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Capítulo 49 – O segredo revelado

Jade conseguiu entrar em contato com Takashi e ocorreu como Mayck havia previsto; ele a tratou como se estivesse à espera dela há um bom tempo. 

No dia seguinte, ela relatou isso a Mayck e depois não houveram mais novidades até o horário do almoço. 

Jade se perguntava se as coisas iriam terminar bem. Ela estava preocupada, e muito, pensando em como Mayck estava lidando com a situação. 

Ele poderia ter se sentido abalado por ser tratado como estranho pela própria família. Abalado era pouco. Talvez, por trás daquele rosto neutro, ele estivesse escondendo todo o conflito e o vazio de seu coração. 

O que será que vai acontecer agora? 

Elas haviam terminado o almoço, então Jade se ofereceu para lavar os pratos e pensava muito enquanto isso, ao ponto de se perder em sua própria consciência. 

“Jade?”

“An? Ah, sim?”

“Então, eu peço desculpas por isso, mas você poderia dar uma ajuda para a família da minha noiva?” Takashi, que estava ajudando a secar os pratos, perguntou. “Os preparativos começaram há algumas semanas, mas eu fui chamado para um trabalho urgente e não pude contribuir em nada.”

“Okay, sem problemas. Eu posso ajudar sim.” Ela concordou sem hesitar. “Mas eu não vou atrapalhar? Não sei como me comunicar com eles, então…”

Jade estava preocupada com a barreira de comunicação entre ela e todas as pessoas daquele país que ela havia acabado de pôr os pés.

Mas isso não parecia um problema na visão de Takashi. 

“Tá tudo bem. Não se preocupe. Eu vou lhe dizer o que fazer. E você também pode usar um tradutor, certo?”

“É mesmo? Isso faz sentido. Se é assim, então tudo bem.”

“Obrigado. Nós vamos precisar ir daqui três horas. Eles vão estar esperando na casa de Suzune”, ele afirmou. “Ah, Suzune é o nome da minha noiva”, acrescentou com um sorriso levemente envergonhado. 

Jade sorriu de volta. 

De repente, a campainha tocou e a garota se ofereceu para ir atender, já que a louça estava terminada. 

Secou as mãos no avental e o tirou em seguida. Quando abriu a porta, se deparou com Hana do lado de fora encarando-a.

Foi uma surpresa para as duas. 

Rapidamente, Jade pegou seu celular e abriu um aplicativo de tradução — conforme o conselho de Takashi — e digitou rapidamente. 

“Bom dia…, do que você precisa?” 

Tentando ser educada na medida do possível, ela disse essas palavras com um pouco de dificuldade. Porém, Hana conseguiu entender perfeitamente e até achou meio rude, mas decidiu deixar isso de lado. 

“Eu queria falar com Mayck… Ele está?”

Jade não entendeu, a princípio, mas, ao ouvir o nome de seu primo, deduziu que Hana o procurava. Isso a fez se desesperar, se vendo obrigada a inventar uma desculpa; ela não havia sido orientada para casos como esse, então teve que pensar por si mesma. 

“Ele… eh… foi para o mercado.”

Isso foi tudo o que consegui pensar? Jade reclamou para si, querendo puxar os próprios cabelos.

“Ah, é? Bom, tudo bem. E Takashi-san? Ele está?”

Jade ia responder, já que Hana parecia estar procurando por seu tio, mas Takashi apareceu ao lado dela na porta, a surpreendendo e aumentando sua agonia. 

Ferrou. Se ela perguntar do Mayck agora… 

Estava a um passo da beira de um penhasco chamado perdição. Caso Hana perguntasse sobre Mayck, Takashi questionaria a existência de tal pessoa e ela nem queria pensar no que poderia acontecer. 

Precisava esconder isso, no entanto. 

Seu primo escondeu esse fato no dia anterior — isso queria dizer que ele não queria que alguém descobrisse. 

“O que houve?” Ele viu Hana no portão. “É uma amiga sua?” 

“An? Amiga…?” Ela teve uma ideia. Dar certo ou não, era outra questão. 

“Não é?”

“É! Isso mesmo, sim. Ela é uma amiga… eu acho. Nós nos encontramos na estação ontem e ela disse que morava perto daqui.” Sorrindo nervosamente, Jade deu o seu melhor. “Me desculpe, tio, eu acabei marcando de dar uma volta com ela, para conhecer a cidade. Tudo bem se eu demorar um pouco?”

A reação dela deixou Takashi intrigado, mas ele não a questionou. 

“Tudo bem. Só tenha cuidado na rua.”

“Sim, eu vou, então, com licença.”

Jade fugiu e agarrou o braço de Hana, levando-a à força e a deixando completamente confusa.

“Ei! O que você está fazendo?”

“Depois eu explico. Vamos logo.” Sem se importar se Hana entenderia ou não, Jade sussurrou, deixando claro suas intenções de tirá-la de lá. 

O motivo para esse desespero de Jade, era porque Takashi não reconheceu Hana, então ela pensou que as memórias referentes a ela também haviam sido apagadas. Por isso, ela achou melhor não deixar eles conversarem, ou então tudo iria por água abaixo. 

Longe dali, Hana forçou a parada e questionou Jade com uma pontada de raiva. 

“O que foi isso? Você tá doida?”

“Desculpa… eu só…” Jade não precisou entender para saber que Hana estava brava. 

Ela não conseguia ver caminhos para enganar Hana. Podia enganar Takashi que não possuía algumas lembranças, mas, Hana, que estava completamente sã, seria quase impossível. 

As mãos dela tremiam enquanto pensava em uma desculpa. 

O que eu digo? Ela vai acabar descobrindo. Não vai dar, não vai dar…

“Diga de uma vez. No que você está pensando?”

A irritação de Hana estava atingindo níveis mais elevados. 

“Desculpa. Eu só… queria te pedir um favor.” Tendo uma ideia, ela digitou no celular. 

“Favor?”

“Você poderia me mostrar a cidade? Mayck acabou esquecendo de anotar algumas coisas, então eu preciso ir procurá-lo.”

Naquele momento, essa era a melhor forma de ganhar tempo. Depois, ela enviaria uma mensagem para Mayck pedindo por ajuda. 

“Ah, é só isso…? Deveria ter dito antes.”

Jade suspirou, aliviada por ter dado certo. 

“Mas porque ele não me cumprimentou? Estava com pressa?”

Hana ponderou por um momento. Normalmente, a família Mizuki e Tsubaki se cumprimentam sempre que se vêem. Além da grande amizade de ambas as famílias, eles têm um grande respeito um para com o outro. 

Ignorar alguém daquele jeito era totalmente estranho e Takashi não era o tipo de pessoa que trataria um conhecido daquela forma. 

O jeito como ela me tirou de lá também é estranho. Eu mandei mensagem para Mayck, mas ele nem visualizou. O que será que houve?

Ele poderia ter ficado sem bateria ou deixado o celular em casa. Isso explicava o motivo pelo qual ela não obteve resposta. O que a incomodou, foi o olhar que recebeu de Takashi; o olhar de quem vê uma pessoa pela primeira vez. 

Uma das especialidades de Hana, era sua percepção. Algo como isso não passaria sem mais nem menos por ela. 

Se eu tivesse entendido o que eles falaram naquela hora, eu poderia ter entendido melhor. 

Hana se lamentou por ainda ser uma completa iniciante em outros idiomas além de inglês, cuja matéria ela possuía uma das maiores notas do seu ano na escola. 

“Então, podemos ir? Eu quero saber quais são os mercados locais.”

“Certo. Vamos. Tem vários por aqui, mas, conhecendo o Mayck, ele vai para qualquer um dependendo da ocasião.”

Hana falou, mesmo que Jade não fosse entender. Ela pensou sobre qual lugar Mayck poderia estar. 

Geralmente, quando ele pretende buscar apenas itens necessários para um pequeno jantar, ele vai até a loja de conveniência mais próxima. Se for para retocar a comida de casa, um mercado grande como o Market Center. 

Mas, considerando que ele é um introvertido que não gosta de multidões, vai querer evitar esses lugares com muitas pessoas…

Nesse caso, Hana viu que só restava alguns lugares onde teria a chance de encontrar Mayck e um deles era um mercado não muito movimentado, nem mesmo durante as férias. 

“Bom, vamos pra lá. Vem.”

Hana a chamou e começou a caminhar. 

Jade seguiu após ela, ainda com seu coração palpitando de nervosismo. Ela achou melhor avisar Mayck sobre aquilo, então pegou seu celular e digitou rapidamente, a resposta, porém, não veio imediatamente. A última vez que Mayck acessou o aplicativo de mensagens foi naquela manhã. 

Por favor, me diga o que fazer… Ela clamou em sua mente.  

As duas seguiram pelas ruas agitadas do dia. Além dos adultos que transitavam pela cidade, também havia vários alunos que estavam aproveitando ao máximo o final das suas férias de verão. 

Além disso, o dia estava bem quente. 

Jade não conseguia conter sua ansiedade ao ver as placas que não conseguia ler de jeito nenhum e as palavras das pessoas que passavam por elas. 

Ela se sentia em outro planeta. 

Por outro lado, ela admirava a beleza das construções, os prédios altos e as lojas chiques. 

As duas, então, vagaram pelos mercados, relativamente, mais vazios das redondezas. Se fossem verificar a cidade inteira, precisariam de muito mais tempo. 

Levaram vários minutos para verificar todos e ainda faltava um lugar. Entretanto, antes de continuarem, Hana convidou Jade para comer um lanche, pago por ela, já que estavam bem cansadas do exercício. 

Após o intervalo, elas se dirigiram para o último lugar. Para o desprazer delas, rodaram o mercado e nem sinal de Mayck. 

“Será que ele já não voltou?” Hana perguntou, mostrando sinais de exaustão. Continuar procurando virou um trabalho cansativo. 

Mas Jade não entendeu. Então a garota dos olhos vermelhos teve a ideia de usar um aplicativo de tradução também. Facilitaria muito a comunicação, que até esse momento, era nula. 

“Não sei… não tem outro mercado que ele possa ter ido?”

Jade não queria que ela voltasse agora. Isso porque ainda não havia recebido resposta de Mayck e isso estava aplacando o seu desespero. 

Dito isso, Hana suspirou, decidindo que era hora de pôr as cartas na mesa e descobrir o que Jade estava escondendo. 

“Vai, já chega. Diga logo de uma vez o que está acontecendo?”

Sua fala assustou a garota, que pensou que poderia ter sido um erro de digitação, mas a ênfase de Hana anulou essa possibilidade. 

“Eu sei que você está escondendo algo. Então diga de uma vez.”

O silêncio reinou. Vendo que não iria conseguir nada ali, Hana saiu do mercado, seguida por Jade. Ela não queria ser olhada com estranheza pelos outros clientes presentes no estabelecimento. 

Jade a observou alarmada, sabendo que ela tinha a intenção de ir até a casa de Mayck e tirar essa história a limpo. 

Preciso parar ela. Mas o que eu vou fazer? Ela já sabe que tem algo errado. Porcaria… e agora?

Ela apertou o celular com força e sentiu uma leve vibração. Quando suas esperanças estavam quase sendo despedaçadas, Mayck veio lhe resgatar, foi o que ela pensou. 

No entanto, ela se surpreendeu com a resposta recebida. 

Mayck lhe disse para abrir o jogo sobre o que estava acontecendo com Takashi, mas sem abrir a boca sobre o que aconteceu nas férias ou o que ele pediu para fazer. 

Tal resposta só deixou Jade mais confusa. 

Por que ele mandou isso? Não era pra manter segredo? Não. Ele deve ter um plano em mente. Tudo bem, eu vou fazer isso. 

Com a mão no peito, ela suspirou para obter a coragem que precisava. Deu um passo a frente e chamou por Hana. 

“E-espera aí. Tudo bem, eu vou te falar, então espere.”

Se Hana fosse até a casa de Mayck e falasse com Takashi, problemas maiores poderiam acontecer. Então, se fosse apenas Hana, portadora do segredo, seria mais fácil lidar. 

Mesmo que isso fosse resultar na perda do segredo que Mayck queria manter longe da sua amiga de infância. 

“Existe um problema. Pra resumir, Mayck não faz parte da família Mizuki.”

“An? Do que você está falando?” A princípio, Hana pensou que era alguma pegadinha. 

“O tio Takashi não tem memórias dele, então o Mayck não pode ficar em casa. Ele pediu para eu ficar e ajudar o pai dele com os preparativos do casamento…”

“Como assim esqueceu? Explica isso direito?”

“Eu não consigo explicar bem…”

“Aah…” Ela suspirou sem entender nada. Sua mente estava começando a dar voltas. “Onde Mayck está?”

“Não sei. Ele disse que ia ficar na casa de um amigo.”

Amigo? Yukimura-kun? Eu preciso de uma explicação melhor. Hana olhou para Jade, se perguntando se ela seria útil. Não parece que ela vai me ajudar. 

Ela precisava descobrir isso mais a fundo, e ninguém melhor que Mayck para explicar. Então decidida a arrancar a verdade, ela pegou o celular e mandou mensagens para o garoto, perguntando onde ele estava. 

Ele estava on-line há pouco. O que será que está fazendo? Devo ligar?

Ela faria isso, mas uma notificação a interrompeu. Era um e-mail privado. O remetente era Airi, solicitando sua presença. 

Droga. Por que logo agora? Ela não pode esperar?

Apesar de questionar, ela já sabia a resposta. Se sua presença era solicitada assim, então com certeza era uma chamada urgente. Ela não podia perder tempo. Até porque o conteúdo do e-mail não estava nada explicativo. 

Eu preciso falar com Mayck, mas eu não posso apenas ignorar ela… Caramba!

Hana mordeu o lábio, indignada por não poder  esclarecer isso imediatamente. Só lhe restou aceitar. 

Parece que isso vai ter que esperar. 

Voltando-se para Jade, Hana disse que precisava resolver algo e que a levaria para casa. E assim o fez. 

Jade não perguntou nada no caminho e Hana permaneceu em silêncio. Depois de deixá-la em casa, seguiu para o centro de Tóquio, onde estava localizada a base privada de John, no subterrâneo, abaixo de uma loja de automóveis. 

Quando chegou na sala de reuniões dos superiores, Hana respirou fundo antes de bater na porta. Quando o fez, recebeu a permissão de John para entrar. 

Ao abrir a porta, viu que todos já estavam reunidos. 

“Hana-nee!” Yui pulou na garota assim que ela entrou. 

“A última como sempre”, Airi a provocou.

“Me desculpem. Eu estava um pouco longe daqui. Tive que pegar um trem”, ela explicou sem tentar parecer arrogante. Na verdade, ela não entendeu a piada de Airi por estar com a cabeça cheia. 

“Certo. Agora que estão todos aqui, não vamos perder tempo.” Amélie, que também estava presente, bateu leves palmas para atrair a atenção deles. 

“Aconteceu alguma coisa? Airi me chamou sem explicar nada.”

“Vamos dizer. Mas, antes, precisamos te atualizar sobre os últimos acontecimentos. Como você estava fora, não pudemos manter contato.”

Os olhos atentos de toda a equipe se fixaram em John, que começou a falar. 

No início de Julho, pouco tempo depois de Hana sair em viagem com a família, um certo incidente não só chamou a atenção da polícia local e da imprensa, como também foi assunto no meio dos governadores do país. 

Na verdade, incidente talvez não era a palavra correta, pois tudo o que se sabia era incerto. 

Na noite do dia 10, ocorreu uma explosão em um prédio comercial, que matou cerca de 30 pessoas e deixou 18 feridos.

Com isso, a polícia entrou em ação. Após uma semana de investigação, não foi encontrado nada que poderia ser o causador da explosão. A possibilidade de ter sido um fio desencapado ou um superaquecimento de alguma máquina foram, inevitavelmente, descartadas, já que todos passavam por manutenções regulares e estavam dentro dos conformes das normas de segurança. 

Vazamentos de gás também estavam fora de questão. 

Então, começaram a suspeitar de que fora um ataque terrorista. Porém, não foram vistas pistas sobre isso nas filmagens dos prédios ou das redondezas. 

Pouco dias depois, corpos de crianças em estados lamentáveis e bizarros foram encontrados por turistas, patrulheiros e civis em ambientes diversos, desde edifícios abandonados a lugares isolados de florestas. 

Foram encontros terríveis o suficiente para todos questionarem sua dignidade como seres humanos. 

Como resultado, toda a polícia do Japão se mobilizou para investigarem tais bizarrices, que se tornou o terror de toda a população japonesa e um problema para o governo. 

A internet suspeitava de cultos voltados a rituais macabros. Outros, mais realistas, julgavam ser defensores de regimes problemáticos, que decidiram mostrar as caras depois de anos vivendo nas sombras. Mas nenhum desses dois grupos tinham certeza sobre algo. Era apenas especulação. 

Portanto, tudo isso permanecia um mistério para os cidadãos. Mas não para as organizações que agiam por baixo dos panos e protegiam os dias normais, mesmo que eles não fossem tão heróicos assim. 

Com ajuda do governo, a Strike Down se infiltrou na polícia e encontrou certos vestígios no sangue das vítimas — algo que apenas a tecnologia avançada deles conseguia captar. 

Era uma substância desconhecida, mas que permitia mexer nos genes e modificá-los. 

Isso os levou a crer que elas eram experimentos. Claro, para impedir que a polícia se envolvesse mais, eles sumiram com as marcas. 

“Nós cremos que os institutos estão espalhados por todo lugar. Nós não conseguimos rastreá-los de forma alguma”, Amélie mencionou, ao fim da explicação de John. “Eles são cuidadosos demais ao deixar rastros.”

“Isso… é terrível.” Hana ficou presa ao que John contou e seu coração acelerou quando imaginou cada uma das cenas.

“Sim. Nós demos um jeito de segurar as informações, mas o governo vai querer nos apressar para que a situação não se agrave.”

“As outras equipes já foram mobilizadas, só falta a gente. Estávamos esperando você voltar”, Asahi comentou, mexendo em seus óculos. 

“Seria difícil se um membro ficasse de fora.”

Ryuunosuke mostrou o polegar positivamente, sendo o líder confiável que era. 

“Entendi. Então, o que devemos fazer?”

John se levantou, à vista de todos, e olhou pela janela, soltando um rápido suspiro. 

“Sinceramente, eu não queria ter de continuar com isso, mas como foi uma decisão unânime de todos os líderes, não posso reclamar.”

“O que quer dizer?”

“Ele está dizendo que nós vamos tentar uma parceria com a Black Room. Eles provavelmente já estão se movendo e devem possuir informações valiosas.”

“O quê? Uma parceria com eles?”

A surpresa de Hana era justificável. E os membros da sua equipe também tiveram a mesma reação quando receberam a notícia que parecia vir de outro mundo. 

A Black Room não era uma organização inimiga, mas a diferença de ideais os impedia de trabalharem juntos. Enquanto a Strike Down queria se aliar a todos, a Black Room queria proteger unicamente o Japão, sem abaixar a cabeça para outros países. 

“Não seria mais fácil trabalhar com a GSN? Digo, eles não tem um objetivo claro, mas também não são iguais a Ascension.”

“É aí que está o problema. Nós não sabemos o que eles fazem, por isso suspeitamos que eles estejam envolvidos. Se conseguirmos a ajuda da Black Room, que é bem grande, uma organização pequena como a GSN vai querer se retirar do fogo cruzado.”

“É como uma garantia, então? Já que não há provas concretas de que a GSN esteja envolvida?”

“Sim. É isso mesmo. Por isso, eu quero que vocês façam contato com a Black Room e tentem conseguir uma aliança. Uma vantagem nossa é que pelo menos um dos nossos objetivos são iguais.”

“Proteger os cidadãos japoneses, certo?”

John e Amélie assentiram. 

Com a missão entregue, Hana e os outros foram dispensados; foi deixado a critério deles quando e como se aproximarem da organização. 

Enquanto os outros iam para um local diferente, Hana foi para o vestiário como havia ido diretamente para a sala de reuniões quando chegou, ainda estava com suas roupas casuais, então precisou ir se trocar. 

Após isso, Hana andou pelos corredores, pensativa. Por um lado, ela queria resolver a situação de Mayck, mas, por outro, tinha que focar em resolver esses problemas com os institutos. 

De qualquer forma, eu só posso lidar com um problema de cada vez. Se Mayck não foi reconhecido por Takashi, então pode ser que tenha uma ID envolvida e ele pode acabar descobrindo. 

Ela sabia que Mayck era um garoto inteligente e, por isso, tinha certeza que ele iria investigar isso a todo custo se percebesse do que se tratava.

Mas, desse jeito, ele vai ficar em perigo. Ele pode até descobrir sobre seus poderes… e sobre esse mundo. 

Ela pôs a mão no peito palpitante, apreensiva. O que queria proteger parecia estar indo por água abaixo. 

“Olha só, se não é Hana-san.” Uma voz calma a despertou. 

“Ah, presidente Yamamoto.”

Respeitosamente, Hana inclinou sua cabeça para cumprimentar seu superior. 

“Há quanto tempo. Se divertiu na sua viagem em família?”

“Sim. Muito obrigada por perguntar.”

Hana estava com um pé atrás. Nunca havia interagido muito com Akira, mesmo que ele tenha sido o responsável por trazê-la para a Strike Down. 

Ele era um sujeito misterioso, apesar de parecer gentil. Ninguém conseguia dizer o que ele estava pensando e qualquer um diria que havia uma energia estranha em volta dele. 

“Desculpe, presidente, mas eu tenho que fazer algo, então, com licença.” Se despendido, a garota foi se afastando. 

“Você me parece um pouco preocupada.” Ele comentou e a fez parar de andar. “Eu sei que é muito ruim o que está acontecendo, mas você tem que ser forte.”

“Está tudo bem. Eu vou me esforçar para ajudar no que puder”, ela falou com confiança. 

“Hmm… Então… Não é sobre isso.” 

“… Como assim? Você está falando dos institutos, não é?”

“Uh-uh. Não estou falando disso.” Ele balançou a cabeça levemente e com um sorriso. 

A garota ficou em silêncio. Sua confusão ficou clara em seu rosto. 

Então, do quê…?

“Mayck Mizuki…”

“Hã…?” Ouvir esse nome deu um frio em sua barriga, já que ela nunca imaginou Akira mencionando ele. Principalmente quando a conversa não tinha nada a ver com isso. 

“… Ele já retomou seus poderes. Há muito tempo, inclusive”, concluiu. 

Hana não sabia como reagir àquelas palavras que a desiludiram quanto ao seu desejo de proteger seu precioso amigo, quebrando-a como uma pedrada em um espelho. 

Ele… já usa os poderes dele… há muito tempo? Como assim?

“Você sabe o que ele fez nas férias, Hana-san? Ele matou pessoas e liderou um pequeno conflito.”

“…Que brincadeira é essa? Isso não pode ser verdade… o Mayck não…”

“Não faria esse tipo de coisa? É isso o que ia dizer?” Ele aproximou seu rosto dela, o que a fez dar um passo para trás, ainda em choque. “Você sabe o que ele fez cinco anos atrás. O que garante que ele não faria de novo? Esqueceu o motivo que te trouxe até aqui?”

“Por que você está me contando isso…?”

“Haha… quem sabe? Talvez eu só queira destruir essa sua maldita ilusão de estar protegendo alguém. Sabia que é ele quem te protege? Mesmo agora, ele está buscando uma solução para o que está acontecendo.”

A pressão que ela estava sentido era enorme. As palavras de Akira não lhe perfuravam, mas pareciam correntes que espremiam seu corpo e seu coração. 

“O que vai fazer, Hana-san? Vai continuar protegendo ele? Um assassino que matou centenas de pessoas? Não é você quem disse que queria proteger todo mundo?”

Seus olhos verdes, que viam prazer em destruir todas as crenças da garota, fixaram-se nela como se pudessem ver sua alma e o mais íntimo do seu coração. 

“… Boca…”

“Hum?”

“Cala a boca! Eu não acredito em você. Você está mentindo pra mim.” 

Furiosa, a garota empurrou Akira, e elevou sua voz. Ouvir o que menos queria era demais para ela que se esforçou por vários anos para alcançar um único objetivo. 

“Foi você que me disse que eu poderia proteger ele se me juntasse a vocês. Então, por que está dizendo que eu não consegui fazer nada?”

“haha… é porque não conseguiu mesmo. Desde a primavera Mayck Mizuki vem usando seus poderes e você nem notou. Mesmo quando ele foi perseguido por Yang, você acreditou que ainda possuía tempo.” 

Ele a encarou com uma expressão maléfica. 

“Eu não…”

“Mas, na verdade, você nunca conseguiu o que queria. E nem conseguiria. Uma hora ou outra, Mayck voltaria a usar seu poder, mais forte do que nunca.”

“Fica quieto. Eu não posso acreditar em você.”

Apertando seu punho, Hana tentou se manter firme em sua convicção. Mas ela sabia que as chances daquilo ser verdade eram extremamente altas. 

Não existia motivo para Akira mentir para ela, a não ser que ele ganhasse algo abalando-a  mentalmente. 

“Agora…”

“Hana-nee!”

Yui apareceu no corredor, acenando e chamando por Hana, fazendo-a voltar a si. 

“Bom, obrigado por me ouvir, Hana-san.” Com mais um sorriso de deboche, Akira aproveitou para se retirar, sorrindo normalmente como se nada tivesse acontecido. 

Yui se aproximou, olhando para Akira que se afastava cada vez mais. 

No entanto, ignorou ele e voltou-se para Hana, que estava imóvel, quebrando-se nas palavras que ouvira, que foram tão poderosas quanto uma correnteza que arrastava tudo pelo caminho. 

“Hana-nee, nós vamos fazer uma reunião. Vamos.”

Yui pegou a mão de Hana e tentou conduzi-la, mas notou que ela estava dispersa e cabisbaixa, não lhe dando atenção alguma. 

“Hana-nee? Aconteceu alguma coisa?”

Ela não recebeu uma resposta, mas estava fadada a não desistir. Yui não era uma garota que aceitaria ser ignorada, então insistiu em ter a atenção de Hana.  

“Ei! Está me ouvindo?” 

Ao se aproximar mais, Yui viu lágrimas escorrendo freneticamente pelo rosto de Hana que pôs a cabeça entre suas mãos, chorando silenciosamente para que ninguém visse. 

Vendo isso, Yui se alarmou e seus braços se agitavam para cima e para baixo, sem nem ideia do que fazer. 

“O-o que aconteceu, Hana-nee?!” 

Uma sensação de perda e de vazio tomaram conta de Hana, de modo que ela não conseguia dizer uma palavra sequer. 

“Vai ficar tudo bem… então não chora, tá bom, Hana-nee?”

Imaginando que era a única coisa que podia fazer, Yui a abraçou forte, esperando que pudesse ajudá-la de alguma forma. 

Por conta da diferença de tamanho entre elas, Yui apertou seu rosto contra os seios da garota. “Eu vou ficar com você.”

Hana mordeu os lábios, já que as palavras não saiam de sua garganta. Aquele abraço foi tudo o que ela precisou para desabar de uma vez, deixando suas lágrimas despencaram em cima dos cabelos rosados de sua pequena veterana. 

<—Da·Si—>

Depois de se acalmar, Hana foi até o banheiro lavar o rosto. Ela não queria ser vista com os olhos vermelhos e inchados, depois de chorar feito uma criança na frente de Yui. 

“Hana-nee, você está melhor?” Yui falou com ela assim que a viu sair do banheiro, secando as mãos com um lenço de pano avermelhado. 

Hana sorriu ao saber que sua pequena veterana se preocupou com ela. 

“Eu tô bem, obrigada. Yui-chan, poderia manter segredo sobre isso? Eu não quero preocupar todo mundo.”

“Tá bom. Mas… se tiver algo te deixando triste, pode me contar, tá bom?” Com um olhar de ternura, Yui segurou as mãos de Hana, tentando transmitir seus sentimentos. 

“Certo. Farei isso. Agora, vamos indo. Eles vão acabar ficando bravos. Você não quer que Ryuunosuke brigue com você, né?”

“Uh… tem razão. Vamos rápido.” Yui imaginou o quão chato seria ter Ryuunosuke em seu pé. Só de pensar, ela sentia calafrios. 

Com a concordância mútua, elas foram para onde o resto da equipe estava esperando, com Yui guiando o caminho. 

Depois de alguns minutos, elas chegaram até a cafeteria, onde várias outras pessoas estavam reunidas. 

Era como um grande pátio e as mesas redondas, que comportavam cinco pessoas, tinham uma distância segura entre elas, de modo que uma conversa em voz baixa não poderia ser ouvida pelos vizinhos mais próximos. 

À esquerda da porta de entrada, ficava a cantina, lugar onde os funcionários faziam seus pedidos. A cantina possuía um enorme cardápio que era atualizado toda semana, trazendo refeições variadas para os funcionários. 

Os times especiais já haviam sido mandados em suas missões, então só restava a equipe de Hana para se mobilizar. No entanto, a missão deles era algo mais especial e delicado, portanto, necessitava de um bom planejamento antes de ser executado. 

“Ah, elas chegaram”, Asahi afirmou vendo as duas entrando na cafeteria e acenou para elas, indicando a localização.

“Me desculpem pela demora.” Hana se sentou em um lugar vago na mesa redonda, junto com seus companheiros e Yui se sentou ao lado dela. 

“Hm, Hana-chan, aconteceu alguma coisa? Seu rosto está vermelho…”

“Você está com febre ou algo assim?”

Airi e Ryuunosuke notaram a aparência estranha da garota e tiraram suas conclusões. Talvez por sempre agirem como irmãos mais velhos, eles eram mais propícios a notar mudanças de comportamento nos seus colegas. 

“Ah, não, tá tudo bem. Não se preocupem com isso. Vamos decidir logo o que fazer.” A garota tentou desviar do assunto, balançando a mão esquerda, como se quisesse dissipar as dúvidas deles. 

“Tem razão? Você não me parece muito bem…” Ryuunosuke instou com ela, mas Airi interviu, notando que Hana não queria falar sobre. 

“Você está certa. Não podemos perder muito tempo.”

A voz confiante de Airi atraiu a atenção do resto do grupo, que também decidiu mudar de assunto. 

“Mas, falando sério, eu ainda não acredito que vamos tentar trabalhar com a Black Room. Tipo, não era eles quem deveriam vir pedir por ajuda? Somos um grupo maior e com apoio do governo, afinal.”

“Eu entendo você, Asahi. E, realmente, nós somos um grupo maior que eles, mas não é assim que as coisas funcionam. Um dos lados tem que abaixar a cabeça alguma hora”, Ryuunosuke explicou a situação. 

“Sim. Enquanto nenhum dos lados se render, nada vai dar certo. Mas isso não quer dizer que nós vamos nos rebaixar. Pelo contrário, se mostrarmos que não temos intenções hostis, talvez possamos ter mais chances de cooperação”, Airi completou. 

“Talvez você esteja certa… aff, mas isso é um saco mesmo. Por que nós ficamos com essa tarefa? Eles não podiam ter chamado a equipe 16? Eles são melhores em negociações do que a gente.”

A equipe 16 era uma equipe mais antiga que eles, além de ser especializada em negociações, eles possuíam muito mais experiência. Então o ponto de Asahi era justificável.

“Ouvir isso me deixa um pouco triste… você não confia na sua própria equipe? Ou talvez eu seja um péssimo líder…” Ryuunosuke abaixou a cabeça, sentindo o peso das palavras de seu colega.

“Ah! Não, foi isso que eu quis dizer… Desculpa.” Asahi se alarmou e tentou consolar seu líder. 

“Bom, deixando essas frustrações de lado…” Airi decidiu simplesmente ignorar o teatro dos dois. “É verdade que eles possuem mais experiência. Porém, deve ter um motivo que fez John-san e Amélie-san nós escolher pra isso.”

“Um motivo? O que poderia ser?” Ryuunosuke, voltando a si, pensou sobre isso, inclinando o corpo para trás e segurando a nuca com as mãos, voltando seus olhos para o teto do pátio.

“Eu não consigo imaginar nada. O que nós temos a ver com eles?”

Há algum tempo, eles deram de cara com a Black Room, mas não foi nada especial. O contato durou pouco tempo e nunca mais aconteceu desde então. 

Não parecia haver nenhum motivo. Talvez tenha sido apenas algum capricho da parte dos dois superiores, eles pensaram. 

Mas aquele breu em suas ordens parecia ter algo escondido no meio. Algo que eles não faziam ideia do que seria. 

“Bom, se nós soubéssemos o motivo, poderíamos usar isso ao nosso favor e criar um plano melhor, mas parece que não vai ser assim.”

“Isso é verdade…” 

Hana ponderou sobre a questão, mas não conseguiu chegar em nenhuma  resposta. Parte da causa era porque ela não havia tirado as palavras de Akira de sua mente, que martelavam ali sem parar. 

“Mas, primeiro, nós temos que entrar em contato com a Black Room, isso, pelo menos, está claro. Não sabemos onde ficam as bases deles, então vamos precisar de um intermediário para nós levar até lá.”

“Um intermediário, né? Isso quer dizer que vamos ter que procurar algum hoje a noite. Pelo menos dá pra diferenciar eles dos outros caçadores.” Asahi se lembrou de um ponto importante. 

Os outros partilhavam a sua opinião e também era o óbvio a ser feito. Mesmo com toda a rede de informações da Strike Down, eles não conseguiam rastrear as localizações da Black Room ou hackear seus endereços de IP — e se fizessem, ganhariam a inimizade completa da organização vizinha. 

Portanto, vagar pela noite, hora em que ocorria a guerra contra devoradores de humanos, era a única forma que eles tinham de conseguir uma chance de entrar em contato com seus, não afiliados, colegas de trabalho. 

“Então, vamos seguir um curso normal de negociação? Se nós formos com truques baratos, vamos ser dispensados na hora.”

“Hehe… isso, definitivamente, não é o que queremos.”

Airi assentiu. A Black Room não iria deixar uma tentativa de manipulação passar, e no pior dos casos, eles iriam odiá-los com todas as forças, destruindo qualquer possibilidade de aliança futura. 

“Mas o que podemos fazer…?” Com a mão no queixo, Ryuunosuke pensou no assunto, buscando a melhor solução para eles. “Vocês têm alguma sugestão?” Ele correu seus olhos entre os demais membros, mas não houve interação. 

“Eu! Vamos bater neles e obrigá-los a nos dizer pra onde ir.” Yui, empolgada, levantou a mão, dando voz aos seus pensamentos e achando que era, realmente, uma boa ideia. 

Porém, ela foi ignorada. Isso a fez cruzar os braços e inflar as bochechas, indignada pela falta de reação do outros. 

Mesmo que Ryuunosuke perguntasse, ninguém teria uma ideia naquele ponto. As informações eram poucas. E eram essas poucas informações que faziam da Black Room um verdadeiro grupo secreto. 

Havia até boatos correndo pelos funcionários da Strike Down sobre a Black Room, que diziam que ela era uma organização com princípio questionáveis. 

“Hana-san, você ficou bastante quieta. Tem alguma coisa em mente?”

“An? Quê? Ah, não. Eu não tenho nada em mente…” 

A garota quase saltou de sua cadeira ao ser chamada. Foi uma saída forçada de seu reino mental. 

“…Quer dizer, não seria melhor nós apenas sermos diretos? Como Airi-san disse, usar truques pode acabar atrapalhando…”

“É… tem razão.” Apesar de achar o comportamento dela estranho, Ryuunosuke apenas decidiu deixar de lado, pelo menos por enquanto. “Certo. Então vamos fazer assim, vamos encontrar um intermediário e chegar até o líder da Black Room. Vamos entregar nossa proposta e ajustá-la de acordo com as exigências deles.”

“É uma boa ideia. Simples, mas a melhor no momento.” Airi concordou e os demais também. 

“Vamos partir hoje a noite, às 23h. Encontro todos vocês no portão 17 da base central.”

“Certo.” Eles responderam em uníssono, sem nenhuma objeção às ordens do líder. 

Quando a noite caiu, eles se encontraram no local combinado e deram início à estapa de busca por um membro da Black Room. 

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