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Mayck não precisou de muito tempo para derrotar o quarteto de garotas determinadas. Elas faziam um time coordenado e poderoso, mas o garoto não iria se permitir perder ali. Usando apenas habilidades de vento, ele evitou ter que mostrar todos os seus poderes para Mathias, Hugo e os demais. Mayck não tinha intenção de mostrar mais do que eles precisavam ver. 

Após sua rápida vitória, que se deu pelo fato de ele não ter se segurado — porque não tinha um controle tão bom com habilidades de vento como possuía com eletricidade — Mayck se despediu de Hugo e Mathias e seguiu com Elias para o leste no fim da tarde. Tudo o que restava era esperar notícias de Alexander e ficar preparado para o pior cenário. 

Fora isso, não havia mais nada a ser feito naquele dia. 

Como esperado, à meia noite um email foi enviado para Mayck. Era Alexander informando o sucesso da missão e alguns outros detalhes como havia sido cada luta. Além disso, Alexander afirmou que Roger pediu para encontrar Mayck no dia seguinte, sob o pretexto de conhecer o cabeça daquela rebelião. 

Sem motivos para recusar, Mayck escreveu de volta com o horário e local da reunião, que seria realizada às dez horas da manhã no escritório de Elias. 

Finalmente, depois de tanto trabalho sem descanso, Mayck poderia relaxar naquela noite, era o que ele queria, mas recebeu uma mensagem de uma pessoa inesperada. A mensagem era de Nikkie e ela dizia que a operação primavera estava sendo encerrada. Isso pelo fato de terem viajado o Japão de norte a sul, leste e oeste e não terem encontrado mais nenhuma das fitas. 

Nikkie acreditava na possibilidade das fitas já estarem nas mãos de outras pessoas, mas Mayck queria acreditar que todas já estivessem destruídas ou perdidas para sempre. Já que elas continham informações sobre algo que poderia pôr um fim na humanidade, era melhor que ficassem longe do conhecimento de todos. 

Além disso, Mayck poderia descobrir mais sobre o experimento tirando informações da família Ferreira ou da organização — algo que ele evitou contar para Nikkie por causa da alta possibilidade de iniciar uma guerra entre a Strike Down e seu ramo rebelde e criar inimizade com a Black Room. 

Mayck desligou seu celular e se deitou, planejando o que faria no dia seguinte antes de cair no sono. 

O alarme das nove da manhã despertou o garoto e após um longo bocejo seguido de uma espreguiçada, o garoto se levantou da cama. Tomoko estava preparando o café da manhã e, ao ver o neto descer as escadas, o saudou com um bom dia acolhedor, que foi respondido com gentileza. Mas isso foi apenas a calmaria antes da tempestade. Depois de oferecer o café ao garoto, Tomoko tocou no assunto dele ter voltado tarde da noite para casa. 

As palavras de Mayck ficaram presas em sua garganta, ao mesmo tempo que seus olhos tentavam olhar através de sua avó, buscando auxílio divino. Criava muitos planos, mas nenhum para casos como esses, ele pensou e xingou a si mesmo. 

Como dito antes, ele não gostava de mentir a toa, então consolou-se dizendo que não seria uma mentira, e, sim, que estaria privando sua avó de uma verdade perigosa. 

“Ah, desculpe. É que encontrei uns velhos amigos meus. Nós saímos juntos e acabei ficando fora até tarde”, ele mentiu descaradamente. 

“Amigos? Acho que tudo bem. Faz tempo que você não vê nenhum deles, então é normal vocês quererem conversar bastante. Mas é bom tomar cuidado. Os dias estão cada vez mais perigosos”, alertou a senhora. ” Não se esqueça daqueles sumiços que vêm acontecendo.”

“… Ah, fala daquilo… Eu vou ter cuidado. Obrigado pelo aviso.”

Com tanta coisa acontecendo, Mayck já havia se esquecido do que originou seu envolvimento em toda aquela bagunça. E mesmo após o desaparecimento repentino da Ascension, a responsável pelos casos de arrebatamento das pessoas por todo o mundo, as coisas não haviam se acalmado. Isso porque os Ninkais deram continuidade ao trabalho e as autoridades do mundo inteiro ainda estavam com a mão na massa. 

No entanto, não era o assunto do momento. As pessoas ainda comentavam sobre o caso, mas ele foi ofuscado por algo que Mayck só descobriu naquela manhã, quando Takafumi, que levantou alguns minutos depois do garoto, ligou a TV e foi assistir o jornal. 

“Rumores relatam luzes e sons sobrenaturais nos últimos dias. Os moradores do interior estão cada vez mais assustados”, dizia a repórter. Em seguida, uma pessoas foi entrevistada e contou que avistou um ser esquisito invadindo o seu curral. Quando saiu para verificar, cinco cabeças de gados haviam, literalmente, sumido. A polícia foi acionada e as investigações começaram, porém, não possuíam sequer hipóteses. 

Aquela notícia foi como o gatilho para fazer Mayck se engasgar com a água que havia acabado de beber. Os problemas que pareciam estar sendo amenizados só aumentaram. Os espectadores do jornal poderiam não saber do que se tratava e darem de ombros enquanto acusavam de mentira. Para o garoto, no entanto, e mais algumas milhares de pessoas, aquilo passava longe de ser uma lenda rural. 

“Mayck, pode pegar os copos pra mim?”

“Claro.”

Ao pedido de sua avó, o garoto foi até o armário, mas quando o abriu, algumas folhas caíram no chão e ele se abaixou para pegá-las. Sem querer olhar, mas já olhando, Mayck viu que se tratava de uma receita médica, isso sendo o papel azul, o restante eram cópias dela. Ele não conseguiu ler muito bem, dado o fato da letra escrita às pressas, mas pôde ver o nome de seu avô escrito. 

Ele tem estado mal ultimamente? Mayck nunca tinha ouvido sobre Takafumi ter tido algum mal estar antes. Colocou o papel no lugar e retirou os copos. 

Mayck se sentou à mesa, onde estavam reunidos todos os moradores da casa, e tomou seu café, se aprontando para sair em seguida. 

Quando chegou ao portão, pronto para sair, Jade o chamou. Ela não parecia estar de bom humor, ou pelo menos sabia que Mayck estava escondendo algo — e ele definitivamente estava. 

“Velhos amigos, é?”

“Eu não tive uma desculpa melhor…”

“Então você realmente está fazendo aquilo… Por que você não para com isso? Sabe que é perigoso.”

“Não tem como eu simplesmente parar. Tenho muitos motivos para continuar”, Mayck afirmou e passou pelo portão. 

“Mesmo assim, você não devia estar se arriscando sozinho.”

“Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo.”

O garoto tentou continuar, mas Jade foi até ele e segurou seu braço. Ele ia reclamar, mas percebeu que  as mãos da garota estavam trêmulas. 

“Eu sei o que você quer me dizer, mas não tem como voltar atrás. Se eu parar aqui, vou colocar todos vocês em perigo”, Mayck explicou a situação e soltou a mão de Jade, que ainda olhava com certa aflição. 

“Nesse caso, me deixa te ajudar. Eu posso ser útil. Você sabe como me usar, não sabe?”

“Não é assim que as coisas funcionam…”

“Então acha que se matar sozinho é a melhor forma de resolver as coisas?” 

“Não estou me matando sozinho. Eu vou dar um jeito em tudo, então relaxe.”

Jade se calou, mas dava pra ver que ela estava remoendo algo e quando foi colocar seus pensamentos em palavras uma outra voz a interrompeu, vindo de dentro da casa. 

“Irmã… vocês estão brigando?”

Os dois olharam para a garotinha os observando com receio. Jade a consolou dizendo que não era nada daquilo, por outro lado, Mayck estava surpreso. Aquela devia ter sido a primeira vez que ele ouviu a voz de Lorena, se tinha ouvido antes não lembrava. 

“Bom, então estou indo. Até mais tarde.” Enquanto Jade conversava com Lorena, Mayck aproveitou para fugir dali sem ser notado, mas falhou, pois Jade rapidamente voltou sua atenção a ele e ela não estava nada feliz. 

“Espera aí, você vai continuar sendo teimoso?”

“Eu já falei, vou ficar bem. Não precisa encher sua cabeça com isso.”

“Você não precisa mais de mim, não é? Minha utilidade já acabou pra você?” O tom de sua voz baixou repentinamente para que Lorena não ouvisse. Ela ficou trêmula e Mayck não queria que aquele assunto se estendesse.

Ele refletiu um pouco, mas não precisou de tanto tempo. Ele sabia o que estava acontecendo com Jade. Durante todos aqueles anos, ele fora nada mais que uma ferramenta e apesar dos pesares, ela sentia um pouco de felicidade em ser útil. Quando sua família ruiu e ela perdeu sua utilidade, um buraco se abriu em seu coração, um vazio, uma vontade de pertencer a algum lugar. 

Mas era justamente por isso que Mayck não poderia usá-la mais. Ele não queria que ela vivesse o resto de sua vida procurando uma forma de seu útil para os outros. 

“Já chega. Eu disse que vou dar um jeito, então fica quieta. Não precisa se meter nisso. Nada tem a ver com você.”

“Mayck!”

O garoto deu de ombros e continuou seu caminho sem dar ouvidos às palavras de sua prima, que tentava pará-lo desesperadamente. 

Após alguns minutos de caminhada, Mayck chegou ao prédio onde aconteceria a reunião, com todos os líderes presentes e também o lugar onde daria a palavra que iniciaria a guerra contra a organização. 

O dia estava bem quente, então o garoto passou a mão em sua testa, secando o suor que conseguiu até chegar no seu destino. Ele pensou consigo que seria bem chato colocar o seu uniforme de batalha naquele calor, mas não tinha escolha, isso se ele quisesse manter sua identidade em segredo dos demais, já que Alexander e Mathias sabiam sobre ele. 

Se esse segredo vazar mais, eu perco, Mayck pensou. Respirando fundo, ele colocou sua máscara, que apareceu mágicamente em um estalar de dedos e entrou no prédio. Ele tinha avisado Elias anteriormente de sua presença, então não havia nenhum civil no edifício. Quando entrou, Mayck notou alguns rostos desconhecidos e apostou que eram os subordinados dos outros líderes. Seguiu em frente e chegou na sala, onde eles se reuniram. 

O único que ainda não havia chegado era Roger, mas ninguém estava preocupado. Isso porque ele tinha um histórico nada pontual e deveriam agradecer caso ele não chegasse três horas depois. No entanto, aquele era um caso especial e, antes que Mayck se sentasse, a porta foi derrubada e uma figura enorme saltou numa grande velocidade com o punho erguido em direção ao garoto. 

Quando percebeu o movimento, Mayck saltou para trás e encostou na parede e evitou o ataque apenas inclinando a cabeça. O soco atingiu a parede e a atravessou perfeitamente, como se já houvesse um local exato para a passagem do enorme punho de Roger, e mesmo sem destruir a parede, a enorme corrente de ar que foi lançada para o outro lado revirou toda a sala vizinha, arremessando os móveis e os objetos. 

“Parece que você não é tão ruim.” A voz estrondosa do líder do sul ecoou pela sala. “Esse foi um dos meus socos mais poderosos e você nem sequer se assustou.”

“Não destrua a porra do meu escritório!” Elias gritou com os nervos à flor da pele. Dava para perceber que ele já estava aborrecido por ter Mathias e Hugo em seu escritório zombando dele e Roger ainda chegava destruindo tudo… ele poderia culpar Mayck se quisesse. 

“Relaxa aí. Eu tinha que ter certeza de que não era só um pirralho metido.”

“Eu entendo sua desconfiança, mas vamos concordar que chamar muita atenção vai ser péssimo pra gente”, Mayck falou com indiferença. 

Ao invés de se desculpar, Roger riu e se sentou em silêncio. Isso fez o garoto suspirar, esperando o pior para aquela reunião. Apenas o clima do local lhe dava uma breve dor de cabeça e um embrulho no estômago. Mas, ainda assim, ele iniciou a reunião. 

Inicialmente, se apresentou e contou o motivo por ter reunido os líderes ali, falando sobre seu objetivo de derrubar a organização, algo que era do interesse de todos os presentes. Além do que tinha dito para Elias anteriormente, ele não adicionou mais nada sobre seus motivos, então todos pensaram nele agindo apenas pelo interesse de tirar a organização que regia o país, mas que por baixo dos panos havia se tornado uma seita. 

Todos os líderes tinham um passado com eles, e algo notório, era o contrato que havia sido firmado. Um contrato que lhes garantia liberdade para quase tudo, exceto ferir pessoas não relacionadas com o mundo das IDs.

Eles não sabiam ao certo o motivo, mas Mayck deduziu que era por medo de chamar a atenção da Strike Down, a organização que tinha controle sobre o mundo todo e cuidava para que os portadores não quebrassem os limites estabelecidos por eles e as pessoas normais não descobrissem sobre a existência de poderes sobrenaturais. 

“Mas isso está prestes a acabar, não é? Vocês viram o noticiário hoje cedo? As pessoas estão encontrando os Ninkais e sobrevivendo pra contar história.”

“Vendo por esse lado, muito em breve não vai mais ser possível escondê-los”, Mathias concordava com a afirmação de Hugo e não hesitou em dizer o que pensava. 

Um dos fatores que garantiram o encobrimento da existência dos monstros, foi o fato de eles só saírem para caçar a noite, o horário em que a maior parte da população estava dormindo. Isso permitiu manter os portadores sob controle e ao estabelecer a caça de monstros como uma profissão remunerada, o segredo estava quase garantido. 

Mas não era perfeito, dada a possibilidade de existir, em qualquer parte do mundo, alguém que usasse seus poderes diariamente para benefício próprio. E sendo, a maior parte dos portadores, adolescentes, era mais do que apenas uma possibilidade. 

“Besteira. Por que nós não apenas nos mostramos pro mundo todo e acabamos com isso?”

“Que pensamento idiota, o seu. Mas eu não discordo totalmente. Eu não me importo se vai causar um caos no mundo ou o quê seja, desde que eu possa chegar no que eu quero.”.

Assim como Roger e Elias, Mathias e Hugo partilhavam da mesma opinião, que era totalmente contrária ao que Mayck pensava. Não que ele não visse um pingo de verdade nisso; se os portadores se mostrassem, seria mais fácil lidar com os Ninkais e outras ameaças, uma vez que teriam o apoio do governo e muitos outros portadores anônimos se juntaram à causa. 

Por outro lado, a revelação dessas pessoas poderia causar um impacto tremendo na sociedade. Os normais criariam medo e ódio daqueles poderes. Perante um poder maior, todo ser humano se sentiria incapacitado, como encontrar um urso na floresta sem nenhuma forma de defesa. Seria isso o que os poderes causariam. Mayck não queria nem pensar mais nas inúmeras reações das pessoas comuns se aquilo viesse a público. 

“Vocês tem um ponto, mas isso não pode acontecer. E é isso o que eu e meu grupo estamos tentando evitar. Se a organização continuar com isso, vai acontecer um grande desastre”, Mayck expressou sua opinião sincera. “Vocês lembram, não é, daquela bagunça de quinze anos atrás?”

Mayck desbloqueou as lembranças de todos ali. De fato, todos eles possuíam bastante tempo de vida e quinze anos no passado não era algo tão distante assim. Alguns deles até tinham histórias para contar sobre aquilo. 

“A organização está tentando repetir aquilo. O poder não vai ter sentido em um mundo onde não resta nada, certo?”

“Você tem razão. Eu tenho muitas coisas para proteger e, sem elas, eu não chegaria em lugar algum”, afirmou Hugo. 

“Haha! Eu não ligo se o mundo for destruído, mas se nessa brincadeira eu puder trocar socos com alguém sem precisar me segurar, eu estou dentro.”

“Mas se isso acontecer eu vou ter paz. Então… porquê não?”

Inesperadamente, Mathias foi por um caminho totalmente inesperado pelos demais líderes, que olharam para ele com um certo espanto, enquanto Roger caiu na risada. 

“Tá falando sério?”

“Quando foi a última vez que eu brinquei com algo?”

“Bom… deixando a opinião dele de lado, eu acredito que a organização já sabe o que estamos fazendo e eles não vão ficar parados. Ou seja, agora que vocês estão envolvidos nisso”, Mayck falou e se levantou, estendendo a mão para a porta, que já não estava mais lá. “…não terão paz por um bom tempo.” Com um movimento de sua mão, uma pessoa foi puxada até ele como se estivesse paralisada. 

Surpresos, todos se levantaram. Eles reconheceram imediatamente o uniforme que o indivíduo estava usando. Era o uniforme do grupo de espionagem da organização, que fora enviado para reunir informações acerca dos líderes. Isso queria dizer que todo o assunto da reunião já havia sido vazado para a organização e eles não tinham escolha a não ser agir. 

“Agora que quebraram o contrato, vocês precisam lutar. Caso contrário, perderão o que possuem.”

Mayck havia planejado aquilo. Quando chegou ao edifício, usou sua ID para verificar a quantidade de almas que estavam por lá. Ele não podia dizer quem era quem, mas notou um único indivíduo se esgueirando pelos andares superiores, então deduziu que fosse um espião da organização. E como já esperava alguma resistência por parte de Mathias, ele decidiu usar aquela pessoa como forma de garantir o apoio dele. 

Roger riu novamente, Elias suspirou, Hugo sorriu levemente e Mathias ficou quieto, se vendo num beco sem saída. 

Alguns homens que estavam nos andares de baixo foram chamados por Elias e levaram o espião com eles. 

“A essa altura, eles já devem estar montando um time de ataque. Não vamos perder mais tempo e vamos nos preparar também.”

Mayck deu suas últimas palavras e imediatamente os preparativos foram iniciados. 

O que ele tinha em mente só seria dito depois que tudo estivesse terminado. Durante toda a batalha, Mayck não entraria na linha de frente. Ele planejava deixar os líderes lutarem sua guerra e ia apenas ajustar o que estivesse saindo do caminho correto, apenas isso. 

<—Da•Si—>

Como esperavam, os líderes das quatro regiões se reuniram em um só lugar e não restou mais dúvidas quando eles consentiram em atacar a organização. No momento em que Abner não pôde mais defendê-los, Louis deu ordem de preparação — era melhor atacar primeiro do que esperar o movimento inimigo. 

Sem perder tempo, as tropas principais foram reunidas e contavam com cerca de quatrocentos portadores habilidosos e cem homens armados. Como não queriam fazer nenhum escândalo, primeiro enviariam, ao anoitecer, um grupo de assassinato de 15 pessoas, para eliminar os cabeças inimigos — um modo rápido de cortar o mal pela raiz. Se isso desse errado, as demais tropas cercariam a cidade em vários pontos estratégicos e atacariam todo local. 

A princípio, parecia um plano contraditório, dado o fato de que eles não queriam chamar a atenção do público, mas, obviamente, eles não fariam nada disso sem a preparação necessária. 

Quando Eugênio ainda fazia parte da organização, ele contribuiu o máximo que pôde e uma dessas contribuições foi uma certa droga, que trazia todos os poderes de uma ID à tona; a mesma droga que ele usou em Lorena. Com esse objeto e uma certa ID que possuíam ao lado deles, não seria um problema. 

As tropas foram organizadas por Alfred e ele levantou dentre eles capitães, que receberiam suas ordens e teriam a obrigação de passá-las aos demais soldados. 

Ninguém poderia dizer se ele estava sério sobre o que estava fazendo, já que ele sorria o tempo todo, fazendo tudo parecer uma brincadeira. Mas tolo era aquele que se deixava enganar pelo sorriso. Este mesmo Alfred sentia felicidade em massacrar seus oponentes e se fosse deixado no comando total das ações da organização, ele, com certeza, já teria ordenado que os líderes se tornassem pó. 

Assim foi feito. Os quatrocentos portadores foram divididos em dez times de 40, e faziam parte deles 10 homens armados, que seriam os primeiros a atacar se os assassinos falhassem. 

A tarde veio e se foi num piscar de olhos, o que deixava claro o quão atenciosos eles estavam sendo quanto àquela ameaça. Era justificável. Um erro a mais e eles iriam cair num poço sem fundo. 

Os assassinos foram enviados. Louis estava confiante. Afinal de contas, tinha treinado aquele grupo pessoalmente e com todo o conhecimento que possuía sobre ataques letais e silenciosos. 

Eles eram os responsáveis por ficarem de olho em todos os cantos da cidade. Obviamente, havia mais deles, que estavam espalhados pelo país. Contudo, não foram chamados porque Louis acreditava que, sozinhos, eles poderiam dar conta de qualquer ameaça. 

Quando questionado sobre a eficácia deles, Louis riu e se gabou. 

“Eles são melhores do que o resto do exército. Não são minha tropa de elite à toa.”

“Eu espero que sim… Alfred, deixe os soldados preparados para qualquer situação. E mande alguns homens patrulharem a área em volta. Não queremos ser pegos em uma emboscada”, Abner deu as ordens. 

Na maioria das vezes, quando era ordenado, Alfred estalava a língua e saía bufando. No entanto, ele aceitou essas ordens plenamente e com um sorriso assustador. Dava para ver em sua cara que ele mesmo queria ir para a linha de frente. 

“E quanto ao mascarado? O que vamos fazer?” Isaac, timidamente, perguntou. 

Os três o fitaram, mas eles sabiam que era verdade. Precisavam de uma forma de tirar a figura mascarada da jogada. Isso porque acreditavam que ele era o cabeça de toda aquela rebelião. 

“E se eu ir pessoalmente dar um jeito nele?”

“Você tem que cuidar dos soldados inimigos. Elias e os outros possuem um grande número de subordinados que não irão hesitar em pôr a mão no fogo se lhes for ordenado.”

“Vamos manter nossos olhos abertos. Se derrubarmos os súditos, o rei se renderá. Seja paciente. Dito isso, eu vou pensar em alguma coisa”, Louis afirmou com clareza. 

“Mas, parando pra pensar, não existe a possibilidade do mascarado ter ligação com o sobrinho de Eugênio, digo… Mayck Mizuki?”

“Hum? Por que você acha isso?”

“É que as coisas começaram a ficar agitadas depois que ele chegou aqui. Alexander foi visto na cidade, Eugênio foi derrotado e agora temos uma rebelião para lidar.”

De fato, todos aqueles acontecimentos não podiam ser, em hipótese alguma, coincidência. Devia ter algo ou alguém por trás e se houvesse mesmo, as suspeitas eram limitadas a uma única pessoa que surgiu antes de tudo. 

“Esse moleque… ele é filho da Sophia Ferreira, certo?”

A sala se silenciou por alguns segundos, enquanto as ideias invadiam a cabeça dos presentes. Em um salto súbito, Louis gritou pelo time de investigação no telefone em cima da mesa. 

Isso poderia ter assustado os outros, mas todos eles pensaram na mesma coisa e chegaram a uma certa conclusão. 

“Verifique os registros de Mayck Mizuki. Seu paradeiro, família, atual residência e qualquer outra coisa. Imediatamente!”

À voz de seu chefe, os documentos foram preparados e em quinze minutos, várias folhas contendo todas as informações que a organização possuía sobre o garoto estavam espalhados pela mesa, sendo checados minuciosamente. 

“Merda… não fode.” Louis levantou sua voz e jogou os papéis na mesa. “Esse desgraçado mora no Japão, certo?”

“Sim… você acha que ele tem ligação com ‘eles’?”

“Você ainda duvida? Eu não vou acreditar se ele disser que veio pro Brasil apenas para curtir as férias. Ele deve ter sido enviado com o objetivo de nos eliminar.”

“Então isso quer dizer que a Strike Down já sabe o que estamos fazendo…” Abner abaixou sua cabeça, encarando os papéis e pensando se tudo já tinha sido vazado e há quanto tempo. 

“Se é assim, então não podemos fazer muita coisa, não é? Se matarmos o moleque a Strike Down vai vir com armamento pesado e não podemos deixá-lo fugir”, Alfred observou. 

“… Mas vocês só estão pensando nisso com a ideia de ele fazer parte da Strike Down… e se ele não for…?” Isaac tentou motivar seus companheiros a pensarem positivo, mas foi em vão. Louis retrucou dizendo que essa era a menor chance possível. 

“Senhor…” O chiado do walkie talkie passou pelo bolso do terno de Louis. 

“O que foi?!” Ele pegou o dispositivo em seu bolso e exigiu uma explicação. Mas a voz de seu subordinado estava falhando e apenas as palavras “nos pegaram” ficaram audíveis antes de um começar um chiado interminável. 

Louis tentou trocar de frequência, na esperança de obter resposta dos outros, mas nenhum deles respondeu. Sem pensar duas vezes, ele ordenou que Alfred mobilizasse os soldados de acordo com o plano. 

Os soldados percorreram o trajeto e se posicionaram nos quatro pontos principais da cidade. Isso levou cerca de três horas, levando em conta a distância que cada um levaria para chegar ao seu posto utilizando veículos grandes, infringindo as leis de trânsito e quebrando o limite de velocidade. 

Cada soldado estava trajado com equipamentos de proteção especiais, contando com colete a prova de corte e resistência a golpes de fogo, botas metálicas revestidas de borracha por dentro e por fora, o que deixavam os soldados lentos, exceto aqueles que possuíam uma força física maior que os demais. Além disso, também tinham o apoio de óculos de visão térmica e noturna. 

Cada um deles carregava uma arma de antimatéria, com mini cápsulas como munição. Isso deixava claro o quão séria a organização estava sobre essa guerra. Se fosse preciso, eles iriam obliterar toda a cidade com uma arma maior. 

Em outro lugar, um pequeno grupo se mobilizou para o centro da cidade e esperou as novas ordens. Era um grupo composto por quatro portadores, três mulheres e um homem, e seriam eles a chave que daria início àquela guerra. 

“Estão todos prontos?” Louis perguntou pelo walkie talkie e recebeu a confirmação de todos os capitães, inclusive Alfred. “Então, comecem.”

Quando ele ordenou, as mulheres injetaram três seringas com um líquido amarelo, que, depois de poucos segundos, fizeram o homem cair e se debater, enquanto gritava em agonia. Como se tivesse sofrido uma possessão, o homem olhou para cima com seus olhos já sem vida e emanou toda a energia de seu corpo, ativando sua ID e explodindo-a em uma luz roxa que correu por toda a cidade, em todas as direções. 

Aquela era a arma secreta da organização — uma ID que faria qualquer pessoa que nunca tivesse tido contato com IDs cair em um sono profundo por mais de 72 horas. Normalmente, esse portador só poderia colocá-las para dormir por ao menos 3 horas, mas a droga feita por Eugênio o levou ao seu limite e só resistiria quem já chegou ao próprio limite de sua ID. 

No silêncio da noite, todos os portadores e os soldados se mantiveram atentos. Eles estavam no quinto ponto, localizado na zona leste. Quando levantaram seus olhos, avistaram um grupo de dez pessoas se aproximando, logo se posicionaram para o possível combate. 

“Preparem-se.” Garcia, capitão daquele pelotão, falou aos seus homens tomando a frente, levando em conta o combate iminente. 

“Olha só, eu sou Albert, um dos principais capitães da zona leste. Vou ser bonzinho e dar a chance de vocês se renderem. O que acham?” Sem pensar duas vezes, Albert tentou fazer seus inimigos desistirem, mas isso, obviamente, apenas feriu o orgulho deles. 

“Que palhaçada é essa? Achou mesmo que conseguiria fazer a gente desistir?” Garcia respondeu sem nenhum indício de ter considerado a oferta. 

“Ah, é mesmo? Então não tem o que fazer. Morram aqui mesmo.”

Albert balançou a mão no ar e seus homens armados começaram a atirar. O time de Garcia respondeu com suas armas de antimatéria e em poucos segundos, Albert viu a desvantagem ao seu lado. 

Em outro lugar, ainda na zona leste, outro pelotão invadiu a cidade após a luz roxa passar por eles em um piscar de olhos. Os sete soldados se mantiveram atrás dos portadores e analisaram as ruas do local. Porém, depois de dez minutos, não encontraram nada. 

“Senhor”, Silva, o capitão, mandou uma mensagem para Alfred pelo walkie talkie. “Não encontramos nada por aqui. Talvez eles tenham fugido…”

[Não seja idiota. Acha mesmo que vão comprar uma briga e fugir?]

“Devemos continuar procurando?”

[Isso é óbvio. Assim que os encontrarem, matem-nos sem hesitar.]

“Entendido.”

Depois de um longo suspiro, Silva voltou sua atenção para seus homens, que ainda estavam vigilantes. Ele pensava no que iria dizer. Sabia o quanto parecia estupido ficar rondando por ali sem ter certeza de que havia alguém por lá. Mas, ainda assim, ele não podia apenas desobedecer as ordens e dar meia volta. 

“Senhor, tem alguma coisa lá em cima.”

Quando um de seus homens olhou para cima, notou pequenas luzes no topo dos prédios ao redor e achou melhor reportar. 

Quando o restante do pelotão seguiu o exemplo e olhou, Silva teve apenas uma reação — gritou para que todos recuassem — e, logo depois, choveu sobre eles vários projéteis brilhantes, resultado de várias habilidades (água, fogo, gelo, rochas e vários outros)  sendo lançadas de todos os lados. 

“É uma armadilha! Saiam imediatamente!”

Todos eles correram, buscando um local para se abrigarem daquela chuva mortal. Mas as habilidades que atingiam o chão levantavam bastante poeira e lançavam uma grande quantidade de destroços, dificultando a fuga e os desorientando. 

Diogo observou o desenrolar de tudo e pensava consigo mesmo o quão assustador era saber que Mayck tinha previsto aquilo tudo com tanta clareza. Parte das informações foi dada por Isaac, mas o garoto criou um plano simples que destruiu um dos times facilmente. 

“Terminei por aqui”, Diogo falou pelo walkie talkie. 

[Okay. Veja se tem alguém para se render e tome cuidado. Matar ou não é escolha sua.]

“Certo.”

Com um aceno, Diogo ordenou que os homens descessem com cuidado para averiguar a situação e fizessem os remanescentes se renderem. 

Eles caíram tão fácil que chega a ser ridículo… será que os outros inimigos são mais fortes?

Dentro de duas horas, uma tropa inimiga já havia sido eliminada e Louis estava prestes a explodir. Ele não queria acreditar que Alfred tinha criado formações tão inúteis, que perderam tão fácil para um pequeno grupo. 

Portanto, ele decidiu ir preparar as tropas pessoalmente, moldando sua estratégia de acordo com os movimentos de seus inimigos. 

Ele ordenou que o pelotão de Garcia recuasse, pois eles estavam trocando tiros com o grupo de Albert, mas não estava dando em nada. Era só perda de tempo. 

Mas não era apenas esse pelotão que estava com problemas. Outros, que entraram em combate com os subordinados de Hugo, Mathias e Roger também estavam passando sufoco. Isso porque Mayck os deu informações importantes sobre as posições, quantidades e armamentos do inimigo, para que pudessem se preparar com mais cuidado. 

No sétimo ponto de combate, um grupo de cinquenta portadores de Roger encontraram um pelotão inimigo e iniciaram o combate imediatamente. O mesmo ocorreu em todos os outros pontos ao redor da cidade. 

Os portadores e os homens armados lutavam com todo o seu poder e nas duas horas de batalha, a cidade já havia se transformado em um grande campo de guerra. Homens feridos foram resgatados por seus aliados, a poeira que subiu por causa das explosões de habilidades cobriu as ruas e os estrondos deixavam qualquer um com o coração disparado. 

Mayck estava lutando consigo mesmo para aguentar ver e ouvir aquilo de cima de um prédio alto, de onde tinha uma ótima visão dos arredores da cidade. Podia ver as exibições de batalha até no horizonte onde seus olhos alcançavam. 

Isso é terrível… mas eu busquei isso. Não tem como voltar atrás, Mayck se consolava. 

“E aí, está gostando?” Alexander se aproximou dele repentinamente. 

“Até parece… Quem é que gosta de guerras?”

“Eu pensei que você tinha planejado isso tudo porque gostava.”

“Não fique brincando. Eu não vejo graça na morte das pessoas. Se fosse possível, eu gostaria que houvesse o menor número de baixas, nos dois lados.”

“Hmm… então somos bem diferentes nisso”, Alexander afirmou. 

Mayck o olhou com uma expressão de dúvida e ele continuou falando como se fosse sua filosofia de vida. Algo que ele tinha muito orgulho e não perderia por nada. 

“Bom, minha vida é ganha diante da morte das pessoas. Então, posso dizer que sou um tipo de ladrão… eu roubo a vida dos outros em prol dos meus sonhos. Você deve me odiar, certo?”

“Você que não vê valor na vida de ninguém? É claro que odeio.”

“Fufu… um herói como você, que prega a justiça sempre vai olhar para pessoas como eu com nojo. É normal. O bem e o mal, trevas e luz. É de natureza que os opostos se odeiem.”

“Eu não sou nem um herói. Não me chame assim de novo.”

“Certo, certo. Tem novas ordens? Parece que o general inimigo está começando a ler nossos movimentos. Hugo falou que eles pararam de atacar de repente.”

“Se eles estão recuando por vontade própria, tudo bem. Diga para fazerem eles recuarem mais rápido. Devemos mantê-los longe dos civis.”

“Ainda preocupado com as pessoas normais… e não quer ser chamado de herói …”

“Calado.”

“Sim, sim.”

Alexander se afastou, enquanto passava as ordens para os quatro líderes pelo walkie talkie, que, por sua vez, passariam a seus capitães e, consequentemente, a seus homens. 

Mayck continuou parado, observando aquele desastre. Mas seu olhar tinha um misto de tristeza com ódio. Ele refletiu nas palavras de Alexander, e concluiu, mais uma vez, que nunca poderia ser chamado de herói. Se para alguns aquele título era uma honra, para ele aquilo era uma ofensa a todos os verdadeiros heróis do mundo. 

Um assassino egoísta como eu… nunca vai ser um herói.

Seguindo as ordens de Mayck, os portadores, em todos os pontos, pressionaram seus inimigos, que estavam recuando, a se apressarem. Eles não questionaram, e isso porque Mayck já havia deixado claro, antes do início daquela guerra, que não queria nenhum civil envolvido naquilo. 

Assim, com as tropas de Louis afugentadas, uma pausa se iniciou no campo de batalha. 

<—Tempo restante até o fim da batalha: 69h30min—>

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