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Capítulo 62 – Ambições secretas

Até que não foi tão difícil. Mayck pensou enquanto encarava a caixa de correios com o nome Yamada escrito em kanjis. 

Ele olhou de relance para os lados, verificando se não tinha ninguém ao redor — até porque havia invadido o quintal da casa, a única forma de ter acesso à caixa de correio — tudo limpo. 

Inseriu a pequena chave na fenda da fechadura e a girou. A caixa de correios se abriu e, dentro dela, estava um envelope branco, selado com cera vermelha, um tanto quanto medieval.

Quem usa isso hoje em dia? Mayck levantou uma sobrancelha, enquanto analisava minuciosamente o botão com algumas elevações. 

Apesar da confusão gerada por um meio de comunicação tão ultrapassado, ele deixou de lado, afinal não importava muito, e olhou o verso do envelope, onde estava escrito o código de confirmação que ele procurava. 

“Ótimo”, ele declarou. “agora é só enviar no e-mail.” Sem demora, pegou o celular e fez o que tinha em mente. Assim como antes, uma resposta chegou imediatamente, confirmando o cumprimento do desafio. 

“Digno de um rank E. O que será que vem agora?”

Após guardar o envelope em seu “inventário”, ele pulou o muro e se afastou imediatamente da casa; seria ruim se fosse pego por algum Yamada ou outra pessoa aleatória que, por algum motivo qualquer, estivesse na rua naquele horário. 

E, parando para pensar, mexer na caixa de correios de outra pessoa sem autorização e levar os pertences não se encaixa como roubo?

Fosse o que fosse, ele só torcia para não ter algo muito importante dentro daquele envelope, cuja origem era incerta, ou então ele teria mais problemas. 

Há algumas horas, quando Mayck se reencontrou com Luna enquanto ela perseguia um Ninkai, ele se sentiu aliviado, a princípio, por não ter que lidar com o monstro de classe Pesadelo. Sua esperança foi feita em farelos, no entanto, quando a garota disse que também não poderia lidar com ele sozinha. 

O motivo era que sua ID estava encaixada na classe de suporte, e ela, em especial, era do tipo que não tinha habilidades ofensivas poderosas. Isso fazia dela a principal suporte da equipe Alfa, totalmente essencial para a boa eficiência do time em qualquer missão. 

“Eu vou te ajudar, então não precisa se segurar”, ela alegou enquanto mostrava o polegar. Se o intuito dela com aquilo fosse encorajar o garoto, não deu muito certo. 

Eu não poderia me segurar nem se eu quisesse… sua consciência pesou por causa da incompetência.

Com seu poder de luta reduzido, Mayck não podia fazer nada além de dar o seu melhor e torcer para que seus ataques surtissem efeito; caso contrário ele seria a única vítima ali. 

O monstro que causava arrepios no mais profundo de seu ser apenas com o olhar, observou a dupla sem mudar de foco. A melhor parte — não para Mayck e Luna, mas para o próprio monstro —  era que ele, literalmente, podia ver os dois ao mesmo tempo, uma vez que seus olhos se moviam para direções independentes. 

Mayck suspirou. Não havia mais o que fazer. Ele até pensou em enrolar um pouco até que Ethan aparecesse, mas sabia que não podia deixar um monstro tão perigoso à solta. 

Os monstros da classe Pesadelo eram únicos. Podiam até contar com aparências semelhantes, mas suas habilidades distintas eram o que mais aumentava seu grau de dificuldade; nunca dava para dizer o que ele poderia fazer antes de enfrentá-los. 

Mayck olhou para a parede que foi atingida pela língua da criatura e o chão perto dela. O concreto estava derretido e uma linha de deformidades como se ácido tivesse respingado pelo caminho se estendia até onde o monstro estava quando o atacou. 

E esse cheiro… parece que a saliva dele é ácido. Forte o suficiente para derreter concreto com um mero toque. 

“E aí? Você tá pronto?” Luna gritou. 

“Vamos nessa. Tem algum plano?”

“O que você pode fazer?” Parecia uma pergunta besta, mas Luna nunca tinha visto Mayck lutar antes, então ela precisava ter uma ideia dos poderes dele para conseguir formular um plano. 

Mayck ponderou por um momento. 

“Eu não sei. Mas, eu posso bater de frente.”

“Não sabe… Bom, tudo bem. Então não tem segredo. Ataca ele com tudo o que você tiver, eu vou vigiar de trás e dar suporte.”

“Okay.” Mayck colocou a mão atrás de suas costas. Sua espada, retirada de seu inventário com um estalar de dedos, se prendeu a um pequeno suporte em seu sobretudo. 

Ele segurou o cabo dela e a desembainhou. Os receptores reagiram à sua energia e emitiram um brilho azul neon, que se estendia do guarda mão inexistente na espada até a ponta da lâmina negra. 

Luna a viu, e não pôde deixar de admirá-la. Era aquela uma das armas da nova geração que estava sendo criada pelos melhores cientistas da Black Room dos quais Michio fazia parte. Luna desejou ver o desempenho da arma na batalha ao ser empunhada por Mayck. 

“Pronto?” Ela encarou o monstro, ainda o analisando. 

“Vambora.”

Em uma arrancada veloz, Mayck correu na direção da criatura, que, pressentindo o momento da batalha, saltou e ejetou a extensa e pegajosa língua de sua boca contra o garoto. 

Ele desviou e tentou cortá-la, mas a língua parecia não ter peso nenhum. Era como tentar cortar um tecido que não estava alongado, ou como se a lâmina estivesse cega. 

Não dá pra cortar. Seu senso de urgência o fez saltar para trás e tomar distância. O monstro caiu no chão e continuou a encarar o garoto. Em seguida, abriu sua bocarra e ejetou sua língua para fora novamente, porém, inúmeras vezes como se fosse uma metralhadora. 

A velocidade chegava a ser assustadora e dava a ilusão de que havia dezenas de línguas, e cada uma delas atirando um jato ácido. 

Ele parece bem esperto mesmo. Está na defensiva. Será que pretende me cansar e depois partir pro ataque?

Mayck desviou de alguns golpes e bloqueou outros. Quando a língua se chocava contra a lâmina, ela parecia endurecer totalmente, deixando o impacto dez vezes mais pesado. Era como estar bloqueando dezenas de pedras gigantes sendo arremessadas sem parar por uma máquina poderosa. 

Enquanto se protegia, Mayck também protegia Luna, que estava imóvel e de olhos fechados, cumprindo as condições para a ativação de seu poder. Ele precisava evitar que os golpes passassem por ele a qualquer custo. 

Essa coisa faz jus ao seu título de classe Pesadelo. Não dá nem pra me aproximar desse jeito. 

Suor escorreu pelo seu rosto. Naquelas condições, a luta se tornava mais árdua do que deveria ser. Ele, com certeza, poderia tornar aquele monstro em pó com um único <Canhão Elétrico>, mas seria impossível naquele momento. 

Mayck tentou avançar para cima dele, mas o monstro o impedia, sabendo que não podia deixá-lo diminuir a distância entre eles. 

Merda, sem poder usar a eletricidade eu não vou poder chegar nem perto. 

Sua velocidade, mesmo sem habilidades especiais, ainda era muito alta — mais alta que os padrões de um portador sem treinamento —, no entanto, não era mais alta que a língua do Ninkai. 

“M-san, eu estou pronta. Pode ir sem medo”, Luna se pronunciou após algum tempo. 

Não era como se ele estivesse hesitante por medo nem nada, mas ele concordou. Se ela pensou tanto, deveria haver um plano. Ele decidiu confiar nela e se atirou contra o monstro, que imediatamente retomou seu ataque de língua ácida. 

Droga… 

O garoto até conseguia ver o trajetos dos ataques, mas ele não conseguia desviar facilmente, e ainda havia os respingos de ácido que eram jogados com o balançar da língua. Se ele precisasse desviar de todos, ficaria estagnado sem poder atacar. 

“Proteção do luar”, Luna estendeu as mãos na direção de Mayck. 

Um campo de luz azul translúcido surgiu na frente dele enquanto corria. A língua do Ninkai era refletida ao se chocar com aquele campo reluzente, o que diminuiu sua velocidade consideravelmente. 

Esse é o poder dela…? 

Mayck ficou impressionado outra vez, mas não parou de correr, enquanto, com a ajuda do escudo, cortava o ar e tirava a sua resistência — até mesmo sua própria velocidade aumentou.  

Agora eu posso me aproximar. Ele sentia a segurança de estar atrás de um escudo. 

Quando finalmente se aproximou do monstro, que tinha uma aparência semelhante a um camaleão, o monstro saltou novamente, porém, dessa vez, Mayck saltou com ele, mas ainda assim não conseguiu alcançá-lo. 

“Dessa vez não.” Luna tinha confiança no seu plano e em seus poderes. Ela não iria se permitir falhar. 

Ela estendeu sua outra mão, e mais um escudo surgiu abaixo de Mayck. Ele o usou como trampolim e pôde saltar mais uma vez — com um bônus de força, que o levou mais alto que o camaleão gigante. 

Eu espero que corte. 

Essa foi a última coisa que Mayck pensou antes de transferir sua energia para a espada e deixá-la envolta a faíscas azuis que vibravam o ar e emitiam um ruído grave. 

Depois de um rápido giro, a lâmina deslizou horizontalmente na área entre a cabeça e o abdômen do monstro, separando-os. Seu corpo dividido caiu no chão, se tornado apenas carne morta. O sangue respingou e escorreu pela via, exalando um odor repugnante. 

“Ugh!” Mayck, também de volta ao solo, saltou para trás, ficando mais distante daquele cheiro horrível. 

“Foi mais fácil do que eu pensava.” 

Luna se aproximou dele e analisou o corpo dividido do Ninkai, que já não era uma ameaça. 

“Até demais. Esse era mesmo um de classe pesadelo?” A dúvida não deixava o garoto em paz. Ele sabia a dificuldade que era para destruir Ninkais daquele tipo e mesmo com seus poderes limitados deu certo. 

Mas o crédito, ele pensou, era todo de Luna. 

“Sem dúvidas é. Vai ver que ele era mal desenvolvido. Vai querer a recompensa?”

“Pode ser que seja…” Mayck recusou a recompensa que poderia receber ao levar a carcaça da criatura para um posto de troca da Strike Down. 

“Eu também não quero… bom, vamos só deixar ele sumir. Não parece ter outros caçadores por perto, então eles não devem levá-lo.” Luna deu de ombros. “A propósito, quando você correu, caiu algo do seu bolso.”

Ela lhe mostrou a caixinha de anel.

“Ah, isso é meu.” Ele estendeu a mão para tomá-la, mas Luna a trouxe de volta para si. “Ei…” Ele a olhou, pressentindo alguma coisa. 

Os olhos da garota mudaram, estavam brilhando, e ela parecia ter ficado animada. Mayck sabia onde isso ia dar. 

“Isso é uma caixa de anel, não é?”

“Não… bem, isso…”

“É sim, não é? Pra quem você vai dar isso? Sua namorada?” Luna quase se jogou em cima do garoto. A curiosidade era tanta que poderia aumentar seu peso se fosse algo material. 

No entanto, Mayck quebrou-a ao dizer que não havia ninguém com aquele adjetivo para ele e tomou a caixinha. 

“Encontrei ela há pouco e acabei ficando curioso com o que tem dentro”, ele afirmou de forma natural, como se não tivesse nada a esconder. 

“Hmm… e o que é?” Ela olhou para as mãos do garoto, mas precisamente para a caixa na mão dele, que foi aberta e revelou uma pequena chave dentro. 

Não dava para ver por causa da máscara, mas o silêncio que Luna fez ao ver o objeto pequeno e quase insignificante denunciou a decepção que ela estava sentindo. Apesar disso, ela não deixou de lado.

“Uma chave? Parece bem antiga.”

“Sabe de onde pode ser?”

“Não tenho certeza, mas talvez seja de uma caixa de correios. Sabe, aquelas antigas que eram abertas com uma chave. Pelo tamanho eu acho que é isso.”

“Entendi… caixas de correios, né?” 

Mayck refletiu sobre isso, e pensou que, talvez, os números fossem uma dica de onde ele encontraria tal caixa de correios. 

“Você pretende usar isso?” Luna franziu uma sobrancelha e pôs a mão na cintura. 

“Bem, a chave está guardada em uma caixa de anel… talvez seja melhor levar para a polícia. Pode ser que alguém tenha perdido.”

“É… pode ser isso. Bom, eu vou procurar Ethan, agora. Você vem?”

“Eu passo. Vou encerrar por aqui.”

“Certo. Então, até mais.”

Mayck acenou para ela e a observou partir. 

Agora…

… Ele poderia procurar a caixa de correios. Primeiro teria que descobrir o que os números eram. Uma localização. Não pareciam ser coordenadas, então localizavam algo bem mais específico… talvez uma casa, mas o sistema de endereçamento do Japão era diferente do o com números que ele conhecia.

Se eu transformar números em letras talvez eu consiga um nome, não?

Com base nessa ideia, ele pegou seu celular e digitou as vinte e seis letras do alfabeto e atribuiu números a elas, depois encarou a sequência de números que recebeu e comparou-os. 

Como resultado, conseguiu o nome “Yamada”.

Depois disso, ele só teve que procurar, entre as centenas de casas da região, a casa do tal Yamada. Ele só a encontrou depois de duas horas e meia. 

<—Da·Si—>

Keiko suspirou profundamente. Sua feição era séria, quase sombria, o que fazia sua personalidade alegre, descontraída e cheia de energia parecer um mito. Quem a visse daquele jeito, sabendo como ela era, duvidaria de sua própria memória. 

Ela olhou para a tela do celular. Algumas linhas escritas lhe informavam sobre a conclusão do seu desafio anterior de ranque A. Ela jogou o cartão de visita contendo o código de confirmação em cima do corpo já sem vida de um dos membros de um grupo de portadores fora da lei. 

Seu rosto de tédio implicava que ela não tinha tido nenhuma dificuldade em lidar com sua tarefa. Um assassinato a sangue frio. Mas essa era a verdadeira cor de Keiko, o resto não passava de uma máscara que ela usava para se infiltrar na sociedade. 

Nada mais importa se eu não matar ele. 

Tais palavras martelavam em sua cabeça sem parar. 

Desde aquele dia… aquele dia em que Kin conseguiu escapar do laboratório, sua vida se resumiu a reencontrá-la quando chegasse sua vez, mas o que ela descobriu ao ser comprada para a Ascension a abalou fortemente. A partir daí, o que a movia era apenas vingança. 

Não só ela, mas Midori, Aiko, Yuriko e Saori também. 

Junto com Kin, elas eram inseparáveis. Só suportaram aquele inferno de dor e sofrimento porque estavam juntas. Com o tempo, elas criaram um laço forte demais para ser quebrado, porém, fino demais para elas lidarem com as perdas.

Elas não queriam acreditar nisso, então se recusaram a morrer… se recusaram a se separar. 

No dia da fuga, mesmo que só uma delas, deveria ser livre, não importava quem fosse. Elas decidiram em meio a lágrimas puras e verdadeiras. 

“Vamos nos reencontrar… e vamos viver juntas pra sempre.” O juramento de dedinho foi proposto por Kin, em seu último ato de desespero por abandonar suas amigas.

Eram apenas crianças querendo amenizar a dor. 

Cinco delas foram pegas e punidas severamente por tentar fugir. Foram punidas também no lugar de Kin e uma equipe de busca foi enviada atrás da fugitiva. 

As garotas até duvidaram se poderiam se ver de novo, mas elas mantiveram a esperança. 

Incontáveis experimentos, diversos testes dolorosos. Elas suportaram tudo porque estavam juntas. Elas aguentaram, mesmo que Kin não estivesse lá, pois elas tinham esperança de que se encontrariam novamente. 

Involuntariamente, Keiko mordeu os lábios e apertou os punhos, seu olhar totalmente sombrio. Porque Mayck a matou? Havia alguma necessidade? O lado fraco que ela tanto reprimia buscava por respostas. 

Mesmo que ele tenha tido um motivo, eu não vou perdoá-lo. Nunca. 

Sua decisão já tinha sido tomada há muito tempo. Tanto Mayck quanto Hana pagariam pelo que fizeram, mas então, porque…

Porque estou hesitando? Não havia nenhum motivo forte o suficiente para aceitar. Eu só quero acabar com isso de uma vez, e depois… vou libertá-las. 

Ela desligou o celular e o guardou no bolso. Sua faca de combate dourada com o cabo arroxeado suja de sangue foi limpa nas roupas do cadáver e depois foi posta na bainha de couro preta revestida de um material não cortante, 

Ela saiu do beco em que estava, deixando o corpo morto para trás. Pouco importava para ela se alguém encontraria ou não. 

Dois desafios foram realizados no mesmo dia. Ela não sabia quantos mais teria, mas ela só precisava cumpri-los até o fim do sétimo dia, quando veria Mayck e Hana tirarem a própria vida após serem humilhados. 

Se isso a deixaria satisfeita, era outra questão. Mas estava tudo bem. Desde que apenas ela carregasse o peso da vida deles…

… estava tudo bem. 

Elas não precisam me seguir até o inferno. 

Seu contrato com Yang era até sua vingança estar completa. Após isso, eles não se veriam nunca mais. 

Ao dobrar uma esquina ela se deparou com um certo portador. Sua máscara branca não faria efeito nela, então ela o reconheceu facilmente. Não esperava ver aquela pessoa tão cedo. 

A tal pessoa também parecia surpresa, embora não desse para ver seu rosto. Mas ele passou por ela, como se não ligasse. 

Após alguns passos, com o seu eu falsificado, Keiko abriu a boca, falando alegremente, como Mayck a conheceu.

“Espero que seu coração esteja pronto. Faltam apenas seis dias.”

O garoto parou e, de costas para ela, respondeu:

“Não se preocupe, eu vou estar pronto quando a hora chegar.” Ele tornou a andar, implicando que não tinha mais nada para dizer a ela. 

Keiko, no entanto, não estava satisfeita em ser ignorada, então ela estalou a língua e continuou, sua postura ficou rígida e sua voz mais severa. 

“Depois do casamento, o compreensível Takafumi e a gentil Tomoko ficaram bem irritados com você. “Não posso acreditar que ele fez uma coisa dessas”, ele falou.” Keiko sorriu maliciosamente após fazer uma pequena imitação do avô do garoto. 

Ela mencionou algo que ouviu de Takafumi depois que a celebração do casamento acabou. Eles haviam se reunido na casa dos Yukino, fazendo companhia para Haruna. Estavam todos reunidos e Mayck acabou se tornando o assunto do momento — só para Takafumi e Tomoko, já que o restante não fazia ideia de quem era tal pessoa. 

Vê-los agir como se não o conhecessem só deixou o homem irritado. Ele deixou a casa em passos pesados e em silêncio, ignorando todos desde então. 

Tomoko também estava sofrendo com isso. Lorena estava confusa, Jade… talvez ela fosse a mais afetada, pois sentia uma culpa muito grande e sem saber o porquê.

“…”

“É tão incrível ver toda a família que acabou de ser formada caminhando para a destruição…” 

A garota pôs a mão no peito e olhou para cima ainda com seu sorriso malicioso, como se estivesse sentindo prazer apenas em imaginar Mayck sofrendo. O que não deixava de ser verdade. 

“E quanto a você? Como se sente não pertencendo a lugar nenhum? Deve ser tão difícil. Coitadinho… Morrer não deve ser melhor?”

Mayck ficou em silêncio. Ele tinha que controlar suas emoções, então decidiu que a melhor forma de lidar com Keiko, que queria vê-lo se humilhar da pior forma possível, era contra-atacando do mesmo modo.

Seria terrível para ele também, mas… 

“Heh… você sempre foi assim? A garota idiota que eu conheci era só uma farsa, hein. Eu gostaria de saber o que Kin diria ao te ver desse jeito…”

Era a intenção de Mayck machucá-la um pouco, mas surtiu um efeito pior que o desejado. Ele teve apenas uma fração de segundos para desviar de um chute de calcanhar de Keiko, que destruiu parte do muro ao lado deles como se fosse apenas isopor. 

“Cala a boca… você não tem o direito de falar dela.” 

“Se você ao menos não fosse uma imbecil que acredita em um merda como o Yang, nós já teríamos resolvido isso.” Mayck não ficou hesitante, mesmo que estivesse encarando o pé da garota a poucos centímetros do seu rosto, e mais, ainda que tal chute tenha quebrado a parede. 

“Eu acho que devo cancelar o jogo e te matar agora mesmo.”

“Se acha que consegue, pode tentar.”

Eles se encararam por alguns segundos. A tensão entre os dois era sufocante. Nenhum espectador poderia dizer o que poderia acontecer ali a qualquer momento. 

Entretanto, mesmo sendo obrigada a reprimir todo o ódio e repugnância que ela sentia pelo garoto que tirou a vida da pessoa que ela considerava como irmã, ela abaixou sua perna e virou de costas. 

“É melhor que esteja preparado para o último desafio…” Um sorriso amável surgiu em seu rosto e seus cabelos verdes voaram quando ela se virou para olhá-lo mais uma vez, seus olhos refletindo a luz da lua. “Eu estou muito ansiosa para te ver sofrer cada vez mais.”

Assim, ela se retirou. Como uma tempestade violenta e repentina, ela deixou Mayck para trás, enquanto reforçava a sua determinação de tirar a vida dele não importando o que fosse sacrificado. 

Mayck suspirou. De todos os seus inimigos, Keiko era a mais problemática. Parecia que ela nunca consideraria ouvir o seu lado da história, por mais que ele mostrasse provas e mais provas. Não que ele as tivesse, por isso ele não disse que mostraria a verdade para ela. 

Talvez aquele incidente nunca fosse se resolver. O desafio apenas daria mais tempo até que a vingança de Keiko fosse realizada. 

Por outro lado, o garoto não podia negar que ainda sentia um pouco de culpa pela morte de Kin.

Fazer o que… se eu conseguir fazer Yang admitir que é mentira… então talvez…

Mas isso poderia demorar muito. Ele não viu Yang desde a ligação que ele fez para a Black Room.

“E encontrá-los ainda é meu trabalho.”

Mayck balançou a cabeça de um lado para o outro, lamentando o tanto de coisa que tinha em suas costas. 

<—Da·Si—>

“E pensar que as janelas formariam uma palavra…” Hana suspirou, cansada depois de percorrer tantos lugares e quebrar a cabeça tentando descobrir a ordem certa dos kanjis para a formação da palavra. 

Pelo menos está resolvido, mas…

Novamente, ela olhou o e-mail que havia recebido com sua tarefa bônus. 

Eu quero saber o que isso quer dizer. 

O email em questão, possuía uma mensagem confusa e o que ela mencionava deixou a garota com um frio na espinha. 

O quanto eles sabem sobre mim?

Sua família esconde um segredo. Descubra-o. 

Tais palavras eram repetidas inúmeras vezes em sua cabeça. Pedia ajuda a Mayck? Não, ele já tinha os próprios problemas para lidar. Isso era algo que ela precisava resolver sozinha. 

Ela observou o céu aberto e cheio de estrelas e parou de caminhar, contemplando o silêncio daquela rua e o canto dos grilos. 

Um suspiro. 

“Qual será a minha próxima tarefa? Será que Mayck já cumpriu a dele? Provavelmente sim.”

Ela precisava espairecer, então fez um rápido passeio solitário. A ausência de Ninkais na região era estranha, mas, ainda assim, era como deveria ser. Um mundo sem monstros, um mundo sem maldade… esse seria um mundo perfeito. 

Hana voltou para casa. Seus pais estavam dormindo, então a cautela tinha que beirar o extremo. O silêncio na casa era tenebroso, mesmo que fosse o normal. Sem demora, a garota foi para o seu quarto e se trancou. 

Ela recebeu o local de sua próxima tarefa. O que encontraria lá, ela não sabia, mas teria que cumpri-la, não importava o que fosse. 

Eu preciso protegê-lo… dessa vez, com certeza eu vou…

Muitos arrependimentos à espreita em sua consciência. Mas Hana precisava seguir em frente, se falhou uma vez, então tentaria novamente depois. 

Kin-chan… como você se sentia sobre nós?

A dor de perder uma amiga preciosa pesou sobre ela. Ela se arrependia por não ter descoberto sobre as IDs antes. 

Eu poderia ter evitado tudo isso…

Ela desligou o celular. O dia seguinte seria cheio, então ela precisava descansar. Além das aulas, ela teria que se dedicar às suas tarefas e ajudar a sua equipe nas missões. 

Enquanto a garota cuidava de si mesma, Masato desceu para a cozinha. Ele recebeu uma ligação e foi atender longe dos ouvidos de sua família. 

O número estava marcado como desconhecido, mas sua voz não era de todo estranha. Para Masato, era uma voz familiar e uma que ele estava esperando ouvir há algum tempo. 

“Você demorou a ligar. Teve problemas?” Ele falou despretensiosamente após atender a chamada. 

“Problemas eu tenho vários. Mas não se importe com isso, foque apenas no seu objetivo, por favor. Não podemos falhar por mera distração. Minhas crianças estão mantendo eles ocupados, e enquanto isso eu preparo o que falta. Continue vigiando, está bem?”

“Claro, claro…” Masato ficou em silêncio por um tempo e a pessoa do outro lado da ligação notou essa estranha falta de comunicação.

“O que é? Não vai dizer que está hesitando, né?” Ele supôs. 

“É claro que não. Eu já cheguei até aqui, não volto nem ferrando.”

“Se é assim, então está ótimo. Não quero um chorão no meu pé me pedindo para interromper tudo só porque é sua filha.” Sua voz era severa e parecia estar dando um aviso. 

“Eu sei. Não precisa se estressar. Eu sempre estive pronto para ser odiado.”

“Se é assim, então está ótimo. Enfim, tenha uma boa noite, traidor Tsubaki Masato.” O dono da voz o provocou, enquanto dava uma leve risada. Em seguida, o toque interminável que indicava o fim da chamada soou. 

Masato suspirou ao desligar o telefone. Parte dele questionava se ele não sentia remorso pelo que estava fazendo, mas ele parecia determinado desde sempre. Nada poderia pará-lo e nem impedi-lo de alcançar o que tanto buscou. 

“Eu vou fazer você voltar, com toda a certeza.” Um sorriso em seus lábios, envolvido pela sua barba curta e bem cuidada, surgiu.

Eu espero que vocês tenham feito ela crescer, Strike Down. Não quero desperdiçar nenhuma chance. 

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