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Capítulo 83 – Buscar o melhor

A delegacia estava agitada. 

A presença do delegado-chefe tornava a pressão ainda mais assustadora para os demais policiais que corriam de um lado para o outro no departamento. 

“Tivemos muitos crimes que foram jogados na gaveta. Não vamos perder mais esse.” E assim ele movimentou todo mundo de forma anormal.

Não era de conhecimento público que havia tantos crimes não resolvidos. Enquanto as pistas coletadas estavam em análise, todos colocavam sua cabeça para funcionar, tentando encontrar uma possível solução. 

Telefones tocando, teclas sendo pressionadas sem parar. 

Takashi e Masato foram designados para o caso, então não estavam livres da mesma pressão — que era ainda mais forte sobre eles.

Reunidos na sala pessoal de Masato, os dois discutiam entre si os fatos ocorridos, e também estavam revendo o que haviam encontrado. 

Contudo, apesar de toda a correria envolvendo aquele homicídio problemático, ainda havia outra coisa que se mostrava um empecilho preocupante. 

“Imagens e informações… tudo isso foi divulgado poucas horas depois de termos encontrado o corpo.”

Masato teclava rapidamente em seu computador com um olhar sério. 

“Isso é demais. A imprensa ainda não estava lá, não é? Quer dizer, não tinha como ela já ter percebido tudo tão rápido quanto nós.”

De pé ao lado de Masato, Takashi tinha os braços cruzados e também carregava um feição séria no rosto. 

“Esse é o mais estranho. Além de termos que descobrir esse caso, ainda temos que lidar com essas informações sendo vazadas. Conseguimos entrar em contato com os desenvolvedores da rede, mas se continuar assim não vai ser legal.”

“Você tem razão. Mas e aí? O que você acha?”

“Sobre os vazamentos?”

“Sim. Você deve ter uma pequena especulação, certo?” Takashi mandou um olhar de curiosidade sobre seu amigo. 

“É… se eu disser que não, estarei mentindo. Eu vou dizer, mas espero que você não pense que é apenas loucura minha… quer dizer, eu até prefiro se for.”

Masato largou o computador e olhou para seu amigo enquanto se recostava na cadeira. 

“E isso é…?”

“E se esses crimes… já estiverem todos planejados?”

“Você quer dizer que alguém está causando tudo isso e divulgando depois?”

“Isso aí.”

Takashi olhou pela janela e ponderou por um momento. 

Essa explicação, realmente, era bem maluca, mas explicava o quão rápido as informações eram vazadas. 

“Pode ser apenas loucura, mas é bem plausível. Tendo em conta todos os outros casos…”

“Não é? Eu estive pensando nisso há um tempo, mas não conseguia dizer a ninguém. Se os vazamento e os assassinatos e ataques estiverem conectados, então talvez estejamos perseguindo um grupo criminoso.”

Isso era possível? Takashi martelava em sua cabeça. Até aquele momento, ele considerava que pudesse haver um traidor dentro da polícia, mas, apesar de considerar que a ideia dos crimes serem premeditados era um tanto quanto duvidosa, ela ainda lhe deu a esperança de que ainda existiam aliados por perto. 

Por outro lado, ele acabou pensando que podia haver, também, um informante dentro da polícia que estivesse repassando as informações para alguém, que, por sua vez, vazava elas na internet. 

Apesar disso, a existência de portadores faz isso parecer muito mais real. 

Takashi não podia deixar de considerar isso. 

Por algum motivo, Mayck surgiu em sua mente. 

“Acho que é bom mantermos isso em mente… vamos deixar isso apenas entre nós, por enquanto. Podemos montar uma equipe de investigação depois”, Takashi disse. 

“Eu concordo. Então vai ser um segredo?” Masato riu maliciosamente, como se a ideia o animasse. Takashi sorriu de volta. 

“… Pode interpretar dessa forma.”

De repente, a porta foi aberta agressivamente por um policial alarmado. O suor em sua testa mostrava que algo tinha acontecido.

“Masato-san!” Ele estava arfando. 

“O que foi? O que aconteceu?”

“Ufa… Takashi-san também está aqui… ótimo. Assim não preciso correr pra lá.”

Os dois policiais não estavam entendendo nada e mostraram suas expressões confusas, esperando que seu colega continuasse. 

“Nós tivemos outra divulgação na internet. É do mesmo caso, mas as imagens foram repostadas e com uma informação diferente.”

“Quê?”

“Tá falando sério?”

Imediatamente, Masato colocou as mãos sobre o teclado e buscou a informação. E ela estava lá, sob a manchete de que um corpo foi esquartejado por uma quadrilha; diferente da notícia enviada no dia anterior, que dizia apenas que um corpo fora encontrado em um parque da cidade.

“Isso é sério? Pensei que esta conta já tinha sido removida. Eles fizeram outra?”

Quando as informações eram divulgadas, a polícia entrava em contato com os desenvolvedores e solicitava a remoção da conta, junto com o envio das informações da conta. No entanto, outra conta era criada e mais notícias divulgadas. Muitas sob informações mentirosas e extravagantes, mas que também pareciam muito reais. 

“O que será que estão pensando?”

Takashi tentava ao máximo encontrar alguma pista nas informações, mas, alguns segundos depois uma mensagem dizendo que a conta foi removida substituiu a publicação. 

“Tiraram…” 

Tudo pareceu uma ilusão. Mas era uma grande realidade na cabeça do trio. 

“Eu vou falar com a equipe de análise.” 

Apressadamente, Takashi seguiu em direção à porta, sendo seguido pelo policial, e disse a Masato para se juntar a eles depois. 

A porta se fechou. 

Olhando fixamente para a mensagem de remoção, Masato tinha uma expressão de choque em seu rosto. Ele estava suando frio. 

Porque… porque isso apareceu de novo? Não fui eu quem repostou isso. 

Quando ele fez a publicação no dia anterior, ele já esperava sua remoção, mas alguém salvar as imagens e repostá-las sob um novo perfil anônimo e na mesma rede estavam fora de seus cálculos. 

Não pode ter sido ele… não é? Yang não faria uma coisa dessas sem me avisar antes. É isso mesmo. Ele me avisaria se houvesse mudança em seus planos. Tenho certeza. 

Masato sorriu. Uma sensação de perigo estava sob sua cabeça, mas ele se confortou ao pensar que Yang poderia dar um jeito nisso. Não queria dizer que a situação não era ruim, no entanto. 

De qualquer forma, ele teria que perguntar a Yang o significado daquilo. 

Droga… Isso não pode sair do eixos agora. 

<—Da·Si—>

O clima era sombrio, além de sério. Aqueles cinco reunidos era um evento que só acontecia quando a situação era grave ao ponto de uma reunião geral ser marcada — apesar de ter sido ideia de Zero. 

Cada líder estava sentado à mesa redonda e seu vice-líder de pé, logo atrás. Obviamente, como de costume, todos estavam usando suas máscaras — com tonalidades diferentes — e vestindo roupas formais. A sala era mal iluminada, mas não parecia ser um local qualquer; apenas a mesa feita de madeira de ipê servia de prova para isso. 

Depois que Chika contatou Zero e lhe contou sobre o pedido formal da Strike Down, ele pensou muito sobre o assunto. Discutiu com Nikkie e pensou de novo.

Alguns dias depois, encarando a situação em que realmente estava, ele viu que era hora de pôr o orgulho para o lado e enfrentar a realidade. 

Contudo, para todas as decisões cruciais da Black Room, era necessário que uma reunião fosse solicitada, em que, ao menos, três líderes concordassem em participar — excluindo o solicitador. Só assim, uma reunião geral poderia ser realizada e todos deveriam estar presentes. 

Mesmo que contra a sua vontade. 

“Palhaçada!” San bradou com seus punhos batendo na mesa. “Você realmente marcou essa reunião pra falar disso outra vez, Zero?”

Não foram necessários cinco minutos para o tópico da reunião ser dito e San surtar com a ideia e se mostrar totalmente contra. 

Ele era um homem alto, com um grande porte atlético. Tinha cabelos pretos, onde a parte de trás estava na altura dos ombros. Um olhar desafiador por baixo da máscara e uma expressão ranzinza. 

“San, poderia não fazer tanto barulho?” Ichi, uma mulher com uma máscara mais acinzentada em comparação à de Zero, cruzou os braços. “Você sempre faz isso quando o assunto não é conveniente para você.”

Com cabelos longos cor de vinho e nuances douradas, ela tinha uma voz sedutora, apesar de fria. 

“Você está mesmo considerando esse tópico fútil? Vamos nos aliar aos nossos inimigos…?”

“Não são nossos inimigos, San. Eles estão do nosso lado, mesmo que não lutemos juntos. Que tal ouvir o que eu tenho a dizer primeiro?” Zero suspirou. 

San torceu o nariz. Ele abriu a boca para rebater, mas se calou perante os olhares dos demais e sentou. 

“Muito obrigado, San.” Zero agradeceu com certo sarcasmo em sua voz. Depois, se direcionou a todos. “Antes de ir ao assunto principal, eu acredito que seja necessário resumir a situação em que a sociedade japonesa se encontra agora.”

Para convencer os outros, era necessário ter argumentos. Zero sabia que, apesar de estarem ali, pelo menos três deles não estavam dispostos a aceitar uma aliança mesmo depois de ouvi-lo. Então, ele colocaria todos os argumentos na mesa e só depois mostraria a proposta. 

Em rápidas e poucas palavras, ele contextualizou o assunto. 

Informações secretas da polícia estavam sendo vazadas junto com os casos de desaparecimento em massa da população, além da divulgação anônima de imagens que comprovavam a existência de portadores e Ninkais. 

A Ascension tinha parte nisso, sem sombras de dúvida, então eles estavam numa situação delicada, em que choques desnecessários poderiam causar uma perda significativa para a Black Room. 

As notícias bizarras estavam começando a causar alarde na população, mas, no geral, ela ainda estava cética acerca da veracidade daquelas coisas que pareciam histórias de ficção. No entanto, se continuasse daquela forma, era apenas questão de tempo até que os cidadãos vissem os sinais de que tudo era real e ficaria impossível esconder eventualmente. 

“Em outras palavras, nós não vamos proteger nem o Japão e nem o resto do mundo.”

Ao terminar, Zero olhou para cada um dos presentes na reunião. 

“É por isso que, sabendo disso, a Strike Down solicitou uma aliança formal para aumentar a área de providências. Ou seja, eles querem que o Japão fique nas nossas mãos.”

“Se isso for verdade, então é correto presumir que não é apenas o Japão que está enfrentando problemas?” Ni, outra mulher de cabelos loiros na altura dos ombros, se pronunciou e deu seu ponto de vista.

“É o que eu acredito. Afinal, a Strike Down tem poder o suficiente para lutar no Japão sem problemas. Mas a história muda quando dezenas de países estão em jogo.”

“Nós deveríamos apenas tirar eles daqui. Não precisamos nos aliar a eles para isso, não é? Nós já damos conta da maior parte do país mesmo.” San resmungou quase cuspindo ao mencionar a Strike Down. 

“O que você acha, Yon?”

Ni olhou para a figura silenciosa ao seu lado. Suas mãos cruzadas em cima da mesa e sua atitude observadora, mas também desinteressada. Yon, abriu a boca. 

“Eu consigo entender a situação, Zero. Você tem um objetivo para querer essa aliança, não é? De todos nós, você foi o primeiro a dizer que nunca se aliaria a Strike Down novamente, mas agora mudou de ideia. Do que você está atrás, exatamente?”

Seus olhos se fixaram em Zero através da máscara branca, enquanto ele suspeitava das ações de seu colega. 

“Huh. Então você acha isso? Bem, não vou dizer que está errado. Não estou atrás de um benefício tão pequeno quanto a ‘permissão’ para operar sem restrições. Não precisamos disso. Eu pensei nas possibilidades e vi que só tinha uma coisa que eu quero deles: a influência.”

“Hein?”

“O que é isso?”

“Você tá falando sério?!”

A resposta deixou todos confusos. San ficou mais irritado do que já estava. A declaração de Zero deixava parecer um motivo completamente idiota. 

“Me deixe explicar melhor. De fato, parece algo bem banal, mas eu acredito que vão concordar comigo ao ouvirem meu ponto.” 

Zero gesticulou para que eles se acalmassem. 

“Então diga. Ainda só consigo pensar que é apenas interesse pessoal.” Ichi mantinha sua postura séria, mas tinha uma pitada de curiosidade em sua voz. 

“É bem simples, na verdade. Nós não somos reconhecidos pelo governo e vamos concordar que, para enfrentar a Ascension, é necessário planejar e atacar diretamente, e sendo sujos como eles são, não vão escolher um local isolado para combate. As cidades sofrerão com as cicatrizes, mas temos que evitar isso. Por isso eu quero a equipe de reparo e de desvio da Strike Down ao nosso dispor, além do silêncio do governo e da mídia.”

A explicação iluminou a mente deles. Era um fato que se eles tivessem a equipe de reparo da Strike Down, conhecida por sumir completamente com rastros de destruição, eles poderiam lutar sem restrições — não muitas, na verdade — e isso poderia lhes dar uma chance a mais contra os truques da Ascension. 

A equipe de desvio, por outro lado, tinha o poder de controlar a mídia e evitar mais vazamentos. 

Como Zero disse, todos concordaram com o ponto em questão. 

“Esse é o meu interesse em particular. Vocês também devem ter os seus, não é?”

E foi aberta a porta para opiniões, e claro, San não hesitou em passar por ela. 

“Humpf. Concordo que isso é algo necessário. Mas ainda não explica muita coisa. Afinal a Strike Down já faz os reparos mesmo agora.”

“É justamente pelo que ele disse no começo. A Strike Down está ocupada com outros países. Não vão ter tempo de nos monitorar e oferecer apoio quando estivermos em ação. Correto?”

“Exato. Por isso que eu solicitei essa reunião. Sei que vocês compreendem a situação e também que querem aceitar a aliança, mas não podem ir contra seus princípios, então precisam de um ótimo motivo. Agora que vocês sabem minhas intenções, digam as de vocês e vamos chegar num acordo.”

Zero tentou, mas tudo o que recebeu foi o silêncio e os resmungos de San, o que foi bem doloroso para ele emocionalmente. 

“Okay… okay. Vamos fazer uma pequena pausa para vocês esfriarem a cabeça. Peço que pensem com calma, certo?”

“Não tem o que pensar. Eu até concordo com a parte de usar os recursos deles, mas não aceito ter que nos tornarmos aliados e trabalharmos juntamente a eles.”

“Você é muito contra isso, San.” Ichi olhou-o de relance. “Por que não nos diz o motivo pelo menos?”

“O que há, Ichi? Vai me dizer que está considerando aceitar isso?”

San apoiou as duas mãos na mesa e lançou um olhar amedrontador para a mulher, que, por sua vez, não se deixou abalar. 

“Estou. Para ser sincera, não há motivos para não nos aliarmos. O ódio que existia contra a Strike Down pertencia à antiga geração. Não tem nada a ver com a gente.”

Ichi sempre mantinha seu ponto de vista, o qual, diferentemente de San, estava sempre direcionado para o futuro e não preso ao passado. E ao contrário da atitude flexível dela, San ainda se mantinha firme na sua decisão de ser contra. 

“Nós herdamos a vontade deles. Como pode dizer uma coisa dessas?”

“Simplesmente dizendo. Me diga, San, por que você está tão obcecado assim? O que foi que fizeram com você?”

Ichi o confrontou com firmeza. Secretamente, ela realmente tinha considerado a aliança, e como Zero disse, ela só precisava de um gatilho, assim como os outros. 

O gatilho, no entanto, era ter a aprovação de todos. Nesse caso, ninguém julgaria ninguém por suas respostas. 

“Você sabe muito bem o que fizeram!” San bradou. “Aqueles malditos só se importam com o próprio lado e só tem interesse nos mais poderosos. Você esqueceu o motivo pela qual a Black Room foi criada?”

“Não. Mas isso não importa também. Nós estamos aqui por um motivo: proteger o Japão. Enquanto estivermos fazendo isso, está perfeito.”

“Ora, sua…”

“Parece que San ainda é um menino rancoroso.” Ni deu uma risada suave, enquanto Yon apenas suspirou. 

“Ei, ei, ei. Eu sei que vocês estão animados com a ideia, mas não vamos começar uma briga agora”, Zero interveio. 

“Ichi-san, é bom você se acalmar. Não irrite San ainda mais”, Ni falou. Yon acenou levemente com a cabeça. 

“Não era minha intenção. Me desculpe, San.” Ela sinceramente abaixou a cabeça. “Enfim, o que vamos fazer acerca disso? Eu já dei meu selo de aprovação.”

“Você realmente…” San estava se mordendo de raiva. 

Não importava os argumentos que ele usasse, se uma votação fosse iniciada e a maioria tivesse o mesmo voto, então aquela seria a decisão tomada até que houvesse mudanças significativas. 

“E quanto a vocês?” Zero voltou-se para os demais. 

Yon fechou os olhos brevemente e se recostou na cadeira. 

“Com o ponto que você apresentou, eu sinto que mais motivos são desnecessários por ora. O que você acha, Kaze?”

Olhando de relance para seu vice-líder, Yon pediu por sua opinião. Kaze se curvou levemente. 

“Eu acredito que seja uma ótima oportunidade.”

“Hum… então está tudo bem. Eu não tenho objeções.”

Yon aceitou a cooperação com a Strike Down sem muitos rodeios. 

Ni fez o mesmo o que tornou a reunião mais simples do que Zero imaginou inicialmente. O único que ainda tinha suas ressalvas era San, mas ele já sabia do resultado. 

Embora estivesse remoendo e explodindo por não ser ouvido, ele foi obrigado a concordar com os demais. Afinal, regras eram regras e San não as desobedeceria, como o homem correto que ele era. 

“No entanto”, San acrescentou com uma voz rabugenta. “Eu quero estar ciente de tudo o que acontece nas demais divisões e também vamos planejar o que faremos daqui em diante.” 

Ele parecia extremamente exigente, mas era o mínimo que se podia fazer por ele. Além disso, os demais líderes não se importavam nenhum pouco com isso. 

A reunião, então, foi encerrada.

****

O local era um prédio comum, localizado em uma área comercial. A sala, no entanto, encontrava-se no subsolo, e só era acessada pelos líderes. Sendo assim, ao saírem, eles tiraram as máscaras dos rostos. O motivo era óbvio. 

A sensação de alívio tomou conta de Zero enquanto ele voltava para o carro, sendo seguido por Nikkie. Foi uma reunião cansativa. 

Por isso não gosto de me encontrar com eles.

Tudo o que ele queria era voltar para sua sala pessoal e trabalhar em silêncio. 

“Espere um pouco, Zero.”

Junto ao vice-líder, Kaze, Yon se aproximou. 

“O que houve?”

“Não é nada demais. Você toparia dar uma volta conosco?”

Yon fez um convite inesperado. O surpreso Zero, porém, conseguia ler as reais intenções do homem.

Claro, ele queria recusar, mas não conseguia encontrar palavras para tal. 

“Hm… tudo bem.”

Embora sem vontade, ele aceitou o convite. 

Os quatro entraram no carro totalmente preto, que não chamava muita atenção, e seguiram sem rumo pela cidade. Era um dia bem quente para o fim do outono que se aproximava cada vez mais. 

O silêncio perturbador nos primeiros minutos foi quebrado por Yon, que tentou começar um assunto despretensioso. 

“Então, Zero, como andam as coisas?”

“Bom, fora toda a situação em que estamos envolvidos, não há nada de anormal para ser relatado. Mas me incomoda que você tente dar rodeios para dizer o que realmente quer.”

Se enrolar fosse a intenção de Yon, então ele falhou miseravelmente. 

“Certo, certo. Você já deve saber do que eu quero falar. Então não há a necessidade de criar uma boa atmosfera.”

“Assim mesmo.”

Os líderes se encaravam sem nenhuma expressão em especial nos seus rostos e os vice-líderes se mantinham em silêncio — eles não eram amigos em particular, por isso se resignavam a apenas observar. 

“Ethan. Mande-o de volta.”

“Impossível.”

“Hmpf.”

Yon bufou como se estivesse fazendo birra, mas o sangue de Zero estava fervendo. 

“Não adianta você perguntar. A resposta é sempre a mesma. Ele é um importante membro do time Alfa, então não pense que vou entregá-lo assim.”

“Eu tenho o direito de reivindicá-lo.”

“Não. Você não tem.”

“É do meu filho que estamos falando.”

“Não ouse chamar de filho alguém que você maltratou e descartou.”

O clima que deveria ser descontraído estava pesado. Até mesmo o motorista engoliu a seco, enquanto tinha a curiosidade para saber o que estava acontecendo. 

Como se visse alguém sem esperança, Zero suspirou. 

“É sempre a mesma coisa. Sempre que nós vemos você toca no mesmo assunto. Eu duvido que Ethan aceitaria voltar para você depois de tudo. Já te falei milhares de vezes.”

“Isso não importa. Sendo ele um peão descartável ou não, eu quero que ele me substitua no cargo de líder da quarta divisão.”

“Diz isso na frente do seu vice-líder?”

“Ele já sabe da minha decisão.”

Kaze fechou os olhos em concordância. 

“Independente disso. Ele não vai voltar. Não enquanto ele disser que não quer.”

“Hum. É o que você pensa. Certamente ele vai me procurar querendo voltar. Afinal, ele não é forte o bastante sem mim.”

“Diga o que quiser. Motorista, pare aqui. Eles já vão descer.”

Acatando as ordens obedientemente, o motorista diminuiu e fez uma parada rápida perto de um arranha-céu no centro de Tóquio. 

“Diga a Ethan que nos veremos em breve.”

“Certo, certo. Eu irei dizer.”

Yon saiu do carro junto a Kaze, deixando apenas Nikkie, Zero e o motorista, que partiu imediatamente. 

Com o silêncio e o ambiente levemente abafado, Nikkie abriu a boca pela primeira vez desde o início da reunião. 

“Você está bem irritado. Isso é incomum.”

*Você acha? Você consegue entender. Sempre que eu me encontro com aquele cara, ele pede Ethan de volta. Mesmo depois de tratá-lo como algo descartável. Yon sempre foi assim, desde que me lembro… não. Ele piorou depois que sua namorada faleceu no parto de Ethan.”

“Eu nunca ouvi sobre isso.” Nikkie ficou curiosa. O motorista também. 

“É algo que eu não devia falar, mas não importa. Quando ainda éramos uma pequena equipe da Strike Down, Yon teve uma namorada que também fazia parte da equipe. Quando a Black Room surgiu, ele tiveram um filho, mas por conta de um problema, ela acabou morrendo no parto.”

E isso fez Yon se tornar o que ele se tornou: uma pessoa completamente fria e obcecada por poder. Era a visão que ele passava. 

“Um problema… o que foi realmente?”

O motorista aguçou seus ouvidos. 

“Isso foi…”

O carro chacoalhou brutalmente e um som de buzina estourou em seus ouvidos. 

“Que merda foi essa?”

Zero olhou irritado para o motorista, que estava suando frio. 

“Me-me desculpe, senhor.”

Assustado, ele retomou o controle do veículo após quase invadir a contramão por conta de sua curiosidade. Depois disso, Zero não continuou o que estava falando e Nikkie não insistiu em descobrir. 

O motorista morreria sem saber o que houve com a esposa de Yon. 

<—Da·Si—>

A final do campeonato escolar foi decidido. Para a alegria de alguns e tristeza de outros, o colégio E foi derrotado por uma diferença de dois games no último set. 

Hana e Chika se provaram a dupla mais forte da escola, mas perderam por um pequena margem de habilidade contra seus oponentes. 

“Bom, elas se esforçaram”, Mayck disse. 

“É… é triste que elas tenham perdido, no entanto.”

“Mas foi uma partida e tanto. Eu não consegui parar de suar frio a cada jogada.” Haruki cruzou os braços e balançou a cabeça, se lembrando de cada ataque e defesa efetuado pelos dois lados. 

Foi uma partida fervorosa. Sem dúvidas, a melhor que aconteceu desde o início do campeonato três dias atrás. Todo o ginásio concordava com isso. 

Mayck olhou para Hana e Chika. Elas estavam reunidas com os demais membros do clube de tênis. Ambas estavam sorrindo, mas uma amiga delas estava chorando, provavelmente por ter sentido que elas mereciam vencer. 

Mas, bem, Hana deve estar pensando que não há essa coisa de merecer em uma partida de habilidades. 

Obviamente, se Hana e Chika tivessem usado todo o seu potencial na partida, elas teriam vencido sem dificuldade. No entanto, o desafio delas era o contrário. Enquanto a outra dupla mostrava que tinha habilidades incríveis, elas estavam lutando para mostrar que conseguiam jogar sem usar todo o próprio poder. 

Nesse quesito, elas tinham vencido. Suprimiram tão bem suas habilidades que foram capazes de perder contra dois alunos comuns, mas isso não vinha ao caso. 

Algum tempo depois, os jogadores se reuniram para a cerimônia de premiação e os vencedores subiram ao palco. 

Depois de um longo discurso de motivação, a medalha foi entregue a todos os jogadores que ocuparam o primeiro e o segundo lugar. E o colégio vencedor levantou a taça. 

Gritos de vitória e felicidade encheram o ginásio. 

Além dessas duas premiações, os jogadores de todos os colégios foram recompensados por seus maiores feitos no campeonato, como o maior número de pontuações e as melhores reviravoltas. 

Depois de tudo isso, o ginásio ficou vazio. Enquanto o anoitecer chegava, apenas alguns alunos ficaram juntos em grupos separados no ginásio para comemorar a vitória ou consolar uns aos outros. 

Mayck se aproximou de um dos grupos. Ele conhecia algumas das integrantes, então não hesitou. 

“Ei, pessoal. Bom jogo hoje.”

“Mayck.”

“Ehehe. Viu o quão incrível eu sou?” Chika piscou um dos olhos e levantou seu polegar, mas logo seu sorriso ficou amargo e ela coçou a nuca. “Se bem que nós perdemos.”

“Bom, vocês realmente foram incríveis. Não pensei que levavam tão a sério.”

“Isso não é algo que se diga para quem se esforçou tanto.” 

Mayck teve seu pé pisado fortemente por Hana, que não tinha uma expressão contente no rosto. 

“Era brincadeira. Desculpa.”

“Ah, vamos. Não foi tão mau assim. Nós ainda vamos poder disputar muitas partidas no ensino médio, certo? Vamos torcer para que as novatas tragam o troféu que nós não conseguimos.” Shion, uma garota da classe de Hana, se pronunciou com um sorriso. 

“É isso mesmo, meninas”, Natsuki concordou. “Vamos deixar que a próxima geração traga a vitória para nossa escola.”

“Você falou igual a uma senhora”, Chika apontou.

As garotas reunidas riram e Mayck também sorriu para acompanhá-las. 

Era óbvio, que, mesmo que elas estivessem sendo otimistas, todas queriam vencer e não ter conseguido isso tinha sido uma punhalada e tanto. Não seria surpresa se elas chorassem naquele momento. 

“Hana-senpai! Chika-senpai!”

De repente, uma garota de uma série mais nova que eles chegaram, e junto a ela, mais outras garotas que foram correndo até suas veteranas. Com lágrimas nos olhos, elas jogavam palavras de consolo para todas. Mayck foi jogado para fora e obrigado a apenas observar. 

“Calma, pessoal. Está tudo bem.”

Natsuki e as demais tentavam confortá-las em troca. 

Aquela era uma visão até que emocionante. Mayck sabia que suas amigas ficariam bem. Então ele deu meia volta, mas antes que pudesse sair do ginásio, se encontrou com Haruna e Rika, as quais estavam com os dedos entrelaçados.

Ao vê-lo, as duas rapidamente se afastaram, com o rosto corado e sorrisos nervosos. 

“Ma-Mayck-kun…”

“Você ainda está aqui, é…?”

Aconteceu algo entre elas?

“É… bem, eu vim aqui parabenizar vocês… jogaram muito bem.”

“O-obrigada…”

“Va-valeu.”

Rika sempre ficava nervosa ao conversar com Mayck, isso não era surpresa, mas Haruna daquela forma, com certeza, não era algo que se via normalmente. 

Ele não sabia dizer se elas estavam escondendo algo ou qualquer outra coisa, então decidiu deixar de lado. Elas estavam felizes, afinal, lembrando que haviam perdido um torneio muito importante para elas. 

“Nós vamos falar com as garotas. Até mais.”

“T-tchau.”

As duas rapidamente passaram por ele e correram para o grupo. 

Mayck as observou, mas deu de ombros e saiu. O que quer que tivesse acontecido entre elas, era só delas. Ele não tinha porquê se envolver. 

****

Após se despedir de Haruki, Mayck tomou seu rumo para casa, mas no meio do caminho parou em uma máquina de bebidas e comprou a sua favorita. 

Ele abriu a latinha e continuou a caminhar, até ser chamado por alguém, que veio correndo até ele quase sem fôlego.

“Ainda bem que te alcancei…”

“Hana? Pensei que fosse sair com as outras garotas. Vocês não combinaram de comemorar a participação do campeonato?”

“Não fale dessa forma… isso deixa tudo muito triste.”

Sem uma vitória para comemorar, elas só podiam comemorar uma participação. 

“Além disso…, isso vai ser amanhã.”

“Hmm… entendi.”

Mayck ofereceu sua bebida de laranja e ela aceitou sem hesitar. 

“Não beba tudo… Ah…” Ele alertou, mas foi tarde demais. O que ele recebeu de volta foi uma lata vazia. 

Fazer o que… né?

“Então… por que veio correndo?” Ele perguntou, enquanto jogava a lata que nem pudera degustar no lixo. 

“Eu só queria conversar um pouco.”

“É assim? Vamos andando.”

Hana assentiu e os dois começaram a caminhar pela rua que se esvaziava cada vez mais, conforme as horas se passavam. Era mais de sete horas da noite. O sol já havia se posto e a lua tentava refletir seu brilho através das nuvens. 

“Você foi realmente bem na partida de hoje. Fez um bom trabalho se segurando. Meus parabéns.”

“Acha mesmo? Muito obrigada. Mas não me parece muito motivador você falar que eu me esforcei me segurando. Dê mais crédito aos vencedores.”

“Você tem razão. Talvez eu tenha falado demais.”

“Isso mesmo.”

“É uma pena que vocês tenham perdido… contudo, foi uma partida excelente. Nunca me senti tão empolgado vendo um jogo de tênis.”

“Hm… talvez seja assim.”

Hana falava algumas palavras e depois ficava em silêncio. Mayck notou isso e imaginou o porquê. 

“Você… ficou arrasada, não é? Você queria ter vencido.”

“Ficou tão óbvio?”

“Uhum.”

“É…, você está certo. Eu fiquei frustrada por ter perdido hoje. Eu me esforcei muito para aprender a segurar minhas habilidades e jogar como uma pessoa normal, mas IDs são muito inconvenientes às vezes.”

“Pois é… mas você jogou muito bem, de verdade. Jogou segundo sua própria justiça de não parecer trapacear e abusar de suas habilidades aprimoradas contra pessoas mais limitadas. Então não se preocupe. O que você fez, o que Chika fez. Isso é realmente louvável.” 

Mayck pôs a mão sobre a cabeça da garota e bagunçou os cabelos dela levemente. 

“Un…”

Hana baixou a cabeça, aceitando o gesto. 

“Continue se esforçando Hana. A vida joga uma pedra atrás da outra, então você deve sempre estar preparada para o pior. E não se esqueça de contar com seus amigos quando algo acontecer…”

Mayck foi interrompido pela cabeça da garota que caiu em seu braço. Hana abraçou-o lentamente e sem dizer nada. 

Ela estava mais abalada do que parecia. Mayck compreendia isso, então não tentou afastá-la. Ele apenas deixou as coisas rolarem. 

Se você está assim agora, Hana… eu me pergunto como será quando você descobrir aquilo…

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