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Capítulo 72 – Um passo rumo ao colapso

Tirar vidas. Um ato extremamente repugnante. Era uma das coisas que Mayck mais odiava, mesmo que ele o tenha repetido diversas vezes. Entretanto, ele não fazia isso por diversão. Claro, qualquer coisa que ele dissesse a respeito iria parecer mera desculpa, então ele apenas se arrependia em silêncio. 

Não tinha o direito de dizer quem vivia e quem morria, mas ainda tinha que fazer certas escolhas; caso contrário outros iriam sofrer as consequências. 

Ele procurou manter a calma, por mais que fosse difícil. Não podia simplesmente disparar para cima de Kazan com toda a sua fúria e matá-lo. 

Então, repetia a si mesmo:

Relaxe…

Ele guardou sua espada e deu uma última olhada no rosto irritantemente satisfeito do homem. Depois, virou-se para Kana, que estava um pouco abatida. 

“Murasaki-san, vamos procurar de onde vem.”

“Tudo bem. Temos que ir o mais rápido possível, antes que seja tarde demais.”

“Hyu, fica de olho nesse cara. Não deixa ele fugir, até a Strike Down chegar.”

“Eh? Strike Down? É sério?” Hyu queria protestar, mas já havia causado muitos problemas, então desistiu e acenou com a cabeça. “Tá legal. Vou me certificar de que ele não fuja.”

Mayck se distanciou com Kana, que flutuava com seu guarda-chuva, enquanto se concentrava no som. 

“Estamos perto”, ela anunciou após algum tempo de busca nos arredores dos edifícios destruídos. A essa altura, Mayck também podia escutar o choro abafado. “É por aqui.”

Ela se direcionou para uma pilha de escombros e pousou rapidamente, verificando o local exato. 

Logo, Mayck se aproximou. O choro ali estava mais claro que antes, então eles tiveram certeza.

Porém, as pedras de cima haviam se tornado rochas vulcânicas, então seria difícil tirá-las normalmente. 

O que eu faço…?

Se quebrasse com algumas habilidades poderia machucar o bebê, já que não faziam ideia da posição em que ele estava, por isso seria perigoso atacar sem pensar. 

Não havia outras opções em sua cabeça. 

Mas naquele momento de indecisão, Kana chegou como uma salvadora e disse que tinha algo que ela podia fazer. 

“Eu posso me esgueirar pelas sombras até a parte de dentro. Então posso usar minhas habilidades de vento para destruir de dentro pra fora.”

“Você consegue? Mas isso não pode acabar machucando o bebê?”

Se uma habilidade fosse usada em um espaço tão fechado, especialmente uma habilidade de dano em área, pessoas ao redor não escapariam ilesas.

“Não se preocupe. Eu posso controlar o fluxo e mandar numa só direção.”

Mayck duvidou das palavras. Parecia conveniente demais, no entanto, se aquela fosse a melhor das opções e a mais segura, então precisava apostar nela. 

“Tá legal. Faça isso, por favor.”

Kana balançou a cabeça e fechou seu guarda-chuva, batendo-o contra o chão em seguida. Seus olhos se fecharam por um momento e no segundo seguinte ela desapareceu no chão, como se um buraco tivesse sido aberto abaixo dela. 

Mayck acabou ficando abismado com aquela habilidade surpreendente. 

Então ela pode controlar sombras?

De uma forma ou de outra, tudo o que ele podia fazer era esperar, imóvel, que tudo desse certo. 

Espero que fique tudo bem. 

A tensão tomou conta dele, conforme os minutos se passavam e nada acontecia. O choro do bebê parecia incessante. Ele estava sofrendo. Não era só medo, ele ainda tinha que lidar com o calor extremo que estava entre os escombros. 

Além do mais, se tem um bebê aqui, quer dizer que uma família morava nesse lugar. Será que tinha mais pessoas?

Se houvesse, então isso queria dizer que havia uma alta chance daquela luta ter causado um massacre. Isso fazia sua raiva contra Kazan aumentar espontaneamente. 

Ele sorriu quando ouviu Kana. Parece que ele é só mais um maldito psicopata. Não tem como deixar esse tipo de portador livre. 

O garoto apertou os punhos. Uma ansiedade sombria recaiu sobre ele. 

De repente, o choro do bebê cessou, chamando sua atenção. A possibilidade de Kana ter chegado até ele fez seu coração palpitar, mas não tanto quanto a outra possibilidade que ele se negava a aceitar. 

Segundos depois, uma poderosa rajada de vento soprou os escombros para cima, destruindo-os e jogando-os como se fossem folhas; Mayck saltou para trás assim que ouviu um som alto e perigoso. 

Kana saltou de dentro de um buraco e pousou elegantemente, abrindo seu guarda-chuva para se proteger dos escombros que caíram em seguida. Em seus braços, um bebê chorava. Ele tinha alguns ferimentos e queimaduras, mas não parecia nada tão grave. 

Um suspiro de alívio escapou da boca do garoto, que sentiu uma pequena felicidade ao ver Kana trazer a criança para longe de seu sofrimento. 

Com um sorriso no rosto, a garota desceu de cima da pilha e se aproximou de Mayck com um sorriso. 

“Olha só, eu consegui.”

“Eu vejo.”

Mayck olhou para o bebê mais atentamente. Apenas olhando, dava para dizer que ele não tinha mais que seis meses de vida. Suas roupas estavam um pouco queimadas também. Em seguida, ele olhou para o prédio. 

Era incrível como aquela criança conseguiu sobreviver. Naquelas condições, apenas um portador seria capaz de se safar de um desastre como aquele. 

“E então? O que faremos com ele? Não tem como eu cuidar dele.”

“Eu…” 

O garoto nem terminou sua fala e uma voz se sobrepôs à dele. 

“Eu sei onde ele pode ficar.”

Tanto Mayck quanto Kana se viraram rapidamente para o indivíduo em questão. 

“Se vocês confiarem em mim, eu posso dar um novo lar a ele.”

“Você é… John, correto? Um dos líderes da Strike Down.” Mayck o encarou, reconhecendo de quem se tratava.

“Sou eu. Eu me perguntaria de onde você me conhece, mas, sendo um membro da Black Room, não me surpreende. Como vai ser? Vão confiar em mim?”

Ele não se lembra de mim? Ah, é. Eu tô usando a máscara. 

Mayck buscou a opinião de Kana, mas ela deu de ombros. 

“Eu não quero me envolver mais. Então decida você mesmo.”

A única saída do garoto, então, foi aceitar. Kana levou o bebê inquieto para os braços de John. 

“Eu garanto que ele vai ficar bem. Agora, se me dão licença, eu preciso terminar meu trabalho aqui.”

Mayck olhou ao redor. Ele tinha percebido várias presenças, mas como não pareciam ter más intenções, ele apenas ignorou. Mas ali estavam cerca de vinte membros da Strike Down. Todos vestindo trajes pretos de batalha que serviam para muitas coisas além de dizer quem eram. 

E só de olhar a postura que eles tomaram ao redor de Kazan, dava para dizer que eram todos portadores poderosos, que estavam ao dispor de John, um homem igualmente forte até mais. 

Com isso, Mayck percebeu que não precisava fazer mais nada. 

Vou deixar nas mãos deles… eu não quero ter que lidar com aquela figura. 

Sua raiva estava sendo contida ao máximo. Por causar tantos problemas, ele tinha certeza que a punição de Kazan não seria nada leve nas mãos de uma organização tão rígida. 

Contudo, um pequeno flash e um som rápido e curto ecoou pelo ambiente. Todos se voltaram rapidamente para a origem, onde um civil segurava seu celular e tirava fotos de tudo ao redor. 

Não…

A reação de Mayck foi fria. Aquilo era terrível, mas todos sabiam que podia acabar acontecendo. 

Quando percebeu que foi notado, o civil se assustou e disparou para a escuridão da rua sem iluminação pública. 

“Droga… Alguém vai atrás dele…” John gritou dando a ordem, porém, uma explosão com um clarão o interrompeu; Kazan acabara de fugir. 

Os soldados cogitaram persegui-lo, mas John disse que a prioridade era apagar as imagens e gravações daquele civil, então eles desistiram. 

“Ora ora. Parece que os problemas estão aumentando. Primeiro Kazan faz uma bagunça dessas, agora um civil registra tudo. Nesse ritmo, nós vamos perder nosso lugar nas sombras.”

Havia verdade nas palavras de Kana. Tudo o que Mayck pôde fazer foi suspirar.

“Eu vou ir atrás daquele cara. Não quero me meter nos problemas da Strike Down ainda mais. Até.”

Mayck se despediu e saiu de lá rapidamente. Hyu também tinha ido embora, assim que a Strike Down chegou. 

Mesmo que eu fique lá, não vou servir de nada. A Strike Down vai conseguir dar um jeito e também não posso quebrar meu contrato com Zero.

O garoto correu pela rua, na mesma direção que viu Kazan fugir. Não sabia se o encontraria naquela noite ainda, mas precisava tentar. Ele iria deixá-lo nas mãos de John, mas o homem acabou priorizando a segurança dos portadores ao invés dos civis. 

Talvez seja por isso que a Black Room foi criada. 

Se fosse Zero ou Nikkie, eles não teriam hesitado em tirar a vida de Kazan. 

Mayck correu por um tempo, se distanciando da área do incidente, mas ainda não conseguiu encontrar o seu alvo, então só lhe restou desistir. Poderia pedir apoio da Black Room depois.

Mas não vai demorar muito até eu te encontrar de novo… tenha certeza. 

A cabeça do garoto estava cheia. Era hora de voltar para casa. No dia seguinte, talvez, aquele incidente não passaria de lembrança para ele, embora os efeitos continuariam a existir. 

<—Da·Si—>

Tamanha explosão foi ouvida na cidade inteira. Mas, assim como em diversos casos relatados, quando a polícia chegou, não havia mais nenhum indício de que algo aconteceu, então virou apenas mais um caso de surto coletivo.

Isso deixava todos os agentes da polícia atordoados. 

Takashi revisou e revisou documentos e registros antigos e novos, mas não conseguiu nenhuma pista que pudesse chamar de boa. Era como se alguém estivesse brincando com eles. 

Desaparecimentos eram os mais irritantes. Já fazia cinco anos que eles não encontravam a maioria. De 100 desaparecimentos registrados, cinco eram resolvidos e a mídia não perdoava acerca dos casos divulgados. 

Embora tudo isso fosse inexplicável para a grande maioria dos policiais, para Takashi havia uma explicação que ele não queria aceitar, mas estava prestes a se jogar de cara nela. 

E isso envolvia assuntos do mundo sombrio que atingiam a luz do dia. Sim. Os portadores eram a resposta.

Entretanto, a existência deles era um segredo, então ele não podia apenas contar seus pensamentos para seus colegas de trabalho. Ele podia até ser chamado de louco e ter sua sanidade questionada. Mas esse não seria o pior. 

O pânico que seria causado na população em geral com a revelação dessas pessoas seria um desastre sem precedentes. O mundo entraria em colapso. 

Portanto, era melhor manter suas hipóteses para si mesmo. 

“Mizuki-san, eu trouxe os resultados da análise daquele perfil.”

Uma mulher alta de cabelos longos e castanhos entrou e entregou um envelope marrom para Takashi. 

“Ah, sim, claro. Muito obrigado, Takimoto-san. É bom que já tenhamos um resultado tão rápido.”

Yasu Takimoto era parte da equipe de Analistas de inteligência e estava responsável por uma investigação recém aberta. Há alguns dias, informações confidenciais da polícia foram vazadas, e isso causou uma enorme dor de cabeça para todo o corpo policial. 

Takashi abriu o envelope e leu o registro de cinco páginas. 

“Não foram encontradas brechas no sistema… hein. Então isso quer dizer que não sofremos um ataque hacker.”

“É o que parece. Nesse caso, temo que haja alguém na polícia que esteja vazando informações.”

“Um traidor… né? Eu não queria pensar na possibilidade, mas ela explica muita coisa. Se há um ou mais policiais que estejam fazendo isso, então há muitas suspeitas. Com quantas bases essas informações foram compartilhadas?”

“Acredito que só esteja entre o nosso departamento e o departamento de Saitama.”

Então um policial de Tóquio ou de Saitama — talvez dos dois — estavam vazando informações confidenciais. 

“De qualquer forma, nós temos que prosseguir com as investigações. Ainda tem muitas em andamento, mas é melhor priorizar esta antes que mais problemas apareçam.”

“Você tem razão. O comissário pode acabar não gostando se mais informações forem divulgadas sem necessidade. Eu vou pedir para a equipe de análise se apressar.”

“Certo. Obrigado, Takimoto-san.”

Após uma rápida reverência, a mulher saiu da sala. Takashi reclinou-se em sua cadeira e se espreguiçou. 

Um traidor… quais serão os motivos dele? Se ele estiver envolvido com portadores, então…

Era difícil pensar em um motivo. Seu turno estava chegando ao fim, então ele começou a organizar seus pertences para ir embora. 

Enquanto dirigia tranquilamente, seguindo as leis de trânsito, o homem não pôde deixar de procurar algo incomum em todo o seu trajeto. Porém tudo o que ele encontrou foi um bando de cinco homens bêbados disputando, então foi obrigado a intervir. 

Tal incidente fez com que ele chegasse em casa mais tarde do que o normal. Consequentemente, teve que esquentar seu jantar. Enquanto comia silenciosamente, viu Mayck descendo as escadas, indo em direção ao banheiro. 

“Bem vindo de volta”, o garoto falou com uma voz sonolenta. 

Takashi, então, respondeu sem olhar para ele. 

“Estou em casa…” 

Já havia algum tempo que eles mal se falavam. Era estranho para Takashi, ele sentia que o garoto não era a mesma pessoa de antes, mesmo que agisse normalmente. Um sentimento de culpa também havia brotado dentro dele, embora ele não soubesse o motivo. 

O garoto passou por ele depois de algum tempo para pegar água na geladeira. Em seguida, voltou para o seu quarto sem dizer nada. 

Será que Mayck… está realmente envolvido com portadores?

Ele tinha essa dúvida desde que o garoto trouxe Emiko para casa, onde deixou ela passar a noite. 

Será que eu falo com ela?

Ela havia o ajudado quando Sophia se foi; ela o ajudou quando Mayck perdeu o controle. Então, ela era a opção mais segura. 

A qualquer sinal de problema, vou contatá-la. Não quero que tudo se repita. 

Já perdeu Sophia, Alana e Takafumi. Ele não queria perder mais ninguém. 

Sua cabeça baixa, escondida por suas mãos. Sem perceber, ele acabou derramando uma lágrima. Braços delicados se entrelaçaram em seu pescoço, em um abraço gentil e caloroso. 

“Desculpe. Te acordei?”

“Uh-uh. Não se preocupe com isso.”

Takashi pôs sua mão sobre a de Suzune. 

“Obrigado… por estar comigo.”

“Eu que agradeço, Takashi.”

Eles poderiam ficar ali naquele clima para sempre. Depois de Sophia, Suzune era e seria a única mulher que ele amaria em sua vida. 

Ela o apoiou desde que se conheceram ao acaso em um restaurante e ficaram próximos rapidamente. Não havia muitas coisas que os dois tivessem em comum, mas o que sentiam um pelo o outro era sincero e verdadeiro. 

Palavras doces foram transmitidas pelos dois antes de voltarem para o quarto. 

<—Da·Si—>

Os dias se passavam e por mais que Mayck procurasse, não conseguia entrar em contato com Kazan de forma alguma. Era como se ele estivesse fugindo. 

Boatos sobre ele estar acabando com portadores, um atrás do outro, rodaram por toda a comunidade e em pouco tempo ele se tornou um grande procurado da Strike Down, além de estar na mira da Black Room desde o incidente passado. 

Como as coisas haviam chegado nessa proporção, Mayck decidiu relaxar em relação a isso. Além do mais, ele tinha outros problemas para lidar. 

Há alguns dias, outra informação da polícia foi vazada. Dessa vez, acerca do incidente causado por Kazan. A princípio, o garoto imaginou que o civil que os fotografou havia conseguido escapar, mas Hana lhe contou que ele fora pego facilmente e todos os arquivos deletados. 

O que aconteceu com ele foi omitido.

Então como tal informação foi levada a público? A resposta era simples. Havia um traidor na polícia. Mayck ouviu isso sem querer quando seu pai havia voltado do trabalho em uma noite. 

Ele estava conversando com algum colega e acabou falando sobre isso. 

Foi um gatilho enorme para as suspeitas que ele tinha aumentarem.

Parece que não há outra explicação. Se tem realmente um traidor, então tudo aponta para ele. Mas porque ele faria isso?

Girando o copo incessantemente com uma mão, o garoto consultava seus pensamentos, mas isso já estava deixando Hana irritada. 

“Que inquietação é essa?”

“Hm… eu só estava pensando em algo… não é nada demais.”

“O que poderia te deixar viajando desse jeito? Se está tão entediado, então vem me ajudar aqui.”

Mayck torceu o nariz, mas se levantou e foi ordenado a descascar batatas. 

Ele ainda estava de uniforme pois acabara de voltar da escola. Mas foi convidado por Hana para jantar com ela, já que seus pais não estariam em casa naquela noite, então ele acabou apenas deixando uma mensagem para Suzune, dizendo que demoraria um pouco. 

Mas ele também tinha outras intenções. Com as suspeitas que ele tinha, precisava de mais pistas para dizer com certeza se estava certo ou não. Para isso, ele precisava descobrir se Masato havia dito ou feito algo incomum ultimamente. 

Hana era bastante apegada ao pai, então ela notaria alguma diferença, embora fosse cruel fazê-la entregar seu pai sem saber de nada. 

Mas… ela vai descobrir. Uma hora ou outra. 

E quando isso acontecesse, seria terrível. 

Mayck queria que fosse apenas uma coincidência ou os contatos de Masato com Kihon não tivessem nada a ver, mas ele sabia que outra coisa era impossível. 

Kihon era um pesquisador da Black Room e um traidor. Nada impedia que Masato fosse o mesmo. 

Resumindo, ele precisava pôr tudo na mesa e ver se Masato era culpado ou não. 

Mas como eu vou tirar informações dela? Se eu for descuidado, ela vai desconfiar rapidinho. 

A parte boa, era que ele sabia com quem estava lidando. 

Então, ele suspirou. 

“O que houve? Mal começou e já se cansou?”

“Não é bem assim… é só que está bem difícil de lidar com tudo lá em casa. Antes eu só cozinhava para duas pessoas, agora, pra quatro.”

“E isso não é bom? Quer dizer que a família está bem reunida. Além do mais, Suzune deve ajudar bastante com isso, não é?”

“Bem, sim. É claro. Mas… sei lá. Eu me sinto meio estranho ao deixar  ela cuidar das coisas… não sei explicar muito bem.”

Ele pôs uma batata na bacia e pegou a próxima. 

“Eu imagino. Deve ser difícil lidar com uma mãe tão repentinamente.”

“Pois é…”

“Mas vai ficar tudo bem. Logo logo você se acostuma. Ter uma família grande é algo muito bom.”

“Você acha?”

“Uhum.” Ela deu um pequeno sorriso. 

“Bom, se você tá falando… Ah! A propósito, meu pai tem estado bem cansado depois do trabalho. Parece que tem muita coisa acontecendo. Eu queria saber se tem alguma bebida ou refeição que ajude na exaustão. Tem alguma ideia?”

“Para exaustão, é…? Parece que chá Biwa é bom para fadiga e várias outras coisas. Por que não tenta?”

“Pode ser uma boa. Que tal tentar fazer um para Masato-san também? Ele pode gostar.”

“Talvez você tenha razão. Acho que vou fazer isso. Ele também parece muito cansado. Certo. Que tal irmos amanhã?”

“Depois da aula? Tudo bem… mas você vai faltar ao clube de novo?”

“Se você estiver disposto a me esperar…”

“Tudo bem. Falte amanhã, por favor.”

“Já que você insiste”, ela falou com um ar de superioridade. 

Mayck suspirou, desistindo e terminou de descascar as batatas. 

Depois que terminaram de preparar o jantar, se sentaram à mesa para comer. Era uma refeição simples, com arroz, salada e alguns legumes. 

“Obrigado pela comida”, ambos disseram e começaram. 

Ficaram em silêncio por um tempo, mas Mayck decidiu que seria bom colocar todo o papo em dia. Então, com uma voz tranquila, ele falou:

“Teve alguma novidade daquele cara?”

“Cara…? Ah. Está falando de Kazan. Sim. Era sobre isso que eu queria falar.”

“Aconteceu algo?”

“Não exatamente… mas é possível que possamos descobrir o que ele pretende. Você já ouviu falar de um site que só portadores têm acesso?”

“Eu já ouvi algo sobre.”

“Pois bem. Aparentemente, existe um ranking de portadores, criado por diversão, que classifica os mais fortes. Parece que Kazan é um dos dez melhores e ele está caçando os outros nove para derrotá-los.”

Mayck inclinou a cabeça. 

“É sério? Ele está fazendo tudo isso só pra mostrar que é o mais forte?”

“Por um lado, até que está dando certo para ele. Mas isso está gerando muitos problemas. Os líderes da Strike Down já até colocaram ele como uma missão urgente.”

“Hm…”

“Além do mais, parece que você é um dos alvos dele.”

“Hein? Eu? Por que?”

“Se não me engano, o famoso Olhos Azuis ocupa a terceira posição nesse ranking.”

“Uau. E quem são os outros dois?”

“Em segundo tem uma tal de Donzela Sombria e um Costureiro da Morte, em primeiro.”

“Que apelidos, hein… pelo menos são melhores que o meu.” 

Sem perceber eles tinham se desviado do tema principal, então Hana limpou a garganta e voltou a falar. 

“Voltando, nós não descobrimos o que ele quer ainda. Porém, achamos que talvez tenha algum prêmio para quem está na primeira posição e ele quer muito. Então, um time foi mandado para investigar isso.”

“Um prêmio… pode ser algo assim, mas tem algo que me incomoda muito.”

Mayck largou seus pauzinhos e juntou as mãos abaixo do queixo. 

“E o que é?”

“Quando eu o encontrei, ele… ele mencionou algo bem perturbador. Parece que ele quer acabar com todas as pessoas que não possuem uma ID ou elemento base ativo.”

As palavras fizeram Hana arregalar os olhos, como se ela tivesse visto um fantasma. Então, ela bateu as mãos na mesa levemente.

“Isso é sério? Por que só me contou agora?”

“An? Bem… eu só tinha me esquecido.”

“Não se esqueça de algo tão importante.” Ela suspirou.

O garoto pediu desculpas ao receber uma bronca. No entanto, graças a essa informação, Hana conseguiu imaginar um cenário diferente do que ela contou. 

“Nesse caso, se ele quer chegar no topo do ranking, então quer dizer que ele planeja comandar os outros portadores?”

“Sim. Na base do medo. Se ele pudesse controlar todos os portadores, acabar com um país não seria difícil.

“Mas aí ele teria que enfrentar muitos obstáculos…”

“E se ele estiver com alguém poderoso o suficiente para segurar a barra?”

“Alguém… Yang?!”

“É brincadeira… claro, existe uma chance, mas eu não acho que um idiota daqueles estaria metido em um plano tão absurdo. Até porque… Não, não é nada.”

“Ei, não me alarme desse jeito.” Hana bufou e cruzou os braços com as bochechas infladas. “Mas é sempre bom manter em mente. Não sabemos a verdade ainda.”

“Você tem razão. Desculpa.”

“Humpf. Mas como é que você tem tanta certeza de que não é isso?”

“Bom… é que, sabe os vazamentos de informação? Não é surpresa que Yang tenha relação com isso…”

“Ei, ei. Isso é informação da Black Room, não é? Está tudo bem você me contar isso?”

“Hm… acho que está tudo bem. Não é nada demais.”

“Se você diz, então okay. Vou ouvir e usar se necessário.”

“Tão sincera…”

O garoto, então, contou sobre suas suspeitas de que o responsável pelo vazamento teria contato com a polícia, mas não mencionou um traidor; isso poderia fazer com que ela suspeitasse de seu pai e isso não seria bom. 

No fim, ele também não conseguiu nenhuma informação útil a respeito de Masato. Se houvesse algo com que ela se preocupasse, então ela não hesitaria em dividir com ele. Mas não teve nada. 

Após o jantar, ele a ajudou a lavar as louças que usaram e foi para a casa logo depois.

É triste que eu não tenha conseguido nada muito útil… mas eu posso tentar outros meios. O problema é que eu mal estou falando com meu pai. 

Sua ideia inicial era conversar com Takashi e comentar sobre os assuntos recentes. Claramente não seria tão simples conseguir informações importantes, mas dava para pegar algo nas entrelinhas através de questionamentos sutis. 

Mas, por enquanto, eu vou olhar melhor as notícias que saíram dos vazamentos. 

A internet estava cheia delas. Havia diversas matérias acerca dos estranhos vazamentos de um perfil anônimo. Muitas pessoas se questionavam se era só mais um idiota espalhando notícias falsas enquanto outras afirmavam ter uma pitada de verdade nas palavras. 

Eles tinham argumentos bem sólidos para afirmar isso. Os desaparecimentos sem solução e a explosão da estação abandonada. 

Parece que não tem nada novo…

Com um suspiro, ele desligou seu computador e se jogou em sua cama com o rosto no travesseiro.

“O que você pretende, Masato-san?”

O patriarca da família Tsubaki sempre foi uma referência para o garoto. Desde que era pequeno, o viu como um exemplo de ser humano. Além de que Masato era o melhor amigo de seu pai. Por isso, ele não conseguia ver motivos para o homem trair seus colegas de trabalho de tal forma. 

Será que tem algo sobre ele que eu não sei?

Possivelmente. 

De uma forma ou de outra, Masato estava envolvido com os portadores e o que quer que fosse que ele estivesse planejando, não era algo bom. 

Eu vou precisar de outro meio para conseguir informações… será que ela me ajudaria?

Só tinha uma forma de descobrir. 

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