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Capítulo 4 – O lado que poucos veem

No mesmo dia, antes de Mayck se infiltrar no terreno abandonado, um grupo, em um lugar distante, observava um grande número de monitores, que mostravam imagens do interior de um edifício.

“Então, como foi dessa vez?” Um homem com o rosto coberto e um traje militar se aproximou de outro sentado, também da mesma forma.

“Uma falha total, como todas as outras. A cobaia perdeu a visão e o olfato. Além disso, exterminou todos que trabalhavam no local.”

“Mas se ele realizou o propósito, por que seria uma falha?”

“Os superiores não querem um monstro que não segue ordens.” Os dois homens voltaram sua atenção para os monitores.

“E onde ele está agora?”

“Depois de massacrar os pesquisadores, ele tem andado por aí sem motivo algum. Logo vamos receber ordens para eliminação, como sempre.”

Os homens suspiraram, demonstrando sua insatisfação com mais um trabalho inútil.

Nessa mesma hora, um outro homem vestido com roupas diferentes dos demais, se levantou e começou a falar.

Era Minami Keiichi, capitão das operações que estavam em andamento.

“Preparem-se para enviar o relatório. Vamos encerrar esta sessão.”

Após o anúncio de Keiichi, vários resmungos se manifestaram e os outros começaram a digitar em seus computadores.

“Três anos para não dar em nada. O que eles estão fazendo com os investimentos?”

“Eles querem mesmo fazer isso?” Em meio a tantas reclamações, o capitão se pronunciou mais uma vez, para acalmar os ânimos de seus subordinados.

“Não adianta reclamar. Os superiores fizeram de tudo. Agora, vai ser iniciada a segunda sessão. Estejam preparados.”

Enquanto oferecia suas palavras de consolo, um som eletrônico começou a ecoar pela sala. Um painel ao fundo começou a brilhar e, em seguida, a imagem de um homem tomou forma.

“Já recebemos o relatório. A sessão número 2 será iniciada em breve. Agora, o chefe do departamento, Yang, vai lhes dar as orientações necessárias.”

Depois do anúncio a tela foi trocada e só era possível ver a silhueta escura de uma pessoa.

“Boa tarde. Eu sou Yang, chefe do departamento de operações. Por decisão unânime de nossos superiores, declaro aqui e agora, o início da segunda sessão. A primeira sessão que se iniciou há três anos chegou ao seu fim, com a última cobaia que foi capturada na noite passada, terminando em fracasso. A próxima sessão será mais difícil que a primeira.”

Deixando os ouvidos dos homens preparados, Yang começou a explicar como seria o andamento da operação e seus objetivos.

“A sessão será concentrada na captura de portadores, portanto, será inevitável o combate, muitas vezes em áreas civis. Além dos não-portadores, iremos mobilizar as tropas especiais, uma para cada esquadrão.”

As tropas especiais. Eram pessoas com poderes sobrenaturais, que trabalhavam para a Ascension e existiam ao redor do mundo, porém se mantinham escondidos das pessoas normais, que nem sequer imaginavam sua existência.

Antes que Yang acabasse suas ordens, um alarme soou e nos monitores apareceram imagens de um monstro, perseguindo um garoto.

Intrigados com a visão, todos pararam para observar o que estava sendo transmitido.

“Mas o que é isso? O laboratorio foi descoberto?”

“Não era para ter ninguém por ali. Mas ter uma base em um lugar tão óbvio… não me surpreende que alguém o encontrou.”

Em meio à confusão, Yang, com sua atenção também nas imagens, disse em voz alta.

“Isso está em tempo real?”

“Si-sim, senhor.”

Na tela, o garoto tentava, de forma desesperada, afugentar o monstro. Depois de driblar e sair da linha de ataque, o garoto voltou para perto da criatura e sua voz baixa foi transmitida para o sistema de som dos monitores.

“Delete.”

Com essas palavras um clarão fez com que as câmeras começassem a chiar e parassem a transmissão.

Os homens ficaram perplexos com o que ocorreu. Yang, por outro lado, começou a rir histericamente.

“Hahahahah! Incrível. Já encontramos um tão rápido. Missão de última hora. Localizem o garoto. Se os outros grupos o encontrarem antes, nós vamos perder uma chance de ouro.”

“Sim, senhor!” Todos ali exclamaram, respondendo ao comando de Yang, e, imediatamente, começaram as suas operações.

|×××|

Depois dos ocorridos, o fim de semana se passou pacificamente, porém, muito rápido e logo chegou a segunda-feira mais uma vez.

Eram 6:00 da manhã. O som repetitivo e irritante do alarme fez com que Mayck acordasse e desse um tapa em cima do botão, fazendo com que a trombeta cessasse.

Ah… que chato, suspirou e levantou de sua cama. Por sempre ter odiado acordar cedo, ir para a escola era quase uma tortura diária para ele.

Sem escolha, o garoto foi para o banheiro e fez a sua higiene e todas as necessidades rotineiras, preparando-se para mais um dia de aula.

Sua cabeça tinha estado ocupada em apenas uma semana, o que o levou a pensar em dormir mais um pouco e não ir para o colégio.

“Mayck! Já levantou?” Uma voz veio da sala. Não querendo levantar a voz, o garoto foi até a porta do banheiro e mostrou que já estava de pé.

“Hoje eu vou voltar tarde, então não se preocupe com o jantar.”

“Hmm…” Takashi avisou o garoto, que balbuciou em resposta. Logo depois ouviu a porta da frente sendo fechada.

Ele saiu do banheiro e foi até a cozinha, abrindo a geladeira. Olhou para dentro e uma expressão de quem estava esperando encontrar algo ali surgiu. Logo, fechou a geladeira e pôs a mão no rosto.

Eu não fiz meu almoço…

Ele voltou para o seu quarto, pegou seu celular e bolsa, trancando a porta com uma chave e descendo as escadas. A chave do quarto foi pendurada em um suporte na parede e substituída por outro molho, contendo uma chave para a porta da frente e uma para o portão.

O garoto saiu de casa e seguiu para a escola.

No caminho, não encontrou nenhum de seus amigos, ganhando a oportunidade de ficar em silêncio até chegar no colégio.

“Bom diaa~”

“Bom dia. Animada como sempre, hein.”

A primeira pessoa a cumprimentá-lo foi Chika, que o encontrou nas escadas.

“Eu acho que você já falou isso ontem… mas tanto faz. É bom estar alegre.”

“Eu concordo com você, mas você não sente sono?”

“Non, non, Mayck-kun. Você deve dormir já pensando em acordar alegre”, a garota bateu em seu ombro e moveu seu indicador da esquerda para a direita, enquanto explicava sua lógica.

Os dois se aproximaram da sala e entraram juntos. Lá, Haruki estava sentado com um aparelho em suas mãos, que foi deduzido ser seu telefone.

“Bom dia”, disseram a Haruki juntos, mas ele estava muito concentrado no que estava fazendo.

“Haruki-kun?” Chika chamou por ele pressionando sua bochecha com o dedo indicador, porém, o garoto não deu resposta.

A garota se aproximou e olhou para ver o que tinha no dispositivo. Seus olhos começaram a brilhar e a garota, já enérgica, se animou ainda mais.
“Uah! Esse é o novo MMORPG que foi lançado ontem a noite?” Com essas palavras, Haruki deu sinal de vida e começou a gritar no mesmo tom que Chika, também com brilho nos olhos.
“Sim, é isso mesmo. Você também baixou?!”
“Sim. Vamos jogar juntos?”

Mayck observava o entusiasmo dos dois e não pode segurar um pequeno riso.

Assim, como todos os dias, o sinal para o início das aulas soou e um professor chegou na sala para lecionar sua matéria. No entanto, ao invés do início imediato da aula como sempre, o professor fez um anúncio para os alunos, que haviam sentado em seus lugares.

“Pessoal, hoje nós temos um estudante transferido na classe. Ele se mudou para Tóquio a alguns dias, por isso, se dêem bem com ele.”

Pequenos sussurros começaram na sala. Haruki, que tinha guardado seu telefone, virou para trás para olhar nos olhos de Mayck.

“Eles anunciaram bem de repente.”

“Talvez ele tenha se transferido às pressas. Não é tão raro de acontecer.”

“É uma surpresa para todo mundo. Desde que você se transferiu para cá, não tivemos mais nenhum aluno.”

“Pois é, né.”

“Não se preocupe.” Haruki pôs a mão na cabeça de dele. “Você será sempre nosso principal estudante transferido.”

“Huh? Você é idiota?”Jogando essas palavras, Mayck percebeu que a atenção de todos os seus colegas de sala estavam voltadas para ele, com todos seguindo o exemplo de Haruki e sorrindo. “Qual o problema de vocês, hein?” ele virou o rosto para a janela levemente envergonhado.

“Certo, pessoal. Vamos voltar ao assunto.” O professor bateu breves palmas para atrair a atenção dos alunos.

“Entre, por favor.” Quando deu a ordem, a porta foi aberta e uma garota de cabelos loiros entrou. A classe inteira se concentrou nela.

“Desculpe, Mayck. Eu retiro o que disse”, Haruki disse com os olhos presos à ela.

Traidor.

“Meu nome é Miyabe Akari. Prazer em conhecê-los”, a garota se apresentou, se curvando de forma educada e fazendo a mecha presa a um pompom feito com os próprios cabelos em sua cabeça balançar.

“Seja bem-vinda, Miyabe-san. Pode se sentar em um dos assentos livres.” O professor acolheu a nova estudante e lhe deu liberdade para escolher onde se sentaria.

A sala de aula possuía espaço para um total de 40 alunos. No entanto, existiam apenas 36 estudantes na classe. Deixando 4 assentos desocupados. Um desses assentos ficava atrás de Chika, que se sentava à esquerda de Mayck.

Akari foi até esse local e se sentou nele.

Chika olhou para a garota atrás dela e, de forma amigável, se apresentou.

“Prazer em conhecê-la. Eu sou Chika Ichinose.”

“O prazer é meu, Ichinose-san.” Akari respondeu com um sorriso gentil.

Mayck olhou para ela de relance, mas logo voltou sua atenção para o professor, que iniciou a aula.

|×××|

No horário do almoço, Mayck foi obrigado a enfrentar a imensa multidão, que tentava, loucamente, comprar seus lanches.

Normalmente teria jogado esse trabalho para Haruki, ou sua substituta, Chika. Entretanto, os dois estavam ocupados com coisas diferentes.

Chika estava fazendo companhia à nova aluna, Akari. Haruki ficou preso dentro de seu jogo na sala.

Isso… vai ser difícil, Mayck determinou após ver a bagunça em frente a cantina.

“Não tenho escolha. Tenho que fazer isso.” Reunindo um pouco de coragem, ele se esgueirou entre as pessoas e chegou até o balcão fazendo o seu pedido rapidamente. “Me dê o que tiver, por favor.” Um pacote foi entregue em sua mão e o dinheiro que ele estendeu foi tomado.

Saiu com dificuldades da multidão, tomando cuidado para não ter seu lanche levado e foi para o pátio, seguindo em direção a uma das mesas.

Ele olhou o pacote em sua mão e conferiu o que havia recebido. Olhando a embalagem, seu mundo caiu. Fazia muito tempo que ele não passava por uma decepção tão grande. Era a mesma sensação de ser uma criança e descobrir que o Lucio Hulk estava por trás da máscara do homem de ferro.

Havia pegado um sanduíche de atum. Uma das coisas que ele mais odiava.

Deixando sua decepção à mostra, o garoto se sentou, com o coração abalado.

Sem poder almoçar, Mayck pegou seu celular. Pouco tempo depois, Chika se aproximou.

“Ei, ei. O que você tá fazendo?”

“Apenas lamentando”, disse olhando para ela e notando a presença de Akari. “A aluna transferida…”

“O que é isso na sua mão?” Chika apoiou as duas mãos na mesa, ficando com o rosto próximo de Mayck, olhando para o que tinha na mesa.

“Um sanduíche de atum. Quer?” O garoto pegou seu almoço e o ofereceu à sua amiga.

“Quero, quero.” Ela pegou o sanduíche alegremente e se sentou à frente de dele. Akari seguiu o exemplo e se sentou.

Olhou para Mayck por alguns segundos e quando o garoto percebeu, a olhou de volta.

“Eu ainda não me apresentei, né? Eu sou Mayck Mizuki. Prazer em conhecê-la, Miyabe-san.

“Ah, sim. Prazer em conhecê-lo.” A garota estendeu a mão.

Depois de se cumprimentarem, Chika levantou a cabeça e começou a falar.

“Ei, Akari, o Mayck é Americano. Não é incrível?” Chika mencionou o fato com bastante entusiasmo.

“Sério? Incrível.” Akari respondeu com um sorriso.

“Não, eu não sou americano…”

“Mas você veio da América, não é?”

“Sim. Mas…”

“Então, pronto”, ela concluiu.

Tanto faz, o garoto pensou. Começar uma discussão sobre ele ia ser um pouco chato, então era melhor manter as coisas daquele jeito.

“A propósito, de onde você veio? Miyabe-san”, para não deixar um silêncio constrangedor, decidiu perguntar.

“eu vim de Okinawa. Morei lá desde que nasci.”

“Eh… Por que decidiu vir para Tóquio?” Chika se juntou à conversa, enquanto comia seu sanduíche com gosto.

“Eu vim por conta do trabalho dos meus pais. Eles tiveram que ir para o exterior e eu fiquei na casa de um parente.”

“O que seus pais fazem, para ter que ir pro exterior?”

“Não fale de boca cheia, Chika”, Mayck a repreendeu.

“Bom, eles… trabalham para uma empresa da indústria alimentícia.”

Mayck ficou em silêncio depois da primeira pergunta e começou a analisar a conversa das duas com a bochecha descansando em sua mão esquerda.

Papo ia e vinha e, nesse meio tempo, Haruki se aproximou da mesa onde estavam e se sentou, carregando dois pacotes em suas mãos.

“Cara, eu fiquei tão imerso no jogo que nem me dei conta do horário”, suspirou.

“Você não pode jogar em casa?” Mayck perguntou.

“Mas eu fiquei tão empolgado que não pude esperar. O servidor foi aberto hoje de manhã…” Haruki olhou para a frente e se deu conta de que havia outra garota dividindo a mesa. “Porque Miyabe-san está aqui? Vocês já são tão próximos assim?”

Como se fosse chorar, Haruki pôs, desesperadamente, as mãos nos ombros de seu amigo.

“O que se passa na sua cabeça?” Falou antes de ser interrompido por uma melodia de piano que ecoou até os ouvidos de todos os presentes.

A música em questão, foi configurada como um toque de chamadas no telefone de Mayck, que o pegou e olhou o nome exibido na tela do aparelho.

“Desculpem. Eu já volto”, disse se levantando e deixando seus amigos para trás.

Foi até um lugar mais afastado do lado de fora do pátio, procurando um local isolado, para que pudesse conversar com a pessoa do outro lado da linha. Ele atendeu a chamada e pediu por um minuto de espera. “

Alô. Yuigahama-san?” Os motivos da ligação passaram na cabeça dele.

Não poderia ser outra coisa, senão sobre o desaparecimento de Yuigahama Nariyuki. A ligação foi esperada por Mayck.

“Mizuki-kun. Olá. Desculpe incomodar a essa hora.”

“Não se preocupe. Eu estou no almoço agora. Posso te ouvir.”

“É sobre o meu irmão. Eu tinha decidido esperar no fim de semana para ver se ele apareceria, mas não houve nenhum sinal de que ele voltaria.” A voz de Narumi parecia trêmula, o que fez Mayck imaginar que ela estava bastante nervosa e não sabia a quem recorrer.

“Yuigahama-san, pode me encontrar hoje depois que eu sair da escola? Assim podemos falar em mais detalhes e eu posso falar com meu pai imediatamente.”

“Tudo bem. Eu posso esperar mais um pouco.”

“Okay. Vamos nos encontrar em frente à estação, às 17:00.”

“Certo. Eu vou estar lá.”

Com isso, a chamada foi encerrada. A garganta de Mayck travou. Ele sabia que Nariyuki não seria encontrado. Por mais que tentassem, nunca iriam encontrá-lo. Até porque ele havia exterminado a criatura em que Nariyuki foi transformado.

Não poderia abrir o jogo e dizer a verdade. O receio do que viria depois quando contasse, dominava sua mente.

A polícia iria ser envolvida. Isso era inevitável.

“Ah. É verdade. Se eles forem rastrear o celular dele, vão encontrar na minha casa. Preciso dar um jeito nisso…”

Nesse momento, as palavras de Haruna, da noite em que se encontraram no restaurante, rodopiavam em sua mente.

Não sou alguém que se importa com os sentimentos dos outros, né? Talvez isso seja verdade.

Encostou na parede perto de uma janela e olhou para o céu, que estava com algumas nuvens, mostrando o deslumbre da primavera. Uma brisa soprou e várias flores de uma cerejeira que estava por perto voaram, se perdendo no ar.

O sinal tocou, anunciando o fim do intervalo.

|×××|

Mayck voltou ao pátio, mas não encontrou seus amigos. Seguiu para a sala, na intenção de chegar lá antes que um professor entrasse.

Ele sentiu um embrulho em sua barriga seguido de um som leve e incompreensível, levando sua mão até ela.

Eu nem almocei…

Enquanto subia as escadas uma garota passou por ele, também subindo e, antes de se distanciar, ela o chamou.

“Mizuki-kun, você tem estado com Hana-chan ultimamente?”

Mayck olhou para a garota.

“Como assim?” Não entendendo o significado daquelas palavras, o garoto inclinou a cabeça levemente.

“É que, sabe, ela não tem aparecido no clube a alguns dias. Então eu pensei que… talvez vocês estivessem, sabe, saindo por aí…” A garota ficou com o rosto um pouco corado enquanto tocava os próprios dedos, olhando para Mayck e desviando os olhos de forma simultânea.

“Ah. Não, não tem nada assim entre nós”, respondeu com um pequeno sorriso.

“Me-mesmo? Parece que foi um mal-entendido meu. Desculpe por isso.” Ela colocou a mão sobre seu peito e se inclinou um pouco, pedindo desculpas.

“Está tudo bem. Mas, Shion-san, você disse que ela não tem aparecido no clube? O que quer dizer?” Mayck retornou ao tópico principal.

“É verdade. Ela não veio nenhuma vez ao clube, desde que as atividades foram retomadas. Eu pensei que você soubesse sobre isso.”

“Eu não sabia… eu vou tentar falar com ela depois.”

“Sério? Muito obrigada mesmo. Até mais.”

Nanohara Shion. Uma garota de cabelos curtos castanhos e olhos verdes. É uma antiga colega de classe de Mayck. Eles ficaram juntos por um ano, mas depois foram trocados de turma. Ela fazia parte do mesmo clube de Hana.

Shion se despediu e seguiu em frente.

O que tá rolando, Tsubaki? Mayck colocou as mãos nos bolsos de sua calça e voltou para sua sala.

Depois de chegar na sala, consultou Chika sobre a ausência de Hana no clube, o que foi confirmado por ela. O garoto pensou em falar com sua amiga depois das aulas, mas se lembrou de que tinha outra coisa marcada.

O fim das aulas chegou e Mayck se apressou para sair da escola.

Como sempre, Haruki e Chika foram para suas atividades rotineiras e Mayck foi embora sozinho.

Falando nisso, eu não vi a Tsubaki no caminho para a escola, certo?

Confirmando consigo mesmo a ausência de Hana, ele pensou que deveria ir até a casa dela, uma hora ou outra, ou então esperar que ela aparecesse na escola no dia seguinte.

O garoto seguiu para a estação, chegando lá em poucos minutos.

Aproveitando que havia chegado cedo, decidiu comprar algo na pequena lanchonete do outro lado da rua.

Faltavam 20 minutos para o encontro com Narumi. Uma simples refeição poderia ser feita com sucesso nesse tempo.

Mayck entrou, se sentou em uma mesa vazia e esperou que alguém viesse coletar seu pedido. Em alguns minutos uma garçonete se aproximou com um bloco de notas em mãos e sorriu gentilmente.

“O que vai querer, senhor?”

“Eu quero esse mini combo de 800 ienes.” Apontou para uma imagem do cardápio.

“O mini combo, certo? Por favor, aguarde um instante.”

A moça se retirou, e levou o pedido de Mayck até o balcão.

Caramba, essa atendente é bem bonita, Mayck pensou, enquanto observava os cabelos escuros da mulher balançando de forma deslumbrante a cada passo que ela dava.

Tirou seus olhos dela e voltou sua atenção para a rua, onde inúmeros carros e pessoas passavam para lá e pra cá.

Essa visão era rotineira para ele. Apesar de ser algo normal e simples, ele nunca se cansava de observar. Em pouco tempo a mesma garçonete voltou, dessa vez, com uma bandeja nas mãos.

“Obrigado por esperar.” Ela colocou gentilmente os produtos na mesa e deu outro sorriso se retirando imediatamente.

Mayck sorriu levemente.

Eu gostaria de passar o dia vendo esse sorriso… Opa, opa, não posso ativar um gado mode agora.

O mini combo comprado, continha um copo com refrigerante, um pequeno pacote com batatas e um delicioso hambúrguer simples. Mayck apreciou seu lanche com gosto, aplacando a fome que sentiu desde a manhã.

Quando terminou sua refeição, ele voltou seus olhos novamente para a rua e viu, do outro lado, uma figura familiar.

Mayck pegou seu telefone e fez uma ligação.

“Alô? Mizuki-kun, eu já cheguei na estação.”

“Eu estou aqui na lanchonete.” Acenou com a mão para que Narumi visse sua posição.

A mulher foi até ele e se sentou no banco à frente dele. Ele esperou até que Narumi fizesse o seu pedido. Depois de feito, iniciou-se a conversa.

“Sobre o que falávamos mais cedo, seu irmão não deu nenhum sinal?”

“Sim. Eu tentei ligar para ele várias vezes e sempre dizia que o telefone estava fora de área.”

Parece que eu desliguei.

“Eu fui na casa de vários de seus colegas e amigos, mas eles também não tinham ideia…” Narumi abaixou sua cabeça e sua voz começou a ficar trêmula. “Eu prometi para os nossos pais que cuidaria dele. Se…se algo tiver acontecido com o Na-chan, eu…eu… o que eu deveria fazer?!”

Não podendo mais se conter, Narumi pôs a mão no rosto, cobrindo as lágrimas que começaram a descer.

Vendo aquela cena, algo começou a ressoar no coração de Mayck. Um sentimento de culpa tomou conta dele e as palavras prenderam na sua garganta.

Ele não pôde dizer nada, mesmo querendo dizer tudo. Era difícil, porém, ele conseguiu suprimir o desejo de abrir o jogo e aliviar o fardo que Narumi estava carregando.

No entanto, saber que seu irmão estava morto só aumentaria o problema. A única escolha era esconder isso o máximo possível. Mas tudo não passava de egoísmo.

“Yuigahama-san, vamos falar com meu pai. Se iniciar uma busca agora, é possível encontrar alguma pista.” Mayck sugeriu.

A essa altura, a vontade que sentiu de solucionar o caso antes da polícia, mudou para o desejo de encontrar o culpado pelo sequestro de Nariyuki e fazê-lo pagar. Se Narumi soubesse da verdade, o sentimento seria mútuo.

“Tudo bem. Me desculpe por isso…” Narumi enxugou as lágrimas com as mãos.

“Você não tem que pedir desculpas. Eu volto já.” Ele se levantou e foi para a calçada. Pegando seu celular, abriu a lista de contatos e deslizou o dedo na tela, até encontrar o número registrado como ‘Pai’. Ele clicou na opção e esperou a chamada ser completada.

Tocou 5 vezes até Takashi atender.

“Mayck. O que foi?”

“Pai. Eu preciso de sua ajuda com algo.” Indo direto ao ponto, explicou toda a situação para ele, que ouviu atentamente.

A explicação durou, ao menos, 5 minutos.

“Entendi. Eu preciso que você venha até aqui, ok? E traga a moça junto.”

“Certo. Vou ir logo.” Encerrou a chamada e voltou para a lanchonete, se dirigindo até Narumi. “Yuigahama-san, venha comigo, por favor. Meu pai quer vê-la.”

“Tá bom.” Sem questionar, Narumi terminou o seu lanche. Pegou a bolsa que havia levado e seguiu Mayck.

Assim, os dois foram para a delegacia.

Como era necessário todas as formalidades, Takashi decidiu encontrar-se com Narumi imediatamente, para registrarem a ocorrência. Após isso, ele cuidaria do caso pessoalmente.

Mayck tinha seus privilégios por ser filho dele.

Os dois chegaram na delegacia e pediram para ver Takashi. Afirmando ser filho dele, recebeu permissão para vê-lo.

Quando se aproximaram da sala determinada, bateram na porta duas vezes e Takashi os mandou entrar.

“Com licença”, Mayck disse baixinho abrindo a porta. Seu pai estava sentado atrás de uma mesa com um número considerável de papéis empilhados sobre ela.

“Você parece bem ocupado agora.”

“Eu acabei de terminar.” Terminando de escrever alguma coisa, Takashi colocou a caneta que tinha em mãos em um suporte e colocou a folha de papel na pilha.

“Essa é a moça de quem você falou?”

“Eu sou Yuigahama Narumi.” Ela inclinou a cabeça.

“Eu sou Takashi Mizuki, do departamento de segurança. Por favor, sente-se.” Ele recebeu Narumi de forma educada.

Vendo que, a partir dali, seria tudo trabalho, Mayck se despediu e saiu da sala.

“Eu vou indo. Nos vemos depois, Yuigahama-san.”

“Sim. Muito obrigada por tudo, Mizuki-kun.”

Depois de sair da sala, notou que o local estava bem movimentado. Vários oficiais correndo de um lado para o outro e as vozes que davam ordens o tempo todo, além dos telefones tocando sem parar. Um caos.

Quando prestes a sair, uma voz chamou a atenção do garoto.

“Olha se não é o pequeno Mayck”, um homem alto disse acenando.

“Boa noite, Masato-san”, Mayck cumprimentou Tratava-se de Tsubaki Masato.

“Não te vi ultimamente. Como tem passado?”

“Eu estou dando um jeito nas coisas, de uma forma ou outra. Hoje aqui está bem movimentado. Algo bom aconteceu?” Mayck aproveitou a oportunidade para fazer a pergunta.

“Muito longe disso. Eu diria maluco. Várias pessoas estão ligando de diferentes partes de Tóquio, relatando o aparecimento de alienígenas e coisas do tipo.”

“Isso sequer faz sentido”, Mayck disse franzindo a sobrancelha.

“Não é mesmo?” Masato concordou e deu uma breve risada. “E o que te trouxe aqui hoje?”

“Na verdade, eu vim acompanhar uma moça, que teve o seu irmão desaparecido. Ela tinha pedido a minha ajuda.” Mayck soltou um leve suspiro e abaixou a cabeça.

“Isso é duro, né? Esses desaparecimentos deixaram o mundo inteiro de cabeça para baixo.” Masato pôs as mãos na cintura e balançou a cabeça.

Essa era a reação normal. Desde que começou, esse tem sido o principal assunto no cotidiano das pessoas. Com as ocorrências constantes, isso começou, aos poucos, parecer normal, como um simples assalto.

“Existem novas informações sobre isso?”

“É confidencial, mas alguns dias atrás um departamento de Saitama relatou vários acontecimentos suspeitos e quando investigaram, encontraram vários locais parecidos com laboratórios”, o homem mencionou em voz baixa.

“Que coisa estranha. Mas você vai ficar bem me revelando algo assim?”

“Não se preocupe. Se ninguém falar, ninguém descobre.” Masato fez um joinha com a mão direita e piscou um dos olhos.

“Fala sério. Você é bem despreocupado, sabia?”

Apesar de ser um homem sério no trabalho, Masato tinha uma personalidade bem divertida e fácil de lidar. Além disso, ele confiava bastante em Mayck, ao ponto de pedir que ele cuidasse de Hana.

“Tsubaki-san, poderia checar esses documentos, por favor?” Uma voz ao longe chamou pelo enérgico homem.

“É melhor eu ir. Tome cuidado na rua.”

“Claro. Até mais.” Mayck observou as costas de Masato se distanciando e se virou.

Mesmo a filha sendo tão séria… quem será que ela puxou? O garoto saiu do local com rumo a sua casa.

|×××|

Mayck andava pela calçada. O sol não tinha se posto totalmente. A luz alaranjada refletia no rosto do garoto, que seguia calmamente, ao menos, na superfície.

Sua mente processava todas as informações que ele tinha recebido nos últimos dias.

O desaparecimento de Nariyuki, o encontro com aquele ser misterioso e as ausências de Tsubaki são coisas demais para ele lidar de uma só vez. Sem esquecer do que ele fez.

As informações que Masato lhe deu, foram de grande ajuda para formar algumas teorias.

Estando prestes a chegar em sua casa, Mayck fez um desvio, entrando uma esquina antes de onde deveria.

Uma figura fez o mesmo trajeto, seguindo o garoto desde que ele saiu do local de trabalho de seu pai.

Mayck continuou calmo para o perseguidor ter a impressão de que não havia sido notado.

Virou outra esquina e, o perseguidor pensando que iria perdê-lo de vista, correu para alcançá-lo. Quando dobrou a esquina foi surpreendido por uma mão, que puxou seu braço com força e o jogou para frente deixando ele imobilizado no chão.

Mayck apoiou seu joelho nas costas do suspeito, para diminuir as chances de ele resistir.

“O que você quer?” Mayck perguntou, mostrando seriedade.

“Droga. Como você percebeu?” Ele evitou a pergunta com outra pergunta.

“Achou mesmo que estava arrasando? Até uma criança perceberia.” Não havia mentiras nisso. O homem seguiu Mayck descaradamente desde que ele saiu da delegacia, sem fazer nenhum esforço para se esconder.

“Se você não me falar o que quer, vou quebrar seu braço”, o ameaçou e aplicou força, puxando o braço dele.

“Tá, tá bom, merda. Me ofereceram dinheiro para te levar. Agora para de puxar meu braço, tá machucando.” Sem ouvir o pedido dele, Mayck aplicou mais força esperando mais informações.

“Quem mandou?”

“Aiaiai. Eu não sei quem ele é. Ele só me ofereceu o dinheiro.”

“Então você é só um bostinha que faz qualquer coisa por dinheiro?” Chegou a essa conclusão após sentir o cheiro de cigarro e álcool impregnado nas roupas do homem. “Que pé no saco… eu vou te soltar. Se eu te ver alguma vez depois disso, eu vou te levar para a polícia. Entendeu?”

“Sim, sim. Eu entendi. Agora me solta.” O homem se debatia.

Mayck diminuiu a força e tirou o joelho cautelosamente para que o homem pudesse se levantar. Porém, ele imediatamente voltou a posição, aplicando mais força.

Como uma sombra, alguém se esgueirou atrás deles sem que percebessem. A consciência do garoto gritava constantemente e tomou as palavras: eu vou morrer, para si.

“Ai Ai Ai, merda o que você tá fazendo?”

“Finalmente te achei, Mayck Mizuki.” A silhueta de um homem apareceu atrás, com um sorriso maligno no rosto. “Parabéns, idiota. Fez um péssimo trabalho.” O homem jogou uma moeda de 500 ienes no chão, que rolou até o rosto do perseguidor imobilizado.

“Quem seria você?” Mayck soltou o homem e se levantou. O perseguidor pegou a moeda e começou a resmungar.

“Você tá brincando comigo? Você tinha me prometido 500 mil. Que merda é essa?” Demonstrando sua frustração, ele levantou a moeda, quase a esfregando no rosto do homem.

“Você não cumpriu seu trabalho não foi? Então é só isso o que merece.” O recém-chegado falou pacificamente, porém, o perseguidor não estava afim de aceitar e partiu para cima dele com um soco.

“Seu disgraçado! Não fode comigo!”

Estava perto o suficiente para acertar um ou dois golpes, mas não foi isso o que aconteceu. O punho atingiu o rosto do homem de terno levemente, como se nenhuma força tivesse sido aplicada.

Um corte surgiu do nada no pescoço do agressor. Sua cabeça caiu lentamente no chão e rolou até os pés de Mayck.

“Eh?” Perplexo com a situação, o garoto só podia observar o corpo caindo em sua frente.

“Certo. Agora vou me apresentar. Sou Yang, chefe do departamento de operações.”

“Você matou ele?”

“Não deveria?” Yang fala com indiferença.

“Quem é você realmente?” Mayck ficou espantado com tanta frieza. Como um ser humano podia matar alguém e agir como se fosse natural? Não. A forma como o homem foi morto já era muito estranha. O sangue escorria pela rua.

“Eu já disse.” Yang ajeitou seu terno e passou a mão no rosto, onde alguns respingos do líquido vermelho caíram. “Ele arruinou o meu terno. Ah, que horrível.” Yang não se importava com nada além de sua roupa. Insinuando que ela valia mais que a vida do homem estirado no chão.

Esse cara é perigoso, Mayck pensou, eu preciso vazar daqui.

“O que foi? Ficou assustado? Me desculpe. Eu pensei em te levar de forma pacífica, mas esse patife estragou tudo.”

“Não acho que sequestrar alguém seja uma forma pacífica para resolver algo”, falou e deu alguns passos para trás.

“Bem, bem. Em parte é sua culpa por ter metido seu nariz onde não devia. Agora você está na minha mira, garoto.” Yang se referia a semana passada.

“E o que isso tem a ver?”

“Aquele monstro que nós fizemos. Apesar de ser mais uma falha, era um pet de categoria C. Mas você o eliminou muito facilmente.”

Sem a intenção, Yang deu uma informação que Mayck tinha pensado em procurar.

Essas palavras fizeram ele se recompor, transformando seu medo em raiva.

“Então, foi você quem transformou o garoto naquilo?”

“Você conhecia o garoto? Nossa, ele resistiu bastante quando fomos pegá-lo. Pra piorar, apareceu outra pessoa, aí tivemos que mandar um cachorrinho para cuidar dela.” Yang sorria enquanto falava.

A atitude desprezível dele fez Mayck perder a racionalidade e deixar o ódio lhe controlar.

Ele não se importou nem um pouco? Não hesitou nem um pouco antes de matá-los? Que repugnante, né? Então por que ele ainda está vivo?

Uma voz feminina ressoou junto com os pensamentos do garoto, servindo de ponte para ele querer atravessar a linha que seu pai sempre odiou.

“Lixo.” A voz saiu baixa e Yang não ouviu o que ele disse.

“O quê?”

“Você é um lixo imundo que precisa morrer.” O semblante de Mayck refletia um puro ódio, mudando o formato comum de seus olhos. Ele sentiu a mesma coisa que quando ele destruiu o monstro em que Nariyuki foi transformado. Vendo Yang como um alvo que deveria ser eliminado a qualquer custo.

Frente àqueles olhos bizarros, Yang não recuou, pelo contrário, um sorriso se formou em seu rosto.

“Isso. É isso o que eu queria ver. Agora, Mayck Mizuki, me mostre que tipo de ID você tem.”

“Eu não sei do que você está falando.”

ID. Era como as habilidades especiais eram chamadas. Por serem completamente únicas, receberam esse nome com base na palavra ‘identidade’.

Cada ser vivo possuía uma ID. Porém, apenas em uma pequena parcela deles, ela se manifestava na realidade.

Organizações sugiram com o tempo, para manter essas pessoas sob controle. Entre elas a Ascension, que buscava usar esses poderes para seu próprio benefício.

“Que seja. Se eu puder fazer você sumir com essa coisa, então eu vou fazer.”

Enquanto o sol sumia no horizonte, o garoto desfrutava de um sentimento que nunca havia sentido antes. A vontade imensa de eliminar alguém.

No momento, ele sentia que nada poderia pará-lo até que ficasse satisfeito. Yang, por outro lado, estava feliz em encontrar outra ID que ele poderia usar para a realização de seus planos.

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