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Capítulo 7 – ID

Mayck continuou andando pelos corredores. Sua raiva já tinha sido contida.

Eu não tinha percebido antes, mas aqui é bem aconchegante.

Ele sentia o ar condicionado passando por seus cabelos e as luzes fluorescentes deixando o clima do ambiente agradável.

Olhando direito, aqui tem uma tecnologia bem avançada.

Passou por algumas portas com dispositivos de leitura digital. O corredor era semelhante ao interior de um trem moderno, porém, sem os assentos.

Estava mais calmo, mas sua ira contra Yang não cessaria tão facilmente. Ele ameaçou sua futura família. Era algo imperdoável. Isso levou o garoto a acreditar que poderia protegê-las, se conseguisse dominar a ID que possuía.

Se ele for atrás da Haruna ou da mãe dela. O que eu poderia fazer? Mayck pôs as mãos atrás da cabeça e continuou andando. Eu não deixaria ele em paz. Isso é certeza.

Em uma bifurcação, o garoto trombou com uma pessoa que vinha correndo sem prestar atenção no que estivesse à sua frente. Uma pilha de papéis foi lançada ao ar.

“Ai”, a garota gemeu após cair com a bunda no chão. Mayck não caiu, mas o choque em sua barriga o desestabilizou.

“Você tá legal?” Perguntou se abaixando para pegar os papéis.

“Sim. Me desculpe”, ela respondeu sem o mínimo de emoção na voz. Era uma garota de cabelos cinzentos e médios, com duas maria-chiquinhas. Seus olhos, através da máscara, também imitavam a cor, mas com um tom azul.

Ao recolherem os papéis, Mayck os entregou para ela.

“Tenha mais cuidado.”

“Sim. Obrigada.” Ela inclinou a cabeça e correu pelo caminho que estava seguindo. Mayck continuou na direção oposta, mas apenas alguns passos depois, um som ecoou pelo corredor. Ele se virou rapidamente só para ver a garota tombada outra vez e a pilha de papel abrindo asas.

“Você tá bem?” correu até ela e a ajudou a se levantar.

“Me desculpe”, disse sem demonstrar qualquer sentimento.

“Eu acabei de falar para tomar cuidado.”

A garota se levantou sem dizer uma palavra, enquanto Mayck recolhia os papéis.

“Fala sério. O quão distraída você é?” Franziu a sobrancelha terminando a coleta e se levantando.

“Eu não sei. Mas todos dizem a mesma coisa”, respondeu automaticamente. O garoto soltou um suspiro e entregou metade da pilha para ela.

“Eu vou te ajudar a levar isso. Onde temos que ir?”

“Sério mesmo? Agradeço”, disse pegando sua parte. “Temos que levar para a sala de montagem.”

Mayck acenou e começou andar e novamente após três passos, ‘blam!’ A garota acertou a cara no chão e os papéis voaram mais uma vez.

Takeopariu!

Mayck largou a pilha e pôs a mão na máscara que cobria seu rosto fechando os olhos para não ver aquela cena problemática.

Depois de alguns minutos, entre passos e quedas da garota, eles finalmente chegaram à sala de montagem. A garota desastrada colocou sua mão direita sobre o aparelho biométrico e o nome: ‘Michio’ apareceu na tela ao lado de sua imagem.

Os dois entraram e Mayck pôs a pilha em cima de uma mesa, olhando em volta com cuidado.

O local não se chamava Sala de Montagem à toa. Pela sala, várias vitrines iluminadas com LEDs guardavam ferramentas de guerra, tais como: arcos, espadas, armas de fogo dentre outros.

O mais impressionante, era que elas não possuíam um formato normal, como as armas antigas. Elas tinham designs tecnológicos e sofisticados. No centro, uma mesa projetava vários painéis holográficos, com projetos parecidos com plantas de construção, o que chamou a atenção de Mayck.

“Michio-san, o que são essas coisas?” perguntou casualmente, mas a garota o olhou surpresa.

“Como…”

“Huh?”

“Como sabe meu nome?”

“Eh? Bem eu vi no dispositivo quando a gente chegou…”

“Ah”, ela respondeu como se tivesse esquecido disso. “Esses são projetos para as melhores armas do mundo.” Ela tirou a máscara e foi até o holograma.

“Melhores armas do mundo?”

“Isso mesmo. São armas que poderão ser usadas por uma única ID”, a garota dizia andando de um lado pra o outro.

“Huum. Espera, você tirou a máscara, não tem problema?” Mayck mencionou a seguindo com os olhos.

“Huh? Ah. Tá tudo bem. As máscaras são mais úteis para quem quer esconder sua vida lá fora. Eu não preciso disso.” Ela se virou para o garoto e abriu os braços, esboçando um pequeno sorriso. “Essa aqui é minha vida”, disse se referindo aos projetos atrás dela. Seus olhos brilhavam, refletindo o orgulho que ela tinha de suas próprias criações. Mayck sentiu seu rosto esquentar levemente e seu corpo travar por um momento, mas logo voltou a si.

“E como isso funciona?”

“As armas ou a ID?”

“Ambas.”

“Bem, a ID é como se fosse você. Ela é formada assim como a personalidade que você molda com o passar dos anos. Geralmente ela se manifesta aos 15 anos de idade. As armas especiais vão ser como armas registradas, pertencentes a somente uma ID. Fazendo parte de você, assim como seus olhos bocas, órgãos reprodutivos…”

“A última parte é desnecessária, mas eu compreendi.” Mayck suspirou. “Então a ID faz você ser você, né?”

“Exatamente. Existem casos em que ela se molda de acordo com as mudanças mentais do indivíduo, dando a ele uma ID não diferente, mas evoluída. Porém esses casos só foram registrados três vezes na história.”

‘Na história’. Essas palavras fizeram Mayck refletir sobre há quanto tempo essas IDs eram conhecidas, mas preferiu não abordar o assunto naquele momento.

“Como uma pessoa descobre qual é a sua ID?”

“Bom”, ela disse indo até um computador na mesa em que empilhou os papéis. “Assim como na psicologia, é necessário alguns testes para descobrir traços de personalidade e características psicológicas de alguém.” Digitou algumas coisas e os hologramas mudaram, mostrando uma figura humana e o mapeamento de um cérebro ao lado. “Precisamos fazer o teste de ID. Mas, mesmo se fizermos tais testes, ainda não é possível descobrir a ID. O que conseguimos saber são apenas os elementos base e formar teorias do que pode ser”, Michio completou.

“Então é impossível, como se o indivíduo escondesse sua personalidade real.” Mayck cruzou os braços. “E o que são os elementos base?”

“São, literalmente, os elementos: água, fogo, terra e ar. Mas não se limitam a isso. Podem ser: raio, gelo entre outros. Existem também pessoas que não manifestaram elemento base. Mas ainda possuem um ID, já que eles não tem uma relação exata para existirem.” Enquanto explicava, os hologramas iam mudando e mostrando os símbolos de vários elementos.

É como uma oportunidade de emprego. Se você não se adiantar e perder a chance, vai ter que viver com o que aparecer primeiro, Mayck pensou.

Como Michio mencionou, a ID fazia o indivíduo ser único. Mesmo que duas pessoas possuíssem o mesmo elemento base, sua ID os tornavam diferentes.

Terminando de falar, Michio voltou seus olhos para o garoto. “Eh… eu consegui explicar bem?” Michio inclinou a cabeça para o lado, esperando uma resposta.

“Ah, sim. Eu consegui entender. Obrigado.”

“Que bom… eu acho”, ela disse, levando o dedo indicador direito até a bochecha como se estivesse tentando lembrar de algo. “Ah, é melhor eu voltar a trabalhar, senão Nikkie-chan vai reclamar.” Voltou a mexer no computador.

“Nikkie-chan… Entendo. Obrigado pelas informações”, Mayck ficou meio aéreo com a forma de chamar aquela acenou com a cabeça, se retirando da sala e deixando Michio para trás.

|×××|

“Eu consegui entender. Mas qual será a minha ID? O elemento base…” Mayck se lembrou da luta contra Yang e do monstro do laboratório. “Raio, talvez?”

Estava pensativo e, sem perceber, acertou o rosto em uma porta.

“Ai, caramba. Quem abriu essa coisa?” Retirou a máscara, que fez o impacto em seu nariz ser bem forte.

Olhando para a porta, tinha uma plaquinha escrita.

Vestiário? Mayck ficou curioso e olhou para o interior da sala. Haviam vários armários enfileirados, contando com cerca de 15 deles, encostados na parede. Toda a sala manteve a cor escura do corredor.

“Por enquanto eu vou fechar isso…” Quando fechou a porta, uma figura estava atrás dela, o olhando. Ele se surpreendeu com a aparição repentina da pessoa, dando um pequeno salto para trás.

“Se não me engano, você é Ruby, certo?” Respirou fundo.

“A-ahn? Ah! Sim. Sou eu.” Ela gaguejou depois de manter seus olhos surpresos no garoto.

“Hum? Você veio me procurar?” Ele buscou informações sobre o contato dela.

“Ah. É verdade. O Zero-san me disse para te levar até a sala de testes”, disse, movendo os olhos para todos os lados, aparentemente nervosa.

“Ok”, Mayck assentiu.

“Po-por aqui.” Ruby se virou e andou ligeiramente.

O que ela tem? Caminharam em silêncio e mudaram de caminho várias vezes até chegarem na sala de testes.

“E-eu vou indo agora.” Ruby deixou a entrega e fugiu para além do corredor.

Mayck a observou fugir e voltou seus olhos para a sala.

“Será que eu devo bater?” Ele fez um gesto para dar um ‘toc’ na porta, mas retirou sua mão. “Essa porta parece muito dura. Eu vou machucar minha mão.”

Ele não tinha ideia do que fazer. Pensou até em colocar a mão no leitor biométrico e, quando desse erro, dispararia algum alarme e alguém viria.

Vai ser um escândalo, então é melhor não fazer isso.

Estando acorrentado em suas próprias incertezas, Ruby retornou e pôs a mão sobre o dispositivo. A porta abriu e ela fugiu novamente.

O garoto ficou com uma gota na testa, por conta das atitudes da garota. Quando a viu pela primeira vez na sala de Zero, ela passava a impressão de alguém séria, rígida e controlada. Mas depois, parecia uma garotinha tímida.

“M-san. Por favor, entre.” Ao levantar os olhos, Nikkie estava próxima a porta. Mayck seguiu as instruções e entrou com cautela.

Existiam alguns equipamentos estranhos na sala. Em uma mesa, cinco pessoas usando jalecos brancos e máscaras que cobriam metade do rosto, mexiam em computadores, digitando e analisando informações.

Zero estava conversando com outro deles, próximos à uma cadeira que mais se parecia com um berço, porém tecnológico.

“M-san. Por aqui.” Nikkie o guiou até o berço perto de Zero.

“Zero-san, ele está aqui.”

“Obrigado, Nikkie. Deixe-me apresentá-los”, dirigiu-se ao garoto.

“Esse é… por que está sem a máscara?”

“Ah, eu esqueci.” Mayck pôs a máscara no rosto, escondendo seu próprio erro.

“Bom, de qualquer forma, esse é nosso pesquisador-chefe, Kihon.” Kihon estendeu a mão.

“Muito prazer, M-kun.” Mayck retribuiu o gesto e acenou levemente.

“Ele vai fazer o teste de ID em você. Por favor, peço que siga as instruções dele.” Zero afirmou.

“Nikkie, acompanhe o andamento. Eu preciso fazer outras coisas.”

“Claro”, Nikkie assentiu.

Zero se encaminhou para fora da sala, deixando Mayck nas mãos de Kihon.

“Por que não começamos logo?” O pesquisador-chefe sugeriu.

“Por mim, tudo bem.”

“Então, tire sua roupa e deite-se aqui.” Kihon estendeu a mão para o ‘berço’.

“Eh?” O garoto foi pego de surpresa pela ordem. “Preciso tirar a roupa?”

“Se não consegue eu posso te ajudar”, Nikkie afirmou.

“Pode deixar apenas a cueca. Não se preocupe.” Mayck não via escolha. Se aquilo era necessário para o teste ser feito, então eles insistiriam até que o garoto fizesse. Caso contrário, o teste não seria realizado.

Ele tirou seu uniforme lentamente e Nikkie as pegou. Então deitou-se no berço.

“Vamos iniciar.” O homem clicou em alguns botões acoplados na cadeira e, em seguida, pôs alguns objetos pelo corpo do garoto. Após isso, uma tampa de vidro se fechou, transformando a cadeira em uma cápsula. Confuso, o garoto se agitou não esperando por aquilo.

“Fique tranquilo. Está tudo bem”, Kihon o consolou. “Podem começar.”

Dada a ordem, o grupo de pesquisadores assentiram e começaram a clicar em seus teclados, abrindo diferentes programas.

Após vários cliques, um monitor maior acima da cadeira, ligou, mostrando várias palavras e números. Uma barra de carregamento apareceu e uma luz branca dominou a cápsula, ficando assim até que o carregamento terminasse.

“Análise de DNA, ok. Análise de temperatura corporal, ok”, os pesquisadores diziam, conforme os dados iam sendo transferidos da cápsula para os computadores.

“Iniciando teste de elemento base.” Ao clicar um botão, um curto sinal foi ouvido e a luz se intensificou.

Vendo todo o andamento do teste, Kihon notou algo de errado.

“Esperem um momento.” Ele ia parar o teste, mas um som contínuo e agudo ecoou pela sala e os monitores mostraram todos os dados que haviam coletado. A luz da cápsula também se desativou.

“Mas… o que é isso?” Um dos pesquisadores ficou abismado com os resultados mostrados. “Kihon-san, por favor, venha dar uma olhada nisso.”

Kihon foi até o monitor e lá mostrava, em todos os parâmetros, a palavra: ‘unknown’.

“O que aconteceu?” Nikkie se aproximou.

“Não faço ideia. Será que a máquina está com algum problema?” Kihon foi até a cápsula e tocou nos botões outra vez. A tampa de vidro foi retirada e Mayck se levantou.

“Aconteceu alguma coisa?” O garoto perguntou confuso.

“Bom, na verdade, o teste falhou.”

“Falhou? Como assim?”

Kihon pôs a mão na cabeça, pensando no que poderia ter ocorrido, demonstrando que algo assim nunca tinha acontecido.

“Por enquanto vamos encerrar aqui para descobrir a causa. Vou chamá-lo de novo em breve, M-san.”

“Ok”, respondeu um tanto confuso. Nikkie entregou suas roupas e ele se vestiu. Assim os dois saíram da sala de testes.

O que será que aconteceu? Mayck se perguntava. Depois de se deitar no berço, ele não tinha feito mais nada. Então o erro, provavelmente, não foi por culpa dele.

Nikkie caminhava um pouco a sua frente em silêncio, mas o garoto não tinha vontade de iniciar alguma conversa.

Algumas pessoas começaram a passar por eles e saudavam a Nikkie, em forma do respeito ao seu superior. Em meio a esse ambiente calmo, Mayck se lembrou de algumas coisas.

Parou e levou sua mão ao bolso para pegar seu celular.

Oh, porcaria. O relógio marcava 20:30.

“Nikkie-san, me desculpe, mas eu preciso ir embora”, afirmou.

“Vamos falar com Zero-san antes. Ele deve saber os resultados do teste”, ela respondeu sem olhar para trás.

“Se for rápido, tudo bem.” Mayck continuou a segui-la. Dentro de 10 minutos, eles chegaram à sala de Zero e entraram sem delongas.

“Vocês voltaram. Qual foi o resultado?” Zero perguntou imediatamente. Nikkie tomou a frente.

“Os resultados não saíram como esperado. Todos os dados foram invalidados.”

“Invalidados? Como isso aconteceu?”

“Kaihon e os outros pesquisadores estão tentando encontrar a causa nesse momento. Mas eles afirmaram que não poderia ser um problema das máquinas.”

“Entendo. Bom, não há o que fazer agora. Vamos apenas esperar e ver o que acontece.” Zero entrelaçou os dedos e apoiou sua cabeça sobre as mãos.

“Se é assim, eu gostaria de ir embora”, Mayck afirmou.

“Tudo bem. Não vamos continuar te segurando aqui. Nikkie leve-o até a saída.”

“Certo.”

“Até breve, M-kun.”

O garoto se virou e saiu pela porta, que se abriu automaticamente. A garota da máscara de gato o seguiu e passou a sua frente, para guiá-lo até a saída.

Outra vez, os dois caminharam em silêncio por algum tempo até chegarem na saída. Na volta, passaram pelo mesmo pátio lotado e pegaram o elevador. Nikkie clicou em um botão e começaram a subir. Não se ouvia nada além do som do elevador.

Mayck abaixou a cabeça e começou a processar todas as informações que recebeu nesse dia.

Inválido, né? Parece que vai levar algum tempo até que eu entenda sozinho a minha ID. O garoto suspirou. Espero que Yang não faça nenhuma palhaçada nesse tempo. Caso contrário… Mayck se lembrou da voz de Alana em sua cabeça. Eu vou ter que deixar tudo pra ela.

Enquanto viajava em seus pensamentos, notou que o elevador não parecia se mover.

Nikkie pôs a mão direita nas costas e puxou um objeto, o apontando para Mayck.

Quando levantou seus olhos, viu uma arma com um formato tecnológico em sua direção.

“O que você está fazendo?” Ele apertou um pouco os olhos e se via sob uma possível traição.

|×××|

Algumas horas antes.

Haruki correu para fora da escola, deixando Mayck, Chika e Akari para trás. Saindo da escola, seguiu por um caminho diferente do de sua casa.

Enquanto andava, pegou um pequeno dispositivo em seu bolso.

“Estou ouvindo”, mencionou após colocar o aparelho no ouvido.

“A Ascension se moveu. Você precisa se preparar.” Uma voz saiu do aparelho.

“Como eu pensei. O que eles estão buscando com isso?” Haruki falava em voz baixa e, depois de verificar que ninguém estava olhando, entrou em um beco escuro.

“Parece ser uma armadilha. Mas pra quem?” tinha suas suspeitas sobre o ocorrido com Nagi mais cedo, mas não tinha ideia do que eles pretendiam fazendo algo tão chamativo.

“Não temos ideia. Mas existe a possibilidade de ser para atrair a atenção da infiltrada da Black Room”, a pessoa do outro lado da linha mencionou.

“De qualquer forma, não parece que eles sabem sobre nossa presença no colégio. Vamos usar isso.”

Haruki pulou um muro no final do beco e entrou em uma pequena porta. Abriu uma caixa que estava na parede e pegou uma lanterna. Com ela, ele iluminou um pequeno cristal vermelho, que retirou da caixa e um círculo brilhante se formou no chão.

Ele fechou a porta e desligou a lanterna, indo até o centro do círculo.

“Estou chegando.” Com essas palavras, a luz do círculo ficou mais forte e Haruki foi teleportado para uma sala escura, iluminada apenas por um holofote sobre uma mesa no centro. Ele se sentou na cadeira e pôs sua bolsa no chão.

À sua frente, três telas se acenderam e três figuras se mostraram.

“Você finalmente chegou.” Uma das figuras levantou um pouco a voz rouca.

“Sim, senhor. A Ascension fez um movimento estranho na escola.”

“Sim. Nós sabemos. Por isso lhe chamamos.” Outra voz, porém mais limpa e feminina ecoou, vindo da segunda figura. “Vamos te dar uma missão de investigação conjunta.”

Ao ouvir essas palavras, Haruki franziu a sobrancelha.

“Conjunta?”

“Isso mesmo. Será um grupo de 4 agentes, contando com você. Semana passada, registramos o aparecimento de uma ID e logo depois, Yang fez uma bagunça na cidade, o que foi resolvido pela Strike Down. Mas agora um ataque ocorreu na escola. A Ascension não faria movimentos assim sem um objetivo.”

“Vocês terão que descobrir o que está acontecendo. E, se possível, encontrar a ID que foi detectada. Ela tem o mesmo comprimento de onda de algo de alguns anos atrás.”

“Entendido.” Haruki se levantou e bateu continência.

“Boa sorte, agente Hyu.” As três telas se desligaram e Haruki foi até uma porta, saindo do local.

“Oh, Yukimura. Estávamos te esperando.” Quando saiu, deu de cara com três pessoas ao lado da porta.

“Parece que seremos nós quatro, hein. Vamos com tudo”, um garoto de cabelos castanhos falou.

“Rikki, Yuno e Kaito. Que equipe problemática eles montaram, né?” Haruki sorriu analisando os seus companheiros.

“Se nós nos entendermos bem, vamos conseguir.” Kaito ajeitou seus óculos.

“Se tivermos um líder vai ser mais fácil. O que acham?” Yuno sugeriu.

“Então eu vou mandar em vocês. Pode deixar comigo.” Rikki levantou a voz energética.

“Eu voto em mim para esse papel”, Haruki completou.

“Não. O líder vai ser eu. Nem vem”, Yuno afirmou.

“Vamos decidir isso no caminho. É melhor nos apressarmos.” Kaito começou a andar.

“Você já está agindo como o líder, seu merda!”, Rikki gritou e correu até o garoto, segurando a gola de sua camisa.

Haruki sorriu maliciosamente e correu deixando eles para trás.

“Quem chegar no vestiário primeiro, vai ser o líder.”

“Seu merda.”

“Isso é trapaça.”

“O líder tem que ser alguém sensato como eu.” Rikki, Yuno e Kaito gritaram, nessa sequência e correram atrás de Haruki.

A operação teve início depois que eles se trocaram. Seus equipamentos consistiam em: roupas pretas e óculos com sensores infravermelhos, que eles colocaram em uma bolsa.

Pelas normas da GSN, todo time de investigação deveria se privar de usar sua ID casualmente, optando por utilizar armas brancas ou de fogo com silenciador. Mas não eram armas comuns. Por terem uma pequena parceria com a Black Room, seus equipamentos tinham bastante tecnologia.

Haruki, por sua vez, tinha se especializado no uso de adagas, por isso era ótimo em missões onde a furtividade era um requisito máximo.

Sua missão era encontrar e se infiltrar nas bases da Ascension. Nenhuma das organizações sabiam até onde ia o poder deles, por isso mantinham total sigilo sobre os locais descobertos, que eram um grande feito para quem os encontrasse.

Uma dessas bases era situada no subterrâneo de um antigo metrô. Onde Haruki e seu grupo foram enviados.

Eles seguiram pela rua. Normalmente, iriam pulando pelos prédios ou qualquer lugar conveniente, mas o sol ainda não tinha se posto, o que poderia expôr eles ao público.

Por ter chegado no vestiário primeiro, Haruki ficou na liderança por uma decisão justa e unânime.

“Congelar o chão para os outros escorregarem é trapaça, Yukimura.”

Uma decisão justa e unânime…

“E ainda prender nossos pés no gelo… que trapaceiro”, Yuno e Kaito reclamaram, então não houve nenhuma decisão unânime e justa. Haruki ganhou a liderança por pura desonestidade.

“O que importa agora? Já está feito”, retrucou, andando calmamente. “Além do mais, vocês não conseguirem me parar, só prova que eu sou o mais apto para o cargo.”

Rikki estalou a língua, aceitando a derrota.

Em alguns minutos de caminhada, estavam a dez metros da estação abandonada.

“Certo. É hora do show”, Yuno colocou sua mochila no chão, ação que foi imitada pelos demais.

“Vamos esperar até escurecer. Vai ser mais fácil entrarmos sem sermos vistos”, Haruki mencionou enquanto tirava seu uniforme e vestia as roupas pretas.

Elas eram bem elásticas para facilitar os movimentos, mas também eram bem resistentes a cortes e ataques de pequena escala.

“Pelas informações, essa base foi encontrada há duas semanas”, Kaito afirmou mexendo em um dispositivo parecido com um smartphone.

“Então é possível que ainda esteja em uso? A Ascension tem a mania idiota de abandonar as bases sem levar nada”, Yuno lembrou.

“Se eles estiverem aí, a gente desce a porrada”, Rikki disse, socando a própria mão.

“Se acalmem. Uma vez alguém me disse que o melhor é respirar e…” Haruki parou no meio da frase.

“E?”

“E dormir”, levantou o indicador da mão direita e disse sorrindo.

“Que péssimo exemplo de amigo.” Kaito pôs as mãos na cintura e suspirou, assim como os outros dois.

“Hahaha. Mas, falando sério, não vai ser bom a gente fazer bagunça. Se possível, vamos completar essa missão sem entrar em combate.”

“Quer fazer isso igual a um rato é?” Rikki cuspiu.

“Não sabemos quem pode estar aí. Yang se mostrou depois de um bom tempo. Não é coisa boa.” Haruki temia um confronto com ele. A ID de Yang era perigosa demais e, sinceramente, ele conhecia os limites dessa equipe. Poderiam perder de lavada em apenas 5 minutos.

Terminando os preparativos, os quatro colocaram as mochilas nas costas e se sentaram. Quando a luz do sol perdeu sua força, adentraram a estação, pulando pelas placas que proibiam a entrada.

|×××|

Hana saiu da sorveteria e foi até um prédio do outro lado da estação.

O prédio em questão, fazia parte de uma companhia de automóveis, mas não passava de fachada.

A empresa pertencia a um dos líderes da Strike Down, John Malkov. Hana entrou no prédio e se dirigiu até a recepção, sendo atendida de forma educada por uma mulher.

“Olá, do que gostaria?” Ao invés de uma resposta, Hana mostrou um relógio em seu pulso. A mulher entendeu imediatamente e entregou uma chave para a garota.

Entrando no elevador, ela girou a chave em uma fenda e um escaneador de retina apareceu no lugar de um dos botões. Ao analisar a identidade da garota, um ‘bip’ ecoou e o elevador começou a descer.

Hana chegou até um corredor, com caminhos para frente, esquerda e direita. Seguindo pela frente, a garota seguiu para o salão dos superiores, que provavelmente estavam à sua espera.

Como ela imaginou, ao bater na grande porta da sala, uma voz lhe deu permissão para entrar. Assim que entrou, viu Airi, Yui, Asahi e Ryuunosuke.

“Com licença”, a garota disse educadamente e entrou.

“Ooi, Hana-nee.” Yui acenou e Hana fez o mesmo com um sorriso.

“Agora que estão todos aqui, vou dizer os detalhes da missão.” Amélie estava no comando da operação. “Hoje, a algumas horas, o estudante de ensino fundamental, Kobayashi Nagi, sofreu de um ataque na escola. A vítima que deveria ter sido socorrida desapareceu a caminho do hospital.” Um monitor foi ativado atrás dela. “Conseguimos analisar essa situação, após verificar que a ambulância mandada até a escola, não era autorizada e nem fazia parte da equipe de socorristas do hospital da cidade.” Enquanto ela falava, o monitor atrás dela mostrava as informações em detalhes, assim como a foto do garoto.

“Então, a suspeita é que a Ascension está envolvida?” Yuji levantou a mão e questionou.

“Isso mesmo. Nem a Black Room e nem a GSN fariam algo assim, o que torna a Ascension a única suspeita.”

“Nossa missão será investigar isso?” Asahi também perguntou.

“Exato. O time de ataque 8 será enviado como um time de investigação especial. Seu alvo é a base recém descoberta do metrô abandonado, de onde recebemos um sinal incomum alguns minutos atrás.”

“Entendido.”

“Tragam todas as informações que puderem. E se possível, não entrem em combate a não ser que a situação esteja realmente ruim. O tempo limite da missão é de duas horas e trinta minutos. Façam o que puderem nesse tempo e voltem quando ele se esgotar.”

Os cinco bateram continência e foram se preparar. O relógio marcava 18:15.

As três garotas foram para um vestiário para se trocarem e Asahi e Ryuunosuke foram para outro.

Hana inseriu uma senha no armário para ele abrir e começou a tirar seu uniforme escolar. Airi, que também estava fazendo o mesmo ou pelo menos deveria, correu até a garota e a abraçou por trás.

“O quê?!” A atitude de sua veterana a surpreendeu. “O que você tá fazendo? Irina-san.” A garota se debatia para se soltar dela.

“Não se preocupe. Somos garotas.”

“Isso não é desculpa…”

Airi levou suas mãos para os seios da garota e os apertou, fazendo o rosto dela corar.

“Estão crescendo bem?” Perguntou enquanto apertava.

“I-isso não importa… pare…” Ao invés de assistir quieta ou parar Airi, Yui se juntou a elas e também apertou os seios de Hana.

“Yui-chan?!”

“Será que os de Yui também crescerão?”

“Parem já com isso!” Hana as expulsou com um grito. Seu rosto estava totalmente vermelho.

“Desculpe, desculpe. Era só uma brincadeirinha. Acabei me empolgado…” Airi deu um sorriso e coçou sua bochecha.

“Desculpe, Hana-nee.”

“Humpf. Só não façam isso de novo.” Hana virou os olhos e inflou a bochecha.

“Tudo bem.” Airi voltou a apertar mais uma vez.

“Aaaaah!”

Depois da leve tortura, a equipe se encaminhou para realizar sua missão. Estando trajados com seus uniformes, eles subiram com o elevador direto para o último andar do prédio.

Diferente dos uniformes da GSN, na Strike Down cada um possuía um uniforme adequado para sua ID. Mas as armas eram escolhidas a critério do portador.

Chegando ao último andar, um helicóptero foi acionado e estava à espera deles.

“Wow! Um helicóptero. Nós vamos voar”, Yui disse correndo até a máquina voadora com os braços abertos imitando as asas de um avião.

“Tome cuidado Yui. Você pode cair!” Airi alertou.

Tinham que gritar para que pudessem ser ouvidos, pois o som das hélices impedia a voz de chegarem até os ouvidos do outros, mesmo estando próximos. O vento jogava os cabelos das três mulheres maravilhosamente.

“Vamos indo então.” Ryuunosuke tomou a liderança e entrou no helicóptero, seguido de Asahi.

“Vamos também, Hana-chan”, Airi sugeriu.

“Claro.”

Yui já tinha entrado e foi instruída a pôr um equipamento parecido com um headphone. Os restantes fizeram o mesmo quando entraram.

A porta da aeronave foi fechada e ela levantou voo para o destino.

“Então, como vamos fazer? Ryuunosuke-kun”, Airi perguntou qual seria o plano.

“Considerando o local, vai ser melhor se entrarmos um de cada vez. Eu ainda não tenho um plano formado, mas vamos priorizar a nossa segurança.”

“E no caso de encontrarmos inimigos?” Hana indagou.

“Se não tivermos sido vistos, vamos tentar mudar de rota. Caso contrário, sairemos imediatamente.”

“Espero que essa seja nossa última opção. Falhar em duas missões seguidas, vai nos transformar em piada para os outros times”, Asahi mencionou.

“É com isso que você está preocupado?”

“Se encontrarmos alguém a gente derrota eles. Não é fácil?” Yui, que estava admirando a paisagem aérea até um momento atrás, entrou na conversa.

“Apenas se for inevitável. Se não for necessário, abstenha-se de qualquer ato ofensivo”, Yuji reforçou.

“Mmm…” Yui inflou as bochechas.

“Estaremos sobrevoando a área em 3 minutos”, o piloto afirmou, virando o rosto um pouco para trás.

“Entendido.” Colocando uma mochila nas costas, cada um deles se preparou para saltar.

As três garotas colocaram um tipo de chapéu, para evitar que seus cabelos compridos atrapalhassem sua visão.

“Se o cabelo atrapalha, porque não cortam?” Asahi perguntou.

Hana e Airi apenas o olharam como um sinal para calar a boca.

O helicóptero parou no ar e cabos de metal foram lançados para fora. Todos eles desceram, abandonando a aeronave que se retirou para não chamar atenção.

Ao tocarem no chão, a operação foi iniciada.

“Vamos”, Yuji disse em voz baixa. Os quatro acenaram e seguiram Yuji, adentrando o metrô abandonado.

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