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Capítulo 60 – Tarefas e Determinação

Pela manhã, Mayck se levantou, como de costume. O relógio marcava 6h30, que não era o horário habitual em que ele se levantava, mas, nos últimos dias, ele decidiu dedicar meia hora para uma pequena série de exercícios matinais. 

Ele decidiu isso com base em suas últimas lutas, onde teve um nível significativo de dificuldade quanto a sua resistência física. Portanto, para melhorar suas condições, ele treinaria seu corpo para que fosse capaz de suportar seu poder e ficar mais forte.  

Já tinha ouvido de Nikkie que os portadores possuíam seus atributos mais altos que os de pessoas normais naturalmente. Mesmo magro, um portador seria capaz de derrotar um profissional até cinco vezes mais forte que ele com pouca dificuldade. 

Por isso, se tratando de portadores, nenhum deveria ser subestimado, uma vez que até uma criança poderia derrotar um adulto sem dificuldades. Baseando-se nisso, Mayck decidiu que não precisava se tornar a pessoa mais forte fisicamente, ele só precisava que seu corpo pudesse acompanhar sua velocidade de pensamento e reação. 

Após terminar mais uma série de 30 flexões, ele se levantou bem cansado. Seu corpo estava quente e ele sentia que podia fazer mais 50 repetições de cada exercício que já fez. 

Pegou uma garrafa de água da geladeira e bebeu até metade dela de uma só vez. Com uma toalha secou o suor de sua testa, enquanto aproveitava aquele sentimento de meta realizada. 

Vou tomar um banho…

Depois de se lavar e tirar o suor de corpo, ele saiu do banheiro após trocar sua roupa de dormir para seu uniforme escolar, e foi até o fogão preparar um café. 

Café pronto, ele se sentou na mesa e pegou uma colher de açúcar com uma pequena porção… e outra, já era o suficiente. Por não lidar muito bem com doces, ele gostava de seu café meio termo — pouco adoçado. 

Enquanto virava a xícara com a bebida, ele pegou seu celular e verificou sua caixa de e-mails. Havia um, que foi enviado há pouco minutos, provavelmente enquanto ele estava no banho. O remetente estava como anônimo, então ele imaginou do que se tratava. 

Essas são as regras do jogo? Parece que eles estão levando isso bem a sério. 

Um gole de café. Mayck voltou sua atenção para a tela e começou a ler as linhas. 

1. Cada participante começa em um local diferente dos demais.

2. Cada participante recebe informações aleatórias para sua primeira localização a ser encontrada.

3. O objetivo é completar uma série de desafios que levarão ao último desafio e, finalmente, à localização final.

4. Os desafios são ranqueados e variam de E (o mais baixo) até A (o mais alto).

5. Ao completar os desafios, os participantes terão de enviar um código para o remetente deste email, confirmando que completou o desafio.

6. Ao longo de uma semana, os participantes receberão um desafio principal por dia.

7. Os participantes têm o prazo de um dia para concluir cada desafio principal; caso contrário, são desqualificados. 

8. Um participante desqualificado não pode mais interagir com os outros ou participar de desafios.

9. Os participantes podem formar alianças temporárias para ajudar uns aos outros, mas devem estar preparados para traí-las a qualquer momento.

10. Ao concluir cada desafio, os participantes também receberão pistas para sua próxima localização.

11. Os participantes devem estar cientes de que são responsáveis por seu próprio desafio.

12. Um supervisor imparcial monitora o jogo e garante que as regras sejam seguidas.

13. O vencedor é aquele que completa o último desafio e chega à localização final.

14. Desafios bônus podem ser completados a qualquer momento dentro do prazo de 7 dias.

Depois de lê-las atenciosamente, Mayck recebeu outro e-mail, quase no mesmo instante, contendo vários números, letras e símbolos organizados de forma totalmente aleatória. Ele levantou uma sobrancelha, enquanto encarava o conjunto. 

Isso é um endereço…? Não. Não acho que seja…

À primeira vista, elas não pareciam ter significado algum. Era como se uma criança tivesse teclado aleatoriamente e enviado por engano. 

Mas não acho que eles não mandariam isso sem motivo…

Ele decidiu fazer alguns testes. Copiou as linhas e colou no navegador, mas não foi direcionado a nenhum lugar em específico. A tela de pesquisa não encontrada apareceu em seu smartphone. 

Ué… O que será? Um código?

Se fosse um código, então ele poderia usar algum programa de descriptografia. Era o que ele iria fazer, mas quando olhou o relógio viu que era hora de ir pra escola, então deixou para fazer isso no caminho, ou enquanto estivesse na escola. 

Eu tenho um dia todo, não é?

O pior que poderia acontecer seria o desafio ser bem mais do que apenas decodificar aquilo. 

Após pegar sua bolsa, ele saiu do quarto com sua máscara e só tirou-a quando estava bem longe da base. 

Quanto mais se aproximava da escola, mais o fluxo de alunos na mesma direção aumentava. Para eles aquele não passava de mais um dia rotineiro, talvez até chato, mas para o garoto que estava envolto por circunstâncias familiares incomuns e problemas nada ordinários, era só o começo de outro dia cheio de surpresas. 

Uma pequeno momento de distração e sua realidade poderia ser completamente alterada. 

Hana já deve saber sobre as regras… que tipo de desafio será que ela recebeu? 

Ele encarou o chão, enquanto pensava sobre isso, mas logo levantou seu olhos pois estava num cruzamento e parou até o sinal abrir. 

Bom, não importa qual seja, ela deve conseguir se virar sozinha. Eu tenho que me concentrar nos meus próprios problemas aqui. 

Mayck continuou a refletir sobre as regras quando entrou na escola, calçou seus sapatos e seguiu para sua classe. 

As regras não eram lá grande coisa, mas poderiam ter elementos implícitos a serem considerados. Se fosse fácil demais, seria entediante, tanto para os participantes quanto para os organizadores, então deveria ter um segredo ou outro. 

A primeira regra não deve ter nada demais. Parece que não vamos nos encontrar tão cedo durante esse jogo. Talvez o mais problemático seja ficar correndo de um lugar para o outro. 

Ele esperava que, pelo menos, não fossem mandados por todo o Japão. Mas isso não era tão preocupante. 

Os organizadores tinham consciência do que era possível ou impossível, afinal. E essa possibilidade poderia ser descartada por conta da sexta regra: os participantes deveriam cumprir os desafios em um dia.

Portanto, os locais não teriam distância de mais de um dia. Poderia ser bem no limite, mas não iria muito mais longe que isso. 

A segunda regra diz que as informações para o local são aleatórias, então esse código que eu recebi deve ser uma delas, já que eu não recebi uma localização específica.

Outra coisa que chamou sua atenção, e provavelmente de todos os outros, foi o fato dos desafios serem ranqueados. Isso deixava a bolha de desafios muito mais ampla, tornando-os imprevisíveis. 

Então era isso o que significava aquela letra “E” no topo do email com o código… parece que esse desafio é bem fácil, então. 

Ainda concentrado, ele entrou em sua sala, cumprimentou alguns de seus colegas e seguiu direto para sua carteira, mas sem deixar de pensar sobre as regras, que, com certeza, teriam um peso muito maior sobre os desafios. 

Era necessário que ele pensasse nelas com bastante cuidado para que não viesse a cair em alguma pegadinha ou armadilha e ficar preso em alguma etapa. Se isso acontecesse, ele teria muitos problemas e dependeria de Hana para vencer o jogo. 

Além do mais, o tal código que devo enviar para o remetente… onde será que ele vai estar? No local do desafio, talvez?

O código foi mencionado, mas ele não apareceu em lugar nenhum. O garoto imaginou que poderia até ser o código que recebeu, mas isso não fazia sentido. Porque se fosse ele, teria sido um erro por parte dos organizadores que falharam em mandar o local ao qual ele deveria se dirigir. 

Por isso não tem a menor chance de ser esse código. Acho que vou encontrá-lo depois que terminar o desafio provavelmente. 

Essa podia ter sido uma boa jogada por parte dos organizadores. Se o código fosse enviado junto com o desafio, então era possível burlar a regra e confirmar o término da tarefa sem realmente tê-la cumprido. Era um sistema anti corrupção. Uma manobra simples, mas inteligente. 

Então o desafio é descobrir o que esse código significa? 

Com essa questão em mente, Mayck se concentrou na aula, mas voltou a ela no horário do almoço. Como estava sozinho, ele teria tempo de sobra para descobrir o significado. 

Comprou um sanduíche barato na cantina e se dirigiu para o pátio externo. 

Sentado no banco de sempre, sendo consolado e amparado pela sombra de uma grande e velha árvore, ele não hesitou em pegar seu celular e pesquisar tipos de códigos na internet. 

Código binário… morse… não são esses. Eu sei como eles são, então sei que não tem nenhuma relação com isso…

Mayck olhou o e-mail novamente e encarou a sequência de números e letras. Após pensar mais um pouco sobre o significado delas, voltou para o navegador e pesquisou sobre textos criptografados. 

Será esse? Ele analisou o que estava escrito e abriu um site de descriptografia. Colou a sequência de números neles e conseguiu um resultado. 

Nas linhas mais fortes que ferro, correm os monstros modernos. Vá para a rota de fuga, abaixo dos desencontrados.

Um poema…? Ele franziu o cenho, como se a tela estivesse enganando seus olhos e ele procurasse desfazer tal ilusão. Linha mais forte que ferro… como assim? 

Ao se deparar com um enigma logo após um código não era surpreendente que ele ficasse perplexo. Então era aquele o real desafio, encontrar o significado do poema e chegar até o local indicado por ele. Tinha cara de desafio. 

Nossa… que pé no saco. 

Mas para o garoto não passava de mais trabalho. 

Ele escondeu seu rosto em sua mão, enquanto deixava escapar um suspiro de total aborrecimento 

“Você parece estar quebrando a cabeça aí, né?” A voz de Hana o fez levantar a cabeça para olhá-la.

“Pois é… eu imaginei que os desafios fossem complicados, mas ter um de rank E desse jeito me faz pensar que tipo de desafios serão os de ranque mais alto.”

“Ranque E? Sortudo. O meu é de rank D”, a garota desabafou. “Mas eu acho que consigo dar um jeito de resolver antes do fim do dia.”

“É mesmo? Se você precisar de ajuda, pode falar comigo. Nós podemos fazer uma aliança, afinal de contas.” 

Mayck mencionou uma das regras. Hana concordou com ele, mas ela se lembrou de um ponto a ser considerado e que parecia perigoso. 

“Isso é verdade, mas a regra também diz para estarmos preparados para trair, então pode ser que existam desafios onde só um pode vencer.” 

Era apenas uma teoria, mas eles pensaram na possibilidade de pegarem um desafio parecido que exigisse um único vencedor. Ou então desafios que os obrigassem a expulsar um participante do jogo.

“Vendo por esse lado, parece que jogar sem se aliar a ninguém parece mais seguro…”

“Sim. Mas, no fim, apenas um de nós precisa ganhar. Como estamos em menor número, se falharmos, o jogo vai se tornar apenas uma diversão para elas.”

“E se elas perderem, nós não precisaremos mais continuar… Bom, eu duvido que elas aceitem perder tão fácil.”

A determinação que Keiko mostrou anteriormente deixava claro que ela usaria todas as suas habilidades para vencer e suas companheiras também fariam o mesmo. O objetivo que elas estavam perseguindo não era raso ao ponto de elas ficarem indiferentes.

Elas conheciam a força de Mayck e Hana, que possuíam a própria determinação para vencer; outro ponto para fazê-las levar o jogo a sério.  Se fosse preciso “trair” umas às outras, elas não se importariam. 

“Bom, nós vamos ter que ir com tudo se quisermos vencer. Estamos em desvantagem quanto ao número de participantes, então não podemos baixar a guarda.”

“É…” Mayck acenou com a cabeça e mudou um pouco o tópico da conversa, indo para algo que lhe deixou curioso. “E que desafio você recebeu?” 

“Hm…” Hana levantou seus olhos para o céu por um momento e logo abaixou a cabeça. “Eu preciso encontrar uma palavra. “

“Isso é bem vago.”

“Não é? Minha única pista são alguns locais.” Sem nenhuma vontade de esconder, Hana mostrou alguns endereços em seu smartphone. “Pelo menos eu sei qual palavra é, mas não faço ideia de como encontrar.”

“Uh… isso é bem longe um do outro. Você vai conseguir terminar isso em um dia?” Depois de analisar os endereços, Mayck percebeu que cada um deles mandava para um lado da cidade. 

“Vai ser difícil, mas eu acho que consigo. Talvez o mais difícil seja encontrar tais palavras”, ela concluiu. “E quanto a você? Que tipo de desafio fez você ficar tão atordoado.”

“Nas linhas mais fortes que ferro, correm os monstros modernos. Vá para a rota de fuga, abaixo dos desencontrados”, ele recitou o poema recebido com indiferença, como se não ligasse mais para nada.

“Só tem isso?”

“Só. Depois que eu decodifiquei foi só o que restou.”

“Bom, eu te ajudaria com ele, mas eu também preciso pensar na minha própria tarefa. Bem, aqui vai um conselho.”

Hana levantou seu dedo indicador direito e fitou o garoto, que a observava atentamente.

“Analise cada palavra. Elas podem não ter um sentido literal, ou podem estar significando algo completamente diferente.”

“Vou manter isso em mente. Obrigado.”

“Não há de quê…”

Interrompendo Hana, os seus smartphones tocaram quase no mesmo segundo. Eles se entreolharam e logo verificaram seus e-mails. Ambos continham novos desafios intitulados como “Desafio bônus”.

“É sério isso…?”

“Estava demorando pra aparecer um desses.”

“Mas qual o sentido afinal? Apenas para fazer a gente perder tempo? Nós não vamos receber nenhum prêmio, afinal de contas.”

“Pode ser, mas…” 

Hana se calou enquanto lia a tarefa recebida. Ela levantou uma sobrancelha, mas logo guardou o celular, como se não fosse nada muito importante 

“Bom, nós não precisamos nos preocupar com elas agora. Vou lidar com isso depois que terminar a tarefa principal.”

“É verdade. Mas temos que tomar cuidado para não acumular. Pode ser que elas tenham algum peso no final do jogo.”

“Sim, sim. Vou me lembrar disso. Anda, vamos voltar. O intervalo já vai acabar.” A garota se levantou e seguiu para a entrada do pátio. 

“Okay…” Mayck jogou o embrulho do lanche que comprou em uma lixeira próxima e foi atrás da garota, caminhando tranquilamente. 

Ele ainda refletia sobre o poema e, quando voltou para a sala, decidiu pôr o conselho de Hana em prática. Pesquisou sobre o que era mais forte que ferro. Os resultados foram rápidos e simples: aço. 

É. Se for considerar isso, então o aço é, sem dúvidas, mais forte que ferro. Então se mudar “mais forte que ferro” no poema, fica “nas linhas de aço, correm os monstros modernos”.

Ele poderia muito bem deixar essa parte como completa, mas ainda havia muitas coisas a serem consideradas. O que seriam os tais monstros modernos? Era possível ser uma metáfora para alguma coisa que não tinha nenhuma relação com monstros. 

Monstros modernos… está se referindo a algo que existe hoje. O que seria considerado um monstro moderno em termos físicos?

Com certeza não estava relacionado a um Ninkai, e também não poderia ser alguma criatura viva de fato. 

Os minutos se passavam e as aulas trocavam de acordo com o período, seguindo a rotina escolar. Após o fim de outra aula, Mayck voltou seus olhos para a janela. No auge de sua curiosidade, ele gritava consigo mesmo em busca do que seria o monstro moderno que corria nas linhas de aço. 

Ele só precisava de uma pequena dica, então a procurou pela sala de aula. Seus olhos, rápidos como um câmera em time lapse, vagaram pelo ambiente em busca de respostas. 

Não a encontrando, um suspiro involuntário escapou de sua boca e ele descansou a cabeça em seus braços na carteira. 

O que são monstros modernos…?

“Ei, cara…” Haruki o chamou. 

“Hm?” Levantando sua cabeça, Mayck encarou seu amigo sem demonstrar nenhum sentimento em especial, embora seu coração tenha acelerado com o susto. 

Por estar sendo ignorado durante aqueles dias, ele acabou perdendo o costume de conversar durante as aulas. Isso lhe deixou sensível a ser chamado de repente. 

“Você está suspirando bastante. Não se sente bem?”

“Ah, não eu… não é nada.” O garoto abaixou sua cabeça, como se desistisse de qualquer ideia que tivesse de criar um laço com aquele “novo” Haruki à sua frente. 

“Hm… tá legal. Mas se você não estiver bem, me avise. Eu posso te acompanhar até a enfermaria”, ele falou essas últimas palavras em um volume um pouco mais alto comparado ao restante de suas palavras, que foram ditas apenas para que Mayck ouvisse. 

Talvez não fosse nada demais, mas ele conhecia Haruki o suficiente para saber quando ele planejava algo. 

Eu espero que não seja nada demais…

Ele puxou em sua memória possíveis ocorrências para Haruki planejar alguma coisa e algo se clareou em sua mente. 

Ah, eu lembrei que esse cara…

“Todos em seus lugares, por favor.” Uma professora alta, vestindo um terno cinzento entrou na sala e fechou a porta atrás de si. 

Imediatamente, Haruki levantou a mão, chamando a atenção dela. 

“Professora.”

“O que foi, Yukimura-kun?”

Haruki se levantou e olhou fixamente para a professora. Em seguida, apontou para Mayck. 

“Mizuki-kun está passando mal. Eu posso acompanhá-lo até a enfermaria?”

… odeia inglês. 

Mayck completou seu pensamento, enquanto os olhares de todos os seus colegas foram fixados nele. A professora também o olhou. 

“Isso é sério, Mizuki-kun?” Um olhar preocupado foi direcionado ao garoto, embora aquela professora geralmente fosse bem rígida. “Está com febre ou algo assim?”

“Eu… estou com um pouco de tontura.” Depois de refletir por alguns segundos, ele decidiu seguir o teatro de Haruki, sentindo que devia algo a ele. 

“Isso pode ser uma consequência do calor”, a professora concluiu. “Certo. Acompanhe ele, Yukimura-kun.”

“Claro.” Ele deixou seu corpo ereto e prestou continência, provavelmente muito animado por ter conseguido o que queria, mas ele precisava se lembrar de não revelar suas reais intenções antes de sair da sala. 

Os dois deixaram a classe e seguiram para a enfermaria, onde Haruki viu que podia revelar seu plano sem problemas. Ele sorriu. 

“Ah, foi mal aí cara. Obrigado por ter me acompanhado.”

“Tá de boa. Você deve odiar inglês, hein.”

“De todas as matérias, inglês, pra mim, é a mais entediante. Minhas notas são baixas e eu nunca consigo me concentrar.”

“Isso é porque você dorme nas aulas, não?”

“Ehehehe… você percebeu, é?” Ele coçou a nuca, levemente corado. 

“Vi isso acontecer ontem. Bom, só não seja pego. Por enquanto, eu vou pra enfermaria já que consegui a oportunidade.”

“É assim que se faz.” Ele fez um joinha e piscou um de seus olhos, orgulhoso. Embora o que ele tinha feito não fosse motivo para tal. 

Ambos seguiram por caminhos diferentes. Mayck para a enfermaria e Haruki para o banheiro. Os dois concordaram que se Haruki fosse pego, a farsa seria mantida e Mayck não seria arrastado para problemas. 

Ao chegar na sala da enfermaria, Mayck entrou na sala, e encontrou a professora responsável pelo local sentada em sua cadeira e fazendo algumas anotações em um caderno. 

“Com licença…” ele bateu na porta e a abriu. 

“Ah, Mizuki-kun. Faz um bom tempo que você não aparece aqui.”

“Se eu viesse demais seria direcionado ao hospital…”

“Isso é verdade, né?” A professora deixou um riso escapar. “Então, o que o traz aqui hoje?”

“Nada demais… é o que eu diria, mas eu realmente sinto minha cabeça doer um pouco.”

“É mesmo? Sente-se aqui. Eu vou dar uma olhada.” Ela apontou para um banquinho de madeira e Mayck se dirigiu a ele. 

A enfermeira de olhos verdes pôs a mão na testa dele, fazendo uma pequena e rápida verificação, mas acabou que ela não percebeu nada fora do normal. 

“Hm… bem, não parece ter nada de incomum. Mas fique aqui por um tempo. Se for uma dor de cabeça por causa do calor, pode ser que ela aumente até o fim da tarde.”

“Okay…”

Apesar de não ter nenhum diagnóstico para o garoto, a enfermeira não pensou que ele estivesse mentindo, já que ela nunca presenciou tal coisa. E não era exagero dizer que ela conhecia mais de noventa por cento daquela escola. Então ela conseguia dizer quando algum aluno estava dando alguma desculpa para matar aula. 

Ela era uma boa professora, mas ser gentil não queria dizer que ela era uma tola que caia na conversa dos outros facilmente. Se fosse necessário, ela iria repreender até o diretor da escola por um mau comportamento.

Mayck aceitou o convite e se acomodou em uma das camas disponíveis, deitando de costas e encarando o teto branco, e a professora voltou às suas anotações. 

Monstros modernos…

Mesmo o garoto se sentindo exausto, ele só precisava deixar de pensar em algo que essa questão reaparecia como um fantasma, disposta a assombrá-lo até se cansar. 

Estava difícil para ele descobrir o significado do termo. Só lhe restava pedir ajuda, ou então ele ficaria estagnado naquele desafio sem nenhum progresso aparente. 

“Ei, professora Kuruhashi.”

“Hum? O que foi?” Sem tirar os olhos das folhas, ela respondeu, sua voz plena como se ela estivesse em paz com o mundo. 

“O que você entende por “monstros modernos”?”

“Monstros modernos? O que é isso? Filosofia?”

“Não… eu só pensei nisso agora e acabei ficando curioso. E então? O que você acha que significa?”

“Bom, indo pelo sentido literal da palavra, e do ponto de vista da natureza… podemos dizer que o ser humano é um monstro moderno.”

“Ah, é?”

“Sim. Pois nós vamos até ela e tiramos tudo o que bem entendemos. Gastamos os recursos naturais e esperamos até que ela se reabasteça. Isso faz do ser humano um monstro, não?”

“Você tem um ponto, mas nós coexistimos com a natureza, certo? Isso não serve como redenção?” Mayck perguntou. 

Ele não queria se aprofundar nesse sentido da palavra, isso porque pensou que o ser humano como monstro não se encaixava no poema, que, provavelmente, estava descrevendo um certo local, então deveria ter outro significado. 

“Que otimismo. Bom, você está certo. Talvez nós estejamos em paz com a natureza na realidade. Sendo assim, pode descartar essa possibilidade.”

“Tá tudo bem. Obrigado, professora.”

“Não há de quê. Espero que consiga encontrar sua resposta”, ela falou sem muito interesse e voltou para o seu trabalho. 

“Sim. Eu também espero…” Mayck sussurrou para si mesmo. Seus olhos estavam pesados e ele sentia sua consciência relaxar. Aos poucos ele foi deixando de sentir o ambiente ao seu redor…

“O trem”, ele exclamou repentinamente ao dar um salto da cama em que estava. “Só pode ser isso. Monstro também significa algo muito grande, então o trem se encaixa perfeitamente.”

Ele fez a ligação entre as palavras e lembrou que os trilhos do trem eram feitos de aço. 

“Os tais desencontrados é algo que foi perdido, então são os achados e perdidos. Sendo assim, o local que eu devo verificar é o achados e perdidos da estação.”

Por ter desvendado o enigma, o garoto sentiu um misto de alívio com felicidade, orgulhoso de si mesmo. Ele sentia vontade de rir e se gabar por ter descoberto algo dormindo.

Ao olhar o horário no smartphone que ele retirou do bolso, percebeu que havia dormido por cerca de meia hora. A próxima aula iria começar logo. 

Acho que a preguiça é necessária, afinal. 

O êxtase não permitiria mais que ele ficasse deitado, então em uma explosão repentina de energia, ele calçou seus sapatos e deixou a enfermaria. 

A professora não estava lá, então ele não precisou explicar nada, e retornou para sua sala, onde foi confrontado por seus colegas, que questionaram seu bem estar. 

<—Da·Si—>

Assim que as aulas acabaram, Mayck não hesitou em deixar a escola. Seu objetivo era claro, ir até a estação e verificar os achados e perdidos. Ele não sabia ao certo o que encontraria, mas precisava ir sabendo ou não. 

O fim da tarde estava próximo. Faltava apenas algumas horas para o anoitecer. O garoto se perguntava se Hana conseguiria completar seu desafio a tempo.

Ela deve dar um jeito. Ele depositou sua confiança na garota. 

Ao chegar na estação, ele procurou por uma placa onde deveria estar escrito “Achados e Perdidos”. Ele a encontrou com facilidade, perto da entrada da estação e que também era a saída — dependendo do ponto de vista. Ao se aproximar do balcão, um homem vestindo um uniforme azul escuro formal o atendeu. 

“Boa tarde. Precisa de algo?” Ele se dirigiu de forma educada. 

“Ah, claro. É que eu perdi uma carteira de couro na estação. Será que ela veio parar aqui?”

“Uma carteira? Quando você a perdeu?”

“Foi ontem à tarde…” Mayck mentiu, embora hesitante em fazer isso com um funcionário da estação, que facilmente poderia chamar um dos guardas para ter com ele. 

“Espere um momento.” 

Ele se afastou da janela feita puramente de vidro sobre um balcão de mármore, e conversou com outro funcionário, vestido da mesma forma, e logo até um conjunto de armários e abriu um deles. Pegou as carteiras que estavam dentro do armário e as colocou em uma caixa de plástico. Em seguida, levou-as até Mayck. 

“Essas são todas as carteiras perdidas nessa semana.”

“É mesmo? Com licença…” Mayck falou e pegou algumas das carteiras, apenas para passar o tempo, já que ele não tinha perdido nenhuma carteira. Era tudo uma farsa para ele descobrir o que tinha que encontrar ali. 

Após uma análise minuciosa de todas as carteiras que ele suspeitou serem dele — isso aos olhos do funcionário —, ele desistiu. 

“Hmm… não está aqui.”

“Não a encontrou?” O funcionário mostrou uma dose de empatia em sua voz. “Nesse caso, talvez seja melhor você ir até a polícia. Pode ser que alguém mal intencionado a levou.” Ele fez uso de eufemismo para acusar alguém de roubo. 

“É… tem razão. Bom, muito obrigado, de qualquer forma. Eu vou tentar encontrá-la.” Mayck se afastou um pouco e inclinou o corpo, agradecendo ao funcionário, que o despediu com palavras de boa sorte. 

Aproveitando que o homem se virou para levar a caixa e guardar as carteiras, ele rapidamente passou sua mão debaixo da saliência do balcão de mármore e acabou puxando um adesivo. Ele o segurou como se o escondesse e deixou a estação. 

Andando pela calçada, a caminho da base da Black Room, ele olhou o adesivo. Se tratava de um código QR. Ele rapidamente abriu a câmera de seu celular, após colar o adesivo no dorso de sua mão, e leu o código. 

Uma imagem preta apareceu na tela, deixando-o confuso e indignado por ter que desvendar mais um mistério. A iluminação alaranjada do sol impediu que ele visse o que tinha na imagem, então ele aumentou o brilho do celular. 

Ao localizar algumas manchas brancas na imagem, ele decidiu editar a foto, invertendo suas cores.

Uma sequência de números surgiu como mágica na tela. 

Hehe. Mayck deixou um sorriso de canto escapar por causa do orgulho que ele estava sentindo de si mesmo ao completar seu desafio. 

“Esse é o tal código então?” 

Só havia um jeito de descobrir. Ele enviou o código para o remetente do email que recebeu pela manhã e imediatamente uma resposta chegou. Tratava-se de uma imagem com um sinal de visto e um endereço que só podia ser lido ao dar zoom nela. 

“Eu consegui completar o desafio antes do fim do dia. Talvez por isso eu tenha recebido o local do meu próximo desafio…”

Quanto mais cedo realizasse a tarefa, mais cedo poderia ir para a próxima. Era uma boa vantagem, mas, proporcionalmente, também era uma grande desvantagem. 

Normalmente, uma pessoa realizaria um desafio por dia, conforme os recebia. Entretanto, essa chance de recebê-los mais cedo, tornava o jogo uma corrida para ver quem terminaria tudo primeiro. 

De forma mais simples, tal vantagem era como tirar números altos em um dado e poder avançar mais rapidamente que os outros jogadores. E como os desafios eram ranqueados entre fácil e difícil, se um dos participantes recebesse vários desafios fáceis, poderia completá-los em menos de uma semana. 

Eu espero que a distribuição não seja assim. 

Essa era uma possibilidade pequena, mas ainda deveria ser mantida viva. Nesse caso, o garoto  pensou que deveria realizar os seus desafios o mais rápido que pudesse para ter a chance de conseguir alguma vantagem. 

Eu vou ir até esse lugar hoje a noite. Tenho que garantir minha posição o quanto antes. 

Além disso, também existiam os desafios bônus, que poderiam ser realizados a qualquer momento, então seria comum querer negligenciá-los, mas algo sobre eles não estava certo e Mayck tinha um pequeno presságio de que eles seriam importantes.  

Parece que não é bom usar a técnica de dobrar e passar pro próximo. É melhor não deixar eles se acumularem. Pode ser que haja alguma punição por não completá-los. 

Se isso estivesse correto, deixar essas tarefas bônus se acumularem seria um tiro no próprio pé. Poderia ser que todo o seu progresso fosse excluído por ter tantas tarefas acumuladas.

Agora que ele já tinha terminado a sua primeira tarefa, decidiu voltar para a base da Black Room e, à noite, sairia em busca do novo local, onde encontraria seu segundo desafio. 

Não sabia se poderia completá-la no mesmo dia, mas, de qualquer jeito, ele não tinha nenhum intenção de perder e para isso realizaria as tarefas por mais que elas fosse contra seus valores morais. 

Algo mais importante estava em jogo ali. 

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