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Capítulo 59 – Proposta irrecusável

Com o término das aulas diárias, Mayck se dirigiu para a saída da escola, onde encontrou Saki que estava à sua espera. Ela parecia nervosa e mexia em seu cabelo o tempo todo, enquanto lançava olhares ocasionais para os outros alunos, aparentemente procurando pelo garoto. 

“Desculpa. Você esperou demais?” Ele acenou assim que a viu e se aproximou. 

“Ah, não. Eu acabei de sair”, ela respondeu entre sorrisos e se endireitou de frente a ele, tentando conter seu nervosismo. 

“Ah, que bom. Então vamos dar uma volta. Podemos conversar enquanto isso.”

“Tá legal.” Ela aceitou sem desfazer seu sorriso. 

Os dois se puseram a caminhar na direção da estação, onde também ficava o centro comercial da cidade. O calor do fim da tarde já não era mais tão forte quanto o do começo, então uma caminhada lenta deixava as pessoas aproveitarem aquele calor aconchegante. 

Mayck e Saki não eram diferentes. O garoto a ouvia com um leve sorriso enquanto ela lhe contava as aventuras que teve em sua viagem nas férias e também onde estava localizado o problema que ela queria contar. 

O sorriso dela se fechou quando viu que era hora de mudar o tópico da conversa. 

“… nós fomos até a praia, e uns caras mexeram com a gente. Claro, eu queria proteger ela, então me impus. Quando eu mandei eles se afastarem…” ela fez uma pequena pausa antes de continuar. “Um jet ski saiu do mar e foi direto pra cima dele.”

Ela terminou seu relato e Mayck ponderou por um momento. 

“Hmm… entendi. Então foi a mesma coisa que aconteceu na escola…”

“Sim…”

Talvez suas suspeitas estivessem certas e Saki pudesse controlar o destino de um alvo até certo ponto. Mas, claro, ele precisava ver de novo com seus próprios olhos. Até porque se Saki aprendesse a controlar sua ID, ela poderia se tornar uma aliada ou uma inimiga poderosa, dependendo de como ele levasse aquela situação. 

“Certo. Que tal fazermos alguns testes?” 

“Testes?”

Ele assentiu. 

“Pra começar, temos que saber como ela funciona. Você pode ordenar o que você quiser ou só algo que precisa no momento? Temos que descobrir isso. E também sobre o alvo…”

Mais do que isso, ele queria saber se funcionava como sua <Manipulação de Alma>, que ele só precisava escolher seu alvo ou se havia condições como o <Deslumbramento> de Jade. 

Ele olhou ao redor, procurando um alvo, e avistou um grupo de garotos com uniformes escolares diferentes dos deles — implicando que eram de outra escola — e que pareciam mais velhos também. 

Mayck disse a Saki para dar uma ordem a eles. Ela se perguntou se estava tudo bem fazer isso com pessoas aleatórias, mas não recusou. 

Ela respirou fundo e olhou fixamente para o grupo, que estava fazendo compras numa máquina de bebidas. 

“Se molhe”, Saki ordenou, pensando que poderia fazer a latinha explodir e encharcar todo do grupo. 

Mas nada aconteceu. 

“Hm… parece que não funciona”, ela falou com certa decepção na voz. 

Isso, porém, ampliou as dúvidas. 

Será que existem comandos específicos?

Mayck cogitou a possibilidade e achou melhor não descartá-la. Em seguida, disse para a garota tentar ordenar ele a fazer algo. Ela ficou com um pé atrás e acabou ficando envergonhada ao pensar que podia mandar o garoto fazer qualquer coisa. 

Seus olhos correram por todos os lados, mas não paravam fixos em Mayck. Seu rosto completamente vermelho e sua mente quase tendo um curto. 

É tudo pelo bem da pesquisa, não é? Então eu posso mandar ele fazer qualquer coisa, né?

“O que houve? Você não quer?”

Mayck inclinou a cabeça. 

“Não!” Ela deu um grito desesperado. Depois pôs as mãos em frente aos seus lábios e olhou para o lado. “Quer dizer… eu quero… é só que aqui é meio embaraçoso.”

“Ah. Tudo bem, então. Vamos para outro lugar.”

Ela balançou a cabeça em confirmação e o seguiu até um parque, não muito longe dali. Quando chegaram, viram que várias crianças brincavam no parque e estava uma barulheira. 

“Deve ser porque tem uma pré-escola aqui perto… bom, você não se incomoda se forem apenas crianças, né?”

“Não… tá tudo bem.”

Contanto que eles se mantivessem atentos aos arredores tudo ficaria bem, provavelmente. 

Eles foram até um ponto mais afastado das crianças, perto de um banco, e se sentaram.

Mayck esperou, pacientemente, enquanto Saki pensava em mil e uma coisas que poderia ordenar ao garoto. Mas ela voltou para a realidade e respirou fundo com a mão sobre seu peito. 

Ela levantou seu olhar e olhou nos olhos do garoto. Após um suspiro, ela abriu os braços e a boca.

“Me-me abrace”, ela falou, embora constrangida e com vontade de se enfiar em um buraco. 

Nada aconteceu e o rosto dela só ficou mais vermelho e quente. 

“É… parece que não funciona com ordens assim…” Mayck ignorou o comando e pensou. “Quando funcionou, você tinha dado ordens mais extremas. Será que só dá certo assim?”

Ele olhou para a garota que estava escondendo seu rosto com as mãos. 

“Por que não tenta outra coisa?” Ele se moveu para olhar o rosto dela, já que ela tinha ficado de costas para ele, mas isso só a constrangeu ainda mais. 

“Nã-não olha pra mim agora.”

Embora sem intenção, ela falou de forma um pouco agressiva e, pouquíssimos segundos depois, uma bola de futebol acertou em cheio o rosto de Mayck, que acabou se afastando rapidamente, cobrindo o rosto. 

“Ah, droga.” Havia caído terra em seus olhos. 

“Desculpa, moço…, você está bem?” Algumas crianças foram até ele, preocupadas, para pegar a bola. 

“Tá tudo bem… não se preocupem.” Ele balançou a mão, mas com seus olhos ainda fechados.

As crianças se curvaram levemente e saíram correndo. 

“Me desculpa… eu acho que isso é culpa minha, não é?” Saki se desculpou, alarmada, sem saber o que fazer. 

“Tá de boa, relaxa… pelo menos a gente conseguiu descobrir algo.”

Com esse incidente, Mayck pode presumir que as ordens só funcionavam quando Saki precisava delas e não qualquer desejo que ela tivesse. Além de só funcionar com alguém que estivesse em contato com ela. 

Depois de lavar o rosto ele explicou isso à garota. Mas, obviamente, era só uma explicação rasa baseada no que ele presenciou. Poderia ter mais coisas que ela poderia descobrir sozinha ao longo do tempo. 

“Dito isso, Saki-san, eu não posso ignorar você, que possui uma habilidade tão poderosa assim. Se eu te deixar livre por aí, você pode causar problemas, ou pode ser descoberta por alguém.”

“Entendo…” ela abaixou a cabeça, percebendo que não ainda não tinha a confiança total do garoto — mas era claro que aconteceria aquilo. Depois de tudo o que aconteceu entre eles, não tinha como as coisas se resolverem tão facilmente. 

“Por isso, eu vou te ajudar a controlar antes que fique mais problemático. E também não use esse poder até que você saiba como usá-lo muito bem.”

“Tá bom. Eu não vou usar…”

Mayck a fitou. Ele sabia que estava sendo rígido, mas não havia outra escolha. Mantendo ela sob seus cuidados, ele prevenia muitas coisas como o que aconteceu com ele mesmo. Saki ainda não tinha completado quinze anos, isso queria dizer que algo poderia mudar até que isso acontecesse. 

Portanto, era melhor dar um jeito de ensiná-la a controlar sua ID antes que ela se desenvolvesse por completo. E não era só isso, também existia a possibilidade dela ser perseguida por alguma organização. 

“Enfim, só mantenha seu poder em segredo das pessoas, tá bom? Se quiser arriscar usar ele, vá em frente, mas saiba que terá de arcar com as consequências.”

Ela poderia ser repreendida pela Strike Down ou pela Black Room, e sua vida nunca mais seria a mesma. 

Mayck se virou, pronto para sair do parque. Seus assuntos já tinham acabado ali, mas não era assim para Saki, pois, no calor do momento, ela agarrou seu braço o fazendo parar. Ela queria saber de algo mais. 

“Espera…” 

“O que foi?” 

Ele olhou nos olhos dela, mas ela desviou o olhar, se perguntando o que ela mesma estava fazendo, já que as palavras se prenderam em sua garganta. 

“Você… você também tem um poder… o que você faz com ele? Eu quero saber”, ela se expressou, apertando o braço de Mayck embora ela tentasse segurá-lo de forma mais delicada. 

O garoto a olhou por alguns segundos. Dava para ver os olhos da garota tremendo de curiosidade misturada com o medo de ser repreendida. No entanto, não tinha motivos para contar. Não havia benefícios em contar. 

“Por que quer saber isso? Não é nada demais.” Ele olhou para frente, querendo dispensá-la, mas ela insistiu. 

“Você nunca me falou sobre você… Sempre pareceu ser alguém que não liga pra nada, mas eu sei o quanto se preocupa com as pessoas ao seu redor. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, eu ainda quero saber mais sobre você. Eu não me importo se for algo perigoso… eu só quero saber.”

Mayck suspirou. A insistência dela era irritante e o deixava com os nervos à flor da pele. Se fosse o Mayck de alguns meses atrás, ele teria a tratado com frieza e mais grosseiramente. 

Entretanto, ele precisava se manter calmo. Até porque tinha parcela de culpa no que ela havia se tornado. 

“Você saber isso vai servir em quê? Você vai me ouvir contar tudo e do nada as coisas vão se resolver? Não, não vão. Por isso não existe motivo pra eu contar.” Ele afastou a mão dela de seu braço e saiu lentamente sem olhar para ela. “Eu vou te ajudar, mas se quiser descobrir mais, faça isso sozinha.”

A vida não era um morango. Nunca foi e nunca seria. 

Se ele simplesmente contasse como as coisas eram, ela poderia pensar como uma criança e achar que, ficando forte, poderia salvar todo mundo. Ela se tornaria uma Hana Tsubaki, mas completamente ingênua. 

Depois que descobrir isso, você vai ter que decidir se sai ou continua. Uma decisão que ele mesmo só conseguiu responder há pouco tempo. 

Ele saiu do parque, deixando Saki para trás, que o viu partir enquanto lutava para as lágrimas não fugirem de seus olhos. Ela se via, mais uma vez, perdendo alguém importante para ela.

<—Da·Si—>

Às 20h, como combinado, Mayck foi para a estação. O clima havia esfriado bastante comparado a como estava durante a tarde. Isso o obrigou a por um moletom, caso contrário ele passaria um pouco de frio, já que Hana chegou lá quase uma hora depois. 

Ela se desculpou imediatamente. O motivo, que ela nem tentou esconder, era porque estava tendo uma reunião com sua equipe — algo bem comum na Strike Down, que era realizado sempre que um incidente grande era resolvido. 

Não havia problemas pelo lado do garoto, apesar de ele reclamar que quase morreu esperando por ela, tudo para fazê-la se desculpar mais uma vez. 

Os dois decidiram caminhar um pouco. 

“Parece que o problema com os institutos foi resolvido, pelo menos por enquanto”, Hana comentou. “Os presidentes estão preocupados se deixaram algo passar.”

“Algo passar? Como assim?”

“É que mesmo tendo resolvido isso, o objetivo deles não ficou claro. Os interrogados disseram que estavam apenas atrás de um poder novo, mas eles não acreditaram nisso totalmente. Então as investigações vão continuar por um tempo.”

“Entendi… mas, espera, tá tudo bem você me contar isso? Tipo, não são informações confidenciais?”

“Bom, ainda existe um acordo entre o time de ataque n°8 e M-san, não é?”

“Eu pensei que seria anulado assim que tudo acabasse.”

Não tinha acabado. Afinal, as investigações iriam continuar, Hana reforçou, e ela contaria mesmo que não fosse isso, o que deixava mais óbvia e clara a confiança que ela tinha em seu amigo. 

Mas ela era um pouco ingênua demais quando estava perto dele, Mayck pensou. Nem ele mesmo sabia quando poderia quebrar e decidir fazer algo ruim. 

Eu tenho que me controlar a todo custo. De repente, ele sentiu muita expectativa em cima de seus ombros. 

“Ah, e sobre o jogo que você falou que queria, eu estava pensando, e quem sabe tipo um jogo de tabuleiro?” Ela articulou essas palavras olhando fixamente para o garoto, que a olhava de volta. 

“Tabuleiro? Pode não ser ruim… mas como seria isso?”

“Bom, a gente pode criar missões e levá-las para diferentes locais da cidade. Quem completar os desafios primeiro vence.”

“Bem simples, né?”

Hana não gostou de ter sua ideia resumida em “simples”, mas ela não podia negar esse fato. Até porque um jogo de tabuleiro era fácil demais para ser jogado em uma situação daquelas. 

Por outro lado, tinha como tirar vantagem das regras e dos desafios — isso poderia tornar um jogo de tabuleiro tão fácil quanto difícil, independentemente do tipo.

“Mas não é uma ideia ruim. Nós podemos pensar em alguns desafios. Eu me pergunto se elas vão aceitar numa boa, no entanto.”

“É isso o que vamos descobrir, certo?”

A garota parou em frente a uma máquina de vendas que estava no caminho e comprou uma latinha de café. Ela a jogou entre suas mãos por estar quente, mas logo a abriu. 

Mayck decidiu não comprar nada, então apenas a seguiu e os dois se sentaram em um banco de praça que encontraram.  

Um suspiro escapou de sua boca, carregando quase toda a fadiga acumulada, e ele relaxou seu corpo no banco, levantando seus olhos para o céu que tinha algumas nuvens bloqueando a luz da lua. 

“Ei…” Hana o chamou. Sua voz estava um pouco mais baixa do que o normal, implicando que ela se sentia insegura com algo. 

“Hum?”

“Se, por acaso, elas estiverem procurando Kin… o que vamos fazer?”

Era uma questão bastante complicada para se responder, apesar de parecer simples. Hana sentia o peso dela, cogitando a possibilidade de ela mesma estar errada sobre o que quer que fosse o assunto. 

“O que mais? Vamos apenas contar a verdade”, Mayck respondeu como se não fosse da sua conta. Mas a garota ao seu lado não parecia concordar com tal ideia. 

“Você não está nem um pouco hesitante? Eu não sei se conseguiria simplesmente dizer que Kin-chan já…” 

Sua frase ficou incompleta, mas seu amigo conseguiu entender perfeitamente. Foi algo que ele presenciou afinal e isso ainda doía em seu peito, embora menos do que antes. 

“Você é uma garota gentil, Hana. No meu caso, se for esse o objetivo delas, então eu só vou dizer a verdade e obrigá-la a desfazer a habilidade.”

“Você parece bem irritado”

“É óbvio que estou. Ela simplesmente chega do nada e começa a bagunçar a minha vida… eu não vou deixar elas saírem impunes.”

Mayck deu seu veredito e se calou. Hana também ficou em silêncio por um tempo, mas logo tornou a falar. 

“E se o que aconteceu naquela época acontecer de novo?” Hana pôs a latinha de café do seu lado e se aproximou de Mayck, agarrando seu capuz, de modo que o fizesse olhar diretamente para ela. “Se aquilo acontecer de novo, você não vai sair ileso. A Strike Down… até mesmo a Black Room vai atrás de você. E eu… como eu…”

“Relaxa.” O garoto segurou as mãos dela, ficando mais perto da garota. “Aquilo não vai acontecer de novo. Eu te prometo isso. Keiko Suzuki é um membro da Ascension, e tudo o que eles fazem é um problema para todo mundo. Não podemos pegar leve. Você entende, não é?”

O senso de justiça de Hana não permitiria que ela negociasse com a maldade de alguém, mas ela também não queria ver ninguém morrer. Se possível, ela gostaria de convencer as pessoas a mudarem de lado.

Ela também sabia que não era uma heroína nem nada do tipo e o bem nem sempre vencia, como nas obras de ficção, com palavras bonitas e empatia. A realidade tendia a ser decepcionante 

Ela balançou a cabeça levemente, mostrando que entendia as palavras de Mayck. 

“Se elas forem deixadas de lado sem mais nem menos, elas vão complicar a nossa vida muito mais.” Ele soltou as mãos de Hana e se levantou. “Agora que decidimos o que fazer, vamos entrar em contato com elas. Você vem comigo, né?”

O garoto estendeu sua mão, esperando o apoio de sua amiga, que hesitou por um momento. Ela ainda lutava contra a insegurança dentro dela, mas não era hora de parar. Seu senso de justiça prevaleceu e ela pegou a mão do garoto. 

“Tudo bem, eu vou. Mas se eu chegar primeiro, vou tentar resolver sozinha.”

“Claro, claro”, ele falou como se aquilo não lhe dissesse respeito. 

Em seguida, pegou seu celular e procurou por um dos seus contatos. Obviamente, ele não podia mandar mensagens para Keiko, já que estava bloqueado. 

Hana tomou a iniciativa e fez a ligação.

Assim que Keiko atendeu, ela passou o recado. Eles esperariam por ela às 23h, no local onde ocorreu a explosão que ficou conhecida como Catástrofe da luz vermelha. 

Sem mais nem menos, após passar o recado, Hana apenas desligou o celular e ambos se dirigiram para o local, que, embora palco e origem de uma grande tragédia, trazia algumas memórias. 

Desde que foi fechado pelo governo, a área ficou totalmente abandonada. Talvez o governo tivesse planos para ela, mas nada seria realizado tão cedo. Afinal de contas, a explosão não só destruiu aquela área, como a deixou totalmente radioativa, portanto qualquer aproximação humana era proibida. 

Não que isso fosse respeitado por portadores ou criminosos, que procuravam se abrigar no breu daquele lugar. E, por algum motivo, os Ninkais não se aproximavam dali. 

“Foi aqui onde a gente se encontrou pela primeira vez, né? Digo, em missão.” Hana largou essas palavras casualmente, enquanto encarava o fundo da cratera. 

“Pois é… aquela foi a primeira missão que eu realizei com a Black Room.”

Mayck também encarou o abismo, mas logo se cansou dele e olhou para a área em volta, que estava fechada por faixas pretas e amarelas, que sinalizavam a não ultrapassagem. 

“Afinal, quando foi que você começou a usar sua ID de novo?” Isso era algo que a garota queria perguntar há um bom tempo, mas nunca via sua chance.

“Quando…? Bem, foi logo depois da cerimônia de abertura. Algumas coisas aconteceram e eu acabei usando ela.”

“Suas memórias também voltaram no mesmo dia?”

“Nem. Eu fui lembrando com o tempo… Mas isso não importa agora. Vamos nos focar em derrotar Keiko e seu grupo…”

Antes que ele terminasse de falar, cinco pessoas caíram do céu na frente deles e se posicionaram uma ao lado da outra. 

Chegaram cedo.

Mayck tinha olhado o seu celular há alguns minutos, e ainda não tinha dado onze horas. Parecia que Keiko não estava a fim de esperar muito. Isso era bom para Mayck e Hana, no entanto. 

Cautelosamente, o garoto se pôs na frente de sua amiga, como se para protegê-la. 

“Olha só, é o Mayck. Há quanto tempo.” Com um enorme sorriso no rosto, Keiko balançou os braços, cumprimentando-o

“Verdade. Aproveitou suas férias, Mayck?”

“É claro que ele aproveitou, Midori. Se não, ele tinha voltado antes.”

Sarcasmo era exalado pelas palavras de Midori e Aiko. Enquanto isso, Yuriko e Saori apenas mantinham sorrisos inocentes em seus lábios, deixando as outras três tomarem a frente. 

“Ah, Jade-chan nos ajudou muito com os preparativos do casamento. Obrigada por trazê-la, Mayck-kun.”

“Ah, sim, sim. Sua avó também é uma pessoa tão boazinha. E Lorena é tão fofa.”

As cinco concordaram, e falavam como se estivessem em um encontro amigável, descartando a raiva de Mayck como se não fosse nenhum incômodo. O garoto, porém, não planejava deixar essa brincadeira delas ir mais longe. No momento em que as viu, sentiu seu sangue ferver, mas lutou para não perder a cabeça. 

“Como vocês são chatas, hein. Vamos direto ao ponto.” Hana tomou a liderança e deu um passo à frente de Mayck. “O que é que vocês querem?”

“Uau. É a Hana-chan. Nós sentimos sua falta.”

“Para de falar bobagens e responda de uma vez”, ela ordenou com sua voz firme, deixando claro que não estava para brincadeiras. 

Até Mayck sentiu um calafrio percorrer seu corpo ao ver Hana daquela forma. 

“Aff… quanta pressa. Esfriem essas cabecinhas de vocês.”

“Pois é. Não nos vemos há um tempão e quando finalmente nos encontramos, vocês agem desse jeito.” Midori balançou sua cabeça de um lado para o outro, desaprovando o comportamento da dupla. 

“Bom, já que vocês estão tão bravos, eu não vou contar.” Keiko fez bico e desviou o olhar. 

Mayck, por outro lado, suspirou profundamente. 

“Escuta, eu não estou aqui para brincar com vocês. Já sei quem vocês são de verdade, então parem com a merda do teatrinho.”

“Ahahaha. Mayck-kun, como você é brincalhão… Você queira ter nos matado antes também?”

Elas sorriram, ainda com sarcasmo, mas seus sorrisos desapareceram quando cristais vermelhos translúcidos choveram sobre elas rapidamente. Elas saltaram e conseguiram se esquivar do ataque. Os cristais atingiram o chão com tanta força que o penetraram e um pouco de poeira foi levantada. 

“O que você tá fazendo? A gente não ia usar força, não é?” Mayck sussurrou para a garota ao seu lado, ainda surpreso pelo ocorrido. 

“Não tive escolha. Isso demoraria mais se não fizesse.” Hana sussurrou de volta. Em seguida, voltou-se para o grupo de Keiko. “Nós estamos sérios aqui. Diga logo o que vocês querem.”

“Hehe…” Keiko se levantou e bateu o pó de suas roupas. “Tá bom, tá bom. Vou parar de brincadeiras”, ela falou com um tom sério, diferente de sua maneira habitual. “Se vocês nos descobriram, então devem saber pelo menos um pouco do que queremos, não é?”

“É sobre Kin-chan? Não é?”

“Isso aí. Parece que não se esqueceram dela. É algo bom, já que não vão morrer sem saber o porquê.”

As outras quatro garotas se posicionaram ao lado de Keiko com olhares sério, indicando que as brincadeiras haviam acabado. Suas posturas impondo superioridade deixava claro que elas estavam ali para realizar sua vingança. 

“Vou dar uma chance para vocês confessarem o que fizeram com ela.”

Mayck também se preparou para um possível combate, mas Hana fez sinal para ele relaxar. 

“O que você quer dizer com confessar? Nós não fizemos nada com ela…”

“Vai se fazer de idiota? Eu não vou entrar nesse joguinho. Mesmo que não falem, o destino de vocês não vai mudar. Vão morrer do mesmo jeito.”

“Por que não fala o motivo de uma vez? Qual a sua relação com Kin? Quem contou que nós estávamos ligados a ela?”

“Você já deve saber, não é? Afinal você já lutou contra ele e sentiu um pouco do poder dele.” Keiko julgou que não fazia diferença esconder ou não.

“Yang, é? E você acredita nas palavras dele?”

“Você ao menos sabe quem é aquele cara?”

“É claro que acreditamos nele. Ele salvou nossas vidas, afinal. Não tem como não acreditarmos.” Midori se adiantou, deixando claro o seu ponto de vista.

Elas estavam ligadas a Yang por um fio problemático. Hana e Mayck não sabiam o que era, mas, com certeza, era uma ligação forte, que nenhuma palavra deles seria capaz de quebrar. 

Hana suspirou; aquilo seria mais difícil do que parecia. Ao menos uma coisa era certa, eles teriam que usar outro método no lugar da persuasão. 

“Nós não fizemos nada contra Kin. Parece que tudo o que ouviram foram mentiras fabricadas para controlar vocês.”

“Cala a boca, vadia. Vocês vão pagar pelo que fizeram.”

O xingamento que Hana recebeu perfurou-a como uma lâmina afiada, mas ela se obrigou a medir suas palavras e não perder a cabeça. Vendo isso, Mayck decidiu que não podia deixar a garota fazer tudo sozinha. 

“Então quer dizer que Yang contou uma mentira a vocês e vocês se jogaram de cara nela. Entraram no meio dos Yukino, manipularam as memórias deles e, quando tiveram a chance, apagaram as memórias do meu pai. Se eu fosse chutar, diria que o único alvo de vocês era eu. Porque mexeram com Hana também?”

“Oh, descobriu tudo isso? Você realmente é perspicaz.” Keiko bateu algumas palmas. “Claro, ele nos falou só de você, mas acabamos apagando Hana-chan por capricho.”

De forma implícita, Keiko estava insinuando que tinha dado uma última chance de Hana sair e não se envolver muito. Isso não aconteceria mais, no entanto. Quando descobriram que ela tinha ligação com Kin, não iriam deixá-la em paz. 

“Então só a apagaram porque ela poderia se tornar um obstáculo, hein… sendo sincero, eu acabei de sair de uma situação difícil, então não estou em condições de lutar contra vocês.”

Existia isso e também Mayck tinha receio de que Hana não pudesse lidar com as cinco garotas, mesmo que ela fosse bem forte. 

Se elas são do mesmo nível que aqueles dois, então a situação é péssima, ele pensou, não posso desencadear uma luta aqui. Droga… onde eles estão?

“Hmpf. Isso é perfeito pra gente. Assim, podemos acabar com vocês mais rápido.”

Elas deram um passo à frente. 

“Sobre isso…, lamento, mas não vai ser possível.”

Como se estivesse tudo combinado, um grupo de dez pessoas se esgueiraram como fantasmas e se colocaram ao redor deles. Bloqueando qualquer rota de fuga. 

Keiko e as demais, ao notarem as figuras, se posicionaram de modo que pudessem manter seus olhos em todos as direções. Ao ver aqueles uniformes peculiares, não tinha como não saber que eram grandes problemas. 

“Que merda. Você trouxe reforços, é?”

“É uma pena, mas nada mudou. Nós só vamos levar mais tempo.”

Midori e Saori se pronunciaram, confiantes de que podiam derrotar todos. Afinal de contas, elas não passaram por um treinamento infernal da Ascension por nada. 

“Keiko. Eu vou propor um jogo. Ele é bem simples, você aceita?”

“E por que eu deveria?”

“Porque eu estou te dando uma chance de conseguir uma vingança adequada. Se você vencer, é claro.”

“Oho~ Então você está disposto a morrer. Se você propôs isso, então tem um objetivo. O que acontece se eu perder?”

“Eu só quero que você desfaça a sua habilidade. Só isso. Pra ser sincero, eu quero logo voltar pra minha vida “normal”.” Ele deu ênfase de propósito nesta última palavra, implicando o seu novo conceito para vida normal. 

Keiko ficou em silêncio. Seus olhos fitaram Mayck por um tempo. Por que ela aceitaria aquele desafio? Ela ponderou por um momento. Se apenas matasse Mayck, acabaria com sua busca, mas, apenas matar era o suficiente? Ele morreria e sua vingança estaria completa, mas e depois?

Essas questões surgiram em sua cabeça. Então, ela teve uma ideia. Ela queria ver Mayck humilhado de tal forma que ele implorasse para morrer. Foi por isso que ela decidiu apagar ele das memórias de todos em primeiro lugar. Caso contrário ela teria apenas feito um confronto direto com ele. 

“Você não está pensando em se render, né?”, Midori indagou, tirando-a de seus pensamentos. 

“Não. É claro que não. Mas se entrarmos em combate aqui não sairemos ilesas, isso é um fato. Afinal, todos esses aqui são da GSN e Hana-chan é um forte membro da Strike Down.”

Keiko estava informada sobre os poderosos portadores que poderia encontrar por aí. Além do mais, ela ouviu de Yang que Mayck pôde lutar contra três de seus subordinados diretos e sair vivo. Não tinha como ele ser pouca coisa. 

“Isso não interessa. Vamos só matar todo mundo…”

“Não é assim que funciona, Midori.” Ela interrompeu a garota, impondo fazendo uso do seu papel de líder do grupo. “Tudo bem, Mayck. Eu vou aceitar o seu desafio.”

O veredito quase fez as quatro garotas terem um ataque. Elas objetaram, mas foram ordenadas a se manterem em silêncio.

“Ótimo. O desafio é simples. Trata-se de um jogo de tabuleiro. Pode explicar o resto, Hana?”

Ela assentiu e deu um passo à frente. 

“Nós vamos percorrer a cidade enquanto realizamos desafios aleatórios que vamos receber em nossos celulares. Quando completarmos um desafio, receberemos a localização do próximo. Ganha aquele que completar todos e chegar no último local.”

“É realmente simples, hein. E quanto a esses convidados indesejados? Eles não vieram até aqui apenas para nos ameaçar, não é?”

Hana olhou para Mayck. Ela também não fazia ideia do que se tratava aquilo e até havia pensado que estavam sendo atacados quando eles chegaram. 

“Bom, pra ser justo para ambos os lados, os desafios serão planejados por eles. É só isso.”

“Hmm… Bom, mas antes de isso começar, eu quero propor o que queremos quando vencermos.”

“Hm…” Mayck a olhou, atento ao que ela diria. 

“O que queremos é…” Keiko fez uma pausa proposital para aumentar o suspense, deixando até suas companheiras curiosas. Um sorriso malicioso se formou em seu rosto, como se ela estivesse fora de si. “Queremos que os dois cometam suicídio.”

Mayck semicerrou os olhos. Hana quis contestar, mas foi impedida. Por outro lado, as quatro garotas se entusiasmaram, percebendo a jogada de sua líder.

Após alguns segundos em silêncio, Mayck abriu a boca.

“Tudo bem. Nós aceitamos isso.”

“Mayck?!”

“Relaxa. Nós não vamos perder. Amanhã, cada um vai receber uma localização aleatória de um desafio e as regras gerais. O tempo limite é de uma semana a partir de amanhã. Quem chegar primeiro até o último local é o vencedor.”

“Muito bem. Mas já aviso: nada de parcialidade por parte dos organizadores. Se isso acontecer, nós vamos nos retirar do jogo imediatamente e o acordo será anulado.”

“Okay. Nada de trapaças também. Mas, claro, se quiserem ajudar umas às outras, tudo bem.”

“Hum. Não vamos precisar disso”, Keiko falou, indiferente e deu as costas. 

“É melhor se prepararem.”

“Nós vamos acabar com vocês.”

Deixando essas palavras para trás, as cinco garotas se retiraram, com a promessa de participarem do jogo a partir do dia seguinte. 

A saída delas deixou o clima mais leve, talvez ainda estivesse pesado, mas Mayck sentiu um certo alívio. 

“Muito obrigado por vir, Hyu.” Ele se virou para um dos membros da GSN, que andou até ele. “Como você ouviu, quero que você prepare desafios e regras para amanhã.”

“Tudo bem… Mas eu quero muito saber como você sabe sobre nós… não, sobre mim. Eu não sou um mercenário nem nada.”

“Não se preocupe com isso. Enfim, conto com você a partir de amanhã.”

“Claro. Mas não se esqueça do que você me prometeu.”

O garoto balançou a cabeça dizendo que entendia e saiu de lá, sendo seguido por Hana. 

Há algum tempo, antes desse evento e do encontro com a Hana, Mayck aproveitou a demora dela e decidiu fazer uma ligação. Ele utilizou um dos telefones públicos disponíveis na estação para essa finalidade. Essa chamada não foi feita a esmo, mas sim direcionada a uma pessoa específica, Haruki, que respondeu à chamada apenas alguns segundos após o toque inicial.

Nesse momento, Mayck optou por manter sua identidade oculta, ciente da situação de Haruki, que também havia perdido suas memórias sobre ele. Então, propôs um acordo a ele, embora Haruki tenha hesitado antes de finalmente concordar.

A complexidade da situação residia na simplicidade do acordo em si. Haruki, privado de suas memórias, não conseguia identificar o assassino de seu pai, apesar de acreditar que já tinha se vingado. Essa ambiguidade deixou-o com um sentimento agridoce de amargura e confusão. 

Por isso, quando Mayck lhe revelou que estava disposto a desvendar o mistério do assassino de seu pai em troca de uma pequena colaboração, Haruki viu nessa proposta uma oportunidade intrigante e, movido pela curiosidade, aceitou-a.

No entanto, Mayck poderia sair por cima sem ter que cumprir a sua promessa, mas sem também quebrá-la. Após o fim daquele evento, Keiko seria obrigada a devolver as memórias de todos e Haruki não precisaria mais continuar investigando aquilo. 

Enquanto voltavam, Hana perguntou ao garoto sobre como e quando ele organizou tudo. No momento em que todas aquelas pessoas apareceram, ela foi a primeira a se armar, supondo que estavam sendo atacados. 

No fim, não era nada disso, e, não tendo motivos para esconder, Mayck contou tudo o que ela precisava saber sobre a situação. 

Em suma, havia dois motivos. O primeiro, era ter alguém para organizar o jogo e garantir que pessoas não relacionadas não se envolvessem. O segundo, para garantir que Keiko aceitasse. Se Mayck dissesse que ele mesmo criaria os desafios, as chances de ela recusar eram altas demais, sob o pretexto de que ele as deixaria em total desvantagem. 

“Eu disse para eles não serem parciais, então vai ser cada um por si. Eu não sei as regras que eles vão colocar, mas nós temos que fazer de tudo para vencer.”

“Vendo por esse lado faz sentido. Mas porque a GSN? Se você tivesse me contado sobre isso, eu teria pedido ajuda ao time 8.” Hana resmungou, sentido que talvez não fosse confiável o suficiente. 

“Não é essa a questão. Eu escolhi a GSN por um motivo bem óbvio: eles não jogam pra nenhum lado e isso é uma vantagem. Se eu escolhesse a Black Room ou a Strike Down, era possível que eles me tirassem da jogada para resolverem tudo sozinhos.”

“Hm… Entendi. Se for a GSN, então é possível que esse problema suma assim que for resolvido. Mas, que tipo de acordo você fez com eles? Não é dinheiro não, né?”

“Claro que não.” Mayck sorriu. “Bom, talvez eu te conte no futuro.”

“Ah, além do mais, eu quem deu a ideia do tabuleiro, não é?”

“Sim.”

“Então como você chamou eles sem saber disso? Que tipo de jogo você tinha em mente?”

“Hmm… eu não tinha nada planejado. Estava pensando em decidir tudo na hora. Seria mais simples.”

“Você, hein, como sempre, querendo improvisar tudo.” Hana balançou sua cabeça de um lado para o outro. “Enfim, agora que entramos nisso de cabeça, vamos dar o nosso melhor. Não podemos nos dar ao luxo de perder agora.”

“Claro. Boa sorte pra nós dois.”

Mayck levantou o punho e Hana o imitou. Eles chocaram seus punhos, como um tipo de cumprimento e uma promessa de que estavam juntos naquilo. 

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