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Por mais de dez anos, Tarasov não soube o que era viver uma vida honesta. E para ele, as coisas eram melhores desse jeito. Desde que largou a vida de guarda imperial, ele usou sua inteligência vil para conseguir ficar mais forte do que nunca. Desde sequestros, tráfico de drogas, assassinatos encomendados e latrocínios, ele não hesitava em sujar as mãos para obter lucro. Suas táticas já foram capazes de matar artistas marciais com um reino inteiro de cultivo na sua frente. Afinal, o mundo era dos fortes. Os fracos só tinham que ajoelhar e implorar.

Mas por algum motivo particular, o jovem na sua frente causava calafrios inimagináveis a sua pessoa.

— Gostei das roupas, Tarasov! Você realmente está parecendo um mercador viajante. É assim que vocês estão conseguindo entrar nas cidades sem chamar atenção?

O homem cruzou as pernas, encarando Leonard diretamente nos olhos. Desde que se tornou um Capa-Verde, já tinha tocado o terror no coração de muito nobre fanfarrão e fresco por aí. Nunca que iria se deixar ser intimidado por um deles.

— Temos que nos adaptar, garoto. Somente assim conseguimos ficar fora do radar — disse Tarasov. — Claro que, não chegamos tão longe apenas na base da inteligência. Às vezes, é necessário quebrar alguns ossos para conquistar nossos objetivos.

Em um pequeno vão de silêncio entre os dois, uma empregada deixou uma bandeja com uma jarra de café, xícaras e biscoitos. Ao lado do Tarasov, haviam dois homens enormes. Um careca e o outro caolho. Suas roupas indicavam que eram mercenários contratados para proteger um mercador, mas a intenção assassina deles revelavam suas naturezas perversas. A empregada deixou uma pequena caixa no colo de Leonard.

— Não vai se juntar a nós no café? — disse Tarasov, já enchendo uma xícara.

— Eu não gosto de café. Fiquem livres para pegar o que quiser.

Tirando da caixa um copo longo cheio de água, Leonard pegou um pequeno sachê de papel com um pó bege e colocou na água. Em seguida, adicionou um líquido vermelho viscoso e pequenas sementes pretas de alguma planta desconhecida. Tarasov e seus homens olhavam aquilo com certa curiosidade, ao mesmo tempo que sentiam uma certa repulsa. Aquele homem jurava que o líquido era algum tipo de sangue.

— Eu não sou um homem que gosta de rodeios, rapaz. Você nos pediu para comparecer diretamente na sua mansão. Apesar de estarmos trajados como mercadores, não acha que poderia levantar suspeitas sobre nossos acordos?

O rapaz tampou o copo e começou a balançá-lo com apenas uma mão. A água aos poucos tomava uma coloração carmesim. Sua fluidez pura aos poucos era substituída por uma densa viscosidade corrompida, quase como se fosse as entranhas de uma criatura.

— O povo desse lugar não é tão inteligente assim, Tarasov. Além disso, o que eles poderão fazer? Acha que a guarda imperial desse lugar levantaria um dedo contra nós? A minha escolta noturna é capaz de varrer esses imbecis em uma noite se eu quiser. Santa Marília literalmente nos pertence.

— Talvez os grandes clãs e a família imperial não sejam muito a favor disso, Leonard — disse Tarasov, um tanto preocupado com a megalomania do jovem.

— Estamos pagando a porra dos impostos, eles estão cagando pra isso! Eu chamei vocês aqui para perguntar uma coisa: se me lembro bem, era para uma caravana que saiu há dois dias daqui junto com um grupo de pessoas ter dado algum sinal de vida. Você sabe alguma coisa sobre isso?

O falso mercador coçou o nariz, como se a resposta estivesse na ponta da sua língua, mas sem nenhuma disposição de soltar.

— Ainda não tivemos nenhuma notícia. Mas presumo que já devam estar próximos da costa do continente. Em breve, devemos ter alguma notícia.

Leonard balançou o copo mais uma vez, fazendo aquela mistura nojenta balançar de um lado para o outro, estimulando um pouco a ânsia de vômito dos convidados. Sem hesitar, o jovem rapaz tomou a substância sem deixar nem uma única gota escorrer. Tarasov pensou em perguntar o que diabos tinha dentro daquela bebida, mas preferiu segurar consigo a dúvida.

— É mesmo? Porque eu me lembro do imbecil do dono da pousada todo feliz que finalmente poderia ter aquela espelunca toda pra ele, justamente porque a herdeira legal acabou “sumindo” de forma misteriosa. Mas para a minha surpresa, aquela vadiazinha brotou feito um cacto no meio do saguão como se tivesse tido um dia ruim no meio da mata. Você sabe o que isso significa, Tarasov?

O homem engoliu seco. De repente, o ambiente parecia um pouco mais pesado.

— Eu vou te dizer o que significa. Caso aquela mulher dê com a língua nos dentes, talvez para o capitão ou algum dos dois patetas que o seguem, uma investigação com validação imperial possa ser iniciada. E sabe o que acontece? Eles descobrem a porra do esquema e a minha família é inteiramente arruinada, vocês são mortos feito os lixos que são e eu recebo um lindo nó no meu pescoço no meio da praça, que tal? Parece divertido para você?

Uns segundos de silêncio se estabeleceram no cômodo. Subitamente, todo mundo tinha perdido a fome.

— E o que você quer que façamos? — perguntou Tarasov.

Como se estivesse incomodado, Leonard massageou as têmporas e respirou fundo.

— Quando vai vir o próximo carregamento?

— Possivelmente em duas semanas, já batemos a demanda de gente para se livrar.

— Ótimo! Quando chegarem aqui em Santa Marília, passem na pousada para pegar de volta quem vocês deixaram para trás. E pelo seu próprio bem, é melhor que você não foda com tudo dessa vez! Normalmente é 6/4, mas dessa vez vai ser 8/2 por causa da merda que fizeram.

Tarasov fechou os punhos. Aquele garoto estava testando sua paciência, algo que não estava afim de tolerar. Apenas um soco bem dado e a cabeça dele virava uma obra de arte moderna na parede. Estava tão perto, era só deixar os instintos agirem. Porém, algo gritava em seu subconsciente, como se fosse um aviso, impedindo-o de cometer um ato que o faria se arrepender.

— Bom, já terminamos aqui. Foi bom o café, cavalheiros! Agora eu tenho que ir. Vocês sabem onde fica a saída.

Deixado feito um idiota, Tarasov amaldiçoava o nome dos Bakir em um volume quase inaudível. Sendo declarado como responsável, ele não se contentava com o fato de receber a culpa mesmo não tendo feito absolutamente nada para receber aquilo. Seu único trabalho era fornecer rotas e fazer a contabilidade das pessoas sequestradas. Mas um erro era um erro e deveria ser consertado.

O que o preocupava era que se houvesse algo forte o bastante para lidar com um grupo de bandidos e uma maga, então alguma coisa poderia estar os rastreando. E isso precisava ser resolvido o mais depressa possível.

— Chefe — disse o homem com um tapa-olho. — Que tal pedirmos uma mãozinha dos caras da província vizinha?

Tarasov coçou a cabeça.

— Idiota! Você deve tá falando dos caras da cidade de Magnólia, certo? Aqueles filhos da puta vão nos roubar na cara dura!

— O João e a Maria Bargato, né? Aqueles putos não te devem um favor por causa daquele trampo que a gente pegou ano passado? E eles estão perto de romper a barreira pro Refinamento Corporal, pelo que me disseram.

Vendo que não possuía muitas opções, Tarasov deu um sorriso. Ele não se deixaria ser encurralado daquela forma.

— Contate os irmãos o mais rápido possível.

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Olá, eu sou Kuai Liang!

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