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Capítulo 18 – Para sustentar a confiança

Era cerca de meia noite. 

Após terminar sua patrulha rotineira, Haruki foi até o dormitório da GSN, pois havia marcado um encontro com Kaito. 

Ele não morava no dormitório, portanto, só podia entrar lá com um convite ou exercendo sua autoridade com um dos membros da organização, mas ele não queria chamar a atenção dos demais residentes. 

“Por aqui”, Kaito falou, guiando o garoto até seu quarto. 

Ele o convidou a se sentar em uma cadeira e pegou algo numa gaveta da escrivaninha. 

“Eu organizei aqui, todos os dados e informações que encontrei.” Ele estendeu um pendrive para seu amigo. 

“Valeu, Kaito. Você me ajudou muito”, Haruki agradeceu, recebendo o objeto. 

Kaito se sentou em sua cama e fechou os olhos por um segundo, os abrindo logo em seguida. 

“Você vai mesmo fazer isso?”

“Hã? Que pergunta… É claro que vou. Tenho me preparado para isso há anos. Não vou desperdiçar mais tempo.”

“Você já pensou no que fazer depois de alcançar seu objetivo? Quer dizer, você está aqui só por ele, não é?”

Eles se entreolharam e Haruki se levantou. 

“Não. Eu nunca tinha pensado nisso, mas… tenho uma ideia sobre.”

Sem mais o que conversar, eles se despediram e Haruki deixou o dormitório, indo direto para casa. 

Em seu quarto, o garoto ligou seu computador e inseriu o pendrive nele, tendo acesso a todos os dados que Kaito conseguiu. 

Ele olhou os detalhes de cada um e abriu uma certa pasta, intitulada de ‘A antiga esperança’.

Ao abrir a pasta, vários documentos e imagens foram revelados, além de uma lista de informações pessoais. 

Para não perder muito mais tempo, Haruki filtrou os arquivos e os resultados apareceram. 

“Oh, você é um hacker e tanto, Kaito. Tô te devendo essa”, ele disse ao ver o que procurava. 

“Vejamos… Aparentemente tem informações sobre o incidente de cinco anos atrás. Além de informações sobre o culpado de tudo.”

Um caso em específico que ele buscava. Procurando mais profundamente, Haruki esperava encontrar todas as informações sobre um portador que aniquilou a organização conhecida como: Sol da meia-noite. 

Em meio a todas aquelas palavras, um endereço se escondia. 

Acessando-o, Haruki conseguiu chegar a uma página bloqueada, mas com as instruções que recebeu de Kaito, digitando as informações corretamente, ele conseguiu abri-la. 

O site era criptografado, mas pertencia à organização extinta. 

Depois de vários cliques, todos os dados nela foram revelados e o garoto pôde chegar o mais fundo possível na raiz do que procurava.

“Experimento: The fake human. O que é isso? É aquela coisa dos rumores, certo? Parece que essa organização estava pesquisando sobre ele. Alguém não deve ter gostado e os eliminou. Isso é incrível, mas… se meu pai não estivesse entre eles, você não seria meu alvo, Olhos azuis.”

Na tela do computador, apareceu um tipo de ficha com algumas informações sobre o tal portador, mas não havia nenhum informação pessoal como nomes ou coisas do tipo.

Eu estou quase lá. Se as habilidades descritas aqui baterem com as que eu vi, então aquele cara, M-kun, é meu inimigo até que se prove o contrário.

|×××|

Ao sair de casa para ir em direção a escola, Mayck teve uma surpresa que nunca imaginaria ter algum dia. 

“Bom dia~.” Alegremente, Keiko acenou para ele.

“Huh? Bom dia… O que você está fazendo aqui?”

“É tão errado assim eu cumprimentar um amigo?”

“Não é esse o problema. Você estuda do outro lado da cidade, não é?”

Ao invés de responder, a garota desviou os olhos, o que levou Mayck a pedir uma explicação para Haruna que estava encostada no muro. 

“Eu não posso fazer nada. Ela chegou 4 horas da manhã na minha casa me pedindo o seu endereço”, ela falou sem nenhum entusiasmo. 

Essa garota é louca, ele pensou vendo Keiko assobiar como se nada tivesse acontecido. 

“De qualquer forma, você não vai chegar na escola atrasada?” Ele perguntou quando começou a caminhar, sendo seguido pelas duas garotas. 

“Não se preocupe. Minha escola tem 30 minutos de tolerância, então, sem problemas.”

Os dois não puderam deixar de pensar em que tipo de escola ela estudava. 

“Nós vamos ser uma família daqui a um tempo. Por isso, não é estranho que eu venha vê-los, não é?”

Keiko soltou uma gargalhada e os três seguiram parte do caminho para a escola. 

Chegando na estação, Haruna pediu gentilmente que a garota pegasse o trem e seguisse para seu colégio. E depois de uma pequena batalha de determinação, Keiko acabou cedendo. 

Era algo incomum Mayck e Haruna irem para a escola juntos. 

Por um momento, ele pensou que ela poderia simplesmente sair andando na frente, mas não foi o que fez. Pelo contrário, ao chegarem perto de uma máquina de bebidas, ela apontou com o indicador, insinuando alguma coisa. 

“Você tem dinheiro, não tem?”

Ignorando a pergunta, ela respondeu de braços cruzados. 

“É o dever de um irmão mais velho ajudar sua adorável irmãzinha. Não sabe nada sobre isso?”

“Desculpa. Eu nunca fui um irmão mais velho e nem me deram o livrinho de regras.”

“Então veja isso como uma preparação. Eu gosto de refrigerante de laranja.”

“É interessante porque eu também gosto. Mas ainda não entendi porque você está me dizendo isso. Em nenhum momento eu perguntei o que você queria.”

Haruna o encarou com um olhar ameaçador. Aquela disputa não terminaria tão cedo. 

“Vamos no pedra, papel e tesoura. Quem ganhar, compra para o vencedor.”

“Sem objeções.”

O jogo foi iniciado e Haruna perdeu friamente na primeira rodada. Entretanto, ela não estava disposta a perder daquele jeito e exigiu um melhor de três, porém perdeu em todas elas. 

Vendo o rosto de decepção dela, Mayck comprou duas latas, uma de refrigerante e outra de suco de manga. 

“Toma.” Ele entregou uma das latas a ela. ” Vou te dar isso como prêmio pela audácia de me enfrentar.”

“Eu não preciso de um prêmio de consolação.” Apesar de ser contra, ela aceitou. “E porque suco de manga? Ele é ruim.”

“Você perdeu, portanto não tem direito de escolha. É sua punição.” Ele deu de ombros e continuou andando. 

Haruna queria protestar, mas ela sabia que não tinha esse privilégio. 

Com essa pequena briga, eles perderam quase 20 minutos a mais do que normalmente. 

Ao chegar na escola, Mayck foi cumprimentado por Chika e Akari, juntos, eles foram para a sala. 

Quando chegaram ao fim das escadas, notaram um pequeno tumulto entre os alunos. 

“O que tá acontecendo?” Chika perguntou para uma colega de classe que estava parada em frente a janela. 

“Ichinose-san. Você sabe o que aconteceu com Yukimura-kun?”

“Haruki?” Os três voltaram seus olhos para dentro da sala e viram seu amigo sendo cercado por outros quatro alunos, com um deles segurando seu colarinho. 

“Aqueles são da classe D, não são?” Akari observou. 

O que ele tá fazendo?

Sentindo algum tipo de dever como amigo, Mayck se espremeu entre a multidão e entrou na sala, se aproximando da fonte do escândalo. 

“O que está acontecendo aqui?”

“Mizuki-san, você tem que adestrar bem seu pet, para ele não sair mordendo os outros.”

“Meu pet? Como assim? Além disso, vocês estão no mesmo clube, não é?”

“Estamos e ele tem agido dessa forma ridícula desde ontem.”

“Bom, vamos conversar melhor. Primeiro soltem ele, okay?”

As palavras dos colegas do clube de Haruki fizeram dúvidas brotarem na cabeça de Mayck. 

Ele sabia que Haruki era uma pessoa forte e que bateria de frente até com um adulto, mas, apesar disso, ele não era arrogante e nem atacaria uma pessoa sem um bom motivo. E mesmo que existisse um, ele contaria com a sua ajuda antes de fazer qualquer coisa. 

Algo que Haruki não podia deixar Mayck saber. 

Depois que foi solto, Haruki estalou a língua e deixou a sala em passos pesados. 

Os quatro garotos tentaram impedir, mas Mayck pediu a eles que o deixassem cuidar disso e saiu da sala depois de deixar sua bolsa em sua carteira. 

Ele não correu pois sabia perfeitamente onde encontrar o garoto e o achou no telhado em poucos minutos. 

Se aproximou e parou ao seu lado, vendo a expressão neutra em seu rosto. 

“Eu nunca vi você em uma briga antes. Parece que as coisas mudam, hein?”

“Foi mal. Eu não queria te causar problemas. Acho que esquentei demais a cabeça, só isso”, ele falou sem mudar a direção dos olhos. 

“Eu não vou te obrigar a me dizer o que aconteceu. Mas eu vou te dizer uma coisa, não estou insinuando nada, porém, se você perceber que agiu errado, considere pedir desculpas. Caso contrário, apenas ignore.”

“Você é uma pessoa gentil, não é, Mayck?” Ele ficou de costas para a grade e olhou para o céu. 

“É isso o que pensa de mim? Eu não acho que sou gentil nem nada. Uma vida com sentimentos emprestados não passa de uma farsa.”

“E o que isso quer dizer?”

“Eu me pergunto o que… De qualquer forma, não me importo com o que rolou entre você e o pessoal do clube, mas se tiver algum problema, considere falar comigo, okay? Por ora, fique na enfermaria por um tempo. Vou tentar enrolar os professores.”

“Tudo bem.”

Mayck seguiu de volta para as escadas e retornou para a sala, deixando Haruki sentindo a leve brisa que passava por ele. 

“Você realmente… é uma pessoa gentil.”

Andando pelos corredores, Mayck permanecia calmo, como sempre, no entanto, ele se perguntava o motivo que conseguiu fazer Haruki perder a cabeça. 

Os outros membros do clube haviam dito que ele estava assim desde ontem, não é? O que será que houve lá?

Ao se fazer essa pergunta, ele levantou a cabeça e se deparou com alguém vindo em seu caminho. 

Eles desviaram um do outro, mas Mayck parou logo depois. 

“Ei, Ren.”

Ao ouvir seu nome ser chamado, o garoto se virou. 

“O que você quer?”

Mayck também se virou para confrontar o olhar hostil que recebeu de Ren. 

Você que fez merda e eu tenho que receber o ódio? Ele pensou ao ver aquela aura ameaçadora. Respirou fundo e continuou. 

“Ontem, o que aconteceu no clube? Haruki parece ter passado por uns problemas.”

“Hã? Ele é seu melhor amigo e não te contou nada? Que grande amizade.” Ele balançou a mão para acompanhar o sarcasmo. 

“Bom, amigos de verdade preferem manter os outros longe de problemas, não é?” Ele rebateu e Ren rangeu os dentes. 

“Hmph, não aconteceu nada demais. O Haruki apenas brigou com os outros membros e os novatos porque eles não estavam jogando direito.”

“Então ele é o culpado?”

“Se é só isso, então tchau.” Ele se despediu e se preparou para partir, mas antes ele estalou a língua. 

Quando ele estava prestes a sair, uma garota surgiu por detrás deles, subindo as escadas e se surpreendendo com a presença de Mayck. 

“A-ah, Mayck-kun, bom dia…” ele falou com uma certa timidez na voz. 

“Bom dia, Saki.”

Ele a cumprimentou de volta. 

Ren, que havia começado a andar, soltou algumas palavras contra ela, que foram um pouco inaudíveis. Porém, os dois perceberam que era algum tipo de ofensa. 

“Poderia repetir? Eu não te ouvi direito”, deixando o clima pesado, Saki mudou de humor drasticamente. 

“Sim, é claro. Posso repetir quantas vezes forem o suficiente para você ouvir. Traiu o cara e agora virou a cachorrinha dele.”

Saki rangeu os dentes e pisou fortemente indo até ele com um olhar tenebroso no rosto. 

“Eu não virei a cachorrinha de ninguém.”

Mayck ficou perplexo. Ele sabia que o relacionamento dos dois tinha deteriorado, mas não sabia que havia chegado a esse ponto. 

“Eh? E o que tem a dizer sobre estar abanando o rabo para ele? Vai me dizer que é uma forma de consolar ele?”

“Que direito você tem pra falar isso? Primeiramente foi por sua culpa que as coisas ficaram assim. Você não tem nada a dizer? Não consegue aceitar o quão lixo você é?” Saki fez sua voz ecoar por todo o corredor. 

Eu preciso fazer eles ficarem quietos. Daqui a pouco vai chamar a atenção das outras classes. Além do mais, o mais prejudicado aqui, supostamente, fui eu.

Mayck temia que aquilo se tornasse um escândalo. 

“Eu sou o lixo? Fiquei perto de você até quando você quase matou aquela garota. Sua assassina-“

Essas palavras foram paradas por um tapa que Saki desferiu no rosto de Ren e fez seu som ecoar. 

“Cala a boca. Você não tem o direito de falar algo”, enquanto falava, lágrimas começavam a encher seus olhos. “Eu apreciei sua companhia. Você era importante para mim, mas sempre foi tudo falso, não é? Até disse que me amava, mas sempre saia com uma garota diferente. Destruiu o que eu tinha e acha que pode me tratar assim? Você deveria morrer.”

Como se pensasse o mesmo, Mayck levantou sua mão direita e começou a projetar uma esfera elétrica, logo depois de ouvir as palavras de Saki. 

Ele não reagiu na mesma hora, mas logo voltou a si e segurou seu braço, o forçando para baixo. 

O que é isso? Eu não fiz isso porque quis. 

Mayck levantou sua cabeça para ver se alguém tinha notado, mas, para sua sorte, os dois estavam distraídos. 

“Isso é o suficiente.” Ele interrompeu os dois puxando o pulso de Saki e a guiando para outro lugar. 

Ren manteve-se parado até os dois sumirem de sua vista e pôs a mão no rosto quando começou a caminhar, tentando amenizar a dor. 

“Aquela vadia.”

Os dois foram para o campus do colégio e pararam em um lugar onde, olhando pela janela, nenhum estudante os veria. 

Saki pôs as mãos nos joelhos, buscando recuperar seu fôlego e Mayck parou de braços cruzados, perdido em seus pensamentos. 

Não era como se eu tivesse pensando em atacá-lo. O que eu senti naquela hora foi uma sensação de concordância. Como se… eu pensasse que ele deveria morrer…

Mayck olhou para Saki um pouco alarmado. 

Será que… essa é a ID dela? Se for, então é perigosa demais para ser deixada por aí. 

“O-o que foi?” A garota se sentiu envergonhada por estar sendo olhada fixamente. 

“Não é nada”, ele falou desviando o olhar. “Afinal, Saki.”

“O que foi?”

“Por que você ainda está com sua bolsa?” Ele tinha notado antes, mas quando isso aconteceu, não era o momento perfeito para perguntar. 

“Ah, isso? Eu acabei me atrasando hoje e consegui entrar por sorte.”

“Hmm… mas isso foi pra nada se você não entrou na sala.”

Com a observação do garoto, Saki pensou por um momento e sua ficha caiu. 

A primeira aula já estava prestes a começar.

“Be-bem, até mais, Mayck-kun”, ela disse inclinando a cabeça e correndo para sua classe. 

É melhor eu ir também, ele pensou. Mas ainda não tinha retirado da cabeça o que aconteceu mais cedo e passou boa parte do dia escolar pensando e criando teorias do que poderia ser. 

Haruki, já um pouco mais calmo, retornou para a sala depois do almoço. Ninguém fez nenhuma pergunta sobre a briga, mas alguns dos amigos dele lhes consultaram sobre sua saúde. 

Quando os professores questionavam a ausência dele, Mayck os dizia que ele estava com a saúde um pouco ruim e precisou descansar na enfermaria. Para os alunos, a resposta foi a mesma, então todos associaram o problema de saúde com o motivo pela briga de manhã. 

Ao invés de retornar para casa depois das aulas, Mayck se dirigiu para a base da Black Room, com a intenção de falar com Nikkie. 

Ela estava um pouco ocupada com a Operação Primavera, no entanto. Então ele foi instruído a esperar. 

Enquanto passeava pelas instalações, Mayco observava várias pessoas trajadas e armadas andando pelos corredores. Ele imaginava que era interessante o fato daquelas pessoas estarem dispostas a lutarem contra monstros sem um poder ao seu dispor. 

Uma determinação admirável, ele pensava. 

Cansado de ficar apenas andando sem fazer nada, Mayck decidiu visitar Michio, na sala de montagem. 

O time Delta estava em missão naquele momento, portanto encontrá-los seria impossível. 

“Com licença”, ele falou ao entrar. 

Como havia recebido permissão de Zero para acessar qualquer lugar da Black Room, ele possuía um cadastrado no sistema. 

Ao entrar, ele não encontrou a garota, mas sim uma pilha de papéis espalhados pela sala. 

Acho que isso é normal daqui. Acho que já me acostumei. 

Em cima da mesa, entre mais pilhas de documentos e outros objetos, Mayck encontrou a garota dormindo profundamente. 

“Matando trabalho de novo? Isso é o seu comum, não é?”

Mayck correu seus olhos pela sala e encontrou um livro que chamou-lhe a atenção. 

Olhando para a capa, ela não continha um título, o que dava a entender que era escrito à mão.

“Isso tá mais pra um caderno de anotações.” Essa suspeita foi confirmada após ver as letras feitas de caneta nas folhas. 

Ele folheou o caderno e encontrou vários desenhos e projetos de  armas e equipamentos. 

Ela trabalha bastante… acho que ela merece um descanso. 

“O que tá olhando?”

A voz repentina fez um calafrio percorrer o corpo do garoto. 

Quando olhou para trás, viu Michio perto dele coçando os olhos e bocejando.  

“Ah, Michio. Eu te acordei?”

“Tá tudo bem. Eu não deveria estar dormindo agora…”

Ela não negou…

“E então, o que você estava olhando?”

“Encontrei esse caderno e acabei lendo por curiosidade. Desculpa. Eu acho que não deveria mexer nas suas coisas.”

“Não se preocupe.” Ela tomou o caderno das mãos dele. “Esses são alguns projetos que eu estava testando, mas nenhum deles deu certo. Quer dizer, nem todos. Aquela espada que você usa foi um dos que funcionaram.”

“Entendo. Então você me deu algo bem importante.”

“Desde que você saiba usá-la com cuidado, eu não me importo. E o que veio fazer aqui?” Michio voltou para sua mesa. 

“Eu estava entediado e decidi visitar você.” 

Por um momento, a garota ficou sem dizer nada. 

“O que foi?”

“Não é nada. A propósito, Kihon-san não te chamou para um teste hoje?”

“Não. Hoje ele não entrou em contato comigo até agora.”

Desde que Mayck começou aparecer frequentemente na base da Black Room, Kihon, o pesquisador-chefe, o chamou várias vezes para fazer testes. 

Segundo ele, estava curioso sobre a ID de Mayck e por isso faziam esses testes regularmente. 

“É estranho, não é?”

“Hm? Como assim?” O comentário de Michio deixou Mayck intrigado. 

“Bem, é que testes assim não são necessários. Por mais que tentem, não é possível entender a ID de alguém perfeitamente. Você só conseguiria isso se o portador mostrasse todo o seu poder.”

“Mas então porque ele continuaria?”

“Não sei… até porque foi ele mesmo quem concluiu que não era possível.”

Como assim? Então qual o sentido daquilo tudo?… Não pode ser, né?

“Desculpe, Michio, eu vou ter que ir agora.”

“Me traga um lanche na próxima visita.”

Marco deixou a sala e andou rapidamente, dando de cara com Nikkie no meio do caminho. 

“Eu estava te procurando. Onde você estava?”

“Mais importante que isso, eu preciso te fazer uma pergunta.”

Nikkie deixou sua própria pergunta de lado, pois viu a seriedade nos olhos dele. 

“O que seria?”

“Você pode ver o fluxo de energia de um determinado portador?”

“O que você quer dizer com isso? É claro que é possível ver o fluxo de energia em um certo local, mas isso não quer dizer que poderia, por exemplo, ver o tanto de energia que você usou.”

“Em outras palavras, você não pode ver a minha energia, mas toda a energia acumulada em uma região.”

“Exato. A energia deixada por um portador se mistura e se decompõe, como o ar. Então nós podemos analisar essa energia deixada. Mas não podemos dizer quem foi que deixou aquela energia.”

“Então não existe a chance de você captar uma energia em um lugar e dizer: essa energia pertence a tal pessoa, certo?”

“Sim.”

Mayck abaixou a cabeça por um momento e respirou fundo, levantando seus olhos para a garota novamente. 

“Nikkie, quanto tempo livre você tem agora?”

“Tempo livre? Bem, enquanto Zero-san não me chamar, eu tenho a noite toda.”

“Ótimo. Eu tenho um pedido a fazer.”

“E o que é?” 

Mayck se aproximou totalmente e segurou as mãos dela. 

“Me ensine a usar algumas armas.”

“Hum?”

Um pouco confusa com o pedido, Nikkie levou algum tempo para processar, mas aceitou depois disso. 

Na sala de treinamento, Mayck foi instruído em técnicas de espadas e adagas, além de armas de fogo comuns. Cada treino levou uma hora e meia, sem parar para descansar. 

Nikkie também revelou ser uma instrutora rígida, que parecia ser substituída por outra pessoa. 

Esse tempo não era suficiente para Mayck se tornar um profissional, nem dominar bem as armas, mas ele teria um bom senso na hora de usá-las. 

Como um treino extra, Nikkie lhe entregou um par de pistola e quatro carregadores com balas especiais e eficazes contra os Ninkais. 

De volta a sua casa, Mayck preparou o jantar e ficou no seu quarto. 

“Acho que vou pôr meus pensamentos em ordem… Ah! Eu esqueci de falar sobre Saki para a Nikkie. Bom, tanto faz.”

Mayck se sentou na cadeira de frente para o computador e esperou ele ligar. 

Como Saki havia me dito, quando ela fala alguma coisa, por exemplo, mandar alguém morrer, não parece que ela controla a mente dele, como foi provado com Ren hoje, já que ele não mostrou um comportamento diferente. 

Mayck abriu a gaveta da escrivaninha, tirando um caderno e uma caneta assim que os viu e começou a rabiscar seus pensamentos. 

A hipnose é um tipo de controle mental. Uma pessoa faz algo e a outra se torna seu servo leal. Mas o que Saki fez, foi algo diferente, ela não controlou a mente da pessoa em si…

Pegou seu celular no bolso e mandou uma mensagem para Hana. 

[Você sabe quem foi a professora que foi para o hospital ontem?]

A mensagem foi enviada e, três minutos depois, o ícone de lida foi mostrado. 

[Se não me engano, foi a professora de história, Mion-sensei.]

[Ela tinha algum tipo de doença?]

[Pelo que eu sei, ela fez uma cirurgia no coração no passado. Mas por que isso agora?]

[Não é nada demais. E quanto a outra aluna? Ela foi contida por policiais, mas porque?]

[Essas perguntas são estranhas. Tem uns rumores que ela passou por um trauma quando era pequena.]

[Entendo. Obrigado pelas informações. Boa noite.]

Surfando na onda da mensagem, Mayck mandou uma figurinha para acompanhar o cumprimento. 

Como eu pensei. O que Saki faz, não é hipnose nem um tipo de controle mental. Não posso concluir com certeza, mas talvez ela possa ditar o futuro. 

Ao invés de colocar seus pensamentos no papel, Mayck notou que havia riscado várias coisas aleatórias. 

Ele pôs a caneta de lado e se ajeitou na cadeira, com o computador já ligado. 

Em outras palavras, ela pode alterar o futuro de uma pessoa fazendo acontecer com ela, algo que já deveria. Não. Isso não era certo. Já que não justifica o fato de eu ter tentado matar ele. Deve ser algo mais simples que isso… mas o quê?

Ele começou a navegar na internet e se concentrou em alguns comentários em um certo vídeo sobre personagens fictícios. 

Um poder que dita a realidade… O que ele seria? A professora foi para o hospital porque ela já tinha um problema no coração. A outra garota tentou se matar por causa de um trauma do passado e Ren quase morreu… apenas porque eu estava lá é era o único que podia matá-lo. 

Deslizando o mouse, Mayck o parou em cima de uma certa palavra: Destino. 

Será que é errado dizer que ela manipula o destino?

|×××|

Já era de madrugada. Mayck saiu de seu quarto depois que seu pai dormiu e decidiu pôr seu plano em ação. 

Em um local mais afastado da cidade, o garoto se encontrou com alguns Ninkais, mas não eram dos mais fortes e ele pode eliminá-los sem utilizar sua ID, apenas atirando neles. 

É um plano simples, mas vai ser eficiente. Tudo o que eu preciso é descobrir quem está vazando as informações da Black Room. O caso do The fake human era para ser um segredo, mas já está na boca dos caçadores. 

No caminho para o seu ponto atual, Mayck havia encontrado dois caçadores falando sobre o tal Olhos azuis ter controle sobre o The fake human. 

Eu não entendo esse rumor. O Olhos azuis foi revelado por Yang, mas o que ele teria a ver com essa história do monstro mais poderoso? Se alguém poderia criar um rumor desses é Yang ou alguém que trabalha para ele, que consequentemente é a mesma pessoa que está vazando informações. 

Até o próximo encontro com Kihon, Mayck decidiu não usar sua ID nenhuma vez. 

Pensando bem, não é estranho como Zero não sabe de nada? Ou ele sabe e está cooperando com eles, o que o torna um traidor ou eu estou errado sobre tudo. Bem, se esse for o caso, então eu só preciso destruí-los também. 

Por um segundo, Mayck parou e refletiu sobre o que havia pensado.

“‘Também’? O que eu quis dizer com isso?”

A palavra apenas saiu junto com seus pensamentos. A intenção de dizê-la era completamente zero. 

 “Acho que tanto faz.”

Deixando essas questões de lado, Mayck passou cerca de duas horas antes de voltar para casa. 

Acordar no dia seguinte foi uma grande dificuldade. 

No colégio, Haruki ainda se mantinha da mesma forma que no dia anterior, ficando calado na maior parte do tempo, apenas respondendo o que lhe parecia necessário. 

Todos notaram essa troca de humor, porém Mayck e Chika foram os mais afetados com isso. 

Seguindo linhas de pensamento iguais, eles pensavam que o garoto estava com problemas em casa, o que os levou a discutirem sobre isso. 

Chika resolveu consultar Mayck sobre o ocorrido, pensando que um garoto poderia entender o outro. 

“Desculpa. Eu ainda não sei o que ele tem.” Para sua surpresa, essa foi a resposta dele. 

“Imagino. Talvez você não saiba de tudo.”

“É um pouco rude, mas é a verdade. Imagino que com o tempo vamos descobrir.”

“Somos amigos há muito tempo, mas eu nunca vi Haruki assim. Tenho certeza que tem algo muito errado”, Chika, que havia deixado sua alegria de lado, falou. 

“Sim, eu sei. Mas não acho que nos metermos nisso vai ser bom. Podemos olhar de longe e tentar descobrir, já que ele não vai falar nada.”

“É isso o que você sugere? Ficarmos em silêncio enquanto ele sofre calado? Sempre que tínhamos algum problema, ele era o primeiro a se pronunciar.”

Chika era amiga de Haruki há mais tempo, então Mayck podia entender o porquê de ela estar tão preocupada. 

Mas existia uma divergência no conceito de amizade desses dois. 

Chika acreditava que deveria ajudar seus amigos a qualquer custo. Por outro lado, Mayck sabia que Haruki falaria com eles se fosse necessário, então não havia necessidade de fazê-lo falar sobre seus problemas. 

“Esse é o ponto. Se Haruki nos vê da mesma forma, ele vai nos pedir ajuda. Não tem motivo para fazer nada por enquanto.”

Chika acabou recebendo mal essas palavras e se levantou, batendo as mãos na mesa, o que assustou Akari e chamou a atenção de alguns alunos que também estavam no refeitório. 

“Você entende o que está falando? Está tentando testar ele. Isso não é algo que um amigo faça!”

“Ei, ei, relaxa.” Ele tentou acalmá-la. “Não é isso o que estou dizendo. Não estou testando ele, mas do meu ponto de vista, ele vai vir falar com a gente se for difícil para ele. É só isso o que eu quis dizer.”

Chika percebeu que se exaltou e fingiu uma tosse se sentando novamente para dispersar a atenção dos estudantes. 

“Desculpa. Eu acho que você está certo. Mas se ele não vir até a gente logo, nós vamos até ele.”

Os dois concordaram com isso e logo depois o sinal para o fim do almoço terminou. 

No resto do dia não houve mudanças e as aulas foram finalizadas. 

Mayck viu Haruki ir embora rapidamente, sem ao menos passar na sala do clube. 

Quando estava saindo da escola, encontrou Hana. 

“Ué? Não vai para o clube?”

“Não. Tenho algumas coisas para fazer em casa… gostaria de ir junto comigo?”

“Sem problemas. Eu estou desocupado mesmo.”

Os dois começaram a caminhar e passaram no mercado juntos, onde Mayck teve que suportar a demora de sua amiga em escolher os ingredientes. 

Quando iam embora ele teve que carregar a maior parte das sacolas por ter perdido no pedra, papel e tesoura. 

“Você realmente ganhou.”

“O que você esperava? Estamos juntos há muito tempo. É claro que eu saberia seus padrões.”

“Ainda parece uma trapaça.”

“Não adianta chorar. Você perdeu. Aceite.”

“Que tirana.”

“A propósito, o que aconteceu com Haruki? Disseram que ele comprou briga com uns garotos da minha turma.”

“Ah, eu não sei exatamente. Mas suspeito que seja algum problema em casa.”

“Você é o melhor amigo dele e não sabe?”

“Não é minha culpa se ele que não sou confiável o suficiente.”

“Não. Se ele acha isso, você tem culpa sim.”

“Pode ser que sim. Mas eu realmente não faço ideia.”

Além do mais, eu tenho muita coisa em que pensar.

“Ah! Vou comprar umas bebidas. Me espere aqui.”

Hana correu para uma máquina próxima e deixou Mayck parado do outro lado da rua. 

Não sou confiável, é? Mas o que será que tá rolando com ele…

Um pensamento estranho percorreu a mente dele, na qual ele imaginava Haruki tendo contato com o mundo das IDs, assim como , Hana e Chika. 

Não pode ser… né? Seria clichê demais, ele pensava enquanto observava Hana esperando os carros passarem para poder atravessar de volta. 

“Desculpe pela demora. Aqui.”

Ela estendeu a mão com uma lata de refrigerante. 

Mayck a olhou com um sorriso irônico. 

“Muito engraçado.” Ele mostrou as mãos ocupadas com as sacolas. 

“Bom, não há o que fazer. Eu bebo essa por você.” Despreocupadamente, ela sai andando na frente. 

“Isso é trapaça.”

Os dois seguiram até a casa de Hana. 

“Estou em casa”, Hana anunciou ao entrar.”

“Bem-vinda de volta”, a gentil mãe de Hana falou. 

“Boa noite, Tsukiko-san”, Mayck falou ao chegar na cozinha. 

“Oh, boa noite, Mayck-kun. Como tem passado?”

“Eu estou bem, obrigado.” Por já estar acostumado com a casa da família Tsubaki, ele colocou as sacolas na mesa. 

“Veja só se não é meu filho roubado.” Masato brincou descendo as escadas. 

“Boa noite, Masato-san. Desculpe a intromissão.”

Ele voltou mais cedo do trabalho? Bom, não acho que seja da minha conta. A princípio Mayck ficou curioso com a presença dele, mas não teve vontade de perguntar o motivo. 

Eles se conheciam a tanto tempo, que brincadeiras desse tipo eram rotineiras. 

“Não se preocupe. Já faz um tempo que você não vem aqui.”

“Acredito que sim…” Meio envergonhado, o garoto apenas concordou. 

“Por que não aproveita que está aqui e janta com a gente? Vou usar os ingredientes que vocês trouxeram, então esperem um pouco, tudo bem?”

“Ah… bem, eu não quero incomodar vocês.”

“Você já está aqui, então porque não? Vai ter que preparar o jantar quando chegar em casa de qualquer jeito, não é mesmo?”

Vendo que Hana tinha acertado em cheio, só restou desistir. 

Enquanto esperavam pela refeição ser terminada, Mayck foi convidado por Masato para jogar um pouco de videogame na sala. 

Eles começaram com alguns jogos de luta simples, o que era a especialidade de Masato, e o levou a vencer todas as partidas. 

Depois de mais de 5 rodadas, o policial sugeriu que fizessem jogos com punições para o perdedor e já estando no seu limite, o garoto aceitou sem pensar duas vezes. 

Enquanto Masato tinha vantagem em jogos de luta, Mayck era perito em jogos de corrida, mas os dois estavam no mesmo nível quando se tratava de jogos de tiro. 

Eles jogaram sem notar o passar do tempo e, quando Hana os chamou para o jantar, os resultados eram de 7 vitórias para Mayck, 8 vitórias para Masato e 10 empates. 

“Que tal fazermos algo justo? Já que empatamos dez vezes, podemos ajustar o número de punições para 1 e 2.”

“Como eu venci mais vezes eu tenho o direito de te aplicar duas punições e você uma, correto?”

“Isso… mesmo.” Não querendo admitir, Mayck forçou as palavras a saírem enquanto tinha sua cabeça baixa. 

O homem gargalhou alegremente e deu tapinhas de consolação no garoto. 

Hana não sabia o que esboça no rosto, vendo os dois como verdadeiras crianças. 

“Vocês… Venham logo comer.”

Após o jantar, os quatro conversavam tranquilamente sobre diversas coisa, um pouco do passado e sobre como a escola estava indo. 

“Ah, é melhor eu ir embora”, Mayck falou ao ver o relógio marcando 20h40. 

“Bem, não pode ser ajudado. Tome cuidado na rua”, Tsukiko aconselhou. 

“Ah! Espere um momento. Tem algo no meu quarto que eu deveria entregar a Takashi. Você pode fazer isso por mim?”

Mayck tinha jantado na casa deles, então não tinha e nem poderia recusar. 

“Bom, tudo bem.”

Mayck subiu as escadas até o quarto do casal, depois de receber instruções minuciosas do policial. 

Em sua mente, ele apelava para não encontrar algo desagradável nos aposentos. 

Abriu a porta cautelosamente e confirmou que era seguro entrar. 

Localizou o tal objeto na escrivaninha imediatamente. 

“Acho que é isso.” Ele pegou a pequena pasta e deu uma olhada rápida antes de sair. 

Quando se virou, tropeçou na perna da cadeira e perdeu o equilíbrio, se apoiando na mesa para não cair. Porém, ao invés de bater a mão aberta na mesa, ele acabou clicando no teclado do computador e o ligando. 

Aparentemente o monitor estava apenas com a função hibernar ativada. 

A tela mostrou uma janela de mensagens, o que Mayck não pôde evitar de ver. 

“Hmm… eu acho que não deveria estar vendo isso.”

Mauck pôs a mão no mouse com a intenção de desligá-lo novamente, mas algumas palavras atraíram seus olhos. 

Era uma troca de mensagens. 

À primeira vista, poderia-se dizer que era sobre trabalho, no entanto, olhando mais minuciosamente, algumas palavras não pareciam ser algo que um policial conversava com outro. 

O conteúdo das mensagens era o seguinte:

[Então, você tem certeza?]

[Eu tenho os observado há anos. Não tem como eu estar errado. A ‘chave’, imagino que ela possa aparecer em breve.]

[Como pode afirmar isso com tanta certeza? Eu sempre estive por perto, mas não notei nenhuma mudança nele até agora.]

[Não pense muito nisso. Existe uma prova irrefutável de que ele está prestes a voltar. E eu espero que você não seja dominado por sentimentos quando essa hora chegar. Afinal de contas, ele é filho de um amigo importante, não é?]

[Pode ficar tranquilo. Se eu posso fazer algo pelo meu irmão, eu não vou hesitar em abandonar tudo.]

A conversa só foi até aí. 

Pelo horário, elas haviam sido trocadas a poucos minutos antes de Mayck chegar na casa. 

Ele não queria que todas as possibilidades que se passavam em sua cabeça naquele momento fossem verdade. Gostaria que fosse apenas uma paranóia. 

Mas ainda assim, ele tirou uma foto do monitor antes de desligá-lo, além de fotos do perfil com quem a conversa era trocada. 

Ele desceu as escadas e, depois de confirmar que havia pegado a pasta certa, voltou para casa. 

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