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Capítulo 57 – Um dia especial

Jade entrou no carro e Takashi deu partida. O destino deles era o aeroporto, onde iriam em busca de Takafumi e Tomoko e da pequena Lorena, que haviam chegado ao país para a cerimônia de casamento do dia seguinte. 

Era cedo, cerca de cinco horas da manhã e Jade observava as pessoas, casas, lojas e outros veículos que pareciam fugir rapidamente conforme o veículo avançava. 

Ela martelava em sua mente algo que parecia estar preso em suas lembranças, mas ela não conseguia trazer a tona de jeito nenhum. 

Eu vim pra cá, para a casa do tio Takashi para o casamento dele… mas como eu vim pra cá? Não me lembro de alguém ter me trazido. Além do mais, eu não sei falar japonês, então como consegui chegar até aqui?

Ela sabia que estava ali, só isso. Encontrou com Takashi na estação e foi ajudar a família da noiva nos preparativos, essas eram suas lembranças mais recentes.

Eu também conversei com Saori, mas não lembro sobre o que foi… Isso é tão confuso…

E não era só isso. Ela também tinha a sensação de que algo havia acontecido antes de chegar no Japão; alguma coisa grande. Grande o suficiente para fazer Eugênio deixá-la sair de casa — se esse fosse o caso. 

Será que eu fugi… mas, se fosse isso, como Lorena está vindo pra cá também? Bruno e Célia não virão juntos?

“Ei, tio Takashi.”

“Hum? Sim, o que foi?”

“Er… minha mãe e meu pai não vão vir?” Ela perguntou, embora receosa da resposta. Ela tinha um certo medo de falar sobre seus pais. “… meu avô também…”

“Hmm… eu não sei se eles virão. Eu convidei a todos, mas eles não responderam. Apenas você, Lorena e meus pais marcaram presença. Ninguém mais.”

“Entendi…”

“Eu também achei estranho. Afinal, eles deixaram suas crianças virem, mas as outras duas não. Eu me pergunto se algo aconteceu…” Takashi sorriu fracamente, como se estivesse decepcionado. “Bom, talvez eles só não querem vir mesmo. Hahaha.”

Sem saber que resposta dar, Jade apenas acompanhou seu riso — já que sentiu uma leve perfurada em seu peito —, e depois voltou seus olhos para a janela novamente. 

Eles seguiram o resto do caminho em silêncio, e depois de viajarem por volta de uma hora, eles chegaram até o aeroporto. 

Entraram no grande pátio, onde havia várias lojas, lanchonetes e restaurantes, e se sentaram nos bancos de espera. Depois de alguns minutos, Takashi sugeriu que eles comessem algum lanche, e Jade aceitou educadamente; já tinha se passado algum tempo desde que tomaram o café da manhã.

Jade ficou um pouco atordoada por estar só. Nas placas, palavras que ela não conseguia ler. Seus ouvidos captavam conversas que ela não conseguia interpretar. Além disso, ela sentia vários olhares nela, como se a vigiasse. Era um grande desconforto. 

Por isso, ela pegou seu celular para tentar se distrair e acessou a internet. Navegou pelas redes sociais, curtiu fotos de algumas das suas amigas, até que se cansou. 

Ele não mandou mais nenhuma mensagem?

Esse pensamento a pegou de surpresa. Junto com ele, ela abriu um aplicativo de bate papo, automaticamente. 

Ele? Ele quem? Acho que o nervosismo tá me deixando maluca…

“Desculpe a demora.” Takashi se aproximou com uma sacola na mão. “Eu não sabia do que você gostaria, então trouxe alguns onigiris. Não sei se você já comeu antes, mas eu te garanto que são bons.”

“Ah, muito obrigada. Não precisa se preocupar.”

Ela tomou a sacola e pegou o pequeno alimento retangular. Sem demora, ela o levou à boca e o saboreou lentamente. 

Após algum tempo, Takashi afirmou que o avião tinha chegado, então eles foram até o salão de desembarque para receberem seus visitantes. Eles os encontraram e após um cumprimento familiar amável, se dirigiram para o carro, pois, segundo Takafumi, o noivo também tinha que se preparar urgentemente. 

O clima de saudades no caminho estava perfeito. Takashi conversava animadamente com seus pais e Jade cuidava de Lorena, como a boa irmã mais velha que ela era. Até que…

“E quanto ao Mayck? Ele chegou bem? Não nos ligou para avisar.” Tomoko tocou no assunto com bastante naturalidade. Takafumi concordou com ela. 

“É verdade. Ele também decidiu não vir hoje?”

Eles esperaram por uma boa resposta, mas só receberam o silêncio, tanto de Jade quanto de Takashi, que olharam para eles com estranheza. 

“Mayck…? Quem é esse?”

Jade sentiu seu coração acelerar após ouvir o nome, embora ela não soubesse o motivo para tal. 

Isso é ruim. Eu tenho que fazer alguma coisa…  

Tenho que mudar de assunto. 

“”Quem é Mayck”? Fazendo piadas logo agora? Você deve estar tão animado com o casamento.” O senhor de idade sorriu.

Takashi, no entanto, não fez a mesma coisa. Ele pensava em quem seria a tal pessoa, enquanto mantinha seus olhos na direção.

“Ah, vovó, nós estamos terminando as decorações do salão. Vamos dar uma olhada mais tarde. Você também, vovô.”

Jade aproveitou a brecha para mudar o assunto da conversa, embora ela não soubesse o motivo pelo qual sentiu seu corpo gelar ao ouvir o nome Mayck. 

Quem é esse afinal?

“Oh, claro. Vamos fazer isso. Eu também estou ansiosa para ver Suzune de novo. Já faz um bom tempo.”

“Sim. Realmente. A garotinha dela também já deve estar bem crescida.”

“Haruna, não é? Ela está bem bonita mesmo.” Jade sorriu e suspirou de alívio. 

A conversa no carro mudou de rumo e seguiu assim até chegarem em casa. 

Contudo, se Jade quisesse que aquele assunto não voltasse para causar mais confusão, ela teria que pensar em uma desculpa mais plausível, pois o nome do garoto foi retomado assim que eles chegaram na casa dos Mizuki. 

“Huh? Mayck não está em casa? Talvez ele esteja dormindo?” Tomoko olhou em volta e inclinou a cabeça apoiada em sua mão. 

“É verdade… Bom, ele nunca foi de acordar cedo mesmo.” Takafumi riu e sua esposa o acompanhou. 

“Ah, é… bem, na verdade… ele dormiu na casa de um amigo… então não está aqui.”

Por que eu tô tão desesperada? A garota estava prestes a puxar os próprios cabelos para tentar entender a si mesma. 

“Entendi. Bom, então não há o que fazer. Vamos esperar ele voltar.”

Takafumi olhou para sua esposa e ela assentiu. Logo, Takashi entrou na sala — ele tinha ido deixar o carro na garagem.

“Que tal tomarmos um café? Depois eu tenho que arrumar umas coisas e vocês podem descansar um pouco. Devem estar cansados da viagem”, ele afirmou quando viu Lorena caindo de sono. 

Jade olhou para ela e deu um pequeno sorriso.

“Eu vou levar ela até o quarto.”

“Tudo bem.”

A garota pegou Lorena no colo e subiu as escadas, deixando os mais velhos a sós na sala. No trajeto até o quarto, ela suspirava involuntariamente por ter conseguido desviar a atenção de seus avós de Mayck, nem que fosse por pouco tempo. Porém, ela ainda martelava o porquê de estar fazendo aquilo, sendo que ela nem sabia quem era Mayck. 

Tem alguma coisa errada comigo. Será que é cansaço? 

De fato, ela tinha trabalhado bastante no dia anterior, mas não o suficiente para fazê-la alucinar ou cair em devaneio o tempo todo. Ela deixou de pensar sobre isso, no entanto. 

Quando a tarde chegou, ela se dirigiu até a casa de Haruna, onde iriam organizar o restante das decorações e levá-las para o salão, que ficava um pouco longe de onde moravam. Por conta disso, um tio de Haruna se ofereceu para levar com uma van. 

Jade chegou na casa e já estava uma correria — bem mais do que antes. Isso se devia ao fato de que o casamento ocorreria no dia seguinte. 

Haruna estava dispersa, e por mais que Jade não pudesse entender o que ela dizia, dava para ver o nervosismo estampado em suas expressões. No entanto, parecia haver mais do que isso. 

“O que houve? Por que ela está tão quieta?” Usando o app de tradução, Jade perguntou à Keiko, que respondeu da mesma forma. 

“É que a tia Suzune foi pro salão de beleza hoje de manhã. Então Haruna ficou nervosa, mesmo o casamento não sendo dela. Essa garota, viu.” Keiko riu.

Então é isso. Bom, eu não julgo. Não posso dizer que sei como é, mas eu consigo imaginar essa insegurança. 

De certa forma, Jade podia sentir o mesmo que Haruna. Eram sentimentos parecidos, mas voltados para situações diferentes.

“Ah, Jade-chan, pode me ajudar a revisar os cartões de agradecimentos aos convidados? Eu ia pedir a ajuda de Keiko, mas ela é muito desleixada…”

Saori se aproximou, também usando um aplicativo de tradução. Por conta disso, Keiko não entendeu o insulto que acabara de receber gratuitamente. 

“Uhum. Tudo bem.”

Ela aceitou. 

Isso me lembra, que o tio Takashi vai cuidar do cardápio da festa. Foi o que ele disse antes de sair. 

As duas garotas seguiram até a sala e começaram a verificar e separar os cartões, que estavam muito bem decorados e guardados em um envelope vermelho com o nome do convidado. 

A tarefa era simples, verificar se não estava faltando nenhum e organizá-los de forma que a entrega fosse feita sem mais problemas. Talvez não fosse uma tarefa tão simples assim, mas Jade não se sentiu intimidada. Isso até ela lembrar que não conseguia ler nomes em japonês. 

Tudo o que lhe restou foi comparar as formas como estavam escritos, tanto no envelope quanto na lista de nomes no computador, o que também fazia a mente da garota girar. 

“Então, conto com você~.”

Havia muitos deles. Não chegavam a duzentos, mas ainda eram muitos. 

Depois de uma hora de trabalho com quinze minutos de descanso, elas finalizaram. 

“Ufa… acabamos.” Saori se deitou no sofá relaxadamente e esticou os braços, o que fez sua camiseta subir um pouco, revelando sua barriga em forma. 

Jade acabou reparando nisso, mesmo não querendo. 

Ela pratica algum esporte?

“Obrigada pela ajuda, Jade-san. Se eu estivesse sozinha poderia levar o dia inteiro e temos que levá-los pro salão hoje ainda. Não que sejamos nós a fazer isso.”

Jade não entendeu, então apenas sorriu. 

A campainha tocou, e Haruna, como a dona da casa no lugar de sua mãe, foi atender. 

Era Tomoko, que foi fazer uma visita, e junto com ela estava Lorena, que se escondeu parcialmente atrás dela. 

“Ah, Haruna-chan, há quanto tempo”, ela falou sorrindo. “Você cresceu bastante.”

Haruna ficou confusa por um momento, mas logo se recordou de quem era. 

“Tomoko-obaasan.” Ela sorriu de volta e abraçou a senhora com respeito. “Takashi-san disse que você viria, então estávamos te esperando.”

“É mesmo? Que bom que não estou sendo intrometida.” Ela riu. 

“Não se preocupe. Minha mãe não está aqui agora, mas entre. Nós estamos terminando algumas coisas e vamos até o salão.”

“Entendo. Se tiver algo em que eu possa ajudar…”

“Tá tudo bem. Não precisa se preocupar e quem é a pequena?”

“Essa aqui é minha neta, Lorena. Vamos lá, do jeito que eu te ensinei. Diga “oi” para Haruna-chan”, ela sugeriu para a pequena garota, que, timidamente, embaralhou as palavras ao pronunciá-las, mas conseguiu dizer. 

“Muito prazer, Lorena-chan.”

Elas entraram e Haruna fechou a porta. As duas começaram a conversar e Jade as ouviu, mesmo sem entender.

“Boa tarde a todos, pessoal.” Tomoko cumprimentou os presentes com uma leve reverência, e eles retribuíram educadamente. 

Depois de mais algum tempo, Jade, juntamente com Haruna, Tomoko, Midori e Kaori, prima mais velha de Haruna, partiram de carro para o salão, levando cerca de meia hora até ele. 

Keiko queria ir junto, mas foi obrigada a ficar e ajudar com outras tarefas, já que ela havia jogado todas as suas para Jade. 

“Esse é o lugar”, Kaori afirmou depois de estacionar em frente a um enorme portão branco. 

“Aqui?” Midori pareceu confusa, já que não tinha muito o que ver do lado de fora. 

“Uhum. Vamos lá. Vocês vão se surpreender com o tamanho do lado de dentro.”

As cinco desceram do carro e tocaram a campainha ao lado do portão, até que um homem alto, usando uma roupa social — que fora vestida de forma relaxada — as atendeu. 

“Cheguei, pai.” Kaori acenou com um sorriso no rosto. 

“É eu tô vendo… Haruna veio junto?”

“Boa tarde, tio Hiroshi.” Haruna e Midori fizeram uma breve reverência e Jade as imitou. 

O homem retribuiu o gesto e correu os olhos pelo grupo, se deparando com uma figura que ele não via há algum tempo. 

“Tomoko-san. Que bom vê-la aqui.” Ele estampou um sorriso em sua carranca natural. 

“Olá, Hiroshi. Já faz um bom tempo, né?”

“Sim. O quê, uns dois anos? Takafumi veio junto?”

Eles se abraçaram com gosto, mas logo se afastaram. 

“Veio. Ele deve estar com Takashi nesse momento. Eles foram para algum lugar e devem estar de volta no fim da tarde.”

“Entendo. Ele deve querer passar um tempo com o pai. Bom, vamos entrar. As decorações já estão quase todas organizadas. Falta pouco para terminar.”

Ele abriu o portão, de modo que todas pudessem passar. 

Elas passaram por um enorme átrio ao ar livre, rodeado por um muro extenso que envolvia toda a área, onde havia várias mesas redondas posicionadas e cobertas com finos e lisos tecidos branco; o mesmo que Jade dobrou no dia anterior. Em cima delas, vários arranjos de flores animavam o ambiente. 

O local era grande o suficiente para abrigar dezenas de pessoas e ainda sobrava muito espaço. Sem contar o ar elegante que ele passava. Além do mais, era rodeado por um jardim, onde um caminho de tijolos levava até o salão principal, que deixava uma sensação de estar andando por uma paisagem natural. 

Jade se perguntava quanto foi que pagaram por aquele lugar. 

Quer dizer… minha noção de ienes para reais não funciona, então eu não poderia dizer. Mas com certeza foi bem caro. 

Eles chegaram até duas grandes portas de madeira escura e Hiroshi abriu-as, revelando um salão imenso com vários bancos de madeira enfileirados tanto na direita quanto na esquerda.

Um tapete vermelho se estendia desde a porta até um altar com uma tribuna de vidro. Em volta deles, uma cortina branca e vermelha decorada com flores, que se estendia por todo o salão. 

As garotas ficaram com brilho nos olhos. Aquele era um lugar extremamente lindo aos olhos delas. Para Haruna, era o lugar onde seria realizado o casamento de sua mãe, o que o tornava ainda mais especial. 

“O que acharam? Bonito, não é?”

“Bonito? Isso é… isso é… Eu não tenho palavras no meu vocabulário para descrever.” Midori mal continha sua animação.

Haruna, porém, manteve-se em silêncio. Embora estivesse admirada e sem palavras, ela não conseguia conter a insegurança que a tomou de repente e a fazia querer fugir de todo mundo naquele momento. 

Seria medo por sua mãe estar indo para longe dela? Ou ela tinha medo do que viria depois? Não conseguia responder isso de forma alguma. 

Tomoko percebeu que a garota cerrou os punhos e abaixou o olhar, então pôs as mãos nos ombros dela.

“Haruna-chan, minha filha, olhe pra mim.” 

Ela o fez. Seus olhos trêmulos corriam para todos os lados, mas não paravam em Tomoko, que subiu as mãos e segurou o rosto dela para ajudá-la a fixar seu olhar nela. 

“Escuta. Eu sei o que você está sentido. Amanhã vai ser um dia especial tanto para sua mãe quanto para o meu filho. Então, faça desse, um dia especial pra você também. Ela não vai te deixar e nunca nem pensou nisso.”

“… Eu sei.. é que… eu não sei como vou olhar pra ela ou que eu devo dizer.” Ela segurou seu braço esquerdo e abaixou o olhar novamente, assim como sua voz trêmula, tentando reprimir as lágrimas que insistiam em cair. 

“Tá tudo bem. Vai ficar tudo bem. Não é só você que está se sentido assim. Eu tenho certeza que Suzune está tão nervosa e insegura quanto, mas isso é justificável, já que é uma decisão que vai impactar o resto da vida dela.”

Gentilmente, ela tomou Haruna em seus braços e a segurou firmemente, dizendo em seu ouvido:

“… É por isso que você precisa estar lá para apoiá-la. Você é o tesouro que ela não largaria por nada nesse mundo. Então sorria, porque tudo vai dar certo.”

Essas palavras soaram como uma chave que soltou as algemas da insegurança de Haruna, e a permitiu deixar as lágrimas rolarem por seu rosto e cair nas roupas de Tomoko, enquanto elas permaneceram abraçadas. 

Jade não entendeu uma palavra sequer, mas, conhecendo sua avó, ela tinha certeza do que se tratava. Um sorriso surgiu em seu rosto, até que Midori pulou sobre ela e a agarrou, se afundando em lágrimas.

“Aaaaaah… isso é tão lindo~. Eu não sabia que ela se sentia assim. Tomoko-obaasan é uma pessoa tão gentil…”

Jade riu (mesmo sem entender). Hiroshi observou-as com um sorriso, enquanto pensava em como aquela senhora conseguia cativar o coração das pessoas ao seu redor com tamanha gentileza e amor. 

Você conseguiu uma sogra e tanto, Suzune. 

Após isso, elas fizeram mais um tour pelo salão, cozinha e buffet, antes de retornarem para casa. Nesse meio tempo, Tomoko se reencontrou com outros familiares de Haruna e os saudou educadamente, o que lhe fora retribuído da mesma forma. 

Elas pensaram em ajudar, mas já tinha gente o bastante para cuidar das decorações, então era desnecessário e Haruna foi aconselhada a passar um tempo com sua mãe. 

Assim, elas retornaram para casa.  

<—Da·Si—>

A tarde se foi, e a noite chegou. A ansiedade fez todos dormirem cedo, para que ficassem descansados na hora do casamento.  

Juntamente com esse evento, as aulas também retornaram, mas não era como se as garotas fossem pra escola em um dia tão especial. 

Os noivos se levantaram cedo. Eles tinham que estar totalmente preparados para o evento que começaria no final da tarde — perto das 17h.

A manhã e a tarde agitadas passaram rapidamente enquanto Suzune estava no salão, arrumando seus cabelos, maquiagem, e o mais importante, o vestido de noiva. 

“Minha nossa, você está mais linda do que imaginei”, a dona do salão, Reine, falou, enquanto suas mãos cobriam sua boca, com seus olhos brilhando. 

“Hehe… assim eu fico um pouco mais nervosa…” Suzune fechou os olhos e sorriu, fazendo sua aparência melhorar em 120 por cento. Claro, as assistentes de Reine também vibraram com aquilo. 

“Nós já vestimos diversas noivas, mas cuidar de uma combinação tão especial como você é algo extraordinário.”

“Realmente. Seus olhos azuis combinaram perfeitamente com a tiara e o colar de pedras azuis. Além disso, seu rosto puro e inocente, que mais parece o de um anjo, te tornam ainda mais perfeita.”

“Ahaha… parem com isso…” 

O rosto de Suzune enrubesceu e ela puxou o véu para se esconder, mas acabou sendo repreendida, pois poderia borrar sua maquiagem. 

“Caramba, tenho que dizer: Takashi é um sortudo por encontrar uma noiva tão linda.”

“Não digam isso… eu que sou sortuda por ter ele.”

“Awn~… que amor.” Reine e suas assistentes pularam de alegria. 

Por outro lado, a feição de Suzune mudou lentamente e se transformou em um sorriso solitário, chamando a atenção das outras mulheres presentes. 

“O-o que foi, Suzune-san? O que aconteceu?”

“Não é nada… eu só… me pergunto o que Haruna pensa disso.”

“Haruna-chan? O que houve? Ela mostrou alguma objeção sobre o casamento?”

“Ela não demonstrou nada, mas… ontem quando eu a chamei para vir comigo, ela se recusou e falou que eu deveria fazer isso sozinha…”

“Mas por qual motivo ela faria isso? Da última vez que ela veio aqui, ela parecia tão feliz por você.”

“Isso é verdade, mas…” as palavras de Suzune ficaram presas em sua garganta. Ela sentiu medo de falar alguma coisa que pudesse magoar Haruna, caso ela ouvisse. E também não queria estar falando besteira ou sendo egoísta demais. 

Ela quis chorar, mas se segurou, para não borrar a maquiagem que havia levado mais de uma hora para ser terminada. 

“Vai ficar tudo bem. Ela deve estar nervosa por ser uma criança. Além do mais, esse é o seu primeiro casamento, não é? Ela pode estar insegura disso tudo, mas se você conversar com ela direito, ela vai entender.”

“Sim, sim. Haruna-chan é uma boa garota, afinal.”

“É verdade… muito obrigada. Eu estava com um pouco de medo, mas… eu vou falar com ela hoje ainda.”

“Isso, menina. É assim que se fala. Agora põe um sorriso nesse rosto e se prepare, pois a hora está chegando.”

Suzune assentiu com um sorriso. Reine e suas assistentes comemoraram o sucesso do vestido da noiva e admiraram sua beleza mais uma vez. 

<—Da·Si—>

Takashi se olhou no espelho mais uma vez. Ele não conseguia parar quieto num canto e Takafumi já estava ficando cansado de ver seus movimentos repetitivos. 

“Por que não relaxa um pouco? Você está muito nervoso; vai acabar assustando a noiva.”

“Eu não tô nervoso.”

“Não precisa de muita coisa pra saber. Bom, mas eu não te julgo. Eu me lembro de quando estava prestes a me casar. Também não conseguia parar quieto até levar um esporro do meu sogro, que me falava pra ficar calmo ou então deixaria sua pérola mais ansiosa do que já estava.”

“Eu me pergunto quantas vezes já ouvi essa história…”

Pai e filho riram. Foi uma boa forma de acalmar os nervos de Takashi, que tentava colocar a lapela corretamente. 

Vendo seu esforço, Takafumi se levantou e foi ajudá-lo. 

“Sabe, a flor de jasmim representa a paz e a inocência. Perfeito para o casamento de dois pombinhos que nunca se casaram antes.”

“Ugh… eu senti essa ironia. Mas, eu não sabia que você conhecesse tanto assim de flores.”

“Eu não conheço. Sua mãe que me fez aprender algumas coisas na marra.”

“Hahaha. Eu imagino isso acontecendo.”

A campainha tocou e Takafumi foi atender. Era Masato, que já estava pronto, totalmente arrumado, até seu cabelo estava diferente. Ele entrou com um enorme sorriso estampado em seu rosto, após cumprimentar Takafumi. 

“Finalmente chegou o grande dia, hein, Takashi. E então, está nervoso?”

“Eu gostaria de estar mais confiante, sabe…”

“Hahaha.” Ele riu e logo suspirou, olhando para cima como se estivesse buscando memórias antigas. Um sorriso cheio de nostalgia se formou em seu rosto. “Ah, isso me lembra de quando eu estava prestes a me casar…”

“Parou aí.” Takashi o interrompeu, estendendo a mão na frente dele. “Você também já me contou isso várias vezes.”

Os três riram por alguns segundos, de forma totalmente amigável, enquanto seus laços eram fortificados por causa do evento que estava perto  de acontecer.

Em poucos minutos, outros homens igualmente arrumados chegaram na casa. Se tratavam dos padrinhos do casamento que decidiram apoiar Takashi, além de alguns familiares de Suzune e amigos deles. 

Eles conversaram, riram, se confortaram e as horas se passaram. Era o momento de sair de casa direto pro salão. 

Takashi foi com seu pai e Masato, que dirigiu, pois, segundo ele, o noivo poderia ter algumas regalias em um dia tão importante. Quando chegaram ao salão, viram que ele estava lotado. Não era à toa que havia tantos carros estacionados na frente do salão. 

Assim que entrou, Takashi cumprimentou a todos que vinham até ele com um sorriso e se deixou levar pela emoção do momento, parando para conversar com mais de dez pessoas de uma só vez. 

Em outro lugar, mas não muito longe dali, Suzune parou de frente a um espelho. Ela estava em casa, confortando a si mesma. Tsukiko havia acabado de sair, então ela estava sozinha. 

As pessoas que estavam carregando o restante das decorações também já tinham ido embora há um tempo, para se arrumarem e irem na frente para o salão de festas. 

Ah, que nervoso… não pensei que fosse tão difícil. 

Ela pôs as mãos em suas bochechas, como se fosse diminuir a velocidade com que seu coração batia. Desde que saiu do salão de beleza, ela não tinha conseguido se livrar da vermelhidão em seu rosto. 

Eu não posso ficar assim… 

Passos na escada chamaram sua atenção e ela virou-se rapidamente para ver quem era. 

“Uh? Mãe?”

“Haruna? Você estava aqui?”

“Sim, eu…” A garota calou-se, ou melhor, ela não conseguia dizer nada. Sua mãe estava linda. De um jeito que ela nunca tinha visto antes. Sem que ela percebesse, um sorriso surgiu em seu rosto e ela foi involuntariamente até Suzune, que também não sabia o que dizer. 

“Haruna…”

A garota não ficava para trás. Seu lindo vestido azulado realçava as cores de seus olhos, assim como seu cabelo penteado com uma coroa de tranças e solto que lhe dava um ar de pureza. 

“Esse vestido ficou lindo em você. Seu penteado está perfeito também”, Suzune falou, quando encontrou as palavras certas. 

“Reine me ajudou a fazer, mas eu digo o mesmo de você. Nunca tinha visto você se arrumar tanto assim.”

“É mesmo, né?” 

Uma breve risada fugiu das duas. 

“Hoje é um dia especial, não é?”

“Sim…”

“Eu… er… me desculpe por ter agido estranho nos últimos dias. Eu só não sabia o que dizer a respeito…” 

Haruna abriu a boca e começou a falar, mas foi interrompida de repente por Suzune, que a puxou para um abraço e ficou em silêncio por um tempo. Haruna também achou melhor não dizer nada enquanto isso. 

“Haruna. Obrigada por ter me apoiado até hoje. Esse é um dia especial pra mim e eu fico muito feliz de poder compartilhar ele com você, minha linda e preciosa filha.”

Seus olhos se encheram de lágrimas, mas elas resistiram. 

“Obrigada, mãe. Eu quero que você seja feliz a partir de hoje.” 

“Boba. Eu sempre fui feliz com você. Eu te amo, minha filha.” 

Haruna a abraçou com mais firmeza e Suzune fez o mesmo. 

“Eu também.”

“Certo. Já está quase na hora. É melhor irmos, não é?” Envergonhada e com o rosto corado, a garota se afastou de sua mãe e andou até a porta. 

Suzune riu, mas concordou com ela e a seguiu. 

Quando estavam prestes a sair de casa, encontraram Tsukiko e Reine esperando por elas ao lado de um carro preto que parecia ser um modelo do ano. 

“Estão prontas?” Tsukiko perguntou sorrindo. Ela e Reine estavam usando vestidos parecidos com o de Haruna, por serem madrinhas no casamento. 

“Sim. Vamos indo.”

“Então entre logo. O noivo pode acabar ficando impaciente se nós demorarmos demais.”

As quatro entraram no carro, que seria dirigido pelo irmão mais velho de Suzune, mas elas preferiram chamá-lo de motorista particular. 

Eles seguiram para o salão e quando chegaram, levaram uns vinte minutos para acalmar o nervosismo da noiva. 

Antes dela, os padrinhos entraram. Dentre eles: Reine e seu marido, Makoto, Tsukiko e Masato. 

Hana também estava presente, mas ela decidiu ficar longe dos olhos das pessoas, mesmo que estivesse tão bonita e bem arrumada. O motivo, porém, era que os protagonistas daquele evento não faziam ideia de quem ela era. Portanto, era melhor não causar confusão. 

Mayck não está aqui… isso deve ser difícil pra ele. Ela pensou enquanto olhava ao redor e não o encontrando. 

Embora ela soubesse a situação e como deveria agir, ela não pode se sentir excluída ao ver Haruna e as outras garotas rindo, animadas com o andamento do casamento. 

Depois de algum tempo, finalmente a noiva entrou, carregando um buquê de rosas e um céu cobrindo seu rosto. A festa parou para admirá-la e a playlist foi trocada por uma música típica de casamento. O pai de Suzune, Naoki, foi até ela para levá-la ao altar, onde Takashi a esperava. 

Era o grande momento. 

Cada passo no tapete vermelho fazia Suzune estremecer. Ela sabia que logo sua vida mudaria — para melhor, ela esperava. Os convidados a observando. Alguns sorrindo, outros chorando. A mulher sentia seu rosto queimar e seu coração não se acalmava nenhum pouco, por mais que ela tentasse se confortar. 

Ela passou pelo átrio, diante dos convidados que não ousavam desviar o olhar um segundo sequer, e chegou ao salão principal, podendo ver Takashi, que a observava entrar totalmente estático. Ele sentia vontade de sair correndo dali e tomar sua futura mulher em seus braços, mesmo não conseguindo ver seu rosto, que estava coberto pelo véu. Precisava se conter, no entanto. 

A noiva chegou até ele. Naoki sorriu para o noivo e se afastou — um sinal de que estava entregando sua filha nas mãos dele. 

Os dois se olharam e viraram-se para o homem que realizaria a cerimônia de casamento. Seus corações estavam em sincronia. O senhor, que era bem mais velho que eles, abriu a boca e começou a pronunciar suas palavras. 

Esse momento parecia mágico para os dois. A vontade de pular todo aquele pronunciamento era imensa, mas Takashi não faria algo tão ridículo quanto isso. 

Ele estava feliz — quase explodindo de alegria, na verdade —, mas sentia falta de algo. Enquanto a cerimônia estava em andamento, ele, involuntariamente, olhou para a esquerda e para a direita rapidamente, como se procurasse alguém. 

Ao lado direito, Takafumi, Naoki e Masato. Do outro, Tomoko e Tsukiko. Do lado dos homens estava faltando alguém… ele sentia isso… 

Mas… quem?

Ao fim do pronunciamento do homem que celebrava o casamento, Takashi e Suzune fizeram suas juras e tiveram a permissão para o beijo. 

Os convidados vibraram e aplaudiram, tal qual uma torcida de futebol animada ao ver seu time vencer. Os choros se multiplicaram, os sorrisos ainda eram maioria, no entanto. 

O novo casal se voltou para os que assistiam e acenaram, fazendo com que eles se agitassem ainda mais. 

A cerimônia foi concluída. 

Cinco garotas se afastaram e foram para trás dos demais convidados, que tinham suas atenções presas ao casal. 

Keiko, Saori, Midori, Aiko e Yuriko. 

Elas tinham sorrisos vitoriosos em seus rostos, enquanto olhavam para a lua, que brilhava no céu usando a luz do sol. 

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