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Capitulo 48 – Ponto de partida

Mayck se levantou pela manhã cerca de 8 horas. Ele não estava tão acostumado a acordar naquele horário nas férias, mas dessa vez havia um motivo plausível para tal. 

E isso era trabalho. 

Não era remunerado, mas era um trabalho essencial. 

Conseguiu um quarto na base da Black Room, apenas porque estava realizando o tal trabalho, então era como uma troca de favores. 

Mas chamar aquilo de quarto seria um eufemismo incrível. Era um só cômodo, feito para abrigar uma única pessoa, mas estava equipado com uma pequena cozinha, banheiro e o quarto, além de todos os imóveis necessários para alguém viver. 

Uma notificação chegou em seu celular e ele foi vê-la imediatamente. 

Era Jade, relatando que nada demais havia acontecido até aquele momento. 

Isso é bom, mas… você não precisava me avisar o que acontece a cada hora.

Mayck entendia que Jade estava nervosa com aquela situação. Então evitou avisar sobre o contato frequente para não chateá-la. 

Passaram-se três dias desde que ele retornou, e no dia anterior Jade o informou que fez contato com seu pai.

Como ele esperava, Takashi não falou seu nome uma única vez e parecia que ele esperava por Jade há algum tempo. Fora isso, ele perguntou apenas sobre seus avós e nada mais. 

Isso realmente penetrou o coração do garoto como lâminas, mas ele teve que se contentar. 

Como apenas as memórias relacionadas a mim foram apagadas, o cérebro dele deu um jeito de fechar as lacunas que ficaram. Então Jade foi

colocada no lugar no momento em que recebeu a mensagem. 

Quando Takashi fez contato com Jade, teve certeza de que estava esperando por ela. 

“Aff… Bom, fazer o que? Só posso trabalhar nisso e dar um jeito de descobrir quem foi que mexeu com ele.”

Mayck pôs seu celular em cima da cama e apagou o fogo que estava aquecendo o bule. 

O cheiro de café recém preparado se instaurou pelo cômodo. 

“Por enquanto, vou me focar nos institutos e ver o que posso fazer.”

Ele terminou de adoçar o café e se sentou na pequena mesa. 

Quando levou o copo à boca, um estrondo em sua porta quase o fez cuspir todo o café. 

“… Que merda foi essa?”

Deixando o copo na mesa, ele correu até a porta e tentou escutar os resmungos do lado de fora. 

Era a voz de uma garota e um garoto. Os dois pareciam estar discutindo. 

Reconhecendo as vozes, Mayck ia abrir a porta, mas voltou para pegar a máscara em cima da cama. 

Abriu a porta e se deparou com Ethan de cara no chão e Luna de pé perto dele. 

“O que… tá acontecendo aqui?”

“Ah, M-san, bom dia. Desculpa por esse escândalo.” Ela sorriu, apesar de não ter dado para ver por causa da máscara. 

“Ah… bom, tudo bem… Você tá legal?” Mayck perguntou para Ethan que deu um joinha em resposta e se levantou. 

“Droga. Pra que tanta violência? Se você tivesse falado comigo de uma forma pacífica eu teria te entendido.”

“Pacífica? Eu te falei dezenas de vezes e você nem ligou. Saiu correndo dizendo que ia desafiar M-san para um duelo.”

“Como é?”

“Mas eu precisava fazer isso de qualquer jeito. Se não tivermos uma noção da força dele, como vamos trabalhar juntos?”

“Ei, que história é essa?”

“Nikkie-san já falou que não vamos estar juntos em campo. Você é burro?”

“Mas, ainda assim, como podemos deixar ele ir sozinho se não sabemos do que ele é capaz? Se encontrar um inimigo forte, a missão vai falhar sem nem ao menos sabermos.”

“Vocês dois…”

Mayck tentou parar os dois, mas estava sendo completamente ignorado. Parecia que a equipe Alfa entrava no próprio mundo quando queria. 

“Posso saber pra quê tanto escândalo de manhã?” Lily chegou e os repreendeu. 

“Desculpa.” Eles se curvaram instantaneamente e baixaram o tom de voz. 

Nesse momento, Mayck viu como a líder da equipe Alfa era incrível e respeitada; acabou virando um fã secreto dela. 

“Me desculpe por esses dois. Eles tem uma personalidade bem forte.”

“Tá tudo bem…”

Mayck não ouviu o que Luna e Ethan resmungaram, só viu Lily direcionar um olhar mortal para eles que os fez estremecerem. 

Acho que você é quem tem uma personalidade forte. 

“Enfim, M-san, Zero nos chamou. Ele prefere que nós iniciemos a missão hoje.”

“Hmm… bom, acho que faz sentido. Deixar algo assim se prolongar é um problema. Eu só vou pegar umas coisas e já vou até lá.”

Lily assentiu e arrastou seus dois companheiros para a sala de Zero, enquanto Mayck entrou para pegar o que tinha falado. 

Meia hora depois, estavam todos reunidos. 

O time Alfa e o time Delta, além de Mayck e Nikkie. Por mais estranho que pudesse parecer, Zero foi o último a chegar em sua própria sala, o que resultou em provocações de sua subordinada número um. 

Por outro lado, a teoria de Nikkie foi provada quando Ruby e Stella chegaram à sala e encontraram Mayck. Elas o cumprimentaram normalmente, mas não havia nenhum sinal de que elas soubessem quem ele era de verdade ou se elas ao menos o conheciam. 

Mas ele evitou pensar muito nisso. 

“Bom, como já é do conhecimento de todos, recentemente aconteceram alguns incidentes bizarros pelo país e de uma das piores formas possíveis. Nós estamos dividindo esse caso com a polícia, então nós precisamos resolver isso em segredo.”

“Se conseguirmos sumir com o incidente, a polícia vai parar de investigá-lo no futuro e as identidades dos portadores não serão reveladas”, Nikkie acrescentou. 

Em suma, eles precisavam abafar a existência dos institutos e evitar que o caso tomasse caminhos irreversíveis.

“Eu vou admitir que estou bastante frustrado por não ter percebido eles antes. Mas se nem a Strike Down conseguiu localizá-los precisamente, quer dizer que os que controlam os institutos são extremamente cautelosos.”

“Nesse caso, como vamos encontrá-los com as poucas pistas que temos?”

“Esse é o trabalho de vocês, Ethan.”

Sem mais nem menos, Zero, sutilmente, negligenciou seus deveres como o principal superior da organização. 

“Peraí, você está deixando o trabalho todo com a gente? Isso não é meio relaxado não?” Ruby comentou. 

“Apenas pensem nisso como a prova de que confiamos muito em vocês.”

“Que conveniente…”

“Muito bem. A partir de agora, pensem com a cabeça de vocês. Decidam entre vocês quem vai fazer o que e como vão prosseguir. O objetivo é driblar a polícia e sumir com os institutos.”

Zero falou isso com firmeza, mas Mayck acabou levantando a mão. 

“O que foi?”

“É que nós estamos lidando com crianças, certo? O que vai acontecer com elas no final?”

Apesar de ser o único a questionar, parecia que todos ali partilhavam da mesma dúvida. Então encararam Nikkie e Zero esperando por respostas. 

“Ah, quanto a isso, não se preocupem. A Interplay vai cuidar disso.”

“Eh? Estamos trabalhando com eles?”

“Não exatamente. Mas o melhor a se fazer é deixar eles cuidarem dessa parte.”

“Hmm…” Se dando por vencida, Ruby desistiu. 

Assim, todos foram dispensados da sala, com exceção de Mayck. 

O garoto perguntou o motivo…

“Agora que eu me lembrei, uma vez eu te disse para investigar os rastros da Ascension.”

“Disse é…?” Ele ponderou por um momento e se lembrou de quando a operação primavera foi iniciada. “É verdade…”

“Então, como está o andamento?”

“Como você pode imaginar… Não teve progresso nenhum.”

Zero suspirou. 

“Bom, eu não vou te cobrar, até porque admito que tem muita coisa nas suas costas. Nikkie me contou sobre a sua situação.”

“Se você sabe, tudo bem. Eu pretendo ir atrás deles, mas tenho que ir limpando os obstáculos no caminho. Então, fica de boa. Eu vou dar um jeito nisso.”

“Certo. Te desejo boa sorte.”

Mayck levantou a mão se despedindo e se retirou. 

No corredor, à sua espera, estavam os times Alfa e Delta. 

Eles queriam discutir como e por onde começar, então se mudaram para a sala de treino, onde vários outros times estavam presentes, embora por motivos diferentes. 

“O que vocês acham? Por onde preferem começar?” Ruby tomou a liderança e pediu pela opinião dos demais. 

“Eu acho que nós devemos primeiro ir até o local onde foram achados os corpos.” 

Lily levantou a mão e se posicionou. O resto do time Alfa não parecia ir contra a decisão de sua líder. 

“Isso parece ser óbvio. Mas como Zero disse, temos que decidir o que cada um vai fazer. Isso quer dizer que ele quer o problema sendo resolvido todo de uma vez.”

“Você acha? Não posso negar que dá pra pensar nisso, mas não parece meio insensato nos dividirmos assim?” Kai apontou sua objeção sem hesitar. 

Por um lado, ele tinha um pouco de razão. Se a força inimiga fosse maior que a deles, trabalhar individualmente poderia aumentar as chances de serem capturados. 

Mas como dito anteriormente, ele só tinha um pouco de razão. 

“Hahaha. Tá preocupado com isso, Kai? Relaxa, nenhum de nós é fraco.” Ethan riu. 

“Você ser tão despreocupado assim me preocupa…”

“Se trabalharmos juntos, não vamos conseguir cobrir uma grande área do país.”

“Eu entendo como você se sente, Kai”, Lily falou. “mas nós precisamos fazer assim. Caso contrário, as chances de dar errado são grandes.”

“Como assim? O que pode dar errado?” Luna parecia não ter entendido, então inclinou a cabeça. 

“Se atacarmos todos juntos”, Isha respondeu. “Há a chance de os alvos poderem se comunicar e mudar a localização.”

“Ou até mesmo criarem baderna à luz do dia.”

“Ah… entendi. Nesse caso a missão falha instantaneamente”, Stella, que estava sentada em um banco quase se tornando um com Mayck, observou. 

A personalidade dela muda completamente…

Mayck não sabia como reagir a garota agarrada em seu braço. 

“Enfim, há um monte de pontos negativos em ficarmos juntos. Por isso temos que decidir o que cada um vai fazer.”

“As duas etapas da missão são driblar a mídia e a polícia e acabar com os institutos. Nós estamos em onze. Se nos dividirmos direitinho podemos fazer tudo rapidamente.”

“Mas isso só quer dizer que alguém vai ter que trabalhar sozinho ou em trio.”

Todos pensaram por um momento. Essa era uma questão surpresa, mas Mayck estava calmo com ela. 

“Eu não me importo de ir sozinho”, ele levantou a mão levemente e declarou. 

“Você tem certeza? Não vai ser complicado?”

“É só me dar uma das tarefas que podem ser feitas por um só pessoa que não tem erro. Além do mais, eu sou o único desconhecido aqui, minha dupla ou trio poderia ter dificuldades para lidar com alguém que não seja do seu círculo.”

Ele tinha razão. Todos podiam ver isso e esconderam seus sentimentos, mesmo sendo desnecessário. 

“Sem objeções, certo? Então está decidido. Me desculpe por isso, M-san.”

“Imagina. Está tudo bem.”

“Já que é assim, quando você se meter em problemas não hesite em chamar qualquer um de nós”, Kai afirmou. “Vamos ajudá-lo imediatamente.”

Ruby, Lily e os demais concordaram e Mayck assentiu, em agradecimento. 

Após ter decidido quem ficaria com o trabalho solitário, os times se dividiram entre si em cinco duplas e o que cada uma faria. 

Como só era possível formar duas duplas por time, apenas uma das duplas foi formada por pessoas de equipes diferentes, e essa era a dupla formada por Ethan e Keize. 

Ruby fez par com a novata, Lucy, para que ela não ficasse perdida no meio deles. Ela não estava acostumada a lidar com outros times e essa missão não era a melhor para fazer um treino mental. 

E também era trabalho da líder garantir que ela obtivesse um bom desempenho. 

As duplas formadas foram as seguintes: Lily e Luna; Kai e Mia; Keize e Ethan; Ruby e Lucy; Isha e Stella. 

Com essa etapa finalizada, eles se organizaram  em relação às suas tarefas e, primeiro, Mayck, Isha, Stella, Lily, Luna, Kai e Mia ficaram encarregados de encontrar e investigar os institutos.

Como não seria possível driblar a mídia sem saber onde eles deveriam agir, eles seriam os primeiros a se mover. Ruby e Lucy iriam investigar a polícia e criar formas de mantê-los longe das pistas que possuíssem. 

Ethan e Keize deveriam cuidar para que outros grupos não atravessassem o caminho, criando distrações por qualquer lugar do país. 

Quando todas as investigações estivessem concluídas, todos iriam atacar diferentes institutos no mesmo dia. 

Obviamente, o plano não era perfeito, uma vez que existia a chance de conflito com outros grupos, então eles deixaram aberto para futuras alterações. 

Pequenos fones de ouvido foram distribuídos entre eles para que pudessem se comunicar em tempo real e atualizar um ao outro se imprevistos surgissem. 

Assim que se organizaram, eles se prepararam para partir; não poderiam perder mais tempo, — que era algo crucial — quanto mais demorasse para completar os objetivos, mais perto de descobrir a verdade as autoridades estavam. 

“Pegaram tudo o que precisam, né?” Já com seu devido uniforme de batalha, Ruby perguntou. 

“Eu já estou com tudo o que preciso. Não vou esquecer meu DA outra vez.” Ethan jurou a si mesmo. 

“É bom mesmo. Da última vez que você esqueceu, quase sabotou a missão.”

Enquanto eles trocavam lembranças, Mayck ficou perdido no início da conversa. 

O que é DA?

“Você também está com o seu, M-san?”

“O meu o quê?”

“O seu DA. Bom, se você não sabe, então ninguém te falou ainda. Michio deve estar com ele. Se apresse e vá pegá-lo.”

Sem questionar muito, Mayck foi até a sala de montagem. Chegando lá, descobriu por Nikkie que a garota havia acabado de sair para encontrá-lo, o que o fez ir até a sala de Zero. 

Zero falou que ela havia passado por lá há poucos minutos. 

Para evitar mais desencontros, Mayck decidiu voltar para onde os times estavam e lá ele encontrou Michio, prestes a sair em busca dele novamente. 

“Você está aí, é?”

“Ah, finalmente te achei. Francamente, você não sabe ficar parado?”

A pequena garota do rosto sem emoção jogou toda a culpa para ele. 

“Mas foi você… Ah, deixa quieto.”

“De qualquer forma, tome. Zero pediu para fazer isso aqui pra você.” Michio estendeu um óculos de sol para ele. 

“Isso é o tal DA?” Ele pegou o objeto. 

“Sim. Ele serve para evitar que você use sua ID desnecessariamente. Ele tem um monitorador de batimentos cardíacos, um sensor infravermelho e algumas funções inúteis como data e hora.”

“Hmm… an? Se são inúteis porque existem?”

“Isso é importante?”

“Não… deixa quieto.”

“Enfim, esse equipamento é essencial para missões sigilosas, porque a IA embutida nela te dá informações precisas sobre os alvos e várias outras coisas.”

Mayck gostaria que ela fosse mais específica, mas ele estava bem com aquela explicação. Poderia descobrir mais sobre o equipamento no caminho. 

“Bom, muito obrigado.”

“Já fiz o que eu tinha que fazer, agora posso dormir mais um pouco. Boa sorte pra vocês.”

Michio se retirou, deixando o grupo sem palavras. 

“Resumindo, é isso. Agora, vamos.”

Com todos na mesma página, eles se retiraram da base e se deslocaram para seus objetivos. 

<—Da·Si—>

Algumas horas depois de se separar do restante, Mayck chegou até o local onde a polícia encontrou os corpos. 

Analisando as informações, um casal que fazia uma trilha denunciou o crime para os patrulheiros que acionaram a polícia imediatamente. Isso aconteceu há cerca de uma semana. 

Como já se passou uma semana, não é surpresa que não tenha nada aqui. 

Ele olhou os arredores e não viu nada além de árvores imensas e todo o verde ao redor. O silêncio seria quase absoluto se não fosse o farfalhar das folhas e o canto dos pássaros da região. 

“É engraçado. Esse lugar é tão calmo que me tra paz…”

Era difícil digerir que vários crimes ocorreram ali. 

“Aokigahara, né..? Essa floresta não tem boa fama.”

Apenas por pensar em como aquela floresta era conhecida, arrepios percorreram seu corpo e uma Ideia veio à sua mente. 

Será que existe uma ID capaz de ver espíritos?

Ele começou a caminhar lentamente evitando ao máximo fazer barulhos altos. As folhas secas no chão dificultavam isso, no entanto.

Mais algum tempo de caminhada e o sol já estava em seu pico. O ambiente ficou úmido e quente, obrigando Mayck a controlar sua respiração que quase não funcionava mais. 

Que saco… Eu acho que era melhor vir à noite. Tá muito abafado aqui. 

Ele parou e se encostou em uma árvore, ofegante. Não queria mais continuar com o trabalho. 

Será que eu vou encontrar mesmo alguma coisa aqui…

Enquanto se perdia em pensamentos, ele sentiu algo batendo suavemente em seu pescoço e levou a mão para pegar a tal coisa. Em sua mão, uma aranha nada pequena, começou a andar sem rumo. 

Em um piscar de olhos, Mayck liberou uma faísca elétrica e chamuscou o aracnídeo que caiu entre as folhas. 

Seu coração acelerou. 

Eu esqueci que tem esse tipo de coisa aqui… Quero ir pra casa. 

Com a intenção de sair daquele lugar imediatamente, Mayck se apressou em sua busca. 

××××××

Ruby e Lucy tomaram um rumo diferente dos demais. 

Elas se dirigiram até um cibercafé, de onde iriam realizar sua parte do trabalho. 

Como estavam na rua, vestiram roupas casuais e esconderam as máscaras nas bolsas. 

“É… Ruby-san, como vamos conseguir informações da polícia? Nós somos apenas estudantes do fundamental…”

“Não se preocupe. Nós não vamos fazer isso diretamente.”

Ruby foi até a recepção e alugou uma sala privada para as duas. Quando receberam a chave e a localização da sala, foram até ela imediatamente. 

Estando lá, Ruby ligou o computador. 

“Por enquanto, vamos começar do jeito mais fácil. Você é boa em hackear, certo?”

“Ah, é assim que vai ser?”

“Sim. Se quisermos informações, temos que pegar diretamente da fonte. Vamos ter uma base de trabalho com isso.”

Lucy suspirou, aliviada. Por um momento ela imaginou que iriam se infiltrar na delegacia, sequestrar um policial e fazê-lo falar. Uma missão bem radical. 

Mas… espere… isso não é quase a mesma coisa?

A expressão de alívio que ela mostrou durou apenas alguns segundos e depois ela ficou agitada novamente.

Como se lesse seus pensamentos, Ruby bateu a mão no ombro dela. 

“Relaxa. Apesar de ser um crime, nós não estamos ferindo ninguém. Isso é pelo bem do Japão. Não. Pelo bem da humanidade.” Encorajou-a. 

“Mas Michio-san não seria mais indicada para isso? Quer dizer, ela é um gênio da computação.”

“Lucy, esse é o nosso trabalho. Além do mais, ela tem muitas outras coisas para fazer.”

“Be-bem… se você diz isso, me desculpe.”

“Não se preocupe. Então, vamos começar. Você consegue fazer isso sozinha ou vai precisar de ajuda?”

“Eu vou dar um jeito. Se precisar de algo eu te aviso. Certo, eu não sou tão boa quanto Michio-san, mas vou dar um jeito.” Ela apertou os punhos com confiança. 

Ruby assentiu e observou a novata digitando no computador. 

××××××

Para Ethan e Keize a tarefa era um pouco mais complicada. Ter de lidar com a polícia tendo um grupo imenso por trás que poderia apagar seus rastros era uma coisa, mas ter que lidar com gente que usufruía do mesmo privilégio era mais complicado. 

“O que a gente faz, Keize?” Ethan perguntou, sentado em um banco de praça, observando os transeuntes. 

Eles não faziam ideia de por onde começar e Keize apenas balançou a cabeça em silêncio, insinuando que não sabia. 

“Caramba… suprimir os movimentos de outras organizações é uma coisa. Agora ter que encontrá-los é o verdadeiro desafio.”

Ethan suspirou de desgosto. 

Ele sabia que sua missão não iria ser completada se ele ficasse apenas parado ali, mas estava impossível pensar em um meio de como interferir na missão de outros grupos. 

Além do mais, missões em que a mente era altamente necessária não eram para essa dupla. Deveria haver um outro motivo pelo qual Lily os deixou juntos. 

“Ai, ai… Lily vai ficar uma fera se descobrir que nós não fizemos nada”, ele se lamentou. “Ah, já sei, porque não pensamos em como cuidar deles e depois pensamos em como procurá-los?”

Keize olhou para ele e balançou a cabeça novamente em concordância. Por algum motivo, ele parecia animado. 

“Então, o que você sugere?”

O grandalhão levantou seus olhos para o céu e pensou um pouco, mas balançou a cabeça em negação. 

“Não conseguiu pensar em nada, né…? Bom, tudo bem… e se… nós nos fingirmos de caçadores comuns? Sabe, como aquelas pessoas que não fazem parte de nenhuma organização?”

Ethan apontou seu dedo indicador para o céu, pensando na brilhante ideia que teve.  

“É a Strike Down que cuida do pagamento deles, não é? Então, se nós procurarmos algum Ninkai e levarmos até eles, podemos conseguir informações.”

Keize ficou animado novamente. 

“É isso!” Ethan saltou do banco e pôs as mãos na cintura. “Vamos nos tornar caçadores e retirarmos informações deles como espiões.”

Keize levantou o punho, confiante. 

Ao redor, as pessoas olharam para eles com olhares assustados e desconfiados, pensando que uma dupla de loucos estava fazendo baderna na praça. Mas eles não se importaram com isso. 

××××××

Lily e Luna também seguiram para o local de destino, um dos lugares mais agitados do Japão: Shibuya. 

Elas andaram por lá em busca de pistas, mas não encontraram nada. Mas não por não ter nada, mas porque uma coisa levou a outra e elas já estavam fazendo compras. 

Tudo começou com uma simples passada em uma lanchonete para uma pesquisa rápida. 

No dia da operação policial que encontrou uma instalação suspeita no subterrâneo abaixo de um restaurante, as lojas ao redor já estavam em funcionamento, então houveram algumas testemunhas. 

Lily e Luna foram para esses lugares em busca de informações. No entanto, elas foram buscá-las também em uma loja de roupas e para não parecerem suspeitas, entraram como clientes. 

Resultado: elas foram persuadidas pela vendedora e fizeram compras enormes. 

Correndo pela rua, Luna choramingou. 

“Ah, droga, eu devia ter prestado mais atenção. Não acredito que aquela mulher me fez gastar três mil ienes.”

“Não adianta reclamar agora. O que foi feito já está feito. Agora anda logo.”

No meio das compras, seus DAs dispararam sem parar, alertando uma elevação de energia no ar. O que queria dizer que alguém estava usando ID ou outras habilidades por perto. 

“Nesse ritmo ele vai acabar fugindo.”

“Me desculpa mãe, mas eu gastei demais.”

Elas estavam indo para o centro do círculo. Os dados que mostravam o uso de ID não o marcava como círculos à toa. A energia era liberada para todos os lados, deixando sua fonte no centro. 

Com o DA ativo, Lily viu a energia que estava sendo liberada viajando no ar. Com o equipamento, era possível ver espectro de luz que não são visíveis aos olhos humanos, e as cores das energias eram variadas, quase transparentes. 

Da forma como estavam vendo aquela gigante meia esfera, o centro não estava muito longe. 

Quando chegaram ao local, era um prédio comercial enorme, com cerca de 15 andares. 

“Tem certeza que é aqui?” 

“Sim. Sem dúvidas.”

As duas estavam ofegantes da correria. 

“Mas… esse prédio é…”

“Sim…”

Elas hesitaram quando se deram conta do que era aquele prédio. Era, simplesmente, uma das maiores lojas de roupa de uma certa marca famosa. 

“Vai ser difícil procurar aí.”

“Vamos tomar muito cuidado.”

Luna concordou e as duas adentraram o edifício. 

××××××

Kai suspirou profundamente. Estava muito quente e não havia uma única sombra.

Para qualquer lugar que olhasse, só veria plantações e a estrada que se seguia por vários quilômetros; não havia uma única alma humana além daqueles dois. 

“Ah… por que a gente teve que vir logo pra cá?”

O garoto balançou as mãos em frente ao seu rosto, tentando amenizar o calor que lhe fazia pingar suor. 

“Aguente firme. Não há o que fazer. Olha, ali tem um ponto de ônibus, podemos descansar um pouco.” 

Mia apontou para a instalação no horizonte. Era a primeira instalação que viram desde que saíram da última cidade a cerca de uma hora. 

Por não haver vento, seus cabelos loiros mal se moviam, salvo pelo movimento que ela gerava ao andar.  

“Finalmente.” Ganhando forças de algum lugar desconhecido, Kai se pôs a correr até lá. 

“Ei, espera.” Mia o seguiu, embora quase esgotada. 

Os dois se sentaram nos bancos e relaxaram. A garrafa de água que eles possuíam já estavam vazias. 

“Quanto mais a gente tem que andar?”

“Não sei… talvez mais alguns quilômetros até a vila mais próxima”, ela falou indiferente. 

“Eu vou morrer.” 

O suspiro do garoto encenou um último suspiro de vida, mas ele respirou fundo apesar do desconforto do banco, que foi desagradavelmente aquecido pelo sol.  

“Você tem habilidades de água, não tem? Porque não faz chover aí?”

“Tá maluca, é? Assim eu acabo com o resto da energia que eu tenho.”

“Mesquinho.”

Eles já estavam quase sem esperanças, quando um som chamou-lhes a atenção. 

Olhando para o horizonte, viram um pequeno caminhão se aproximar, que, quando chegou até eles, parou e um senhor de idade baixou o vidro. 

“Olá, jovens, o que estão fazendo aqui nesse lugar? O ônibus que passa aqui só vai aparecer daqui a três horas.”

“Isso é sério?”

“Não acredito, não, não, não.” Mia balançou os pés como uma criança fazendo birra. 

“Hahaha. Se vocês quiserem, eu posso dar uma carona a vocês. Podem vir até a minha fazenda. Não fica muito longe daqui.”

“Isso não é um incômodo pra você?”

“Não, não. De jeito nenhum. Minha esposa também ficaria feliz por receber visitas.”

Mia e Kai se entreolharam. Os dois concordaram que estava tudo bem e aceitaram a oferta. 

A fazendo era bem grande e havia enormes plantações de arroz e milho. Mesmo antes de chegar em casa dava para ver tudo isso. 

Era uma plantação muito extensa. Dava para alocar dezenas de casas para mais de 30 pessoas tranquilamente. 

O cheiro úmido da irrigação chegava até às narinas deles, demonstrando que a área não era nem um pouco seca, mesmo naquele calor. 

Dentro do veículo estava quente e abafado. Mia mal conseguia ver a hora de sair de lá. 

Àquela altura, o calor escaldante com o qual estavam sofrendo anteriormente parecia apenas um fósforo. 

“Ah, eu ainda não me apresentei. Me chamo Yasushi Sakai.”

“Eu sou Mia e esse é meu amigo Kai. Muito prazer.”

“Ora. São nomes bem incomuns. Vocês são estrangeiros?”

“Não. Na verdade, nossos pais são bastante excêntricos mesmo.”

“Haha, eu entendo. Eu e minha esposa, Satomi, estamos cultivando aqui há anos. Viemos pra cá logo depois de nos casarmos.”

“É mesmo? E quanto tempo isso faz?”

“Hahaha. Já faz cerca de 60 anos.” 

Ele falou isso como uma piada, mas Mia imaginou o quanto devia ser difícil para dois senhores com a idade já avançada. 

“E vocês têm filhos? Ou alguém que ajude vocês a cuidarem de toda essa fazenda?”

“Filhos…”

O senhor pareceu abalado repentinamente e Mia deu um beliscão na perna de Kai, como forma de repreensão. 

“Nós bem que queríamos. Mas, quando completamos dois anos de casados, descobrimos que ela era estéril, então não poderia ter filhos. Eu sugeri uma adoção, mas ela se recusou dizendo que estava tudo bem.”

O clima ficou pesado dentro do veículo e Kai sentiu um peso em sua mente por ter tocado no assunto. 

Vacilei, ele pensou. 

“Me desculpe por perguntar isso…”

“Não, não. Tá tudo bem. Hahaha. Sabem, algumas semanas atrás, nós começamos a cuidar de um garoto pequeno. Tratamos ele como nosso filho.”

“Um garoto?”

“Sim. Isso mesmo. Um dia ele apareceu de repente na nossa fazenda, então nós o acolhemos e pretendemos adotá-lo oficialmente quando mexermos na papelada do governo.”

“Hmm…”

Kai e Mia se entreolharam. Uma criança que apareceu do nada em uma fazendo e o que eles estavam investigando, eles se perguntavam se havia alguma ligação. 

O senhor anunciou a chegada e eles desceram do veículo após ser estacionado e entraram na fazenda. 

“Querida, voltei e trouxe visitas”, ele anunciou assim que entraram na casa revestida de madeira de carvalho. 

No entanto, não houve resposta. 

“Estranho… será que ela está na plantação? Podem esperar um minuto? Eu volto já.”

“Sim, claro.”

Eles ficaram parados na porta, assim como Yasushi pediu.

“Você também achou estranho? Uma criança aparecer do nada em uma fazenda…”

“Sim. Tem algo estranho nisso. O tempo também bate com o primeiro caso encontrado pela polícia.”

Era bom que eles se mantivessem atentos. Poderiam estar de frente com uma grande pista dos institutos. 

Alguns minutos depois, Yasushi retornou com uma senhora e um garoto. 

“Puxa, me desculpe por fazê-los esperar.”

“Peço muitíssimas desculpas por isso”, a senhora, Satomi, disse e inclinou a cabeça.

“Ah, não. Tá tudo bem. Não precisa se preocupar com isso.” Mia se desesperou ao ver a ação da senhora e imitou-a. 

“O senhor Yasushi nos contou sobre você. Muito prazer. Eu sou Kai e essa é minha amiga Mia.”

“É um prazer conhecê-los. Esse aqui é nosso filho Kenichi.”

O garoto, timidamente, fez uma breve reverência antes de se esconder parcialmente atrás de Satomi. 

“Nós estávamos estendendo roupas, então nos ausentamos por um tempo. Mas, podem entrar. Vou servir um chá para vocês. Ou vocês preferem algo gelado?”

Satomi deduziu o que eles queriam pelas expressões descontentes que fizeram ao relacionar a palavra “chá” com  a palavra “quente”.

Eles agradeceram a gentileza e entraram, embora se sentissem culpados por manter seus olhos com desconfiança neles. Mas era inevitável, uma vez que fazia parte da missão deles. 

××××××

Isha e Stella caminhavam pela área residencial. Mesmo sendo final de férias, a rua estava vazia. Uma vez ou outra passavam algumas pessoas, mas elas estavam sempre sozinhas. 

O máximo de indivíduos que passaram por elas foi um homem e um cachorro. 

“Isso não é meio estranho? Tipo, tá muito silencioso aqui.”

“É estranho sim. Mas é melhor não pensarmos muito sobre isso. Fique atenta a qualquer movimento suspeito.”

Foi por aquelas redondezas onde outros corpos foram encontrados, então elas precisavam investigar minuciosamente. O pior cenário seria se não houvesse alguma instalação por lá, mas elas não poderiam desistir. 

“Hmm. Que chato, eu gostaria de ter ido com M-kun”, Stella resmungou com os ombros caídos. 

“Você, hein. O que foi que te fez ficar tão caída por ele? Nós mal o conhecemos.”

“Não é que eu esteja caída por ele, só acho que ele faz o meu tipo. E quando alguém assim aparece, não posso deixar escapar tão fácil.”

“Você é bem maluca mesmo.”

“Dito isso, não é como se eu estivesse esperando algo acontecer. Só quero me divertir um pouco.”

“Divertir?” Isha parou de caminhar, pensando no duplo sentido de sua companheira e ficando envergonhada. “Como assim se divertir? O que você quer dizer?”

“Hahaha, vou deixar pra sua imaginação.” Stella correu na frente e pôs o dedo indicador na frente dos lábios, sorrindo. 

Essa resposta só fez Isha ficar mais vermelha por ter pensamentos que ela chamou de impuros e continuou repreendendo sua amiga, que se divertia com a reação dela. 

No entanto, uma garota correndo pelas ruas desesperada se agarrou nas pernas de Isha e pediu socorro. 

Logo depois cinco homens com uniformes pretos da cabeça aos pés e armados saltaram e as rodearam, com as armas apontadas para suas cabeças. 

“Isha.” Stella se posicionou, pronto para o combate. 

“Eu sei. Fique quieta por enquanto.”

Isha abraçou a garota, que estava com os olhos encharcados, para mantê-la segura.

“Quem são vocês? O que estão fazendo?” Isha confrontou os homens, que não tinham intenções de recuar. 

“Entregue ela, garota. Faça isso pelo seu próprio bem.”

“Meu bem? O que uma garota como ela poderia fazer? É melhor vocês irem embora se não eu chamo a polícia.”

Um estrondo seco e ensurdecedor e um rápido flash de luz ecoou pelo local e um pequeno furo apareceu no chão. Aquele foi o tiro de aviso dos homens. 

Isha ficou perplexa. Stella ao seu lado, estava com seu sangue quase fervendo. 

O que ela tá fazendo? Se nós duas atacarmos agora, podemos dar conta deles facilmente. 

“Isha.” Ela sussurrou para a amiga que estava imóvel abraçada com a criança. 

Isha olhou para ela de relance e foi o suficiente para conseguir passar toda a mensagem. Como já trabalhavam juntas há muito tempo, comunicações como essa eram uma brincadeira para eles. 

Que problema. Eu esperava que algo acontecesse, mas não achei que seria assim. E olha que esse é o primeiro dia da missão. Preciso dar um jeito de driblar eles aqui. 

Isha manteve a calma e pensou racionalmente. 

Stella parece pronta para lutar, mas não podemos fazer isso aqui. Temos que sair desse lugar agora…

“Hihihi…”

Eles ouviram uma risada leve e baixa. 

A risada, que era um choro angustiante e desesperador até alguns segundos, veio da menina abraçada à Isha 

“Eh…?” 

Isha não teve reação. A garotinha se afastou dela rindo, mas com uma face assustadora. Pelos avermelhados começaram a sair por todo o seu corpo e a garota fugiu com um olhar bizarro no rosto. 

Isha caiu de repente com a mão em seu abdômen, tentando amenizar hemorragia. Aparentemente, a garotinha fincou suas garras nela sem motivo nenhum. 

Tudo o que se podia concluir, era que sua mente já havia se quebrado. 

“Isha!” Stella se abaixou e segurou sua amiga, desesperada por ver o sangue escorrendo no chão. 

“Hum. Nós avisamos.”

Sem prestar nenhum socorro, os homens voltaram a perseguir seu alvo, deixando a garota ferida para trás como se fosse nada além de lixo. 

“Eles já foram?” A loira perguntou baixinho. 

“Sim. Está tudo bem agora.”

O sangue sumiu, como se ele nunca tivesse estado lá em primeiro lugar. 

Na verdade, aquele sangue não passava de uma ilusão criada por Stella para seguir o plano que Isha formou tão rapidamente e, sem nenhuma palavra, conseguiu passá-lo para ela. 

“Nossa, que susto. Eu não esperava que aquela garota tentasse te perfurar com garras.”

“Foi assustador mesmo. Mas, não vamos perder tempo. Eles são uma pista do que estamos procurando, então vamos segui-los.” 

Ela se levantou e bateu a mão para tirar a poeira de suas roupas. 

“Mas, poxa, esses uniformes são bons mesmo.”

“Pois é. Parece que um ataque daqueles é bem inútil contra esse material.”

Por baixo de suas roupas casuais, as duas estavam vestidos com uniformes especiais desenvolvidos pela Black Room. 

Era o mesmo material utilizado no sobretudo de Mayck. Resistente a altas temperaturas e objetos pontiagudos. Sem dúvida, uma tecnologia de ponta. 

“Agora, vamos logo.”

Isha fechou os olhos e se concentrou. Ativando sua ID e rastreando as fontes de calor nas redondezas. 

Não demorou muito e ela obteve uma localização precisa dos alvos. 

As duas se entreolharam e concordaram em continuar. 

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