E isso explica o porquê dele não haver perdido um sequer dia de treino desde a sua volta. Se a irmã dele é uma maníaca por joias, ele é um maníaco por batalhas e treinamentos.

 — Se o Milan é o «B» e a Beatrix é o «C»… Quem é o «R» dos Vulpinus? — uma dúvida cruel surge em minha mente.

 São questionamentos assim que podem mudar o destino da humanidade. Depois eu pergunto para ele. Se eu lembrar-me, é claro.

 Se bem que no contexto das cousas, ele querer ficar a treinar não é algo tão maníaco assim, eu diria. Quem sabe o que o futuro nos reserva…

 O campo de treinamento do palácio é um espaço realmente atraente. É como se o campo nos chamasse para ir lá, pegar uma arma e treinar todos os dias.

 É um espaço gigante e possui diversas ferramentas, bonecos e divisões para treinares situações específicas ou partes do próprio corpo.

 Isso tudo em céu aberto, para deixar o ambiente mais iluminado pelos deuses do que ele naturalmente é. Por sermos uma casa de tradição militar eu posso arriscar a dizer que talvez nem o campo de treinamento real seja tão grande e equipado quanto o nosso.

 Enquanto eu me perdia em meus pensamentos e devaneios, o campo de treinamento se torna mais próximo, ao ponto da imagem do Milan a treinar ser observável, e eu começo a ouvir a recitação dum feitiço.

 — PROVECTUS

 Uma célere rajada de vento se forma no molde duma lança e distorce todo o raio em sua volta. A captar toda a quintessência local para catalisá-la em poder mágico. Cintila em airoso amarelo.

 — AER

 No momento em que o ideal sobre um elemento é citado, o mundo se torna atento ao fato.

 A leve brisa que há breve eu sentia se extingue. Em respeito à ousadia, em medo ao poder, em desafio à natureza.

 Neste momento não há vento que deseje ventar. Não agora, não naquele local.

[ZÉFIRO]!

 O nome duma divindade menor é citado com o objetivo da interseção maior entre o ser e o não ser. O círculo amarelo com a planificação de um octaedro inscrito se faz em frente da sua lança. Os números divinos em volta também marcam presença.

 Milan finaliza a recitação de seu feitiço avançado e o solta ao mundo.

 Um longo disparo horizontal é concebido e é quase impossível acompanhá-lo com os olhos. Sua direção é a cabeça dum pobre boneco de treino feito em aço maciço.

 Um tiro certeiro: perfura completamente o seu alvo. Silenciosamente. Nem mesmo aço puro foi capaz de suportar tamanho poder.

 Há um pequeníssimo furo passível de observação na frente da cabeça do alvo que contrasta grotescamente com o rombo observável ao fundo da cabeça metálica.

 Soberbo.

 — Um disparo soberbo, Milan — impressionado com o que testemunho no momento, eu faço um elogio sincero.

 Milan vira sua cabeça a mim, ao notar a minha presença no local, e nada diz. Será que é algo da família não se surpreender com pessoas a surpreendê-las por trás?

 — Impressiono-me sempre com qual tamanha é a beleza e a estética do teu arsenal mágico.

 Em comparação com o meu… É melhor não comentar. E não é como se fosse minha culpa, fogo é um elemento incontrolável por natureza! Eu tento fazer uma simples bola de fogo e ela destrói completamente o ambiente!

 É o preço que se paga por dominar o elemento de ataque superior capaz de destruir cidades… Ai, ai… Que tragédia esta minha vida!

 — … — diz Milan em uma eloquência invejável que faria qualquer orador chorar noites por inveja perfeita! As palavras são tão profundas, tão encantadoras, tão, tão, TÃO!

 — Outra cousa que me impressiona é teu poder comunicativo. É como dizem: «O Milan fala por ele e pela irmã dele» ou algo assim — ironizo o momento.

 — Boa piada — finalmente Milan reage com um leve sorriso.

 O meu esforço é gratamente recompensado, consigo fazer o taciturno dialogar verbalmente comigo. Ele geralmente é alguém que fala com seus punhos e feitiços.

 Apesar de que o Milan é um mago dotado dum elemento inferior, o Aer, ele sempre demonstrou extrema força invejável a qualquer um que tenha um elemento superior.

 Tamanha e considerável força que eu sempre fiz questão de mantê-lo ao meu lado durante toda minha infância para treinar em conjunto.

 Só que observá-lo ao usar suas magias não é o objetivo de minha vinda para cá. Isso eu poderia fazer em qualquer hora.

 — A trocar de assunto… Milan, como estão as cousas atualmente em sua perspectiva? Eu realmente não gostaria, mas vejo que será algo inevitável. O futuro da casa depende de eu ajudar ou não meu irmão — de forma extremamente direta eu inicio a conversa.

— Sou um verna,não me é permitido comentar sobre assuntos políticos de meus amos — Milan responde com a resposta mais genérica possível.

 O fato dele ter utilizado a palavra «amo» para tentar ao máximo esquivar-se da pergunta…

 E quem disse que tu não podes comentar os assuntos políticos? A Beatrix comenta até mesmo as minhas peças de roupas!

 «Não combina», «Essa bota é melhor com uma cor mais clara», «Esse couro é estranho nesse conjunto». Como assim não está a combinar? Oras, eu só uso roupas pretas!

 — Responda-me como um amigo, portanto.

 — Ruins.

 Ruins? Huh. Ruins. Realmente estão ruins. Como não estariam? Uma crise cada vez mais se torna iminente para nós, afinal.

 — Meu pai continua a insistir que eu mexa alguns pauzinhos para assegurar o domínio dos Conflagratus.

 — Seria o certo a se fazer — Milan comenta sem transparecer emoção alguma.

 Será que ele sabe da existência duma possível guerra? Ou apenas diz por obrigação? Milan é astuto, mas eu mesmo acabei por descobrir tal informação há pouco tempo. Não é possível que ele também a saiba.

 — Seria, mas contra a minha vontade. Não vejo motivo para esforçar-me tanto por algo que em breve não me dirá a respeito.

 — Tu realmente irás para frente com a ideia de independência? — a deixar de manusear sua lança, Milan me questiona com uma cara desconfiada. Ele finalmente demonstra sentimentos.

 — E o que posso fazer? Não consigo ver um cenário no qual eu obedeça ao meu irmão em felicidade.

 Não só eu sendo sincero, não consigo ver um cenário onde alguém obedeça ao meu irmão como patriarca.

 Apesar da importância do título, não é como se tê-lo o fizesse dono duma vontade indiscutível e inegável para todos em sua volta de imediato. Ver subordinados destronarem o próprio líder não é tão incomum assim.

 — Deverias ajudar o Lucius, teus pais ficariam felizes assim. Com ordem, com coesão.

 — Meu pai ficaria feliz desde que os privilégios que marqueses possuem sejam mantidos, Milan. Já ela eu não sei o que acha. Nem quero saber.

 Há um axioma na casa dos Conflagratus conhecido por todos que aqui vivem: o que meu pai dizer a coitada da Flavia aceitará. É assim desde que eu tenho consciência da situação em minha volta.

 — A Senhora Conflagratus ficaria contente em ver seus filhos juntos, Aurelius.

 — Não existe felicidade na falta de amor — sem dar chance de continuação eu proclamo com uma cara imperturbável.

 E também não existe amor para os coitados. Ninguém amará o outro por obrigação, nem mesmo famílias. Amor é um fruto duma conquista, dum jogo.

 Não fazer nada e esperar que as pessoas em sua volta a amem é uma completa utopia, algo que acontece apenas em livros e histórias degeneradas.

 Milan se sente incomodado, passa a mão na parte traseira de sua cabeça e coça. Pelo seu maneirismo, ele está descontente com o caminho que a conversa se encaminha.

 Surpreendente para quem não o conhece: Milan é alguém caseiro, ele gosta muito de estar em família, de ver outros em família.

 Eu compreendo, compreendo, sim. Eu sinto inveja, pois sei que eu não tenho uma família. Ou se eu sequer a tenho, ela é falha, incompleta.

 Um relacionamento ruim ou frio com minhas irmãs, com o meu irmão. No final a ideia de ser um marquês é mais forte do que um mero laço sanguíneo.

 Devido a essas últimas falas agressivas, um silêncio profundo se cria entre nós, uma situação claramente desconfortável. É palpável a tensão entre duas pessoas diferentes que pensam de maneiras diferentes sobre um assunto.

 — Bom… é isso. Irei até a capital para ver o que eu posso fazer sobre o futuro. Queres vir comigo? Milan — esforçadamente eu tento retomar um bom clima.

 — Melhor não, irei continuar meu treinamento. Talvez minha irmã queira — responde Milan meio sem graça com a situação.

 Talvez, não, não. É fato que o Milan ficou realmente incomodado pela estranheza da situação…

 — Também melhor não, não estou a fim de comprar tecidos e joias hoje — respondo ao Milan que esboça uma risada embaraçada.

 Se bem que eu havia prometido comprar joias para ela, joias vermelhas para ela, mas fui claro em dizer «Alguma hora», não fui? Não é como se eu precisasse fazer isso agora. O momento não é fortuno para isso.

 Só que eu consigo visualizar, apesar, a imagem duma irritada Beatrix a gritar como uma fera «Onde estão as minhas joias? As minhas joias VERMELHAS?!». Meus ouvidos doem ao ouvir os gritos imaginários… Se isso me incomoda mentalmente, é melhor que eu trate de comprar essas benditas joias urgentemente…

 — E eu também conversei com ela mais cedo, ao dizer que eu iria para a capital posteriormente ela não ligou. Talvez ela tenha alguma obrigação pendente.

 — Realmente, ela ama a capital — Milan concorda comigo.

 «Ela ama a capital»? Acho que o mais correto a se dizer é que ela ama quaisquer tipos de lugares que tenham joias à venda. Se uma arena de gladiadores vendesse joias, ela estaria lá.

 Dada as devidas despedidas eu me retiro do local. Por dar-me a saída do campo de batalha eu consigo ouvir Milan a retomar seu treinamento. Ele não aparenta querer parar de treinar agora.

 — Ah — recordo-me dum assunto de vital importância e volto para trás.

 — Milan! Se tu és o «B» e a tua irmã é o «C», quem da tua família é o «R?»

 Milan olha para mim com uma cara que exclama «Mas o que cacetes tu estás a falar? Aurelius», ele aparenta estar mais perdido do que um pijama em lua de mel.

 — É uma charada?

 — Não, não. Sabes daquele ditado? Que todo homem precisa de ao menos alguma dessas 3 cousas: Batalhar, Comercializar e Rezar — explico ao meu amigo confuso em meus dizeres.

 — Entendi. Acho que a minha família inteira é o «R». Todo Domingo nós visitamos o templo.

 — Eu vejo…

 Despeço-me novamente de Milan, desta vez para valer, e saio do campo de treinamento chocado:

 — Existem pessoas que são «BR»?!

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Olá, eu sou o Abner!

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