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Capítulo 82 – Sombras da verdade

Segundo dia do campeonato de tênis. 

Enquanto o ginásio fervia com as partidas frenéticas entre os competidores, uma certa garota mantinha-se em silêncio no vestiário. Sentada no banco, ela não tinha uma boa expressão em seu rosto. 

Qualquer um que a visse saberia dizer o quão irritada ela estava. As lembranças da partida que acabara de perder não saiam de sua mente. 

Sua dupla gritando para ela prestar atenção ressoavam em sua cabeça como uma lâmina perfurando seu peito. 

O que eu estou fazendo…?

Seu coração pulsava e a raiva de si mesmo ardia em seu peito. 

Ela não conseguia se concentrar em nada. Suas mãos tremiam a todo o momento e sua mente vagava por uma brancura imensa. 

O que eu deveria fazer? 

Ela sentia-se deslocada, como se não pertencesse a lugar algum. 

O fato de não pertencer aquele lugar deixava uma sensação amarga em sua boca. 

Eu não decepcionaria ninguém se não fosse ‘eu’ aqui. Tenho certeza que, se soubessem sobre mim, iriam pedir para que eu devolvesse a verdadeira. 

Depois de sua partida no dia anterior, Haruna procurou por Mayck. Ela queria vê-lo. Queria ser elogiada por ele. Ela queria que ele dissesse a ela que tudo ficaria bem, novamente. 

Mas não o encontrou. Tudo o que viu, foi um grupo de garotas que ela nunca havia visto antes.

“Ei~ Você é Haruna-chan, certo?” Elas se aproximaram com malícia em seus olhos, gestos e palavras. “Eu fiquei sabendo que você passou um tempo com Hideki. Isso é verdade?”

Haruna pensou um pouco. Se dissesse que não, estaria mentindo — afinal, fora atormentada por ele por um tempo há poucos dias. 

Mas não é como se eu devesse algo a ela. 

“Não. Nem sei de quem você está falando. Agora, se me dão licença…”

Se envolver com essas garotas se tornaria problemático. Principalmente se tratando de quem elas eram. 

Mas sua desculpa não funcionou. Antes que Haruna pudesse sair, duas das três garotas a seguraram pelos braços, como se a abraçassem amigavelmente. No entanto, suas intenções eram claras. 

“Não seja tão ridícula. Eu sei que você ficou com ele na sala de aula. Você está querendo ficar com ele, né?”

Ela aumentou seu tom de voz enquanto projetava sua irritação em seu rosto.

“Eu já disse que não sei do que está falando…”

A garota lançou mão sobre Haruna e a segurou pelas bochechas, apertando fortemente. 

Graças a política de não machucar pessoas normais com habilidades extras — o que lhe fora ensinado na instituição — Haruna teve que ficar quieta, embora sair daquela situação não fosse tão difícil se usasse violência. 

“Fala a verdade, sua vadia! Se você estiver dando em cima do meu namorado, então eu vou acabar com você e com sua vida!” A voz alterada da garota mostrava que ela acreditava nisso de alma. 

Boatos corriam rapidamente. Tão rápido, que as informações eram distorcidas com o passar do tempo. 

Haruna era a vítima, mas de repente se tornou a vilã.

“Eu nunca dei em cima do seu namorado…”

Haruna pensou na pequena possibilidade de resolver na conversa.

“Ainda vai bancar a idiota…? Você é ridícula. Ah. Isso me lembra… você é amiga daquela garota, né? A Rika…”

“O que tem ela?” Haruna apertou as sobrancelhas. Ir contra ela, tudo bem. Mas se Rika fosse envolvida, a história era outra. 

“Não… eu apenas sinto pena dela por ser amiga de uma vadia tão repugnante quanto você.” Suas palavras soaram como facas. “Você consegue imaginar como ela se sente ao ver sua ‘melhor amiga’ dando em cima do garoto que ela gosta?”

“O quê…? Do que você está falando?”

“Hahaha! Ela é mais cínica do que pensávamos, Tsubasa.”

“Parece que essa vagabunda gosta de dar pra qualquer um … nessa idade. Você ao menos é virgem ainda?”

As três gargalharam. 

“Parece que você gosta de dar em cima do namorado das outras garotas. É bom eu mostrar o que acontece com imundas iguais a você.”

Tsubasa levantou a mão direita e, sem hesitação, desferiu um tapa brutal na bochecha de Haruna. O rosto dela ficou imediatamente vermelho e começou a queimar. 

“Isso ainda foi pouco é melhor você se prepara…”

Ela foi impedida de falar por um chute frontal que recebeu em sua barriga e a fez se curvar para frente. Habilmente, Haruna se abaixou e forçou a descida das duas garotas que a seguravam, fazendo com que elas batessem a cabeça com força uma na outra. 

Ela esqueceu a ideia de ser pacifista. Sua cabeça atolada de pensamentos. Ela só queria pensar melhor nas coisas. 

“Primeiro que eu não vou deixar que falem assim comigo. Vocês não têm direito nenhum. E segundo, eu não preciso de um garotinho como Hideki, que brinca de ser especial.”

“Sua piranha…” Diferente de antes, o olhar no rosto de Tsubasa era um medo profundo, culminado pela mudança radical que Haruna mostrou. 

Antes, ela parecia apenas uma menina fraca. 

Haruna deu ombros e saiu. 

O grupo não cogitou ir atrás dela. 

De todo o assunto tocado, apenas uma coisa a intrigava. E isso era sobre Rika. 

Eu não sabia que Rika se sentia assim. Essa Rika… a Rika deste mundo. 

Se era verdade que Rika gostava de Mayck, então o que ela fez foi realmente imperdoável. Isso pesou muito em sua consciência a ponto dela começar a evitar Rika na manhã seguinte. 

Haruna estava prestes a se afundar sozinha. Ela sabia que era algo ruim, mas era difícil evitar. 

“Haruna…?” Chika apareceu de repente no vestiário, tirando-a de seu transe. 

“Ah, então era aqui que você estava? As garotas estão te procurando há um tempão.”

“Me desculpa. Eu acabei me deixando levar e fiquei aqui.”

“É mesmo? Bom, tudo bem. Você deve estar cansada.” Chika se sentou ao lado dela e ficou em silêncio por um tempo, esperando que uma conversa se desenrolasse. 

Mas o silêncio, aos poucos, ficou constrangedor. 

Então Chika abriu a boca novamente, e sorrindo, tentou ler os sentimentos da garota. 

“Sabe, você não precisa pensar muito no jogo de ontem. Nós demos o nosso melhor, certo?”

“… Você tem razão. Fizemos o que podíamos.”

“Não é? Eu também me senti irritada por aquele set, mas tudo o que precisamos fazer é só derrotar as outras equipes e trazer a vitória pra nossa escola.”

Chika, como sempre, sempre vendo o lado bom das coisas. 

“Sim…”

Pelo menos era o que sua personagem mandava fazer. 

“Bo-bom, eu vou voltar… A partida está bem interessante. Você devia dar uma olhada. E também o intervalo está chegando, não esqueça de se alimentar. Até mais.”

Com seu sorriso radiante no rosto, Chika acenou e se retirou do vestiário rapidamente. 

Ela realmente não fazia o tipo de personagem que dava bons conselhos. Mas ela se esforçou. 

Obrigada, Chika-san…

Haruna olhou para onde a viu pela última vez. 

… Mas não é isso o que está me segurando. 

Ela respirou fundo. Tinha que dar um jeito de seguir em frente e não dar mais trabalho pra ninguém. 

Afinal de contas, que direito ela tinha de monopolizar o lugar de alguém?

Depois de mais algumas partidas, o dia foi encerrado para o campeonato. O sol ainda brilhava com toda a sua majestade no céu, embora algumas nuvens o atrapalhasse vez ou outra. 

Haruna pôs-se a caminho de casa após se despedir de Takashi e Suzune, que decidiram dar um passeio antes do fim do dia. 

Pensando muito no que estava havendo ao seu redor, ela tomou a dolorosa decisão de se isolar por um tempo, até descobrir o motivo que a fez sair de seu verdadeiro lar. 

Isso me lembra… eu não vi Mayck hoje desde que saímos. 

Ela girou a maçaneta da porta. Estava trancada. Sinal de que não havia ninguém em casa. 

Sozinha… né…

Ela pegou a chave que possuía em sua bolsa e abriu a porta com ela. Depois de trancar novamente, foi direto para o banheiro e tomou um banho para esquecer os pensamentos pesados e as fadigas do dia. 

Depois do banho, ela preparou o jantar. 

“Obrigada pela comida.”

E jantou sozinha. 

Já havia passado das oito da noite e ninguém havia chegado. Era preocupante, claro, mas sua mente estava em outro lugar. Aquela sensação de solidão era — de certa forma — nostálgica e recente. 

Algo tentava saltar em suas lembranças incansavelmente, como um ladrão forçando sua entrada. 

Haruna largou o celular na cama e abraçou as pernas, encolhendo-se totalmente. Ela não sabia o porquê, mas queria ficar assim. 

Pouco a pouco, suas memórias começaram a ficar menos nubladas. 

Entendo… eu estou sozinha porque fui deixada para trás. 

Sua família, amigos… a pessoa que ela amava. Fora abandonada por todos eles. 

Ela não conseguia dizer o que havia acontecido realmente, mas uma coisa era certa: não foi um bom acontecimento e isso a machucaria com certeza. 

Então porque eu devo me lembrar? Aqui tem tudo. Eu tenho uma família, amigos… Mayck está aqui também… porque eu deveria deixá-los para trás?

Era egoísta, ela sabia, mas não podia evitar. Seu coração apertava dolorosamente. Sua cabeça deixando o emocional ganhar força. 

“Estou de volta…”

A voz abafada de Mayck ecoou pela casa, enquanto ele tirava seus sapatos na porta. 

Em um salto, Haruna saiu da cama, em outro ela desceu as escadas e pulou no pescoço de Mayck silenciosamente. 

“Haruna?! O que houve?”

Mayck não estava esperando esse curso de ação, então foi chocante, mas o silêncio de sua irmã o contagiou e ele percebeu que deveria apenas ficar quieto. 

O silêncio permitia que eles examinassem os batimentos um do outro. Ambos estavam acelerados. 

Aquele abraço firme, quente e que transmitia todos os medos e receios da garota se estendeu por vários segundos, até que ela decidiu se afastar. 

“Desculpa. Eu vou voltar ao normal. Apenas não fale sobre isso.”

Mayck assentiu e Haruna correu de volta para o seu quarto, deixando aquela sensação vazia na entrada da casa. 

Talvez ela tenha se lembrado de algo. O que pode ser?

As mãos trêmulas ainda estavam gravadas em seus braços. 

<—Da·Si—>

O terceiro dia do campeonato se iniciou. Um dia onde os destinos de cada escola seriam ditados. Para aqueles com apenas uma vitória, era o dia da virada, enquanto os outros não precisavam se importar. 

Contudo, de uma forma ou de outra, só haveria um vencedor no final, então as partidas do dia seriam definitivas. 

Mayck olhou o placar com Haruki ao seu lado. 

“Hmm… se nossa escola perder hoje, já era.”

“Uhum. Mas eu acho que elas vão ficar bem.”

O placar mostrava os seguintes resultados:

Colégio A – 2 vitórias. Colégio B – 2 vitórias. Colégio C – 1 vitória. Colégio D – 3 vitórias. Colégio E – 3 vitórias. Colégio F – 1 vitória.

“Colégio E é a nossa escola, certo?” Haruki inclinou a cabeça para uma forma tão simples de nomear as equipes. 

“Sim. Se elas vencerem as duas partidas de hoje, então elas vão ficar na frente da maioria. Mas ainda é incerto. São duas partidas, afinal.”

Mayck considerou a possibilidade de outros times conseguirem duas vitórias. 

Já estando em posse de seus lugares, Mayck e Haruki apenas esperaram pelo início da partida. 

Os times chegaram e se organizaram. Sua escola seria um dos jogadores nesta partida. Haruna estava lá, embora estivesse distante das outras garotas. 

Será que ela está bem?

Ele presumiu que algo a deixou para baixo desde o dia anterior e isso poderia atrapalhar sua performance. 

O som do apito deu início à partida. Duas garotas do mesmo ano de Mayck estavam jogando contra o colégio C e após alguns sets de trocas de pontos ferozes, elas alcançaram a vitória. 

“Bem, esse é o resultado esperado”, Haruki comentou. “Afinal, são a presidente e a vice-presidente do clube de tênis.”

Ele se recostou no banco orgulhosamente e com os braços cruzados, dizendo que o Colégio C não tinha chance desde o início. 

Mayck concordou que a forma como elas jogaram parecia fruto de anos de experiência. 

Mais algumas partidas se passaram e chegou a vez do colégio E novamente. A dupla era composta por duas garotas que Mayck não se lembrava de já ter visto antes. 

“Quem são aquelas duas?”

“Você não sabe? Elas são famosas por serem muito boas em esportes. São as irmãs Haruka Ueno e Himari Ueno. Elas são bem conhecidas no clube de tênis.”

“Eh… nunca prestei atenção.”

Mayck voltou seus olhos para a partida. Ao contrário das irmãs Ueno, os oponentes, do colégio B, pareciam nervosos e aflitos, então o resultado foi previsível. 

Com mais esta, o colégio E conseguiu cinco vitórias e ao fim das partidas do dia, já dava para ver o resultado. 

O ginásio êxtase novamente. Os gritos de torcida já estavam deixando Mayck com dor de cabeça. 

Os classificados foram o colégio E, com cinco vitórias. O colégio D, também com cinco vitórias. Foi um resultado esperado do torneio, o que significava que a final seria disputada por esses dois colégios. 

****

O dia se encerrou e todos os presentes foram se retirando aos montes. Foram ótimas partidas que eles viram nesse dia, então dava para ver a satisfação estampada no rosto da maioria. 

Havia, claro, aqueles que estavam tristes por seus times favoritos que perderam. Mas não podia ser ajudado. 

Mayck também saiu do ginásio rapidamente ao se despedir de Haruki e Akari e se dirigiu para a saída. 

“Ei, Masato-san. Você viu meu pai hoje?”

Ao chegar na saída, Mayck viu Masato perto do portão, imerso em seu telefone, e se aproximou. 

“Oh, Mayck. Ele estava comigo agora há pouco, mas acabou de sair. Ele tinha algumas coisas para resolver no trabalho.”

“É mesmo? Entendi. Isso quer dizer que você vai também?”

“Sim. Eu só estou esperando Hana vir para me despedir e logo vou correndo.”

“Aconteceu alguma coisa?” Mayck inclinou a cabeça levemente. Masato olhou para os lados e começou a falar mais baixo. 

“Parece que é um caso problemático. Não tenho muitas informações ainda, mas é algo que não posso dizer. Pelo menos por enquanto.”

“É assim mesmo? Bom, tudo bem. Acabei ficando curioso, mas não vou insistir nisso. Mas, só me diga uma coisa. Tem algo a ver com isso?”

Mayck pegou seu celular e o mostrou para o homem. 

Era algo que ele tinha visto há poucos minutos e também o que o fez procurar por Masato. 

“Isso é…!” 

Seu rosto endureceu ao ver a publicação sem censura de um certo perfil anônimo. 

Era sobre um corpo que foi encontrado desmembrado em um parque, guardado em um dos brinquedos. As imagens não estavam censuradas e, segundo a publicação, foi denunciado por um civil que estava passando e sentiu o cheiro podre no local. 

“Droga. É melhor eu relatar isso logo. Não mostre para mais ninguém, Mayck.”

“Hm? Okay… está bem.”

Masato pareceu atordoado de repente. 

Ele devolveu o celular ao desligá-lo e sua postura rígida se moveu para fora da escola. 

“Eu tenho que ir imediatamente. Diga a Hana que me desculpe por não esperar por ela.”

“Certo. Eu direi.”

Deixando essas palavras, Masato entrou em sua viatura e acelerou rumo à delegacia. 

Mayck o observou sumir ao virar uma esquina. Seus olhos desconfiavam de todas as expressões de Masato. Sua reação inicial não foi surpresa ao ver que algo já havia sido vazado, mas ela endureceu e ele parecia estar pensando em algo. 

Além do mais, ele estava com a viatura que geralmente ficava no estacionamento do distrito policial. Masato já tinha ido até a delegacia mais cedo. Mas ele mentiu por algum motivo. 

E quando algo assim era reportado, o distrito policial se agitava imediatamente e não parava um minuto sequer para realizar uma atividade como comparecer à escola do filho. 

Posso presumir que ele está mentindo? A surpresa dele não foi por ter a divulgação de algo que aconteceu há pouco tempo, mas, sim, por eu ter visto tão rápido. 

Mayck simulou o que podia ter acontecido em sua cabeça. Embora fosse uma situação hipotética, era bem plausível, mas ele deixou ela como uma garantia. 

Por enquanto… eu vou perguntar algumas coisas. 

Mayck discou alguns números no telefone e fez uma ligação, enquanto tomava o caminho de casa. 

Antes que Haruna chegasse, ele preparou o jantar, pensando em recompensar Haruna por ter conseguido chegar na final do campeonato. 

A porta da entrada se abriu e a voz meiga e tranquila de Suzune ecoou. 

“Estou em casa.” 

“Bem vinda de volta.” Mayck respondeu sem tirar sua atenção do que estava cozinhando. 

“Hmm… que cheirinho bom. O que está fazendo?”

“Não é nada demais. Só um prato que deu vontade de fazer.”

“Tem alguma ocasião especial?”

“Bom, Haruna conseguiu chegar na final do campeonato junto com sua equipe. E também meu pai deve estar trabalhando desde cedo sem parar. Espero que não seja estranho eu pensar assim.”

Ouvindo isso, Suzune deu uma leve  risada. 

“O que foi…?”

“Uh… não é nada. Eu só estava pensando no quanto você se importa com os outros mesmo que não demonstre. Obrigado por cuidar de Haruna por mim.”

“Eu não estou fazendo nada tão nobre, no entanto…”

“Ainda assim. Mesmo que seja apenas um pouco, é algo bom recompensar alguém quando se esforça.” 

Suzune acariciou a cabeça do garoto, enquanto dizia “certo, certo”, deixando-o envergonhado

“Bom, eu vou tomar um banho. Estou ansiosa pelo jantar.”

“Okay.”

Dito isso, ela largou sua bolsa no sofá e foi direto para o banheiro. 

O que Mayck disse não era mentira, mas ele, de fato, não estava fazendo por pura bondade. Na verdade, era mais como uma recompensa para si mesmo. 

É puro egoísmo meu. Eu estou começando algo ruim, então isso é só uma desculpa para me justificar. 

Era como uma troca do tipo fazer algo ruim, mas ter feito algo bom, então ninguém poderia julgá-lo. Era apenas autossatisfação. 

Ele sabia que isso era terrível. Mas era o necessário. 

Quando ele estava terminando de preparar a mesa, Haruna chegou. O semblante cansado e deprimido dela se iluminou com a refeição bem preparada e a companhia de Mayck e Suzune. 

O avanço na competição se tornou algo a ser comemorado de verdade. Pelo menos naquela noite. 

****

Depois que as duas mulheres foram para a cama e Mayck se viu livre, ele saiu sorrateiramente pela janela de seu quarto e seguiu pelos fundos da casa. 

Não era seguro sair pela porta da frente, ainda mais quando ele sabia que estava sendo constantemente observado. 

A Strike Down conhecia sua identidade. Na verdade, John e Hana sabiam. Talvez eles não tivessem associado Mayck ao Olhos azuis, mas era bom ser cuidadoso. 

De uns tempos, ele sentiu que a vigilância aumentou por algum motivo. Tinha que perguntar a Hana para descobrir. 

Com a máscara no rosto e o sobretudo em seu corpo, Mayck saiu rapidamente da área de sua casa e se direcionou para o parque em que o corpo foi encontrado de manhã. 

Sim. Esse era outro ponto que fez Mayck desconfiar totalmente de Masato. O corpo fora encontrado cedo, em torno de quatro e seis horas e quando Masato foi, supostamente, avisar Takashi, já era cerca de dez horas depois. 

Nesse tempo, o caso já estava em análise na delegacia, mas Masato afirmou não saber os detalhes. 

Depois de analisar o parque todo, que estava cercado por faixas amarelas, Mayck chegou a conclusão que aquele lugar era a possível fonte do infortúnio do mundo. Naquele local, ele lutou contra Ninkais, teve encontros problemáticos e muitos outros. 

Ou talvez eu esteja preso a esse lugar. 

Tal parque sempre esteve em suas memórias. 

Contudo, mais importante que isso, ele procurou por pistas que pudessem o ajudar a pensar no que aconteceu ali. Segundo o que que ele se lembrava das imagens da publicação, o corpo estava dentro da casinha de madeira do playground. 

Ainda havia resquícios de sangue, mas não havia marcas de ataque. 

Então o corpo foi colocado aqui depois de ser atacado… é difícil saber sem ver o corpo…

Ele analisou as imagens que salvou em seu telefone e conseguiu imaginar o corpo naquele local. 

“É realmente foi assim. É possível que o ataque nem tenha acontecido aqui. Além do mais, com certeza foi coisa de humanos… um portador… ?”

Mayck franziu o cenho e deu zoom na imagem. 

Esses furinhos… isso me lembra algo. Quais são as chances?

Uma ideia levou Mayck a ficar um passo mais próximo do assassino e da sua verdade. 

“E se Masato está relacionado a isso, então ele também tem algo a ver com o assassino e consequentemente com Yang.”

Mayck se virou e se afastou do brinquedo. 

Mas não é como se eu fosse ficar indo atrás deles. Vai ser muita perda de tempo.

Nesse caso, onde parecia contraproducente ir atrás dos culpados, só restava inverter o jogo. Mayck tinha uma ideia em mente. 

Ao sair do parque, ele caminhou pela rua silenciosa, a fim de encontrar algo interessante. Só poderia colocar seu plano em ação depois, de qualquer forma, então não havia motivos para pressa. 

Embora estivesse aproveitando o momento de não ter que correr atrás de monstros ou outros portadores, ele sabia que não seria tão fácil se livrar das responsabilidades que vinham junto com a existência das IDs. 

Ele deteve seus passos no meio da calçada. Uma figura vinha andando até ele, emanando uma energia suspeita. 

Enquanto se aproximava, a figura encapuzada puxou uma faca da cintura, que reluziu com a luz dos postes. 

Quem é esse…?

Antes que pudesse dar seu palpite, Mayck foi obrigado a se esquivar da investida veloz e cruel daquele que se mostrou seu inimigo. 

Mesmo após a esquiva, Mayck não se livrou do embate e mais investidas e cortes furiosos vieram de forma incessante. 

É bem rápido. 

O garoto teve que reconhecer a velocidade e esforço do seu agressor. 

Mas não é o suficiente. 

Mayck tomou distância para recuperar o controle da situação. Ele avaliou que o agressor o tinha como alvo desde o início ou então tinha algo pendente contra portadores de máscara branca. 

Não podia ter outro motivo; se houvesse, então ele só podia ser descrito como um psicopata. 

O agressor saltou e deslizou a faca para baixo, tentando atingir um corte vertical. Mayck desviou e rapidamente agarrou o pulso dele com a mão direita e o torceu para trás, colocando-o de joelhos facilmente. 

Com o pé, pisou na cabeça dele e o rendeu no chão. 

“Então? Quem é você?”

Não dava para dizer quem era por conta da vestimenta que cobria todo o seu corpo e da máscara preta escondida sob o capuz.

“…”

“Não vai me responder… Pelo menos diga por que está atrás de mim.” Mayck o pressionou para conseguir informações. 

Um suspiro pôde ser ouvido e depois a voz do agressor. 

“É… eu não coletei informações o suficiente. Fui ingênuo.” Ele parecia estar usando um dispositivo para alterar sua voz, então não dava para saber se era homem ou mulher. 

“Está atrás de mim… Alguém te mandou?”

“Isso não importa. Eu vou terminar meu trabalho de qualquer forma.”

Mayck levantou uma sobrancelha. 

Do que ele está falando?

Seus olhos percorreram o chão e ele se lembrou de algo. Não tinha ouvido o som que deveria ouvir quando derrubou o agressor. 

Onde está a faca?

Ele rapidamente moveu seus olhos para cima. Por um fio de cabelo, ele saltou para trás e evitou a lâmina que estava prestes a perfurar um de seus olhos. 

Velozmente, o agressor pegou a faca antes que ela caísse e desferiu um corte horizontal, que se chocou com a lâmina da espada que Mayck fez surgir num piscar de olhos. 

O som das lâminas colidindo ecoou pela rua deserta. 

Muito esperto. 

Mayck acabou elogiando. 

De repente, o mascarado desapareceu como um fantasma diante de seus olhos, surpreendendo a Mayck. 

Invisibilidade, hein? Mas é uma pena. Você não pode enganar meus olhos. 

Fechando e abrindo os olhos, Mayck ativou seu <Moonlight Nightmare> e a alma do agressor apareceu em sua visão. Ele estava tentando dar um golpe furtivo pelas costas, mas foi interrompido pela <Manipulação de Alma> que o conteve no ar. 

“Vamos parar com esse joguinho.”

Mayck movimentou sua mão para a direita e o agressor foi arremessado contra uma parede próxima. O som do impacto se propagou e uma rachadura foi feita na parede. 

Os movimentos do agressor não eram ruins. Ele era habilidoso a ponto de ser referência na classe assassino. Contudo, Mayck mostrou ser superior a ele em velocidade e agilidade. 

Entretanto, Mayck perdia em um certo atributo. Mesmo após o grande impacto na parede, o assassino se levantou como se nada tivesse acontecido. 

E ele voou para Mayck novamente, determinado a tirar sua vida por algo que lhe foi oferecido. 

Seu nome era bem conhecido entre os portadores e ele fazia parte dos dez caçadores mais poderosos listados no ranking. Ocupando o quinto lugar, seu nome era Phantom. 

A luta ficou mais intensa e mais rápida. O suor escorria pelo rosto de ambos e suas respirações ficavam cada vez mais pesadas. 

Eles iniciaram uma grande troca de golpes com suas lâminas, de modo que quase compuseram uma melodia irregular. 

Que merda. Porque eu sempre me ferro em lutas de resistência? Mayck martelava em sua mente, embora a resposta fosse mais que óbvia. 

Phantom saltou e tomou distância, mas disparou novamente, recuando e avançando. Sua intenção era encontrar uma brecha, mas não seria uma tarefa fácil, já que Mayck podia ver todos os seus movimentos e responder a tempo. 

Mayck não conhecia o real objetivo dele, mas sabia que a luta deveria acabar logo ou ele seria derrotado facilmente. 

“Eu devia ter feito isso desde o início.”

Mayck conteve uma investida avassaladora de Phantom com sua lâmina e o repeliu com muito esforço. Antes que um contra-ataque fosse realizado, ele projetou dois <Canhões Elétricos> pequenos e disparou sem esperar muito. 

O som elétrico se propagou pelo ar, junto a uma luz ofuscante. Os lasers quebraram a rigidez dielétrica do ar e atingiram Phantom em cheio. 

Como eram pequenos, os canhões não tiveram potência suficiente para acabar com o assassino furtivo — ele foi arremessado, mas logo se levantou. Suas roupas ficaram levemente chamuscadas.

Contudo, Mayck já tinha isso em seus cálculos e cinco canhões maiores já estavam posicionados e iluminavam a face de Phantom. 

“Vamos parar com isso, okay? Ou será que você prefere morrer aqui?”

Phantom olhou de um lado para o outro. Ele sabia que não poderia se esquivar dos lasers assim que fossem disparados. A distância foi friamente calculada para que ele não passasse por baixo, assim como as posições de cada um, que não deixavam aberturas para um movimento rápido de desvio. 

Tudo o que lhe restou foi pedir a rendição.

Phantom guardou sua faca na cintura abaixo de sua capa preta e deu sinais de não querer mais lutar. 

“Muito bem.”

Os círculos desapareceram e Mayck observou Phantom saltar para cima de um telhado e sair de cena. 

Suas intenções ainda eram um mistério, mas Mayck aprendeu que estava sendo alvejado por alguém.

Sua cautela teria que ser muito maior que o normal a partir dali. 

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