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Capítulo 84 – Esforço controverso

“O que houve? Me chamaram tão tarde.” Se sentindo sonolento, Mayck perguntou com sua voz baixa. 

“É algo importante”, disse Zero. “Gostaria de saber porque você se retirou do cargo de mediador depois de tão pouco tempo, mas isso não importa agora.”

“Ah, é…? Peço desculpas por isso.”

“Não se preocupe. O que eu quero te dizer é… você provavelmente já sabe, mas nós recebemos um pedido de aliança da Strike Down.”

“Eu soube. E então?” Mayck inclinou a cabeça, curioso sobre o resultado. 

“Nós aceitamos. Não foi tão difícil quanto eu pensava que seria.”

“Ah, é mesmo? Isso é ótimo, não?”

“É, claro que é. Depois de tanto tempo, vamos poder nos mover mais livremente sem correr o risco de iniciar uma guerra inútil contra eles.”

“Estavam na beira do precipício…” Mayck não pôde evitar de comentar o quão próximos de um conflito eles estavam há pouco tempo. “E o que pretendem fazer agora? Vão agir?”

“Não. Ainda é muito cedo. Nossas informações juntas ainda não são o bastante. Por isso que queria…”

“… Você quer que eu reúna alguma coisa?”

“Exato.”

Mayck suspirou e se sentou no sofá. 

“Se nem vocês e a Strike Down conseguem tantas informações assim, o que te faz pensar que eu consigo?”

Zero sorriu, como se a resposta fosse óbvia. 

“Dentre tanta gente, você é quem teve mais contatos com Yang. É bem óbvio que ele está de olho em você. Se você conseguir atraí-lo, talvez nós consigamos confrontá-lo.”

“Talvez… espera, isso só me torna uma isca.”

“Hahaha. Não era minha intenção.”

“Tá bom… Mas, ainda assim, não acho que Yang viria até mim se ele achasse que seria perigoso.”

Yang era um homem cauteloso demais para não saber o que eles poderiam estar planejando. 

“Além do mais, vocês tem espiões dentro da Ascension, não é? Por que não podem contatá-los?”

Diante da pergunta, Zero recuou. 

“É uma situação complicada… bem… desde que a Ascension se desligou na primavera passada, nós perdemos contato com nós espiões. Não sabemos nem se estão vivos ainda.”

“E vocês não ligam?”

“É claro que ligamos. Mas não há nada que possamos fazer. Sem informações, não temos como descobrir localizações ou outras coisas relevantes.”

“Nisso você tem um ponto… Beleza, então. Eu posso fazer isso, mas não garanto que algo dê certo.”

“Sabia que poderia contar com você.”

“No entanto, eu quero que você me deixe fazer algo. Eu ainda não terminei meu trabalho, sabe?”

“Está falando dos vazamentos? Tudo bem. Se você puder lidar com tudo sem fazer bagunça, vá em frente. Dito isso, ultimamente o número de postagens têm aumentado muito.”

“Uhum.” Mayck assentiu. “Parece que o responsável está com pressa. Eu vou dar um jeito de encontrá-lo. Talvez não demore muito.”

“Você me parece bem confiante. Tem um plano em mente?”

“Na verdade não… só estou falando da boca pra fora para parecer que está tudo sob controle.” 

O garoto se levantou e se dirigiu para a porta, que abriu com sua presença. No entanto, quando a porta se abriu, Mayck sentiu que algo tinha acabado de se afastar, como um vulto que se esgueirou pelos corredores. 

Ele logo desconfiou. 

Alguém escutou nossa conversa?

“O que aconteceu?” Zero perguntou quando viu que ele não saiu de imediato. 

“Não… não é nada. Eu vou indo. Se houver algo, me chame”, disse Mayck. 

“Com certeza farei”, Zero respondeu. 

Com um aceno de cabeça, ele deixou a sala e caminhou pelos corredores com um objetivo em mente. 

****

Enquanto estava distraído consigo mesmo, ouviu algumas vozes familiares chamando por ele. 

“Ei, M-san.”

Lily e o restante da equipe Alfa se aproximaram. 

“Oh, e aí, povo.”

“Há quanto tempo, hein. Como tem passado?” Ethan se adiantou. 

“Eu estou bem. E quanto a vocês?”

“Se deixarmos de lado todos os assuntos envolvendo portadores, desaparecimentos, monstros e tudo mais… nós estamos bem.” Luna sorria, mas parecia ter algo escondido nesse sorriso e Mayck não queria descobrir. 

“… É… não tem sido fácil para nós ultimamente…”

Ele sentia o mesmo que a garota no fundo. 

“Zero já te falou sobre aquilo?” Lily diminuiu seu tom de voz de repente. 

“Aquilo? Está falando sobre a Strike…”

“Shhh…!” Eles fizeram todos juntos, o que deixou o garoto chocado. 

“Não fale tão abertamente. Apenas as equipes especiais sabem sobre o assunto no momento.”

“Sério? Pensei que eles já teriam dito para todo mundo.”

“Ainda não. Ele logo deve fazer o anúncio oficialmente, mas nos disse para ficarmos quietos por enquanto.”

Os outros acenaram repetidamente com a cabeça. 

“Entendo…”

“Bem. Agora nós precisamos ir. Temos algumas tarefas para cuidar. Até mais.”

“Hm. Okay. Nos vemos depois então.”

Eles acenaram para se despedir, mas Mayck rapidamente os chamou de volta. 

“O que houve?”

“Nada demais. Vocês viram a equipe Delta por aí?”

“Ruby e os outros?”

“Ah, eles estão na sala de enfermagem. Parece que a novata se machucou durante a patrulha.”

“É mesmo? Eu vou procurá-los, então. Valeu.”

“Não há de quê.” Eles responderam e voltaram ao seu caminho. 

Mayck deu as costas e foi para a sala de enfermagem.

Era um local silencioso. Grande, como um hospital, mas não tão grande quanto a sala de treinamento. Haviam muitas pessoas andando de um lado para o outro, realizando exames, check ups e outros assuntos relacionados à saúde. 

Ao entrar, Mayck se deparou com a instalação, que poderia ser ainda melhor se tivesse os recursos da Strike Down, e ficou admirado.

Uou… Parece que qualquer coisa pode ser resolvida aqui. 

Foi essa a primeira impressão que ele teve só de sentir o cheiro neutro de limpeza e toda aquela ordem, assim como os equipamentos de ponta que eram utilizados ali. 

Sem tempo para admirar, ele passou por homens e mulheres de máscaras brancas e uniformes distintos dos demais, os quais indicavam seu papel naquele lugar. Ele buscava por um rosto conhecido… trajes conhecidos, na realidade. 

Isso não vai ser fácil, ele determinou, enquanto olhava para todos aqueles indivíduos anônimos que andavam de um lado para o outro. 

Acho que é melhor eu pegar informação. 

Sem vontade para procurar. Em alguns passos ele se aproximou da recepção e perguntou por Lucy. Como Lily disse que a novata havia se machucado, então talvez fosse complicado perguntar por Ruby ou Isha. 

“A paciente Lucy, da Equipe Especial Delta, se encontra na ala número 14. Ela está passando por um leve tratamento, mas você pode vê-la”, a mulher usando um uniforme branco com alguns traços vermelhos lhe informou. 

“Certo. Obrigado.” Mayck agradeceu e saiu em busca da ala 14. Não demorou muito para encontrá-la. Antes de abrir, ele bateu na porta, mas não houve resposta. 

Ué… será que me enganei?

Ele levantou uma sobrancelha, pensando se estava na sala errada, mas confirmou a numeração na porta e lá realmente tinha um 14. 

Tem que ser aqui…

Ele tocou a maçaneta de metal e apertou o botão que tinha nela. A porta estava aberta.

Espero que não tenha problemas se eu entrar.

Hesitante, Mayck abriu a porta e entrou. Era uma sala pequena, como um quarto. Havia aparelhos, uma mesa ao fundo, um pequeno armário ao lado da porta e uma cortina envolvendo uma cama de solteiro. 

A fragrância de lavanda impregnou suas narinas — não era um cheiro que ele gostava particularmente, mas teve que aguentar. 

De certa forma, lembrava a enfermaria do colégio. 

“Com licença”, ele disse enquanto caminhava até a cama, mas também não obteve resposta. Isso porque quem devia responder não estava em condições de responder. 

Estão dormindo…

Ele se deparou com duas garotas adormecidas. Lucy sobre a cama e Chika na cadeira ao lado dela, segurando sua mão. 

Não seria precipitado concluir que elas tiveram um momento de reflexões há pouco tempo, já que dava para ver resquícios de lágrimas no canto de seus olhos. 

Se não for isso, então elas podem estar tendo pesadelos ou algum sonho ruim…

De qualquer forma, ele pensou em sair. Não seria legal se elas acordassem e um terceiro estivesse vigiando-as. 

“Acho melhor voltar depois…”

Mas antes que ele pudesse sair, a porta foi aberta de repente e os demais membros do time Delta entraram. 

“Hm? M-san?”

“Yo…” Mayck acenou um pouco surpreso. 

“Ehh… há-há quanto tempo, M-kun. Veio nos visitar?” Stella o olhou com um olhar surpreso. Ela tinha tirado sua máscara, então dava para ver seu rosto avermelhado e também que ela parecia um pouco ofegante, como quem tentava controlar a respiração.

Mayck inclinou a cabeça enquanto se lembrava que eles se viram na escola pouco tempo atrás. Talvez fosse para manter o disfarce?

“… Algo assim. Eu ouvi que estavam aqui, então vim dar uma olhada. O que aconteceu?”

Isha caminhou até a mesa do fundo com algumas sacolas e as deixou lá. 

“Ah, bem, nós estávamos em patrulha, quando fomos atacados por um grupo de portadores. Lucy acabou se machucando no confronto.”

Isha explicou resumidamente o que aconteceu. Sua fala calma fazia parecer que não era nada demais. 

“Portadores, hein… isso parece um problema. Mas Lucy vai ficar bem, certo?”

“Sim, sim. A enfermeira disse que foi apenas um choque, mas Ruby estava apavorada, então insistiu que ela ficasse aqui hoje.”

Olhando para Lucy, ela não tinha bandagens que indicassem ferimentos grandes. E ela dormia tranquilamente. 

Mas Ruby ter ficado apavorada era uma surpresa. Embora fosse fácil entender, desde que ela perdeu Flame por um descuido. 

“Dito isso”, Isha falou e empurrou os dois para fora da sala. “Vamos deixá-las descansar por hoje.”

Não havia nada a ser feito. Eles não podiam simplesmente acordá-las. Mayck e Stella, então, apenas concordaram e saíram sem hesitar. Keize estava esperando do lado de fora e seguiu com eles para fora da sala. 

****

“Bom, duvido que vamos sair hoje ainda, então vou ir pro meu quarto. Até amanhã.”

Isha se despediu enquanto tomava outro rumo. Keize também acenou com seu jeito silencioso e seguiu na direção oposta para o dormitório masculino.

“Até mais.” Stella acenou de volta e depois virou-se para Mayck. “Por que não damos uma volta? Não estou com sono ainda”, sugeriu. 

“Acho que está tudo bem”, ele concordou. 

Ambos traçaram o caminho para a saída da base. Assim que chegaram a uma distância segura do lado de fora, Stella tirou a máscara de seu rosto, deixando Mayck confuso. 

“O que há? Tire a sua também. Não estamos em missão, é apenas um passeio.”

Stella insinuou que eles não estavam saindo como membros da Black Room, mas, sim, como dois amigos; trabalho não importava naquele momento. 

E se estivessem de máscara, corriam o risco de serem atacados por portadores também e nenhum deles queria isso. 

“Se você diz…”

Ele tirou a máscara de seu rosto e seu sobretudo misteriosamente sumiu de seu corpo, sendo substituído por um moletom casual. Stella não se surpreendeu com isso, já que acabara de fazer a mesma coisa. 

“Eu pensei que só eu tinha esse inventário estranho.”

“Inventário? É assim que você chama? Parece coisa de videogame.” Ela sorriu ironicamente. 

“Bom, é basicamente a ideia… Então o que ele é realmente?”

“Hmm… seguindo a lógica dos animes e mangás, é como uma bolsa mágica…”

“É basicamente a mesma explicação.” Mayck a repreendeu e Stella riu alto. 

“Hahaha! É, você tem razão. Mas existem histórias contadas entre os alunos da Academia que esse é um poder compartilhado. Como se fosse a nuvem da internet.”

“Nesse caso, todo mundo poderia mexer nas coisas de todo mundo, não é?”

“Sim. Mas é só uma historinha contada entre os portadores. Ninguém sabe realmente.”

Com isso, Mayck balançou a cabeça, pensando que era melhor assim. 

Imagina se alguém de repente aparece com as minhas coisas?

A possibilidade o assustava. Então se era um poder misterioso, que permanecesse dessa forma até segunda ordem. 

Enquanto perdia-se em pensamentos, Mayck ouviu a leve risada de Stella, que havia mudado para o modo Akari naquele momento. 

“O que foi?”

“Nada demais. Só pensei que é engraçado conversar assim com você sem precisar mudar de perfil.” 

“Hmm… você está falando entre agir como Stella e Akari?”

“Sim. Desde que me lembro, tenho que ficar trocando entre uma e outra… às vezes é até difícil dizer quem eu sou de verdade.”

Ela mantinha em mente suas dúvidas. Era Akari por viver uma vida social? Ou então era Stella por trabalhar na Black Room? Podia piorar. Qual sua vida de verdade? A vida social ou de trabalho?

Essas perguntas pairavam sobre Mayck, mas ele não podia fazê-las, então conteve-se. 

“Isso é por causa do seu trabalho como portadora?”

“Não… sim… um pouco dos dois na realidade. Quer saber porquê?”

Ela inclinou o corpo para frente e olhou para o garoto com um sorriso perverso, sem parar os passos, deixando as coisas misteriosas. 

“Se você estiver disposta a me contar.”

“Então não vou dizer”, ela disse em tom de piada.

“Às vezes você se parece muito com Chika.” A comparação foi inevitável, mas isso deixou a garota sem graça. 

“Ehehe…”

“Certo. Eu quero ouvir.”

“Já que insiste”, disse ela com um olhar vitorioso no rosto. 

Ouvi-la falar igual a Chika acendeu uma faísca no garoto. Por algum motivo, era irritante. 

No entanto, seu próprio pensamento apenas o trouxe mais dúvidas. 

Espera, ela está agindo igual a Chika?

Um mistério sobrevoou sua cabeça, mas ele tinha esperança que os enigmas seriam resolvidos com a história que estava por vir. 

Mudando o clima descontraído até então, Akari moveu os lábios, enquanto aliviava a velocidade de seus passos, quase como se desfilasse. 

“Quando eu estava na academia de desenvolvimento, eu era a típica aluna quieta e tímida. Uma aluna que não se destacava em nada. Ao contrário de mim, tinha aquela garota, três anos mais velha, que parecia sempre otimista e cheia de energia. Uma aluna muito admirada pelas pessoas, mas que era muito desajeitada às vezes. Seu nome era Clair. Também havia uma outra que não se importava com nada além dos estudos e da melhora de si mesma.”

“Deixa eu ver… era Chika?”

“Bingo! Ela era mais sombria que você. Não sorria, não conversava com ninguém, exceto Clair-senpai. Eu via as duas juntas e me perguntava como podiam ser tão próximas tendo personalidades tão contrárias.”

Mayck acabou sentindo uma punhalada em seu peito ao ouvir as palavras ‘mais sombria que você’. 

A garota sorria, mas seu olhar era solitário. Lembrar do passado era difícil? Akari continuou sem hesitar. 

“Mas de uma forma ou de outra, eu acabei me interessando por elas e acabei sendo puxada por Clair, quando elas me viram as observando. Além de ter feito meus dias na academia mais alegres, eu só descobri que elas eram mais próximas do que eu pensava.”

“Próximas em que nível?”

Akari pôs o indicador na própria bochecha enquanto procurava uma resposta em suas memórias. 

“Humm… Quando Chika falhou em um exame pela primeira vez, ela chorou e Clair-senpai dormiu com ela segurando sua mão para acalmá-la, mas elas não disseram nada a ninguém.”

Mayck se lembrou da cena que viu mais cedo. 

“Depois que Clair-senpai se formou, Chika já era bem diferente de quando a conheci. Ela sorria mais, interagia mais com as pessoas e decidiu seguir Clair-senpai para onde ela fosse. O caminho para a equipe Delta da Black Room.”

“Hein? Ela já estava mirando isso desde cedo?”

“Sim. Isso porque a senpai havia se tornado a líder da equipe um ano depois de se formar.”

“Poxa. Ela era uma portadora excepcional, não?”

“Se era. Era totalmente invejável. Depois que eu e Chika nos formamos, nós conseguimos entrar na equipe Delta, onde conhecemos Flame e Keize também. Foi divertido, no começo. Passamos por vários desafios, dificuldades…”

Apenas para seguir os passos de quem admiravam, elas usaram todo o seu potencial para se formarem antes dos outros. 

Mayck ficou maravilhado. Então elas eram prodígios que se formaram antes dos quinze anos de idade?

Akari parou de repente. Seu rosto ficou sombrio. 

“O que houve…”

As mãos dela tremiam, mas ela juntou as mãos no peito para disfarçar e sorriu amargamente. 

“Naquele dia… foi a primeira vez que enfrentamos a Ascension. Nós só tínhamos ouvido falar deles, até então.”

Ascension. Apenas ouvir o nome fazia Mayck imaginar o que havia acontecido. Onde quer que fosse, essa organização não era sinal de felicidade e prosperidade. Era totalmente o contrário. O garoto sabia o suficiente para entender. 

“Ele… conseguiu derrotar Clair-senpai e capturou tanto ela quanto Chika, usando-as como reféns. Ele disse que ia soltá-las, mas só torturou Clair-senpai terrivelmente por várias horas, enquanto Chika foi obrigada a assistir… cada cena horrível que ela não foi capaz de descrever. E o restante de nós nem fazia ideia do que estava acontecendo.”

A memória era dolorosa para a garota. Sua voz parecia falhar enquanto ela contava. Abraçou seu corpo como se os tremores lhe desse calafrios.

“Não precisa continuar se não quiser.”

Akari já estava com os olhos encharcados enquanto se lembrava amargamente, mas ela rejeitou a sugestão. 

“Clair usou suas últimas forças para salvar Chika e levar aquele cara com ela… mas… isso foi um grande choque para a equipe. A Chika que você conhece agora… é apenas uma cópia de Clair-senpai.”

O trauma que ela teve e as lembranças que ela tinha a fizeram procurar uma forma de se curar. Chika era fraca. Ela não podia suportar a dor, mas Clair era diferente. Isso na visão dela. Então, porque não se tornar, no sentido literal, uma pessoa mais forte?

“Quer dizer que Chika desistiu de si mesma para se tornar Clair-san?”

“Uhum… Foi doloroso… Ela fez isso para fechar as feridas de todos, mas eu não consegui aceitar. Então fiz a mesma coisa. Na Black Room, eu sou Clair-senpai, fora dela nós invertemos o papel. E isso tem continuado até hoje.”

Chika e Akari estavam em um eterno teatro para eternizar Clair em seus corações. Podia ser apenas uma forma de enganarem a si mesmas, mas isso não tinha futuro. Elas não iriam crescer se ficassem com a mesma mentalidade. 

Nesse caso… uma hora ou outra, elas podem acabar quebrando. 

“E quanto a ‘ele’. O que aconteceu?”

“Era para ele estar morto, mas não está.”

A resposta fria de Akari trouxe um pensamento ao garoto. Mayck a olhou nos olhos. 

“Vocês não estão atrás de vingança, Estão?”

“Imagina. Nós somos Clair-senpai. Ela nunca pensaria em vingança.” Ela desviou o olhar que dizia que a ideia já tinha sido cogitada. 

“Então vocês se apegaram a essa personalidade apenas para desviar o desejo de vingar sua amada senpai?”

“Não diga assim. Não havia outra forma. Se não fizéssemos isso, Chika com certeza quebraria. Eu tive que dar um jeito nisso.”

Mesmo depois de anos, ainda era algo incrivelmente doloroso. O caminho que as duas trilhavam era mais perigoso e cruel do que o garoto podia imaginar. Não era só ele que carregava um peso assim no coração. 

Ele se sentiu aliviado por algum motivo e acabou se sentindo mal por isso. 

“E quanto aos outros membros da equipe? O que eles disseram sobre isso?”

“Haha… é claro que disseram que era loucura. Flame insistiu muito em ir atrás daquele cara para nós não nos sentirmos responsabilizadas, mas Chika não deixou. Ela só conseguiu convencê-lo porque havia observado Clair muito bem todos aqueles anos, então também conseguiu imitar parte de sua influência.”

“Isso é incrível de certa forma… então isso quer dizer que eu nunca conheci Chika de verdade, hein…”

“Uhum. E eu duvido que conheça algum dia. Aquela Chika foi apagada para sempre.” Akari pôs um ponto final na história e mudou radicalmente. “Ah, toda essa história depressiva me deixou com sede… compre algo pra mim.” Ela apontou para uma máquina de vendas no caminho. 

“Assim de repente? Você tá falando sério?” O garoto  levantou uma sobrancelha com o desfecho súbito e a mudança repentina na forma de agir da garota. 

“Por favor~” Ela se agarrou ao seu braço, falando de forma seduzente enquanto apertava-o sobre seu peito. 

“Tá, tá, tá bom.”

Sentindo-se constrangido, ele desviou o assunto e comprou duas latinhas de refrigerante com o sabor que ela escolheu: cola. 

Akari tomou a bebida com um largo sorriso. Mayck a observou em silêncio. 

Então… essa é Clair. Esconde os problemas por trás de sorrisos, piadas e provocações… eu me pergunto que tipo de situações ela já enfrentou… e o que mais essas duas estão escondendo. 

Por trás daquela energia toda, estavam escondidas garotas traumatizadas com o mundo em que viviam. E esse abismo parecia mais profundo do que ele podia imaginar.

Nunca houve uma vez onde ele viu Chika chorando ou mesmo desanimada. Se essa era sua história, então ela era ótima em esconder seus sentimentos verdadeiros. Uma verdadeira mestre que só mentia para si mesma. 

Por outro lado, Akari o deixou mais curioso. Ela não falou muito sobre ela além de como ela era antes de conhecer as duas. 

Um sentimento sombrio pairou sobre eles, sendo arrastado pelo vento. 

Quem é você de verdade, Akari?

A existência de Akari, de repente, tornou-se misteriosa.

“Mas… Miyabe-san, e quanto a você? Como se sente em relação a tudo isso?”

Ele nem ao menos abriu sua latinha. A curiosidade era maior que sua sede. Ele olhou para a garota com curiosidade. 

“Eh~? Vamos continuar nesse assunto?”

“Eu só quero saber mais sobre vocês. É errado?” Suas palavras carregavam uma sinceridade antinatural, o que fez Akari sorrir sem graça. 

“Eu já te falei… isso é muito doloroso pra mim…”

“Essa parte eu entendi. O que eu quero saber é o que você pretende fazer. Você não parece ter me contado tudo isso apenas por contar. Não me parecia só um desabafo.”

O brilho no rosto dela se foi. Ela abaixou a cabeça em silêncio. 

“Não é nada demais…”

“Você quer minha ajuda pra algo”, ele concluiu. 

O rosto da garota endureceu, sombras cobriam seus olhos. Ela sorriu. Não conseguia mais esconder. 

“Não pensei que me descobriria tão rápido.”

“Pois é… primeiro alguém escuta minha conversa com Zero. Depois eu te encontro ofegante na sala de enfermagem. Era você, não era?”

Ela assentiu. 

“Entendo. Então? O que você quer? O que você me contou sobre Chika tem algo a ver? Essa história é mesmo verdadeira…”

“Eu não menti!” Ela levantou seu rosto exasperado. “Tudo o que eu disse é verdade. E sim, você está certo. Eu disse que não, mas tem algo sim que eu preciso que você me ajude.”

Mayck escutou em silêncio. 

“Eu quero que você me ajude a matar aquele homem. O assassino de Clair-senpai, Ryuu.”

O nome pegou o garoto de surpresa. Em hipótese alguma, ele imaginou que ouviria esse nome tão cedo e em situações tão convenientes. 

No entanto, isso fazia algumas coisas terem sentido, como o motivo de Akari falar com ele logo depois de ouvir sobre Yang na conversa com Zero. 

“Quando eu ouvi, pensei que era a minha chance de seguir em frente com isso. Se você for mesmo agir como isca, então, por favor, me ajude a chegar até ele. É só isso que eu quero. Você não precisa fazer mais nada…”

Mayck fez sinal para ela fazer silêncio. 

“Mais cedo, você disse que estando como Clair, você jamais pensaria em vingança, não disse?”

“Sim… eu disse… mas era mentira. O que eu sinto de verdade…”

“Você quer matá-lo? Akari, esse sentimento é mesmo seu?”

Havia controvérsias na explicação da garota. Antes ela disse que havia se tornado Clair-senpai, mas ainda parecia haver resquícios de sua personalidade real. 

O garoto só queria entender isso. 

Akari mordeu os lábios e deu um passo para trás. 

Eu tenho que dizer… se quiser a ajuda dele. 

Embora hesitante em contar a verdade para ele, o desejo que ardia em seu peito se mostrava muito mais intenso do que antes. Tempos atrás, ela não teria cogitado a vingança, mas quando ouviu que um embate com a Ascension poderia se tornar uma realidade, uma chama queimou em seu peito. 

Mas não era o suficiente. Ela ainda se sentia incapaz. Sozinha, era impossível. 

Ela não podia contar com ninguém. 

Quando eu era eu mesma, talvez eu tivesse pedido ajuda a eles, mas não como Clair-senpai. É impossível para ela envolver os outros nisso. Eu preciso ser fiel a ela. 

Foi por isso que ela usou uma abordagem tão indireta. 

Só restava conseguir a cooperação da única pessoa que tinha mais chances de ajudá-la. Contudo…

Mayck suspirou. 

“Foi mal. Eu não posso te ajudar com isso.”

Ele respondeu friamente e recusou ajudar. 

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