Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 61 – Deterioração à vista

Mayck deu uma pausa em seu quarto até às dez horas da noite. Ele aproveitou para descansar e se preparar mentalmente, enquanto repassava todas as informações que possuía. 

Ele queria estar preparado para qualquer investida que Keiko ou seu grupo fizesse, e também algo lhe veio à mente, algo que quase o fez se sentir a pessoa mais burra do mundo. 

Quando contou a Hyu o que precisava que ele fizesse, não avisou sobre a parte de não envolver IDs e outras habilidades sobre humanas. Então ele poderia acabar recebendo um desafio onde seus poderes fossem necessários. 

O garoto suspirou ao se lembrar. Era tarde demais para qualquer arrependimento. Ao menos sua condição parecia estar melhorando aos poucos. Se houvesse uma tarefa que precisasse de alguma habilidade mais básica e que não exigisse tanta energia, ele poderia realizá-la com tranquilidade. 

Depois que o horário planejado chegou, Mayck saiu de seu quarto, torcendo para não encontrar ninguém, embora não tivesse nenhum motivo aparente. 

Se ele queria esconder alguma coisa, então teria falhado imediatamente, pois, ao dobrar o corredor antecedente ao elevador, ele se deparou com Ethan e Luna, que não hesitaram em ir cumprimentá-lo. 

“E ai, M-san. Como vai?”

“Você já se sente melhor?” 

Sorrisos amigáveis — embora não fosse possível vê-los por conta das máscaras — eles acenaram levemente. 

Desde que o caso dos institutos foi dado como encerrado para a Black Room, Mayck ainda não havia se encontrado com ninguém da equipe Alfa, então era natural que eles perguntassem sobre sua condição de saúde já que eram companheiros. 

“Eu estou bem. Obrigado por perguntar.” Mayck respondeu com um leve sorriso abaixo de sua máscara, mas sem dar a entender que estava a fim de uma conversa, ele só queria sair rapidamente.

Entretanto, ele falhou em passar essa mensagem para os dois membros da equipe Alfa. 

“Isso é ótimo. Então quer dizer que você já pode se movimentar?” Ethan pôs a mão em seu próprio ombro e girou seu braço, se alongando. 

“Bem, sim…” Mayck inclinou a cabeça sem entender o que o garoto queria dizer com se movimentar. Ele estava vendo-o de pé e andando, não era?

“A gente tava pensando em fazer uma patrulha. Quer vir com a gente?” Lily pôs em palavras o que seu amigo queria. 

Mayck queria recusar. Mas que tipo de desculpa daria? Não dava para dizer que estava indo apenas dar um passeio, pareceria muito negligente da parte dele. Ele pensou por alguns segundos e acabou concordando. 

“Então vamos. Não podemos perder muito tempo.” Lily deu as costas e seguiu para o elevador. Ethan e Mayck seguiram após ela. 

“Hehe… isso vai ser bem divertido.” Ethan sussurrou em um tom que só Mayck pôde ouvir. O garoto olhou para ele, esperando que prosseguisse. 

“É que eu estava ansioso para ver seu poder. Você conseguiu fazer uma bagunça e tanto. Depois de ver aquela destruição na floresta, só fiquei mais animado.”

Então era isso…

Mayck soltou um riso sem graça, escondendo seu desgosto sobre aquela ideia. Ethan parecia realmente entusiasmado para ver aquilo, mas …

Receio que isso não aconteça. 

As condições de Mayck naquele momento não eram tão favoráveis a ele, por isso queria evitar conflitos no caminho até o local onde encontraria sua tarefa, mas a roda do destino não queria deixá-lo descansar. 

Vou fazer o meu melhor… para não precisar fazer nada. 

Se não tivesse que fazer nada, poderia driblar a curiosidade de Ethan, mesmo que só por um tempo. Essa tarefa poderia ser classificada como A, no jogo que estava participando. 

Ninkais eram criaturas problemáticas e assustadoras, mas, de algum jeito, elas conseguiram uma relação de presa e predador com os portadores e essa relação estava em constante alternância entre si. 

Desde o tempo em que elas foram libertadas para o mundo inteiro, deixaram de ser apenas monstros tenebrosos, frutos de experimentos doentios e problemáticos, e se tornaram uma fonte de renda mundo afora. Isso porque a Strike Down se encarregou de lidar com elas. 

Tal coisa só foi possível com a ajuda dos governos de todos os países em que havia uma base da Strike Down — praticamente o mundo inteiro —, que sabiam tudo sobre os portadores, dado o grande histórico de confrontos entre eles que ocorreram até mesmo nas duas guerras mundiais. 

Ocultos pela escuridão da noite e acima dos postes de iluminação, os três saltavam de telhado em telhado, sem nenhum rumo específico. Como dito por Luna e Ethan antes, era apenas uma patrulha. Se houvesse algum problema no caminho eles tentariam resolver. 

No entanto, mesmo que o corpo de Mayck estivesse com eles, sua cabeça estava em sua tarefa e no local que iria encontrá-la, então ele seguiu seus dois companheiros no modo automático, totalmente em silêncio. 

Vou aproveitar que estamos no caminho e vou me separar deles depois. 

O endereço mencionado no e-mail não lhe era estranho. Ele sabia para onde ir, então o principal problema seria encontrar exatamente onde estaria a sua tarefa. Ela poderia estar em um adesivo de código QR, como antes, ou então algum texto criptografado escrito em algum lugar. 

Talvez não fosse nem isso, e ele poderia achar a tarefa inscrita explicitamente em algum lugar. Enfim, eram muitas possibilidades. 

Mayck estava respirando um pouco pesadamente, como se o ar ao redor estivesse ficando rarefeito. Não era só impressão dele e isso ficou claro quando os três pararam de repente e Ethan comentou sobre isso. 

“Então vocês também estão assim? Por um momento eu pensei que minha resistência tinha caído”, Luna comentou dando uma leve chacoalhada em seu casaco, fazendo uma pequena corrente de ar passear por seu corpo. 

“Nem hoje a tarde estava tão quente. O que será que houve?”

“Quem sabe…?” Mayck pôs o DA na frente de seus olhos e ele se ativou automaticamente, como se tivesse vida própria e soubesse a sua hora de agir. “Que estranho… o DA marca a temperatura baseado em quê?”

“Hmm… se não me engano, ele tem alguns sensores térmicos na armação, então ele deve medir a temperatura em tempo real de uma determinada área.”

“É como se fosse um termômetro”, Ethan resumiu a explicação de sua amiga como se aquelas linhas fossem desnecessárias. E, claro, ela não gostou nenhum pouco disso e pisou em seu pé. 

Mayck não prestou atenção na performance da dupla. Sua mente estava viajando por outros mares e ele sentia que estava deixando algo passar. Ele refletiu um pouco enquanto encarava os números do DA, então, teve uma ideia. 

“Esperem aqui. Eu já volto.”

“Hm? Aonde você vai?”

“Só vou testar uma coisa”, ele falou rapidamente, sua voz ficando mais baixa aos ouvidos de Luna e Ethan, porque ele já tinha se afastado bastante. 

Ele percorreu o caminho de volta, e quando estava a uma certa distância, verificou o DA novamente. Os números que calculavam a temperatura tinha baixado consideravelmente, e até mesmo seu corpo sentiu frio comparado há alguns minutos. 

“É… como eu pensei. Aqui está frio, mas lá pra frente está mais quente. Então não é o clima da região. É como se a cidade estivesse pegando fogo e apenas uma certa área ao redor dela ficasse com a temperatura mais alta.”

Ao confirmar sua teoria, ele retornou para seus dois colegas e reportou o que descobriu. Depois de perceberem que algo estranho estava acontecendo, eles não podiam mais ficar relaxando, então continuaram seguindo na mesma direção.

À medida que iam em frente, a temperatura só aumentava. Mayck queria tirar o manto, na verdade, toda a sua roupa, mas não era algo moralmente correto e ele não faria isso mesmo que pudesse. Ethan e Luna compartilhavam da mesma opinião. 

No horizonte, na exata direção deles, há vários metros, uma nuvem negra e densa ascendia para os céus, e um brilho alaranjado a iluminava perto dos edifícios. 

“O que é aquilo?”

“Um incêndio?”

“…”

A essa altura, eles já estavam saltando por cima de prédios e, a julgar pela posição em que se encontravam, o possível incêndio parecia estar na avenida próxima à estação. Quando se aproximaram o suficiente para poder enxergar a fonte, onde o ar estava muito mais pesado, pararam.

“O que…?” Luna, rapidamente tirou a máscara e cobriu o nariz com as mãos. Ela iria repetir a última pergunta de Ethan, mas a fumaça fez sua voz travar, então o próprio Ethan repetiu a pergunta, embora um pouco diferente de antes. 

“Mas que porra é essa?!” Ele exclamou, também cobrindo o seu nariz com a mão, após tirar sua máscara, para não inalar a fumaça. 

Mayck acabou fazendo a mesma coisa, e eles se afastaram para não verem o rosto um do outro. 

Naquele momento, o trio possuía a mesma dúvida e a mesma confusão. O suor escorrendo em suas faces ressaltaram seus olhares cheios de perplexidade, como se vissem algo de outro mundo. 

A massa incandescente, como se fosse a própria fúria da terra, avançava implacavelmente, desfazendo o asfalto sob seus pés com um calor que podia fazer arder uma folha de papel a metros de distância. O odor acre dos gases vulcânicos impregnava o ar, como se uma gigantesca churrasqueira estivesse sendo acesa na cidade.

A escuridão se instalava com a fumaça espessa que devorava o oxigênio, mergulhando a paisagem numa penumbra sufocante. Era como se a própria natureza estivesse exibindo sua força, mas era mais do que óbvio a principal causa disso.

“Com certeza é obra de um portador. O DA registrou uma grande quantidade de energia sendo emitida daquela coisa.”

“Cof… mas que desgraçado faria uma coisa dessas? E bem no meio de uma avenida? Ele não pensa nas consequências?” Ethan elevou sua voz, irritado com quem fez aquilo. 

“Mesmo que você me pergunte, não é como se eu fosse saber…” Mayck respondeu com sua voz plena, enquanto lutava para não inalar muita fumaça. “Mas já que fez uma coisa dessas, não devemos ir atrás dele?”

“Bom, é nosso trabalho, então vamos nessa.” Ethan relaxou um pouco e, sem dar uma chance para objeções, ele inclinou seu corpo para frente, e se jogou naquela fumaça assustadoramente escura, onde a incandescência daquela substância clamava por destruição. 

Mayck se assustou com o movimento repentino de seu colega e acabou ficando sem palavras. Ele quis reclamar com Luna, mas ela parecia não ligar muito. 

“Ele…”

“Nossa, que cara sem noção”, Luna comentou com uma voz apática e, sem pensar duas vezes, saltou após Ethan. 

“Espera aí…” seu chamado foi ignorado. 

Por um momento, Mayck imaginou que estava lidando com dois malucos e os observou caindo do prédio de vinte andares e sumindo no breu. Quando estavam bem próximos do chão, um dispositivo de magnetismo emitiu uma onda poderosa que amorteceu a queda deles. 

Ah… a gente tem isso, né?

“Francamente…” Não parecia haver outras escolhas para o garoto, então ele fez o item aparecer magicamente em sua mão e ele saltou do prédio. 

Por sorte, caiu na calçada, onde a grande massa de alta temperatura, cuja luz parecia ser um pedaço do sol iluminando a escuridão que deveria ser noite, não alcançava.

“Uwah… aqui tá um inferno.” Ênfase na última palavra. Ethan balançou rapidamente a mão em frente ao seu pescoço, como se fosse adiantar alguma coisa. 

“Essa coisa… é lava?” Luna, apesar de sentir seu corpo parecer derreter, analisou o elemento estranho até então de perto. “Parece que um portador fez uma bagunça por aqui. E deve ser uma pessoa bem forte.”

“É? Eu gostaria de enfrentá-lo…” Ethan fez uma pausa para se imaginar triunfante sobre a pessoa que expeliu toda aquela quantidade de substância vulcânica. Um sorriso convencido surgiu em seu rosto. 

“Para de viajar. A gente precisa encontrar a pessoa que fez isso e alertá-la. Se ele continuar fazendo coisas assim por aí, civis podem ser envolvidos.”

Depois que Luna pôs seus pensamentos em palavras, a lava começou a sumir misteriosamente, como se estivesse sendo absorvida pelo solo já consumido. Depois de sumir por completo, a temperatura baixou, como se nunca tivesse aumentado em primeiro lugar. 

A fumaça também se dissipou rapidamente, e o ar puro reclamou seu poder. 

“Parece que o efeito passou… mas…, olha só que bagunça…”

A rua estava irreconhecível, não havia nada que pudesse ser chamado de asfalto — pelo menos dava para saber que havia uma rua ali. Já que a lava não estava muito alta, apenas parte da calçada fora danificada e derretida. A única coisa que não havia sumido foi o odor dos gases. Mas isso não era problema, ele seria dissipado com o vento conforme o tempo passasse. 

“Acho melhor… deixar a Strike Down cuidar disso”, Luna falou com desgosto, ao ver aquela destruição. 

Mayck e Ethan concordaram com ela.

Um grito desesperado ecoou pela escuridão. O trio rapidamente se alarmou, e após um gesto de confirmação entre eles, correram até a fonte do barulho. 

Quanto mais se aproximavam, mais os gritos aumentavam e se tornaram palavras e com ele um cheiro familiar. Eles chegaram até um beco, iluminado por uma luz incandescente. 

Lentamente, um garoto alto e com trajes pesados, caminhava até outra pessoa, a qual estava sentada no chão se arrastando para trás, já que parecia ser sua única forma de escapar daquele lugar sem saída. Passar por aquele homem era impossível. Ele nunca quis encontrar um monstro desses. 

Era só uma caçada habitual com o grupo de sempre. Aquele garoto nem imaginava que um pequeno desentendimento com outro caçador fosse colocar a sua vida em risco — mais do que lutar contra Ninkais. Uma batalha fervorosa — por assim dizer— resultou na morte de seu colegas e na perda de sua perna esquerda.

Um rastro de sangue foi deixado para trás, desde a avenida até o beco. 

“Por favor, para com isso! Eu já disse que você pode ficar com ele, não disse?!” Sua voz elevada, que gritava do âmago de seu ser implorando por sua vida. 

O homem à sua frente não se importou. Ele estendeu a mão na frente de seu rosto e uma substância incandescente surgiu, pingando no chão, aumentando a temperatura do ambiente e liberando uma fumaça negra sufocante. 

“Cala a boca, seu lixo.” Apesar das palavras de ódio, ele tinha um sorriso doentio em seu rosto, como se seu maior prazer fosse tirar vidas… humanas. 

“O que é que você está fazendo?” Luna fez questão de fazer sua voz se sobressair acima da voz daquele homem, que não tinha medo de ceifar a vida dos outros. 

Ele se virou para ela. Reconheceu instantemente a máscara branca em seu rosto. 

“Tsk. Black Room.” Ele estalou a língua e voltou seus olhos para o seu alvo. “Esperem um pouquinho aí. Deixa eu terminar o meu trabalho.”

Sua mão ainda com lava sendo expelida e derretendo o chão, ameaçou o garoto, que implorou por ajuda, estando incapacitado de correr. 

“Você tem três segundos para interromper seu ataque e se afastar dele.” Luna tinha um tom severo em sua voz, algo que Mayck nunca tinha visto antes. Sinal de que ela estava no modo de trabalho. 

Após dizer isso, ela iniciou a contagem, de modo que todos ali pudessem ouvir. Aquela pessoa, no entanto, não fazia nenhuma questão de dar ouvidos a ela, e ignorou o trio da Black Room como se fossem pequenas pedras no caminho. 

“Três.” Ao final da contagem, uma lufada percorreu o beco. Luna atirou-se contra o homem e o atingiu com um chute giratório, arremessando-o contra a parede, como quem chuta uma caixa de papelão sem nenhum receio. A parede rachou-se com o choque. 

Mayck manteve seus olhos abertos e conseguiu acompanhar todo o trajeto feito por ela. Entretanto, ficou impressionado com a força que ela mostrou. Isso só o fez perceber que os membros da Black Room eram muito poderosos e não podiam ser subestimados. 

O DA não registrou muita energia, o que queria dizer que não houve uso de habilidades no chute. Luna usou seus poderes apenas na arrancada inicial — seu chute era genuinamente poderoso. 

“As vezes eu esqueço que essa menina é um monstro”, Ethan se pronunciou, com um pé atrás. Ele tinha que se lembrar de nunca mais provocar sua companheira, caso contrário teria o mesmo destino que aquele homem. 

“Sua vadia. Parece que os rumores são verdadeiros. Dizem que os membros da Black Room são todos uns demônios… Eu estava ansioso para encontrar um de vocês.” 

O homem se levantou após soltar um riso. Ele limpou o sangue de sua boca e encarou Luna. 

“Me surpreende como consegue ser tão imbecil mesmo depois disso. Esse foi um aviso. Se você causar mais problemas, vamos ter que tomar medidas mais drásticas.”

Luna não tinha um pingo de hesitação em sua voz. Ela era autoritária e sabia o que estava fazendo. Nunca iria se rebaixar ao nível de um babaca como aquele. Se o fizesse, não seria digna de ser parte da Black Room. 

“Há! Vai se fuder, sua vagabunda. Vou matar você e seus amiguinhos. Aí a gente vê o que acontece.” Ele parecia estar falando sério. Seu semblante arrogante não deixava dúvidas. 

A distância entre eles não era grande, então ele tomou isso como vantagem e, com o punho fechado e brilhando intensamente, direcionou um soco poderoso em direção ao rosto de Luna. Seu punho rasgou o ar velozmente, mas foi interrompido por Mayck e Ethan que, sem muito esforço, colocaram suas armas no pescoço dele, interrompendo-o. 

Ele parou seus movimentos. A lâmina de Mayck refletindo o brilho da lua e a mão petrificada de Ethan segurando seu punho com firmeza. Ele não via uma forma de escapar e percebeu que os adversários na sua frente não eram para brincar. 

“Hahaha… vocês são bem unidos, hein. Tá legal, eu vou parar por hoje.” O brilho em sua mão cessou e ele se deu por vencido. 

Mayck e Ethan se afastaram dele cautelosamente e Luna tomou a palavra, para advertí-lo pela última vez. 

“Bem. Você foi avisado. O que acontecer com você a partir de agora, é total responsabilidade sua.”

“Vai se fuder.” Ele pôs as mãos atrás da cabeça e seguiu para fora do beco, resmungando palavrões, e em passos pesados. 

Após a tempestade passar, eles foram até o outro garoto, cuja perna fora cortada de forma brutal. Após prestarem os primeiros socorros e estancarem o sangramento, conseguiram informações sobre aquele marrenta que havia ido embora antes. 

Tratava-se de Kazan. Segundo Keitarou — como o garoto se apresentou —, Kazan era um dos caçadores de Ninkais que possuía uma das maiores posições no ranking online, ocupando uma das dez primeiras posições. 

O ranking online foi criado secretamente por alguns portadores, como um canal privado que apenas portadores e caçadores tinham acesso — acessando a partir de um código compartilhado entre eles. Era como uma plataforma do submundo; o que era dito ali, permanecia ali e morria ali. 

Todos os membros do canal estavam estritamente proibidos de vazarem informações sobre o que se diziam, viam ou ouviam ali, e para garantir que essa regra fosse cumprida, aqueles com o cargo de inspetor conseguiam todas as informações sobre os membros. Portanto, cada um deles sabia o que poderia acontecer se fossem descobertos. 

Foi por causa disso que Keitarou se negou a dar qualquer outra informação que pudesse pôr sua vida em risco — não que já não estivesse. 

Desnecessário dizer que todos os companheiros dele haviam sido derretidos pela lava de Kazan. 

Depois que a equipe de recolhimento, chamada por Ethan, levou o garoto, Luna questionou se deveriam continuar aquela patrulha ou reportar para a base. Ethan quis continuar. Mayck tinha outra coisa para fazer, então disse que iria para um lugar diferente. 

Eles se separaram sem mais impedimentos. 

Mayck andou calmamente pela rua, sentindo o frio da noite, que fazia o calor que ele sentiu há pouco tempo parecer uma alucinação. Seu objetivo era chegar até a rua determinada no e-mail e ele chegou até ela sem demorar muito. 

A parte boa é que ela não é tão longe da estação. O problema agora vai ser encontrar onde está a minha tarefa. 

Aquela rua se estendia por vários metros, então ele teria que averiguar todas as centenas de casas e estabelecimentos que havia ali, uma tarefa nada fácil e que poderia facilmente estar ranqueada como B, já que ele nem sabia o que estava procurando. 

Caminhou pela calçada em que estava. Decidiu que fazer duas viagens seria mais simples do que percorrer em ziguezague pelas edificações. No entanto, foi só no final da segunda viagem que ele viu algo suspeito: um estojo de anel suspenso em uma placa de uma loja de bolos. 

Mayck não sabia dizer como estava se sentindo ao ver que o que procurava estava em um lugar tão óbvio e bem no começo da rua. Ele queria deixar o objeto de lado com raiva, mas não queria pegá-lo se sentindo incompetente. No fim, não havia outra escolha. 

Ele deu um salto e agarrou a caixinha. A fina e fraca linha estourou. Sem hesitar, ele a abriu e encontrou uma chave pequena, totalmente simples, do tipo que você ignora ao ver uma delas jogada na rua. 

Uma chave…? De onde será?

Ele a pegou e deu uma breve verificada. Ela realmente não tinha nada de especial. Era só uma chave comum e nada poderia mudar essa verdade universal. Mas ela devia servir para algo importante.  

Dentro da caixa também tinha um papel com números em recorte. 

25113141

Hã?

Outra sequência de números sem sentido apareceu para ele, e o que mais o surpreendeu foi a letra E no verso do papel. 

Eles estão brincando comigo?

Se ele conseguisse desafios fáceis assim, então seria perfeito, mas, por outro lado, era decepcionante receber desafios tão simples assim. Ele estava esperando algo mais desafiador, que colocasse todas as suas habilidades à prova. 

Ele suspirou, colocando seu desapontamento para fora. 

“Hum, fazer o que… só preciso descobrir o que isso significa.” 

Guardou a caixinha no bolso de seu sobretudo para checá-la mais tarde. 

Ele já poderia encerrar o seu dia ali, mas um organismo longo e pegajoso destruiu a parede na qual se chocou, por causa da esquiva que Mayck fez sem se importar. 

O que é isso agora…?

Ele olhou com o canto dos olhos, suas mãos no bolso indicando sua apatia acerca do que o atacou. Com certeza era um Ninkai, disso ele não tinha dúvidas. Na verdade era incrível como não havia dado de cara com um antes. 

No entanto, mesmo após olhar fixamente para o local de onde aquela língua que parecia ter vida própria havia saído, Mayck não conseguia ver praticamente nada, apenas um par de glóbulos brancos brilhando de forma monótona na parede de um prédio, coisa de um filme antigo em preto e branco. 

Contudo, era possível afirmar que ele era um monstro de classe pesadelo. Além de serem mais misteriosos que os demais, eles tinham um ar mais problemático — um verdadeiro fã de terror sentiria muito mais medo deles do que de outros Ninkais, que pareciam ter saído de um livro de fantasia. 

Parte disso era porque eles pareciam saber o que estavam fazendo… como se tivessem consciência e fizessem suas atrocidades com os humanos por diversão. Ninkais “normais” agiam como animais e perseguiam suas presas por instinto para se alimentar — era isso o que todos pensavam, uma vez que não sabiam o verdadeiro objetivo dessas criaturas. 

Os considerados de classe Pesadelo, no entanto, eram diferentes. Cada um tinha uma maneira peculiar de matar suas vítimas, fosse por tortura física, desmembrando-as aos poucos, fosse comendo-as vivas ou até torturando-as mentalmente com habilidades psicológicas. 

Em suma, eram criaturas que, em um momento de guarda baixa, você sofreria por um tempo antes de morrer. Suposições afirmavam que elas eram até mais inteligentes que os humanos e estivessem escondendo esse fato por mera diversão. 

Que pé no saco… porque logo agora? Eu não estou em boas condições para lutar. 

Mayck contra aqueles olhos brancos que se moviam para direções distintas ao mesmo tempo, mas sempre voltavam a ele. Eles se encaravam para ver quem faria o primeiro movimento. Mas se dependesse do garoto, eles ficariam estáticos, como se não houvesse amanhã. 

“Te achei!” 

A voz de uma garota ecoou pela rua silenciosa e um projétil azul translúcido voou velozmente em direção ao monstro invisível, que saltou de onde estava e se posicionou no meio da rua, revelando sua coloração cinzenta. 

Mayck olhou para a fonte da voz que reconheceu instantaneamente. 

“Oh, nos encontramos de novo”, Luna falou ao vê-lo. 

“Parece que sim.” 

Já que ela estava ali, ele poderia deixar tudo nas mãos dela. 

Ele suspirou aliviado. 

Se eu só precisar oferecer suporte, vai ser mais tranquilo. 

A aparição da garota ali foi totalmente conveniente. Se Mayck precisasse lutar contra aquele ser que poderia estar mais forte que ele no momento, não haveria um bom resultado. 

“Já que você está aqui, pode cuidar dele?”

“Hã?”

“É que eu sou de suporte.”

<—Da·Si—>

Em outro lugar, mais precisamente na residência dos Mizuki, Jade lutava para segurar as pontas quando questionada sobre a ausência de Mayck, o garoto que ela não fazia nem ideia de quem era, mas que fazia seu coração vacilar só de ouvir seu nome. 

As coisas haviam se acalmado no dia do casamento de Takashi e Suzune, mas os avós não ignoraram o fato de que não o viram no momento em que ele devia estar presente. 

Takafumi, apesar de sempre ter sido um homem flexível e gentil com seus netos, estava um pouco alterado quanto ao comportamento desrespeitoso que Mayck mostrou. 

Tomoko tentava acalmar as coisas, mas o idoso não queria mais desculpas; ele estava chegando ao limite de sua paciência. 

“Jade, fale a verdade, onde Mayck está? Já faz uma semana que ele não aparece. No que ele se meteu e o que estava fazendo?” Sua voz era severa, e mal continha a raiva que ele estava sentindo. 

“Eu… não sei…”

A pergunta já havia sido feita muitas vezes e em todas elas a resposta foi a mesma. 

“De novo com isso…” 

“Calma, calma. Ele deve ter um motivo para estar fora por tanto tempo. Vamos apenas esperar. Mayck não é um mau garoto, certo?” Tomoko fazia o seu máximo para aplacar a raiva de seu marido, mas estava cada vez mais difícil. 

O clima naquela casa não era mais o mesmo de uns dias atrás. Ele só foi piorando aos poucos e instaurou-se um clima nunca antes visto na casa em que só dois homens viviam e que, a partir de um certo momento, os membros aumentariam. 

“Jade e Takashi disseram a mesma coisa. Várias vezes. Como se Mayck fosse um completo estranho. E onde ele está numa hora dessas? Deixou o pai sozinho no casamento. O que será que aconteceu com ele? Perdeu o juízo?”

O homem questionava o porte que seu neto estava tomando. Ele nem reconhecia o garoto que estava em sua casa no mês anterior. Era como se fosse apenas uma máscara usada por ele para enganá-los. 

Jade já não sabia mais o que fazer. Ver seu avô agindo daquele jeito lhe deixava assustada e bastante ansiosa, e ela nem sabia exatamente o que estava acontecendo. Ela queria contar tudo e acabar com aquela nuvem de desgosto que pairava na casa…

Mas o que ela diria? Diria que não sabia quem era a pessoa mencionada? Isso criaria outro problema, então como ela daria um jeito? Não havia nada que ela pudesse fazer. Hesitante, Jade abaixou sua cabeça e continuou a lavar os pratos em silêncio. 

Já era noite, Lorena já estava dormindo, então eles tinham que evitar fazer barulho para não acordá-la. No entanto, Takafumi quase não conseguia conter sua ira. Ele estava sentado na cadeira perto da mesa e sua mão direita suspendendo sua cabeça, olhando para o nada. Sua postura era rígida, como se ele fosse começar a gritar a qualquer momento, mas ele calou-se por um tempo. 

“Se ele não voltar amanhã, eu vou até a polícia”, ele declarou, sua voz firme para não ser questionado. 

Os sons dos pratos de porcelana batendo um no outro e a água da torneira caindo na pia foram tudo o que restaram após ele dizer tal coisa. 

“Tudo bem.” Tomoko respondeu. 

Ela também não tinha ideia de como lidar com aquela situação. Ela acreditava que Mayck não era um garoto que fugiria de casa por estar com problemas ou por não concordar com o casamento de seu pai para não estar presente. 

Talvez algo sério tenha acontecido… ela pensou. 

O som da cadeira sendo arrastada bruscamente as assustou. Takafumi se levantou da mesa e subiu para o quarto reservado para ele e sua esposa, sem dizer mais nenhuma palavra. 

As mulheres ficaram em silêncio por alguns minutos, até que a voz serena e gentil de Tomoko falou. 

“Jade… você não sabe mesmo o que aconteceu?”

O corpo da garota gelou com a pergunta, mesmo com ela sentindo que era inocente. Tecnicamente ela não devia ter nada a temer. No entanto …

“Nã-não… eu não sei de nada…” Apenas essas palavras de negação saiam de sua boca. 

“Tudo bem então.” Tomoko procurou não insistir e o silêncio retornou. 

“Vó…” Jade a chamou após alguns segundos. 

“Hm? O que foi?”

“Eu… eu nem sei de quem vocês estão falando…”

Picture of Olá, eu sou RxtDarkn!

Olá, eu sou RxtDarkn!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥