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Capítulo 81 – Dúvidas que corroem

Por conta da insistência de Haruna e da situação aparentemente desesperadora para ela, Mayck foi obrigado a sair de sua cama e ajudá-la a treinar. 

Eles estavam no parque e estava frio. Muito frio. Mayck lembrou-se de que o outono era uma estação cruel. 

“Ei… Nós precisamos mesmo disso?” Mayck reclamou quase sem forças tentando firmar a raquete em suas mãos. 

“É claro que sim. Eu não me lembro das regras nem de como jogar tênis, então preciso que você me ajude.”

“É que… assim, eu também não sei jogar. Não devo saber tanto quanto você.”

“Apenas pare de reclamar. Aqui vou eu”, ela anunciou enquanto quicava a bolinha verde no chão. Sem hesitar, ela fez o melhor saque que conseguia.

Rapidamente, e se movendo contra sua vontade, o garoto a rebateu… A bola não chegou muito longe e isso ativou a fúria de Haruna. 

“Leve a sério!”

Que pé no saco…

Eles treinaram por mais de uma hora. Intensamente e incansavelmente. Haruna se mostrou uma ótima jogadora, mas ela insistia que era apenas as memórias do corpo em que estava. 

Para Mayck, isso era perfeito. Para Haruna, não era nada impressionante. 

“Mas isso deve ser o suficiente para jogar amanhã”, ela concluiu e Mayck concordou — ele só queria ir embora de uma vez. 

Contudo, já que estavam na rua, acharam melhor fazer companhia a outros caçadores na caça aos inúmeros Ninkais que surgiam de onde menos se esperava. 

Haruna olhou para o céu e prestou atenção ao ambiente. 

“Andar na rua nesse horário dá uma sensação estranhamente boa.”

Haruna tinha um tom de voz ameno. Ela se sentia solitária desde que percebeu que não era uma residente daquele mundo. Mesmo que tentasse esconder, em alguns momentos acabava transbordando. 

Mayck percebeu isso. Ele mal conseguia se imaginar estando na situação dela. 

“Eu também sinto isso.”

“É…? Bom, você parece estar bem acostumado com a solidão, no entanto.” Ela riu. 

“Mmm… é isso aí você está certa. A solidão é minha companheira número um.” Mayck virou a cara, não deixando cair pela provocação da garota. 

“Sabe, eu… eu fiquei feliz em saber que poderia ficar aqui. Não sei quanto tempo vou durar, mas sinto que logo vai chegar ao fim e vou descobrir o motivo de estar aqui.”

“Você não consegue se lembrar de nada?”

“Não… na minha visão, começou como mais um dia normal. Eu acordo, me preparo para a escola, provoco você, converso com minha mãe e vou pra escola. Não havia nada de diferente senão a sua reação ao me ver.” 

A última linha foi dita com certa ironia, para que Mayck se lembrasse do que ocorreu logo depois que ele acordou. 

“Se bem que foi você quem me bateu”, ele retrucou. “Eu não consigo me ver no seu lugar, mas sei o quão doloroso deve ser. Então vou estar aqui pra te ajudar caso queira.”

Ele não tinha segundas intenções ao dizer isso. Estava sendo sincero, sem querer enganar ou manipular a garota, e esse sentimento ressoou dentro dela. 

Haruna corou. Seu coração acelerou. A princípio, as palavras dele não pareciam reais, mas logo ela sorriu e seus olhos caíram para o chão, um sorriso em seus lábios. 

“Você… realmente é diferente dele.” Sua voz soou muito baixa. 

“Hum?” 

“Não é nada~. Veja, já temos companhia.”

Ela correu para a frente dele, exibindo seu maior sorriso e apontou para um grupo de Ninkais que andavam sem rumo pela rua vazia. 

“Certo. Você cuida deles e eu observo.”

“Hein? Você não vai ajudar?”

“Se a situação piorar, eu posso dar suporte. Mas, claro, o poderoso Olhos Azuis não vai perder para um grupo de monstros classe D, né?”

De modo provocativo, ela simplesmente jogou todo o trabalho para o garoto, usando o argumento de que ela era só uma menina indefesa.

Mayck suspirou. 

Que coisa… mas, bem, como ela disse, são só Ninkais classe D. Não são um desafio. 

Sem escolha, ele passou pela garota e seguiu em direção aos Ninkais, que o notaram imediatamente. 

“Vai lá, Mayck-kun. Estou torcendo por você.” Longe de perigo, ela fez o mínimo de barulho para torcer. 

Apenas fique quieta. 

Aquela Haruna alegre e comunicativa era demais para ele suportar. 

Ele voltou sua atenção para os Ninkais, que pareciam um amontoado de seres invertebrados de formas bizarras, que avançaram contra ele velozmente como um enxame. 

Mudando seu corpo de posição, ele ganhou em velocidade, ao desviar. 

Não vou ganhar nada demorando demais. 

Ele observou a lentidão dos monstros, que tentava atacá-lo futilmente. 

Sacou sua espada e se moveu ligeiramente, como um teletransporte e no segundo seguinte, os monstros caíram dilacerados no chão. 

“Pronto, acabou.”

“Uau!” 

Ele foi recebido com aplausos de Haruna. 

“Você está se divertindo com isso, não é? Venha. Vamos embora antes que a plateia aumente.”

“Okay~”

Eles perceberam que alguns caçadores os assistiam de longe, então decidiram se retirar do local. 

“Continue andando e não olhe para trás”, Mayck falou enquanto começava a caminhar mais rápido. 

Haruna ficou confusa, mas apenas o fez. 

O que está havendo?

Foi quando ela notou que havia muitas presenças ao redor deles e que se aproximavam rapidamente. Ela chegou ao lado de Mayck, e o chamou com um sussurro. 

“Ei, o que está acontecendo? Quem são essas pessoas?”

Sem desviar o olhar de seu caminho, o garoto sussurrou de volta. 

“Acho que são da Strike Down. Eles têm me perseguido há um tempo, embora eu não saiba o motivo. Vamos tentar despistá-los.”

Embora chocada com a resposta, Haruna assentiu. Mas não seria uma tarefa fácil.

“O que foi que você aprontou? Ser perseguido por eles não quer dizer que você seja alguém famoso de uma forma boa.”

“Vai saber.” Mayck simplesmente ignorou todos os atos chamativos que ele havia feito até aquele dia. 

Conforme os dois se apressavam, os perseguidores também aumentavam o ritmo. Em certo ponto, já estando a poucos metros de sua casa, Mayck viu que não tinha escolha senão correr. 

Então, sem aviso prévio, ele dobrou em um beco à esquerda e começou a correr. Foi algo repentino, mas Haruna conseguiu acompanhá-lo. 

“Estamos correndo agora?!”

“Não vai dar para escapar deles naquele ritmo. Se eles quiserem mesmo vir atrás de mim, então eu não poderia fugir daquela forma, certo?”

“Sério, o que foi que você fez?”

A garota ficou atordoada. O que ele tinha feito de tão grave?

Ele parece ser um portador famoso por aqui, mas…

“Eles podem acabar nos reconhecendo com óculos de visão noturna. Toma, põe isso aqui.” Ele jogou uma máscara branca para a garota. 

“Ei!”

Sem escolha, ela pôs a máscara rachada no rosto e por ter se distraído, quase caiu sobre uma lixeira. 

Os dois, então, começaram a correr sem parar e saltar pelos obstáculos que viam pela frente. Os perseguidores estavam na cola deles. Eram cerca de cinco pessoas, que estavam determinadas a realizarem seu trabalho. 

Eles correram tanto que acabaram chegando em uma das avenidas principais da cidade e estavam se afastando cada vez mais de casa. 

Haruna tinha visto Mayck lutar. Com sua velocidade, ele poderia escapar facilmente. Então porque ele não a usava? Era porque ela estava ali? Não. Na verdade era outra coisa. 

Mesmo com a máscara, Haruna sentia que os olhos do garoto brilhavam de alegria. 

“Mayck, o que você está fazendo?!”

Ela estava correndo no mesmo ritmo que ele. Outra prova de que ele não estava se esforçando muito. 

“Hm? Ah, eu só… é que é divertido fugir sem precisar usar poderes. Você não acha?” A empolgação contaminava o ar por meio de sua voz. 

Haruna ficou abismada. Ela mal podia acreditar. Mas logo caiu na risada. 

“Isso não pode ser verdade. Você não parece esse tipo de pessoa.”

“É mesmo? Por aqui.”

Mayck a guiou e saltou para uma escada de metal que ligava ao telhado de um prédio e continuaram a correr e saltar pelos edifícios próximos. 

Haruna também começou a sentir aquela adrenalina. 

Fugir sem motivo nenhum. Membros de uma organização autoritária atrás deles. 

Isso era algo que ela nunca havia experienciado antes. 

“É melhor ir mais rápido. Eles estão vindo”, ela alertou o garoto e passou em sua frente. 

“Você está se divertindo muito, não acha?”

Ele acelerou e acompanhou o ritmo dela. 

Aos poucos, os perseguidores foram ficando para trás e o fim da linha estava chegando para os dois. 

Eles correram e saltaram do prédio que dava para outra avenida. 

Assim que tocaram o chão, foi como se o tempo tivesse ficado mais lento. O sorriso de Mayck se desfez rapidamente quando ele olhou para um carro ao lado dele, prestes a atingi-los. 

Mas não era esse o problema. Da forma como ele estava, o carro não o acertaria de forma alguma. O verdadeiro problema foi que ele viu, nos olhos do motorista, uma malícia intensa. Eram olhos que não se importavam com quantos derrubaria por seu caminho. 

Um toque dos pés de Mayck e Haruna no chão e eles saltaram para o outro lado da rua. O carro prosseguiu como se o motorista não os tivesse visto. 

Mayck parou e observou o veículo se distanciar na noite silenciosa e iluminada artificialmente. 

“Mayck? O que houve?”

“Não é nada. Já escapamos daqueles caras. É melhor encerrarmos por hoje.”

Sua voz estava diferente de antes. Era fria, como se a energia de segundos atrás tivesse sido extraída por um mau súbito. 

“Tudo bem…”

Mayck olhou ao redor para se localizar e quando achou o caminho, o seguiu em silêncio. 

Eu tenho certeza. Masato olhou no fundo dos meus olhos. Ele me viu, com certeza. 

Uma pulsação dolorosa em seu peito ao imaginar a situação. 

****

Enquanto consolidava seu plano mentalmente, Mayck caminhava para a escola. Não era para estudar, então não estava indo tão cedo como normalmente. Nesse dia, em especial, a escola reservou o dia para sediar o campeonato de tênis entre outras escolas da região. 

Como havia prometido para suas amigas, o garoto estava indo torcer por elas. 

Obviamente, o acontecimento da noite passada ainda lhe dava calafrios, mas ele queria fingir que fora apenas uma impressão. 

Chegando perto de um cruzamento, Mayck avistou Haruki, que acenava para ele. 

“Eai, bom dia. Cadê a energia, hein?”

“Bom dia… eu deixei ela em casa, como sempre.”

“Hahaha. Vê se se anima. Não vai querer que as garotas percam por causa da sua apatia, né?”

“Eu não sou tão forte ao ponto de influenciar as pessoas com minha personalidade… Mas não é como se você estivesse totalmente errado. É verdade. Talvez eu deva sorrir um pouco.”

“Isso aí!” Haruki exclamou e levantou o polegar, com um sorriso radiante no rosto. “Agora, mudando de assunto. Você tem certeza que quer aquilo?”

A voz do garoto caiu vários tons de repente. Ele queria a confirmação da seriedade de seu amigo acerca de um certo pedido. 

“Sim, estou”, Mayck respondeu com um suspiro. “Como você ouviu antes, existe uma possível ligação entre ele e Yang. Mas eu não faço ideia de qual seja. Se você me trazer algumas coisas sobre ele, talvez facilite as coisas.”

“Hmm… entendi. Mas eu nunca imaginei que um dia você desconfiaria de alguém tão seriamente. Principalmente se tratando de alguém próximo.”

“O mundo é uma caixinha de surpresas.”

“Pois é, né? Olha… eu confio em você, mas ainda não caiu a ficha de que Tsubaki-san, sendo o policial que é, tenha ligação com um grupo tão maldito quanto a Ascension.”

“Eu entendo isso… peraí, eu nunca disse que é uma ligação com a Ascension.”

“É só imaginação minha, relaxa.”

Haruki se divertiu com a confusão de Mayck. 

“De qualquer forma, mantenha isso em segredo de todo mundo. Ao menos por enquanto. E, por favor, não envolva a GSN nisso.”

“Ei, cara, confie mais no seu melhor amigo. Tivemos problemas, mas eu nunca deixei de pensar assim.”

“Essa é uma resposta razoável. Vou aceitar isso como uma confirmação.” 

Mayck deu de ombros e continuou caminhando. Haruki, porém, deteve-se para processar a frase dita pelo garoto. 

“Como é razoável?! Deveria ser uma resposta perfeita. Eu até fiz pose para parecer legal.”

“Eu gosto da sua sinceridade.”

“Não é o que parece”, ele gritou para o Mayck distante. 

Eles não estavam muito longe da escola, mas Haruki o chamou de lado com um sorriso. 

“Você já deve ter percebido, mas… quem são esses caras que estão te seguindo?”

“Não faço ideia.” Mayck pegou seu celular e olhou pela tela desligada, fingindo arrumar o cabelo. Sua expressão caiu ao reconhecer os perseguidores novos. “Talvez eu saiba quem são.”

“Então você sabe…”

“De qualquer forma, não vamos direto pra escola. Eles devem ter algo pra resolver comigo”, ele avisou e gesticulou para Haruki fazer um desvio para o parque logo a frente. 

Ainda era cedo, então não devia ter pessoas por perto, mesmo que houvesse muitas transitando nos arredores. 

Eles caminharam até o centro do parque vazio, e como esperavam, foram seguidos até lá. 

Imediatamente, Mayck se virou para o grupo de delinquentes, que usavam o mesmo unifome que eles, atrás deles. 

“Bom dia, pessoal. Precisam de algo?” Ele fingiu ignorância, apenas para provocar o grupo que já parecia impaciente.

“Ah, seu merda. Vai fingir demência agora? Você vai se ferrar por fazer a gente passar por aquela porra.”

Um deles se adiantou. Dava para ver o sangue fervendo sob sua pele. 

“Do que você está falando exatamente?”

“Não se faça de idiota. Você sabe muito bem que tentou fazer a gente de trouxa só pra proteger aquela vadia da sua irmã.”

Haruki apenas observava de boca aberta. 

Então foi isso o que aconteceu?

Seu coração pulsando por uma novidade. Ele mal podia acreditar que Mayck comprou briga por conta própria. 

“Ah. Está falando daquilo. De quando vocês roubaram meu celular. O que acharam da companhia da polícia? Foi divertido?”

Haruki abafou a risada ao ver o cinismo forçado de seu amigo, o qual normalmente nem se dava ao trabalho de fazer uma piada. 

A veia de Hideki pulsou quando ele ouviu isso. 

“Hehe… que filho da puta… você nos enganou direitinho. Que desafio que nada. Você só fingiu tudo para poder fugir com aquela garotinha idiota.”

“Nós não vamos deixar isso barato.”

“Você já deve saber o que vai acontecer agora, né?”

Os cinco delinquentes apertaram as mãos, alongaram os pescoços e os braços. Era óbvio o que viria a seguir. 

“Eita. Eles parecem empolgados.” Haruki sorria com entusiasmo. “Você quer que eu ajude?”

“Bom… pode ser. Se quiser, pode lidar com todos”, Mayck deu de ombros e falou com indiferença. Sua bateria social acabou só de responder o grupo com sarcasmos.

“Ah, qual é. Não parece empolgante nós dois lutarmos lado a lado contra um bando de arruaceiros e nos tornarmos heróis do bairro?”

“Não comece a criar histórias assim… dá muito trabalho. Mas eu não vou ficar parado. Esse problema é meu em primeiro lugar…”

“Oh seu desgracado. Você é bem engraçadinho por ignorar a gente desse jeito.”

“Tá louquinho para levar uma surra.”

O grupo de Hideki começou a caminhar na direção deles com olhares ferozes. Eles não tinham intenção de aliviar o peso de suas mãos contra os dois garotos. 

“É melhor ficar esperto, seu bosta!” 

O primeiro avançou, gritando em fúria, e disparou um soco contra o rosto de Mayck. Mayck, no entanto, sumiu de sua visão por um segundo e quando se deu conta, um flash em seus olhos e ele já estava no chão. 

“Oh~! Você está fortinho, Mayck.” Haruki elogiou o garoto que havia desviado e atingido o delinquente com um soco no maxilar. 

“Muito obrigado.” Ele fingiu levar o elogiou seriamente. 

“Ele derrubou o Seiji… com um soco?”

“Como assim?!”

Eles entraram em pânico. Ao mesmo tempo que viam uma figura aterrorizante à sua frente, viam um inimigo que derrubou um aliado importante. 

“Arrombado!” 

Eles seguiram avançando e atacaram os dois com socos e chutes. Mas a concentração deles estava em agarrá-los e derrubá-los, só aí, então, eles iriam bater até ficarem satisfeitos. 

De longe parecia uma luta unilateral, onde os delinquentes atacavam com todas as forças e Mayck e Haruki só podiam desviar. 

No entanto, era totalmente diferente. Para aqueles dois portadores, lutar contra aquele grupo era como uma brincadeira de criança. 

A situação mudou quando Haruki, em um movimento rápido, empurrou um dos delinquentes na direção de Mayck, que foi obrigado a recebê-lo com um chute no rosto. 

“Ei!”

“Foi mal, foi mal. Eu só queria ver se você estava atento.”

Haruki estava claramente se divertindo. Por outro lado, Hideki olhava para a cena com sangue nos olhos. Dois já haviam caído…

O que são esses caras?

Seus dentes cerrados quase se quebrando. 

“Ora!”

O último oponente de Mayck girou sua mão ferozmente, desferindo um golpe no queixo dele. Contudo, sua tentativa se tornou fútil quando Mayck agarrou seu braço e o puxou por cima de seu ombro, arremessando-o no chão. 

Pô… eu tenho força pra isso?

Ele ficou admirado consigo mesmo ao ver o delinquente se contorcer de dor no chão. 

Olhando para o lado, Haruki estava travado em uma pose de quem havia terminado seu trabalho de forma magnífica. 

Quatro corpos caídos no chão. Quem visse, poderia pensar que se tratava de um certo crime. 

Hideki deu um passo para trás. 

Não conseguia entender. 

Como esses dois lixos são tão fortes?

Ver seus amigos no chão o enfurecia. Suas mãos cerradas fortemente e a frustração estampada em seu rosto. 

Ele encarou os olhares sombrios de Mayck e Haruki, que o desafiaram sem receio algum. 

Malditos…

Um a um, os delinquentes foram se levantando, reclamando de dores. Olhos roxos, sangue no nariz e na boca. Foram poucos minutos de luta, mas o suficiente para deixá-los dessa forma. 

Hideki, então, gritou:

“Vamos embora.”

Mesmo que aquele sentimento de desilusão estivesse corroendo-o por dentro, ele foi capaz de pensar racionalmente. Um ato que Mayck elogiou em sua mente. 

“Você está maluco, Hideki?”

“Qual é o seu problema? Eu me recuso a ser humilhado assim…”

“Yoshito! Seiji! Vamos embora.” Ele repetiu com a voz pesada. “Nós vamos resolver isso depois.” Ele ameaçou Mayck e Haruki. 

Todos os quatro tinham suas ressalvas sobre sair dali e deixar as coisas daquela forma, mas eles escutaram Hideki, não importava o quão irritados estavam. 

Essa era a melhor escolha deles. 

Nós não temos chance nenhuma. 

Hideki cerrou os dentes com força. 

Depois de serem humilhados, eles poderiam perder sua moral na escola e até mesmo perder o respeito dos delinquentes de outras áreas. Mas nada podia ser feito. 

<—Da·Si—>

Quando Mayck e Haruki chegaram à escola, as partidas estavam perto de começar. Eles olharam os horários e onde seriam realizadas cada partida e logo seus assentos na arquibancada do ginásio. 

“Bem no fundo… a gente deu sorte.” Haruki mostrou-se satisfeito com a visão que tinha de todo o ginásio. 

“Talvez pra nós, mas esse não parece ser um lugar muito popular. A não ser que alguém tenha reservado pra gente.”

Ter dois espaços ali era incrivelmente conveniente. 

“Pode até ser. Mas vamos apenas aceitar que é assim que as coisas são.”

“Se você diz…”

“Ah, Mayck-kun, Haruki-kun. Bom dia.” Entregando um sorriso brilhante e gentil, Akari acenou para os dois. 

“Oh, isso sim é impressionante. Parece que ficamos bem atrás de Miyabe-san. Bom dia.” 

“Talvez não seja mera coincidência…”, Mayck disse para si mesmo.

Entrando em seu modo de repórter, Haruki segurou um microfone imaginário e começou a sondar Akari, que facilmente entrou na brincadeira. 

“Então, Miyabe-san, o que você acha que acontecerá na partida de hoje?”

“Sendo sincera, eu acredito que o time da nossa escola tem potencial para vencer. Elas se esforçaram muito para isso.”

“Entendo. E quanto a você?” Ele voltou-se para Mayck. 

“Hmm… bem, nossa escola perdeu no ano passado, mas pode ser que mude algo…”

“Certo. Sem dúvidas por aqui. Encerramos a transmissão.”

“Pelo menos me deixe terminar.” Mayck ficou indignado por ter sido cortado no meio da resposta, mas o repórter parecia não ligar muito. 

A agitação no ginásio se intensificou com a chegada dos dois times que disputariam a primeira partida em dupla do jogo de tênis. 

“Olha elas ali”, Haruki apontou.

Mayck e Akari procuraram na direção e localizaram o time da escola. Elas estavam usando camisetas brancas e mini saias da mesma cor.

Akari expressou sua opinião para com os uniformes. 

“Estão tão fofas…!” Por um segundo, ela deixou sua personalidade de portadora brilhar. 

“Hmm… pelo que eu me lembro, as novatas do clube vão ficar como reservas… Parece que essa é a vez das veteranas brilharem.”

“É mesmo? Bom, é justificável. Esse é o último torneio delas no fundamental, afinal de contas.”

Enquanto o trio revelava seus pensamentos, as equipes começaram a se aquecer. Conversaram entre si e decidiram quem iria jogar aquela primeira partida. 

Alguns minutos depois, o árbitro chamou os dois representantes de cada lado e o sorteio para quem começaria a partida foi realizado. 

O ginásio já estava em chamas. 

A escola adversária iria começar. 

As quatro se posicionaram em seus lugares. Um apito e a partida se iniciou com um saque extraordinário, que foi rebatido com dificuldade. 

Após vários minutos de pontuações e viradas o resultado acabou sendo com a derrota da escola adversária. 

Gritos de felicidade e lamentos de frustração. A equipe que perdesse a primeira partida seria a mais lembrada. Para a sorte delas, no entanto, ainda teriam mais três partidas pela frente — a chance de se redimirem e conseguirem avançar. 

O requisito era ter ao menos, duas vitórias para continuar em frente, e havia seis escolas competindo. 

Após o término da segunda partida, houve um intervalo, onde os espectadores se juntaram no pátio externo para almoçar e confraternizar entre si.

Mayck, Haruki e Akari se direcionaram para uma área livre do pátio e esticaram um pano no chão — assim como todos os outros presentes — e colocaram ali o que tinham comprado ou preparado em casa. 

“Ehe… é hora do almoço, finalmente.” Haruki lambeu os lábios enquanto olhava para todos os alimentos distribuídos no tecido. 

“Não tem problema pra você, Miyabe-san. Você não gostaria de estar junto a Chika?”

“Sem problemas. Ela deve aparecer a qualquer momento. Ela disse que se juntaria a nós.”

“Entendi.”

Mayck pensou se deveria esperar até ela aparecer, mas isso foi deixado de lado quando a voz enérgica de Chika ecoou por todos no pátio. 

“Olá pessoal!” Ela saltou sobre o pescoço de Akari. 

“Chika-chan. Você chegou bem rápido.”

“É claro. Eu preciso me preparar para as próximas rodadas. E o que vocês acharam da performance do nosso clube? Elas são fortes, não são?”

“Foi realmente uma partida incrível, Chika. Mas as outras escolas podem ficar mais fortes”, Haruki falou como um analista. 

“Não se preocupe com isso. Nós vamos vencer.” A garota ergueu o punho, chamas queimavam em seus olhos.

“Esse uniforme é muito fofo~”

Akari que observava até então, se rendeu aos seus desejos e agarrou Chika com força, esfregando sua bochecha na dela. 

“Poxa Akari… se contenha.” Diferente de suas palavras, sua expressão denunciava que ela estava aproveitando o cafuné. 

“Oi, pessoal.” 

Hana se aproximou com um sorriso e duas sacolas. Uma em cada mão. 

“Finalmente chegou, Hana-chan!”

“Eu procurei por você, mas você desapareceu. Tenha um pouco mais de paciência.”

“Desculpa, desculpa. Mais importante, o que você trouxe aí?”

Chika saltou sobre Hana e roubou uma de suas sacolas, sendo repreendida por isso. Contudo, era só mais um dia normal para eles. Eventualmente, Haruna e Rika se juntaram a eles para o almoço, e o banquete só ficou maior. 

Era uma ótima forma de espairecer antes dos próximos jogos, que prometiam ser cada vez mais intensos.

Por outro lado, Mayck também não pode deixar de concordar com Akari depois de ver as garotas com o uniforme. 

Realmente… estão bem fofas.

****

Os jogos foram retomados depois de algum tempo. A primeira partida após o intervalo começou com peso e acabou depois de uma troca frenética de pontuações entre as duas equipes. 

E o ginásio pegou fogo novamente. 

“Bem, elas se esforçaram. Foi um ótimo jogo.” O homem que estava sentado ao lado de Mayck comentou, sentindo empatia pela equipe que perdeu. 

Todos estavam sentindo o mesmo, embora também estivesse em êxtase pela vitória do seu time favorito. 

A próxima partida seria entre o time da sua escola e uma outra, que era conhecida por seus times poderosos independente do esporte. 

Haruna e Chika foram escaladas para jogar. 

Elas se encaminharam para o lado que puderam escolher após ganharem no sorteio e após o apito inicial, Chika realizou um saque magnífico e poderoso, o que entregou o primeiro ponto a elas. 

Gritos de alegria encheram o ginásio. 

E o clube de tênis comemorou. 

Facilmente, Chika e Haruna venceram o primeiro set. 

Estavam todos convencidos da vitória delas. Mayck também sentia que se as coisas fossem assim, então a vitória era certa. Se as coisas fossem assim. 

“Uau. Achei fácil.”

“Nem parece que elas estão jogando contra um colégio forte. Será que somos muito mais fortes?”

“Possível.” 

Enquanto Haruki e Akari se divertiam com a direção em que as coisas estavam indo, Mayck guardava um mau pressentimento para si. 

Tal sentimento foi confirmado no segundo set. A dupla composta por um garoto e uma garota da escola adversária começou a impedir a pontuação de Chika pelo saque, o que dificultou muito as coisas para elas. 

Claramente, ter um garoto no time inimigo poderia servir de desculpa para a derrota delas já que homens têm maior força física naturalmente. Entretanto, não se aplicava a um cenário onde o outro time era composto por duas portadoras — mesmo que o jogador masculino em questão fosse um bodybuilder. 

Se ele não fosse um portador, não tinha chances contra elas; um fato que apenas Mayck conhecia. 

Elas estão se segurando muito para jogar. É até injusto se pensar assim… Chika já tem a receita, mas Haruna…

Ao contrário de Chika, que já tinha muita experiência, Haruna estava se obrigando a segurar sua força física e isso estava a atrapalhando muito. Mas seu senso de justiça não permitiria que ela se soltasse contra pessoas comuns. 

O segundo set acabou com uma diferença de dois games. Foi claramente uma vitória árdua. O próximo seria pior — isso, de repente, virou um conhecimento geral naquele ginásio. 

A tensão pairava no ar. 

O terceiro set iniciou. Embora a vitória estivesse realmente garantida para elas, esse set parecia amedrontador para elas. 

O primeiro ponto foi de saque para a escola adversária. Mesmo Chika sendo uma portadora, foi um ponto que ela perdeu, e para isso só tinha uma explicação: havia um portador na outra equipe. 

E porque essa pessoa não se soltou para vencer? Pelo mesmo motivo que Haruna e Chika. 

Outro ponto de saque e dessa vez foi perdido por Haruna. E outro. E mais outro. 

Estava 4/0. Uma situação desesperadora. Haruna estava fadigada, assim como Chika. O ginásio estava dividido entre os que comemoravam e os que ficavam ansiosos. 

Eu… não consegui segurar nenhum… e tudo porque estou me contendo. 

Ela encarou a dupla adversária que comemorava com um toque de mãos. 

Apesar de já ter praticamente vencido a partida, esse set estava fazendo-a sentir que havia perdido de forma humilhante. 

Haruna mordeu os lábios. Ela não conseguia aceitar. 

Se eu não precisasse me conter…

De repente, Chika gritou:

“Haruna-chan! Não se preocupe. Apenas se concentre.”

“Está bem.”

O apito soou. Chika realizou o saque, que voou lindamente por cima da rede. O garoto adversário rebateu e depois Haruna. 

Uma troca de rebatimentos se iniciou e ficava cada vez mais rápido. Haruna dava tudo de si. Chika e os adversários também. 

Até que um saque alto e forte foi realizado pelo garoto. A bola iria para fora. 

Não vou deixar.

Chika correu o mais rápido que sua contenção permitia e se jogou para a bola com a raquete pronta. Ela recuperou a bola. 

“Haruna-chan!”

Depois que a bola foi devolvida para o lado adversário, ela foi enviada de volta pela garota que estava atenta aos movimentos delas. 

Haruna conseguiu rebater e a bola atingiu o chão por baixo do garoto. 

Um game.

O ginásio ergueu sua voz e gritou em comemoração. Mesmo que fosse apenas um game. 

Era entendível as circunstâncias. Estava sendo incrivelmente difícil para Haruna. Ela sabia que não conseguiria outra jogada igual se continuasse segurando suas habilidades. 

Eu não posso me soltar. 

Essa pressão fez com que ela perdesse o foco em todas as jogadas e 10 minutos depois o apito soou finalizando o set. 

****

“Uau. Esse foi um jogo e tanto, certo, Mayck?”

Masato surgiu como um fantasma dando um abraço lateral no garoto. 

“Oh, Masato.”

“Eai, crianças, como vão?” Ele cumprimentou Haruki e Akari, os quais responderam gentilmente. 

“Eu estava me perguntando onde vocês estariam. Takashi e Suzune-san estão por aqui?”

“Eu não vi eles ainda, então não tenho certeza. Mas devem aparecer uma hora ou outra…”

“Entendi, entendi. Mas, Haruna-chan se esforçou bastante naquela partida. Devo parabenizá-la depois. Você também deveria fazer o mesmo.”

“É claro. Eu farei isso. Somos irmãos afinal.”

“… Pois é… irmãos devem ajudar um ao outro.” Masato se afastou lentamente com um sorriso amargo. 

Foi intencional a menção que Mayck fez, mas conseguiu uma reação melhor que o esperado. 

“Certo. Eu preciso me juntar a Tsukiko e Hana. Se você vir seu pai, diga a ele pra me procurar perto da saída. Nos vemos depois.”

“Sim, claro. Farei isso.”

Masato rapidamente acenou e saiu de lá. 

Talvez, Mayck pensou, tivesse usado um método cruel para criar uma reação, mas era necessário. A informação que conseguiu com Reine se mostrou verdadeira. Contudo, Masato reagir daquela forma não dizia muita coisa. 

Pode ser que apenas seja doloroso. Eu entendo isso. 

“Esse é o pai de Hana-san?”

“É ele mesmo.”

Akari perguntou e Haruki respondeu rapidamente, enquanto observavam as costas do grande homem sumir na multidão. 

“Porque não voltamos? A última partida de hoje vai começar logo.”

Mayck chamou a atenção dos dois e conseguiu o consentimento de ambos. 

Mais tarde, após o fim da última partida do dia, a escola se esvaziou, restando apenas os funcionários e os participantes. 

A noite caiu, a cidade se calou. Era a vez de Mayck se tornar ativo. 

Suas intenções era descobrir o que motivava Masato a vazar informações e ele decidiu começar com alguém que, com certeza, teria pelo menos uma pista. 

“Bom… talvez você estranhe”, Nikkie falou enquanto caminhava na frente dele e atrás de dois soldados. “Ele ficou muito diferente comparado a alguns meses.”

“Hm. Contanto que ele me diga o que quero, eu não me importo.”

Eles chegaram até uma porta de aço reforçado. Um dos soldados pegou uma espécie de cartão e inseriu na fechadura eletrônica e depois fez um escaneamento de retina. A porta foi aberta com um rangido. 

Nikkie deu espaço para o garoto passar. 

“Boa sorte.”

“Valeu.”

Mayck entrou e a cela foi fechada. Visualmente, não havia nenhuma mudança no local em si. As paredes feitas de tungstênio permaneciam as mesmas. As grades de aço também não eram diferentes. Com exceção de uma única coisa naquele espaço. 

“Você está com uma cara terrível, Kihon.”

Mayck se manteve a uma distância pequena das grades e olhou para o ex-pesquisador daquela base. 

Ele estava quase irreconhecível. Magro, pele pálida, barba mal feita e cabelo muito crescido. Sua voz rouca e cansada se fez ouvir. 

“Essa voz… Mayck, uh? O que veio fazer aqui? Pegou Yang?”

“Infelizmente, a resposta é não. Eu vim aqui falar com você sobre uma coisa que possa estar relacionada.”

“É o que é?”

Mayck tirou a máscara de seu rosto e continuou. 

“Antes de você ser preso, eu descobri que você estava em contato com uma certa pessoa. Você sabe quem?”

“Ah, a pessoa que falou sobre a chave? É uma pena, mas eu não faço ideia de quem era.”

“Isso não ajuda muito… você sabe, ao menos, o motivo para ela falar sobre isso?”

Kihon bufou e deitou na cama desconfortável de metal. 

“Minhas relações foram sempre por interesse mútuo. Não me importo em saber as motivações pessoais dos outros.”

“Entendi. Você, realmente, tinha tudo para se tornar um bom aliado.”

“‘Um bom aliado’… Se as coisas fossem assim, então eu não teria sido descartado por Yang daquela forma.”

“Você mesmo se afundou. Mas, mais importante. Você provavelmente tinha alguma ambição com o The Fake Human, certo? Poderia me contar qual era?”

“Isso não importa. Todo pesquisador tem a mesma ambição. Nós só queremos encontrar o maior segredo do mundo e eu só fiquei interessado no experimento e no que ele seria. Mas como tudo foi por água abaixo, não tenho nada útil para você.”

“É sério? Que pena. Eu pensei que você poderia me ajudar com o caos que está havendo lá fora… mas não pode ser ajudado. Bom, adeus, então.”

Não vendo esperança naquela vista inútil, Mayck deu as costas. Mas quando se aproximou da porta de aço, Kihon resmungou. 

“Tem uma coisa que Yang me contou há um tempo. Ele me falou que o experimento TFH001 possui um enorme leque de poderes.”

“Por exemplo…?”

“Talvez fosse apenas para me manipular, mas ele me disse que eu poderia obter muito conhecimento com ele.”

“Muitos poderes, hein… não sei se isso ajuda, mas obrigado mesmo assim.”

Finalizando sua visita, o garoto bateu na porta e ela foi aberta. 

Diversos poderes… Ele repetia a si mesmo. Que tipo de poder pode interessá-lo?

Se Yang estivesse manipulando Masato assim como fez com Kihon, então devia haver algum interesse mútuo na relação dos dois. 

Um acordo que faria Masato trair tudo e todos. O que poderia ser?

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