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Capítulo 78 – Instabilidade

O som do alarme ressoando fortemente em seu cérebro. Era a pior forma de acordar pela manhã. Como se alguém o martelasse fortemente na cabeça. 

Porcaria…

Havia dormido tarde de novo e ele sentia que não tinha dormido nada. Olheiras decoravam seus olhos. 

Eu preciso de um dia de folga. 

Assim que se levantou, Mayck prometeu a si mesmo que não sairia para a rua durante a madrugada e que dormiria cedo. 

Depois de pegar seu uniforme escolar no guarda roupa ele seguiu para a porta e quando abriu, foi recebido por uma bela pancada no nariz. 

“Ai!”

Seu corpo se moveu para trás, em resposta à dor. 

“Ah…”

Ele olhou para ver quem foi o autor de um golpe tão bem realizado. Era Haruna quem estava à sua frente. 

Porque meu sensor de perigo não funciona nessas horas? Ele pensou consigo mesmo. Acabara de descobrir um ponto fraco seu. 

“Porque você fez isso, pateta?”

“Me desculpa. Eu ia te acordar, mas você apareceu de repente.” Preocupada, a garota se aproximou dele. “Deixe-me ver isso.”

Ela afastou a mão dele que cobria o nariz. 

“O que você…”

“Só fique quieto.” 

O rosto dela estava muito próximo. Estava levemente corado, mas não parecia haver tanto constrangimento. 

Ela deu um toque em seu nariz. 

“Não foi nada. Anda. O café já está pronto. Mas vá tomar um banho antes. Viu?”

Com um sorriso sedutor, ela se afastou. 

O que foi isso…?

Era estranho. Haruna estava diferente. Normalmente, se esse mesmo incidente tivesse acontecido, ela teria pedido desculpas e saído sem mais nem menos, com indiferença transbordando dela. 

Então… porque tudo isso?

De qualquer forma, ele decidiu deixar de lado, como se não tivesse sido nada demais. 

No entanto…

“Mayck~ Nós vamos nos atrasar.” Ela agarrou em suas bochechas e o apressou, quando ele estava sentado no sofá.

“Hmm… sim, sim, eu já vou. Poderia não fazer isso?”

Ele afastou as mãos dela. 

“Hmpf. Você está chato hoje.” Ela ficou emburrada e sua expressão habitual em relação a ele retornou. 

“Eh…?” Sua mente havia dado um nó. Ele estava sendo chato, e não ela que estava agindo estranho?

O que tem de errado com ela? Está doente?

Suas dúvidas permaneceram. 

O frio ainda continuava e apertava mais a cada dia. O garoto não queria um par de luvas, então esfregava as mãos ocasionalmente para esquentá-las antes de colocá-las no bolso. 

Em uma das vezes que ele repetiu esse processo, foi interrompido no final dele pela mão de Haruna que o puxou para si e agarrou-o pelo braço. 

“Haruna…?” Surpreso, Mayck olhou para ela. Aquele mesmo sorriso de antes estava estampado em sua face. 

“Hehe… Você pode ficar assim. Está com frio, não está?”

“Sim, mas…”

“Tudo bem, tudo bem. Sua irmãzinha fofa vai te aquecer.”

“Hein…” Mayck fez um som confuso. Ele estava curioso sobre o comportamento dela, mas não parecia ser possível questioná-la naquele momento. 

Sua atitude agressiva era a mesma, mas em um sentido diferente. 

Talvez ela esteja mesmo doente. 

Um suspiro de desistência. Ele decidiu que lutar era muito trabalhoso, principalmente naquele frio. 

E agora está tão quentinho… 

Sem perceber, ele estava aproveitando a sensação de calor. 

****

“Yoo, Mayck. Bom dia.” Haruki acenou para ele quando o viu se aproximar. 

“Bom dia, Haruki.”

O garoto piscou os olhos, percebendo que algo parecia errado. 

“O que houve?”

“Com o quê?”

“Bem… você parece mais feliz hoje. O que aconteceu?”

“Você consegue dizer uma coisa dessas só olhando pra mim?”

“Bancando o frio e calculista? Confesso que você tem uma energia bem fria, mas não é tão congelante assim. Ainda mais nesse frio, onde você mais odeia acordar cedo.”

Além do mais, o frio aqui sou eu, Haruki disse como piada. 

Mayck se sentou e debruçou sobre a carteira. 

“Eu não sou um animal que hiberna no frio… É que eu estou com um pouco menos de frio agora”, ele disse sem nenhuma segunda intenção, mas Haruki fez uma expressão de quem havia notado alguma coisa. 

“Mayck… você tá apaixonado?”

“Como?” Ele se perguntava como Haruki chegou a uma resposta dessas. 

“Ah, vamos. Você nunca fica desse jeito pela manhã, e agora vem dizer que está aquecido. O que mais pode ser?”

“Eu estava falando no sentido literal. Hoje…” 

Ele parou num instante. Não parecia que seria produtivo contar que ele e Haruna chegaram a escola grudados; seria mal interpretado. 

“… Eu coloquei uma camiseta extra.”

Sua única opção foi mentir. Não que ele não estava com duas camisetas. 

“Você sempre tem uma explicação”, Haruki disse com decepção visível. “Bom, no dia em que você se apaixonar por uma garota, eu quero ser o primeiro a saber.”

“Isso é importante…? Tanto faz.” 

“Bom dia~” 

Emanando energia de extroversão, Chika entrou na sala, junto à Akari, cumprimentando a todos os seus colegas. Logo, ela se aproximou de seu assento e pendurou sua bolsa no suporte ao lado da mesa. 

No outro segundo…

“Ei, ei, Mayck, é verdade que você veio pra escola agarradinho com Haruna-chan?”

Ele falou alto o suficiente para metade da classe ouvir. 

Um silêncio constrangedor apareceu subitamente, enquanto todos olhavam para eles com olhares curiosos. 

“Eh?” Haruki era o mais atônito de todos. 

Nisso, Mayck suspirou e pôs a mão no rosto. 

“Não… Fiquem em silêncio.”

Segundos depois, o professor da primeira aula do dia entrou na sala e mandou que todos se sentassem, trazendo a normalidade de volta à turma — embora as palavras de Chika martelassem em suas mentes. 

Esse assunto foi trazido à tona novamente no momento em que o sinal para o intervalo tocou. 

“Ei, Mayck, me explique isso direito.”

“Eu também quero saber.”

“Estou curiosa também.”

O trio composto por Haruki, Chika e Akari caíram em cima do garoto, sufocando-o com diversas perguntas. 

“Eu já falei que não é nada importante. Apenas esqueçam.” Ele tentou desviar o assunto, mesmo sabendo que não funcionaria. 

“Impossível. Todo mundo sabe que Rika-chan e Haruna-chan são amigas. E agora as duas gostam de você?”

“Não é bem assim…”

“Então o que é?”

“Eu também…”

“Um triângulo amoroso…” Akari escondeu o rosto corado, pensando na resposta e Chika a imitou. 

“Parou.” Mayck quase saltou da cadeira, vendo que mais e mais mal entendidos iam se criando. “Uma coisa dessas não é possível. É tudo um mal entendido. Definitivamente não tem como ser nada desse tipo.” 

Ele negou com força, mas até sua mente estava confusa com as possibilidades. 

Rika gostava de Mayck. Isso era um fato que muita gente sabia. Dentre elas, Haruna. Não parecia uma história verdadeira dizer que ela estava gostando da mesma pessoa que sua melhor amiga gostava. 

Além disso, estava agindo com tanta liberdade mesmo na frente da amiga. 

Tem que ser outra coisa, o garoto afirmava sem parar. 

“Isso é muito suspeito. Pode ser que Haruna-chan estivesse se contendo por causa de Rika-chan, mas agora se cansou.” Chika pensou em voz alta. 

“Se for algo assim, então…”

“Sim. Haruna e Rika…”

Outra interrupção. 

“Mayyck~ Vamos almoçar juntos.”

O sorriso de Haruna irradiou por toda a sala.

Não era mistério que Haruna era incrivelmente popular entre garotos e garotas. 

Mas, hein? Porque ela está agindo desse jeito com Mayck? Era o que todos pensavam naquele momento. 

Todos apenas observaram-na em silêncio, enquanto ela ia até o garoto.

“Vamos?” Ela sorriu gentilmente. 

“Ah, bem…” Mayck estava atônito, os olhos fixos nela, sem saber que resposta dar.

Mesmo que ele fosse indiferente com muitas coisas e conseguia lidar com elas com facilidade, ter uma garota agindo daquela forma com ele o deixava constrangido. 

Um dos pontos fortes dele era conseguir tomar decisões racionais em momentos de crise. E para evitar qualquer situação mais constrangedora, em sala, ele rapidamente deu sua resposta.

“Bom… acho que tudo bem…”

“Isso!” 

Contente com a resposta positiva, Haruna o tirou da sala puxando-o pela mão. 

Depois de todo esse evento durante o dia, Mayck encontrou paz na hora de voltar para casa, mas não conseguia evitar pensar nos motivos que Haruna tinha para agir de tal forma. 

Eu não me lembro de ter feito algo por ela…

Ninguém mudava de forma tão abrupta. Mesmo que estivesse fazendo intencionalmente. Mayck tinha um mau pressentimento. Algo estava muito fora dos eixos. 

Será que Chika estava certa…? Não. Não. Nem pensar. Isso não pode ser. 

Ele balançou a cabeça de um lado para o outro para evitar os pensamentos intrusivos. 

“Eu vou cuidar disso, mas antes…”

Apesar de ter dito que ia tirar o dia, ou melhor, a noite de folga, ele não conseguia relaxar sabendo que poderia acordar no dia seguinte e o mundo estar um completo caos.

Acessando o navegador de seu computador, ele pesquisou em diversas fontes sobre os vazamentos recentes. 

Rolando a tela lentamente, ele acabou encontrando diversos ocorridos na cidade quando a noite caía. A maioria tratava de incidentes parecidos. 

Monstros reais flagrados pelas ruas… pessoas com poderes sobrenaturais… é sempre a mesma coisa.

Esses, no entanto, eram os mesmos já fazia muito tempo. O que ele realmente buscava era algo que só podia ser vazado de forma extremamente cautelosa. Como um vazamento sobre uma possível guerra — algo que causava bastante alarde. 

Será que vão ficar quietos por um tempo?

Desde o último vazamento polêmico, não houve mais. Mayck pensou na possibilidade do responsável ter parado para não ser encontrado. 

Se for o caso, então deve voltar quando menos se esperar…

Ele navegou pelos comentários das pessoas nos fóruns online. Era bom saber como elas estavam reagindo à situação. 

[Estamos perto do apocalipse.]

[Sério, quem está pagando pra mídia nos entreter assim?]

[Quem acredita nessas coisas? A mídia não tem mais o que fazer?]

[Minha mãe diz que é uma forma de por medo nas pessoas Hehe :)]

[Estamos presenciando uma conspiração*_*]

E mais coisas do tipo. 

Como esperado, havia aqueles que se apegavam à ideia e aqueles que desconfiavam com afinco. Havia também aqueles que só estavam ali pela piada. De um lado ou do outro, eles estavam empolgados. 

Além disso, esse era um dos assuntos mais discutidos não só nas redes sociais, mas em diversos programas, mesmo que fossem apenas sobre comédia. 

Talvez isso já estivesse se alastrando para fora do país. 

“Bem. Eu vou esperar um pouco mais. As notícias vazadas são todas daqui. Então as chances do tal estar por perto são imensas.”

Ele terminou de falar e saiu do site em que estava. No segundo seguinte, uma notificação apareceu em seu celular. 

O conteúdo em si não era inacreditável, mas sim o momento em que ela chegou. 

Imagens mostram um grupo de pessoas enfrentando um animal desconhecido. 

Veio mais rápido do que eu esperava…

Sem pensar duas vezes, Mayck abriu o link e foi encaminhado para a notícia. 

Eram cerca de cinco imagens tiradas à distância. A má qualidade implicava que fora tirada de um celular. Nela, cerca de cinco pessoas davam conta de uma figura grande, semelhante a um lagarto. Por conta da iluminação, não era possível ver que tipo de monstro era. 

Mayck analisou a imagem. Ela não conseguia dizer a localização de onde ela foi tirada, mas dava para ver que havia grandes prédios ao redor. 

Isso não parece ter sido perto daqui. 

Era difícil de localizar aquele ponto. Mas, contanto que não fosse ele ali na foto, estava tudo bem pela metade.

Ele rolou a tela. Já havia diversos comentários. 

[Oh, eu não esperava que saísse outra tão rápido.]

[E a saga continua…]

E mais comentários iam chegando. 

“Cansei de vê-los.” Mayck desligou o celular e apoiou o queixo na mão sobre a mesa. 

Conseguiram uma imagem bem clara dessa vez. Eu duvido que saia apenas como um rumor. Eu preciso fazer algo a respeito logo, antes que piore. 

Se ele estivesse certo e Masato fosse a pessoa por trás daquilo, então ele tinha conexões para criar um plano efetivo. 

Quem está pagando pra mídia nos entreter assim… 

Um dos comentários veio em sua mente. 

“Pagando…”

Uma ideia se formou e Mayck se ajeitou na cadeira rapidamente. 

“É isso. Tudo o que eu preciso fazer é observá-lo de perto. Minha conexão mais fácil, no entanto… Vai ser um vacilo fazer meu pai espionar o próprio amigo…”

Ele girou na cadeira e olhou para o teto; não queria fazer uma amizade de anos se quebrar. Contudo, não era hora de pensar nisso quando algo maior estava em risco. 

“Cara… eu não quero mesmo acreditar que ele seja o responsável…”

O que Masato tinha a ganhar fazendo aquilo? Ele estava traindo muita gente, jogando muitas coisas fora. O que era que ele tinha mais importante que sua família e amigos?

Havia muitas perguntas e o garoto poderia passar horas pensando nelas. Mas o bater da porta da entrada o tirou de seus pensamentos. 

Haruna chegou?

Pelo horário só poderia ser ela.

Ele pensou se deveria ir recebê-la, mas o jantar já estava feito, não havia nada que ele tivesse para conversar com ela. Além disso, ele estava com medo da forma como ela estava agindo. 

Descer pra quê?

Ele optou por desligar seu computador e trocar para o celular, onde foi assistir a algum programa de streaming até a hora de dormir. 

As horas se passaram e Mayck abriu os olhos subitamente. 

“Que ansiedade.”

Ele estava tão acostumado a sair toda noite que ficar um único dia sem fazer isso o deixava com insônia. 

“Eu vou voltar cedo.” Prometeu a si mesmo ao se levantar silenciosamente. 

Após trocar de roupa, ele saiu sorrateiramente pela janela e vagou pelas ruas desertas e frias, perguntando-se se era mesmo necessário que ele saísse. 

Até que seu alarme interno de perigo soou e ele imediatamente levantou sua guarda. 

Das sombras de um poste, algumas figuras saíram e seguiram em direção a ele. Só dava para ver suas silhuetas totalmente escuras, então o garoto já se adiantou. 

“Pesadelos, hein.”

Sentindo seus batimentos aumentarem clamando por ação, ele se armou com sua katana. 

“Podem vir.”

Ele estava preparado. No entanto, as figuras ficaram imóveis, como se estivessem apenas o analisando e não fossem causar perigo real. 

Isso fez Mayck piscar os olhos.  

“Hm? Eles não vão fazer nada?” Sua cabeça se inclinou em confusão. “Não… espera…”

Era impressão ou as figuras ficaram mais próximas?

Em dúvida, ele piscou mais algumas vezes.

“Ei, ei. Isso é bem assustador. De verdade.” Um sorriso amargo brotou em seu rosto. 

A cada vez que ele piscava, as criaturas chegavam mais perto. Elas não se moviam quando estavam sendo vistas. Digno de um cenário de terror. 

Com isso, Mayck decidiu testar o que aconteceria se ele mantivesse os olhos fechados por um tempo. 

Quando os abriu novamente…

“Uou…”

A distância já era muito menor em comparação com poucos segundos atrás. 

Talvez isso seja interessante. 

Ele não pôde evitar sorrir ao pensar que tipo de desafio enfrentaria. 

<—Da·Si—>

Haruna andou nas pontas dos pés. Saindo de seu quarto silenciosamente, ela seguiu até a porta ao lado. 

Será que ele já está dormindo? Talvez eu o surpreenda um pouco. 

Ela deu um riso baixo e malicioso ao pensar em um plano malévolo.

Parada em frente ao quarto de Mayck, ela ficou em silêncio para tentar ouvir alguma coisa, mas não teve nada. Talvez ele já tivesse dormido mesmo. 

Ela tocou a maçaneta, mas se deparou com a porta trancada. 

Seu brilho lentamente se apagou. 

“Bem… nada a ser feito.”

Restando nada mais, ela só pôde dar as costas e continuar o que iria fazer inicialmente. 

Depois de trancar seu quarto, ela saiu às escondidas, como sempre fazia. Seus braços se abriram e ela respirou fundo. O frio do outono era agradável, o silêncio era agradável. 

Como eu amo isso. 

Poderia aproveitar isso a noite inteira, mas ela tinha outras coisas para fazer. 

“Bem, lá vou eu, de novo.”

Ela escolheu uma direção rapidamente e seguiu, na direção oposta a que pegava para a escola. 

Em menos de meia hora depois de sair de casa, ela foi confrontada por Ninkais de classe C e D, os quais foram facilmente derrotados por ela. 

Em meio ao fedor da carne fresca dos monstros que ainda não tinham desaparecido, ela estampou uma expressão de nojo em seu rosto e cobriu o nariz. 

“Ugh…! Essa coisa não faz bagunça, mas deixa um fedor… Aliás, o que está havendo aqui? Nunca tinha visto tantos deles juntos”, ela reclamou, enquanto guardava uma pistola que parecia vir de uma época mais à frente. 

Ninkais estarem atacando em conjunto era algo raro. Se fosse um certo tipo de Ninkai não haveria nada de estranho, mas eram todos de espécies diferentes. Qualquer caçador ficaria alarmado com tal coisa. 

Mas tinha algo mais que preocupava a garota. 

“Nesse ritmo eu vou acabar ficando sem energia.” Seus ombros caíram e ela se lamentou. “Mmm… como eu queria ter uma ID de combate…”

Não havia muito que ela pudesse fazer sendo de classe Suprimento. Portanto, para acabar com a desvantagem de sua ID, ela carregava aquela arma especial, capaz de neutralizar Ninkais e até mesmo outros portadores com um único tiro certeiro, sendo mais letal que um fuzil de assalto real — embora seu verdadeiro dano fosse através de radiação. 

Enquanto observava os corpos se deteriorarem, ela perguntou a si mesma se ainda dava tempo de levar até uma base de troca da Strike Down e conseguir algum dinheiro. 

Mas ela mudou de ideia ao ver o líquido roxo colorir a rua e a carne apodrecer diante de seus olhos. O cheiro ficou repugnante, fazendo-a se afastar. 

Eu nunca vou me acostumar com isso. 

Nesse quesito, ela ainda se considerava uma garota normal. 

“Ainda assim… ter essa quantidade de monstros durante a noite é preocupante. Será que elas já perceberam?”

Haruna pegou seu celular e tentou ligar para uma certa pessoa. 

O telefone tocou… e tocou…

“Ei!”

Quando parecia que seria atendida, um fluxo de eletricidade poderoso correu por todos os arredores, fazendo a iluminação pública falhar e o celular da garota desligar.

Alguns fios de cabelo de sua cabeça se levantaram após um arrepio percorrer seu corpo. 

“Hein? Mas o que foi isso agora?”

Ela rapidamente arrumou seu cabelo e olhou ao redor, buscando uma resposta, que veio em forma de um garoto saltando de um prédio próximo segundos depois. 

Eh…?

Ao pousar o mascarado olhou rapidamente para ela, mas continuou a correr, sumindo no breu da esquina mais próxima. 

Haruna ficou perplexa. O que havia acabado de acontecer? Ela não conseguia encontrar uma resposta nem conseguia tirar os olhos do caminho que aquela pessoa seguiu. 

Pouco tempo depois mais três figuras saltaram do mesmo lugar. 

“Pra onde ele foi?”

“Droga! Perdemos ele de vista.”

“Procurem por ele! Não podemos deixá-lo escapar dessa vez.”

Eram estes agentes da Strike Down. 

Estão perseguindo aquela pessoa?

“Ei, você! Viu um cara de máscara branca passar por aqui?” Um deles voltou ao perceber Haruna ali. 

“Hã? Não… eu não vi.  Acabei de chegar aqui… Hehe.” Ela mentiu e balançou as mãos rapidamente. 

“Entendi. Obrigado pela cooperação.” 

Em um gesto rápido de agradecimento, ele logo se afastou, seguindo um caminho diferente dos outros dois, que já haviam se separado. 

“O que será que está havendo aqui também? Aquilo de antes foi por culpa dele?”

Aquela onda rápida e perigosa de eletricidade. 

Haruna ficou com um olhar curioso. 

Eu preciso saber quem é essa pessoa. Se ele está sendo seguido, pode ser algum portador problemático.

Dito isso, ela seguiu na direção em que viu seu alvo escapar. 

****

“Aff…” Haruna pôs as mãos no joelho, arfando. “Você corre demais… que droga…”

Ela olhou para frente. Seu alvo já tinha sumido do seu campo de visão. 

“Acho que vou desistir hoje…”

Perseguir alguém que saltava do chão para prédios era uma tarefa um tanto quanto cansativa e que necessitava de tempo, algo que a garota não tinha. Então não restava outra escolha senão torcer para encontrá-lo depois. 

“E agora eu me arrependo de ter me cansado tanto…”

Além de ter corrido atrás de um alvo em vão, ela gerou um grande problema para si mesma ao acabar com seu fôlego. Isso a deixou bastante vulnerável mesmo para um Ninkai de classe C como aquele que se arrastava lentamente até ela. 

Haruna meteu a mão na cintura e engatilhou sua arma para enfrentar a ameaça repentina: uma centopeia com algumas dezenas de metros de comprimento. Além de rápida, ela ainda cuspia uma espécie de veneno corrosivo. 

“É… eu estou em maus lençóis… mas eu não vou fugir. Nem tem como.”

Sem esperar duas vezes, a centopeia movimentou suas inúmeras patas e encurtou a distância entre ela e a garota, que saltou para trás e disparou uma vez. 

“Droga.” Haruna cuspiu quando viu que a centopéia desviou de um tiro tão rápido e preciso. Ela não teve muito tempo para reagir, então se focou em se afastar. 

Não tinha poderes para uma luta de curta distância — a vantagem ia para o monstro, que avançou contra ela rapidamente e tentou agarrá-la com as pinças em sua boca. 

Haruna desviou por pouco. Não havia muito que ela pudesse fazer.

Eu preciso atingi-la quando ela estiver distraída. Preciso de um tiro perfeito. 

Mesmo não tendo habilidades de luta impressionantes, Haruna ainda era uma portadora, portanto, tinha suas habilidades físicas aumentadas; precisava fazer bom uso delas. 

A criatura que deveria ser silenciosa urrou fortemente e cuspiu seu veneno podre e corrosivo. Haruna conseguiu sair do alcance rapidamente, deixando o asfalto ser corroído em seu lugar. 

“Eca! Que cheiro horrível.” A garota fez uma expressão amarga. 

Aquele fluido tinha um odor tão forte quanto carne podre, e pra piorar, estava quente, deixando que seu vapor se espalhasse com o vento, contaminando o ar. 

Mas quem não se importava com isso era o próprio Ninkai, que, com outro bramido, se lançou sobre a poça de veneno, a qual não lhe causava dano, para pegar a garota, com uma imensa vontade de devorá-la. 

Haruna mirou nela com sua arma, pronta para atirar, no entanto, um pequeno flash de luz passou por ela e atingiu a cabeça da centopéia, explodindo-a em mil pedaços, jogando sangue e carne para todos os lados. 

“Ei, você está bem?” Um garoto veio por detrás de Haruna. 

“…”

“Ufa… essa foi por pouco. Você tem que tomar cuidado com esses monstros.” Ele pôs a mão na cintura, dizendo a si mesmo que fez um bom trabalho. 

Por outro lado, Haruna mostrou, em seu silêncio, o quão irritada estava. Sua roupa, principalmente seu rosto estavam sujos do líquido roxo que só Ninkais possuíam. 

Usava uma arma como aquela para não se sujar toda vez que lutasse e alguém que ela nem conhecia acabara de tirar o propósito disso.

Mas o garoto pareceu não entender a situação  e continuou a falar com ela. 

“Mas, puxa vida, você é bem corajosa para estar aqui sozinha. É uma caçadora novata? Vou te dizer, essa área está bem perigosa ultimamente. Você tem que tomar muito cuidado.”

Haruna sorriu e olhou para ele, interrompendo-o

“Obrigada. Eu preciso ir agora.”

“A-ah, é mesmo? Bom… er… certo. Tome cuidado no caminho…?”

Ele ficou sem jeito. Seu rosto corado e um sorriso nervoso nos lábios. 

Ela é muito bonita!

Ele não conseguia olhar em seus olhos, mas tinha a impressão de que já tinha visto ela em algum lugar. Isso lhe deixou com uma dúvida para sanar. 

“Você poderia me dizer seu nome… Ah…”, ele falou rapidamente, mas Haruna já não estava mais ao seu alcance. “… boa noite…” Ele sorriu sem graça.

Ela se foi. Será que vou vê-la de novo?

O garoto coçou seus cabelos claros e ajeitou seus óculos escuros. Ele olhou para a carcaça da centopéia. 

“Acho que vou levar uma amostra, antes que ela desapareça.”

Ele pegou uma parte do monstro com as mãos nuas e colocou num saco plástico que tinha em seu bolso e depois o lacrou. 

Acho que lembrei quem ela é…

Olhos azuis brilhantes, lábios rosados e um lindo cabelo prateado que grudaram em sua mente como chiclete. 

Ele ansiava pelo dia que a veria de novo. 

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