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Capítulo 85 – Noite fria

Seus passos ficam lentos pela calçada, evitando se chocar contra os inúmeros transeuntes. Os enormes outdoors e leds piscando sem parar, chamando a atenção de qualquer um. 

O som indecifrável provocado pelas vozes da multidão impedia que ele entendesse qualquer frase, os motores dos automóveis e suas buzinas barulhentas. Não era a melhor atmosfera para o garoto, que só desejava chegar ao seu objetivo sem problemas. 

A brisa fresca do outono pairava sobre ele e soprava entre os arranha-céus e soavam sombrios dentro dos becos e vielas escuras. 

Se um Ninkai aparecesse agora, ia criar um alvoroço, Mayck pensou, se arrepiando apenas por imaginar a chacina que seria.

Mayck parou no cruzamento. O sinal vermelho o impedia de prosseguir. Ele aprendeu que não deveria avançar imediatamente nem mesmo quando estivesse verde. Junto a ele, dezenas de pessoas esperavam ansiosamente para seguirem seus caminhos, sem sequer imaginar o quão cruel aquele mundo era por trás dos panos. 

Eu sei que ela chamou de passeio, mas porque Shinjuku?

O sinal abriu e ele prosseguiu no meio da multidão, que esquentava o ar frio. 

Depois que voltou do colégio, recebeu uma mensagem de Haruna, pedindo que se encontrassem em Shinjuku. Ela não falou onde estaria ou para onde iriam, o que tornava a situação do garoto inconveniente — teria que procurá-la no meio daquele exército de pressa e desinteresse uns com os outros. 

Depois de andar tanto ao ponto de seus pés doerem — na realidade, ele andou muito lentamente por conta dos indivíduos que bloqueavam sua passagem —, ele encontrou uma Haruna no Parque Hanazono. 

Ela sorriu ao vê-lo chegar. 

“Você demorou mais do que eu esperava”, disse ela. 

“Você não me falou onde iria estar. É claro que demorei pra te achar”, o garoto soltou um suspiro, dizendo o óbvio. 

“Sim. Eu fiz isso. Eu sabia que vocês eram parecidos nesse sentido. Em um ambiente tão frenético quanto Shinjuku, vocês estão sempre procurando o lugar mais tranquilo.”

“Poderia não tratar a mim e as minhas versões com uma espécie em específico? E mesmo que você diga que é o lugar mais tranquilo, eu tenho minhas dúvidas.”

Mayck apontou o fato de haver alguns alunos do fundamental, mais novos que eles, sendo barulhentos, disputando uma partida de futebol. 

“Eu também me surpreendi quando os vi aqui. Mas não é como se fosse tão importante assim, né?” Ela andou e parou ao lado dele com as mãos para trás, observando a partida acirrada dos garotos. 

Havia algumas garotas na torcida também. 

Comparado ao frenesi da cidade há poucos minutos, aquele local poderia ser a utopia que Mayck sempre desejou. Os gritos empolgados daquelas crianças não eram nada demais. 

Mas Mayck não deu muita importância. Ele apenas queria saber o porquê de Haruna ter feito ele ir até lá. 

“Por que me chamou pra vir aqui?”

“Se eu dissesse que era só pra conversar… você não aceitaria isso, certo?”

“Uhum.”

“Nesse caso, eu vou ser sincera”, ela continuou. “Eu quero que você lute comigo.”

A princípio, Mayck ficou chocado com a resposta de Haruna, mas o olhar dela não deixava brechas para uma brincadeira. Então, ele respondeu com a mesma seriedade em seu rosto. 

“Existe algum motivo para isso? Se você só quer me testar, então eu me recuso. Tenho outras coisas a fazer. Não sei como eu sou no mundo de onde você veio, mas aqui eu não tenho tempo para brincar.”

Ao invés de ficar ofendida, Haruna sorriu. Era um sorriso genuinamente feliz que fez o garoto ficar ainda mais confuso. O que ela pretendia? A resposta era simples. De onde quer que aquela Haruna fosse, ela amava o indivíduo chamado Mayck Mizuki, independente das circunstâncias. 

“Quando eu vim pra cá, pensei que já tinha perdido tudo. Mas você ainda estava aqui pra mim. Você me aceitou, mesmo que eu fosse uma pessoa diferente, alguém de um lugar distante. Eu consegui me reconciliar com Rika, pude sentir as emoções de um torneio de tênis. Pude chorar, pude sorrir…”

Haruna olhou para a lua coberta por algumas nuvens, sentindo-se realizada. Suas palavras soavam verdadeiras. Nenhuma segunda intenção por trás delas e nenhuma maldade em seu olhar puro.

“… Eu pude te ver novamente… pude ver minha mãe, Takashi-san…” Um brilho cristalino rolou por suas bochechas avermelhadas e caíram no chão, misturando-se à terra. 

Os sentimentos da garota alcançaram Mayck. Ele conseguiu compreender que não era o único que estava passando por um momento ruim. O passado que ela deixou para trás ainda a assombrava, assim como acontecia com Chika e Akari. 

Ele se lembrou do quão terrível era aquele mundo de poderes diversos, que poderiam ser até milagrosos. Era um mundo de dor e sofrimento. Se manter firme só dependia do indivíduo. Era um mundo de instabilidade, onde uma lufada de vento poderia derrubar milhares de pessoas e jogá-las no abismo de corrupção e desespero. 

Mayck podia ver esse abismo nos olhos azuis de Haruna também. O mesmo abismo que ele via em seus olhos no espelho. 

Estamos todos fadados ao mesmo destino. 

“Haruna, o que aconteceu com o seu mundo?” Ele se recostou em um poste de iluminação e desviou os olhos para o chão. 

“Ele se foi… Se foi pra sempre. Eu me lembrei de tudo. As memórias vieram até mim como um tiro. Doeu muito para que eu pudesse aceitar, mas eu consegui, no fim.”

“E isso está bom pra você? Se essa realidade é melhor que a sua, você não sente vontade de ficar aqui?”

Haruna mordeu os lábios. Ela queria ficar. Queria muito. 

“Eu não posso. Já pensou o que pode estar acontecendo com a Haruna desse mundo? Considerando que ela trocou de lugar comigo também.”

De fato. Mayck nunca havia pensado isso. Se o outro mundo estivesse caótico, então a Haruna original, que não tinha nenhum poder ou conhecimento sobre esse mundo, provavelmente estaria sofrendo. Ele ficou sem resposta.

“Dito isso, eu não quero e nem posso ficar por mais tempo. Vou voltar pro meu mundo e trazer ela de volta. Vamos colocar tudo nos eixos.”

“Você sabe como fazer isso?”

“Claro. Agora, se você entendeu, lute comigo. Com todas as suas forças, está bem?”

“Está bem. Mas, aqui? Perto deles?”

Mayck se referiu às crianças que jogavam sem prestar atenção neles. 

“Tudo bem. Nós podemos dar um jeito. Você pode…, não é?” Haruna respondeu com um sorriso e Mayck entendeu imediatamente. 

Tinha algo que ele podia fazer. Ele poderia comprimir seu espaço e impedir que os danos se estendessem para o lado de fora. Ele teria que criar um verdadeiro espaço pessoal.

Mayck fechou os olhos brevemente. Era possível. 

“Moonlight Nightmare.”

Tudo ao redor perdeu sua cor original, ficando com um tom acinzentado e frio. Os olhos de Mayck também mudaram, e para Haruna, eram olhos assustadores, cheios de dúvidas e receio. 

É um poder tão triste, ela pensou consigo. Eu entendo bem, no entanto. 

Aquele espaço onde Mayck podia se isolar, deixando tudo para trás, era a representação da solidão em seu âmago.

Eu não sou diferente. Tenho o poder de fugir da minha realidade, apenas porque eu sou medrosa e não tenho coragem para enfrentar a minha verdade. Mas isso tem que mudar. 

Haruna estendeu as mãos e sua arma caiu sobre elas, estando devidamente carregada. Ela mirou no garoto e, sem hesitar, disparou. Os feixes velozes de luz cortaram o espaço entre eles, como uma tempestade, ofuscando suas vistas.

Eu sou fraca. Não tenho poder para me reerguer sozinha. Então eu preciso usar esse momento de coragem para seguir em frente. 

O som de algo metálico se chocando contra os projéteis cantavam uma melodia silenciosamente. 

Você vai me dar essa coragem, Mayck?

A munição acabou e a arma na mão de Haruna foi jogada para longe dela. A lâmina brilhando com o luar refletia no pescoço da garota. 

Seus olhos se encontraram com o olhar do garoto. Os dois podiam se entender sem dizer uma palavra sequer. 

“Sem nem ao menos suar, hein? Eu sou tão fraca assim?” 

Haruna sorriu, vendo que nenhum esforço foi feito por parte do garoto. Ele só precisou de alguns segundos para rendê-la. 

“Eu não diria isso. Talvez eu só seja mais forte que você.”

“Isso é algo bem arrogante para se dizer”, disse a garota. 

“Já me disseram coisas assim”, Mayck respondeu. 

Sua espada desapareceu como estilhaços no ar e o ambiente voltou ao seu estado original. 

“O que vai fazer agora? Quer continuar a luta?” Ele perguntou, se afastando um pouco dela. 

Haruna balançou a cabeça em negação e segurou as mãos do garoto, antes que ele fosse muito longe. 

“Não. Não precisa. Eu já entendi o que queria. Você é forte, Mayck. Tenho certeza de que vai conseguir salvar este mundo. Mas, por favor, não deixe ele te corromper.”

Olhando no fundo de seus olhos, ela esperava uma resposta positiva. 

O que tinha acontecido em seu mundo, ela não desejava para nenhum outro. Era algo horrível, sujo e perverso. Um mundo que foi dominado pelos Ninkais e destruído pelos próprios humanos.

Mayck também podia enxergar os sentimentos por trás da garota. Seu coração queria corresponder a isso, mas sua consciência o lembrava da realidade. 

Ele balançou a cabeça, afastando suas emoções; tinha que ser racional em sua decisão. 

“Eu não vou me corromper, mas não prometo que vou salvá-lo. De uma forma ou de outra, não espere nada. Sinto muito se te decepcionei.”

Ele afastou suas mãos. Quando olhou para a garota novamente, ele esperava ver uma expressão de repugnância e decepção em seu rosto, mas não era isso o que estava lá. 

Haruna ainda mantinha seu sorriso gentil inabalável, o que deixou Mayck atônito. 

“Por que você…”

“É sua cara dizer isso. Que bom que você tem suas próprias opiniões. Me sinto mais segura agora.”

“Não estou te entendendo.”

“Tudo bem. Não precisa me entender… apenas seja você mesmo, tá bom?” Uma luz envolveu seu corpo e partículas luminosas começaram a subir para os céus. 

“O que… isso é…” Mayck se assustou a princípio, mas entendeu que era hora da despedida, por isso interrompeu suas palavras. 

Seu coração palpitou dolorosamente. 

Eu não sei o que responder exatamente. Mas essa Haruna está me preparando para o futuro, de qualquer forma. Ela sabe de algo? Se for assim… então…

Haruna avançou sobre ele sem aviso prévio e lhe beijou, enquanto a luz ficava mais forte e seu corpo começava a perder a matéria. Aquele beijo era a última coisa que ela queria fazer antes de perder tudo mais uma vez. 

Uma perda inevitável. 

O garoto ficou sem palavras e reação. 

No futuro, ele entenderia as ações da garota, que sabia mais do que ele podia imaginar.

“Adeus, Mayck… Eu te amo.”

Essas palavras pareciam ser ditas pelo vento. Haruna não estava mais lá e todo esse evento pareceu apenas uma alucinação da mente confusa do garoto, deixando o silêncio assustador de certa forma. Talvez ele fosse realmente alguém solitário. 

Eu me pergunto… o que tem pra mim no futuro.

As crianças ainda jogavam entusiasmadas. Mayck perguntou até quando elas ficariam ali. Depois de observá-las por um tempo, ele deu as costas e seguiu em direção ao frenesi de Shinjuku mais uma vez, sabendo que, muito provavelmente, nunca mais veria ou ouviria falar daquela Haruna de um lugar distante. 

Ela foi um evento que apenas ele presenciou, o que tornava o momento especial. 

****

Depois de refazer todo o trajeto de trem, Mayck se pôs em direção a sua casa. 

O que aconteceu com Haruna parecia ter sido nada mais que um devaneio, mas ficaria vivo em sua mente para o resto da vida. Porém, Mayck ainda tinha uma dúvida entre muitas. 

Para onde será que ela foi, afinal de contas?

Tinha uma chance dele chegar em casa e a verdadeira Haruna estar lá. Ele torcia pra isso. 

Ao contrário de Shinjuku, o bairro onde ele morava era muito mais tranquilo. Tão tranquilo que seus passos ressoavam por todos os becos e vielas. Apenas o som das cigarras eram ouvidos. 

O silêncio avassalador que tomava conta do bairro trazia diversos sentimentos complexos para o garoto, ao mesmo tempo que o deixava refletir com muito mais calma. 

Eram cerca de 22 hrs. Mayck finalmente chegou em casa e entrou rapidamente. 

Estava quieto por lá também. 

Elas já devem ter ido dormir. 

Considerando que Takashi estava trabalhando, não era de se estranhar que elas estivessem dormindo. Ele queria verificar o estado de Haruna, mas só poderia fazer isso na manhã seguinte, então ele só tomou um banho e foi para o seu quarto. 

No dia seguinte, após se levantar e descer as escadas, foi surpreendido pela queda de um prato de porcelana, o qual se espatifou no chão. 

Mayck olhou surpreso. Takashi e Suzune também.

Haruna, de olhos arregalados, tinha a maior expressão de terror em seu rosto, enquanto encarava o garoto em choque. 

“Haruna? O que houve? Você se machucou?”

Suzune rapidamente correu ao resgate da garota, checando todo o corpo dela, preocupada se ela tinha se ferido. Takashi também se levantou rapidamente. 

Quando olharam para a garota, viram seus olhos lacrimejando. Ela estava tremendo intensamente, como quem encarava uma assombração e tinha as forças sugadas de seu corpo.

“Haruna, o que…”

“Não”, Ela resmungou. “Não, não, não, Não!”

Em um surto repentino, a garota deu um passo para trás e agarrou sua mãe com todas as forças, enquanto tremia e chorava. 

Ninguém estava entendendo nada, mas os resmungos dela eram de pavor. 

Mayck se aproximou e tentou chamá-la, mas ela gritou com todas as suas forças.

“Fica longe de mim! Seu demônio! Se afasta!”

“Haruna…?!” 

Os três ficaram perplexos. Inconscientemente, Mayck recuou, as palavras fizeram um calafrio passar por seu corpo. 

“Não deixe ele chegar perto de mim! Mãe, Takashi-san, por favor!”

Aquelas palavras eram genuínas. Haruna já tinha feito diversas provocações infantis contra o garoto, mas dessa vez ela parecia querer ele longe de verdade. 

“O que está acontecendo…?”

“Sai daqui! Monstro, monstro!”, ela continuou gritando essas palavras, e Takashi pediu para o garoto sair, como medida de amenizar a situação. Sem outra escolha, Mayck voltou para o seu quarto.

O que acabara de acontecer? Sua mente não processava tudo corretamente.  Ele ainda conseguia ouvir os soluços da garota de seu quarto. 

O que foi isso tudo? O que houve com ela…? 

Não havia necessidade de questionar muito. Depois de respirar fundo, sua mente se iluminou. 

A outra Haruna havia dito sobre a possibilidade da original ter ido parar no lugar dela no outro mundo. E segundo suas palavras, aquele lugar estava caótico. Isso era terrível por si só, o suficiente para traumatizar a garota. Mas o que ele tinha a ver com isso? 

Será que o meu outro eu tem relação com esse caos?

Isso justificaria o porquê de Haruna ter visto ele daquela forma. Na verdade, essa era a única explicação. 

Uma pessoa comum era jogada em um mundo aterrorizante sem conhecer nada e nem ninguém, largada à própria sorte. Não tinha como esperar outra coisa. 

Depois de entender isso, Mayck sentiu um peso sair de suas costas; não tinha culpa sobre nada ali. A questão, a partir dali, era como prosseguir. Como ele faria Haruna superar aquele trauma? Não havia uma resposta óbvia, mas certamente iria causar problemas enquanto ela ficasse daquele jeito. 

Isso se existisse uma forma de fazê-la superar. 

Além do mais… pessoas que não entendem sobre isso vão entender tudo de uma maneira errada. 

No pior cenário, poderiam pensar que ele tentou violentá-la. Era duro, mas era a realidade. 

Por enquanto, eu vou manter distância dela e só observar. Mas agora preciso pensar numa explicação para isso. Caso contrário, vou acabar sendo um criminoso… embora eu já seja. 

De toda a sua vida, seu maior crime estava ligado ao fato dele ser um portador; várias vidas foram tiradas por suas mãos e isso já pesava o suficiente. E que outra forma ele usaria para se safar disso? Apenas revelando tudo sobre os portadores. 

Mas isso não garantia sua liberdade. Afinal de contas, quem iria acreditar que uma pessoa de outro mundo estava no lugar de Haruna, enquanto ela ia para o outro mundo, onde adquiriu seu trauma?

Nesse caso, tudo o que restava eram duas opções: mofar na cadeia ou fugir pelo resto da vida. 

Pensando nisso, Mayck suspirou involuntariamente. 

“Nenhuma opção parece boa…”

Será que eu devo pedir conselhos a Nikkie?

Ele cogitou, mas desistiu da ideia — contar a terceiros só atrairia mais confusão desnecessária. Então, ficar em silêncio era a melhor opção. 

Foi aí que Mayck percebeu o quão nervoso estava com tal situação. Ele riu baixinho. 

“Isso é ridículo.”

Quando ele se levantou, alguém bateu na porta. Era Takashi. 

“Mayck?”

“Oi? Entra.”

Depois de receber a permissão, ele entrou e fechou a porta atrás dele. 

“Como ela está?” Mayck perguntou imediatamente para saber o estado de sua irmã mais nova. 

“Está mais calma. Suzune está com ela na sala.” Parecia que os dois adultos deram conta de tranquilizá-la. Isso deixou o garoto satisfeito. 

“Mas eu quero muito saber o que aconteceu. Você poderia me dizer, Mayck?” 

O clima de repente ficou pesado. Takashi foi até ali com o objetivo de tirar a verdade de Mayck, que, por sua vez, não tinha nada a contar e isso causaria um atrito. 

“Eu não faço ideia. Simplesmente foi a minha primeira interação do dia. Ela não teve um pesadelo?”

“Isso não é possível. Ela acordou mais cedo que eu hoje. Mayck, eu quero a verdade. Sei que vocês dois saíram juntos ontem.”

“O que isso quer dizer? Você está dizendo que eu fiz alguma coisa com ela?”

“Eu não consigo pensar em outra coisa.”

Mayck apertou os olhos, olhando fixamente para o seu pai. Ele esperava esse desenvolvimento, mas era mais fácil suportar na teoria. 

“Sabe o quão terrível está sendo ouvir isso?”

“Sei. Isso dói tanto em mim quanto em você, Mayck. Mas tente entender. Se você fez algo, é bom me contar.”

“Eu não fiz nada.”

“Está difícil acreditar em você. Você tem agido estranho já faz muito tempo. Eu mal te reconheço.”

“Eu? Agindo estranho? Você tem certeza? Não faz nem seis meses que elas estão aqui com a gente e você já está duvidando da minha palavra e defendendo elas com garras e dentes.”

“É exatamente por causa de você, Mayck. Eu não consigo dizer o que você está pensando. Eu não sei nem se você liga para o que eu ou os outros pensamos.”

Mayck ficou em silêncio e desviou os olhos, mas teve sua atenção chamada. 

“Olhe pra mim, Mayck.”

“Se você veio aqui apenas para me incriminar, eu vou pedir que me deixe sozinho.”

“Não. Eu não vou sair. Não até que tenha uma resposta satisfatória. E tenha mais respeito. Eu ainda sou seu pai.”

“Um pai que está claramente acusando o filho de abusar da irmã. Isso é o que você pensa de verdade, não é?”

Mayck olhou nos olhos de Takashi, o mais profundo que conseguiu. Era óbvio que aquele era o que Takashi sentia de verdade, mas ele não se sentia terrível ou algo do tipo. 

O estresse acumulado no trabalho estava interferindo em sua racionalidade, assim como estava acontecendo com Mayck, que não se importava mais com o resultado que teria ali, desde que seu plano fosse para frente. 

“Se não é isso, então o quê? Qual a outra explicação para fazer Haruna agir dessa forma?” A voz de Takashi já estava alterada. 

“Quantas vezes eu tenho que dizer? Você é policial, não? Investigue por si mesmo. Não tenho intenção de cooperar. Não enquanto não receber um pedido de desculpas honesto.”

Dizendo isso, Mayck se levantou e caminhou em direção à porta, sua calma estava começando a se esvair. 

Mas ele foi impedido pela mão de seu pai, que agarrou seu pulso firmemente. 

“Eu não vou deixar você ir.” Certa hostilidade emanava da voz dele. Se Takashi nunca bateu em Mayck, a primeira vez não estava tão longe ali. “Me conte o que está acontecendo.”

“Não tem nada acontecendo.” 

Takashi insistia na resposta, mas Mayck continuou tentando desconversar. 

“Você está muito distante. Eu sei que não sou o melhor pai, mas eu quero que você saiba contar comigo quando precisar…”

“Essa não é a questão aqui. O que eu tiver que resolver, vou resolver sozinho. Agora, se me der licença.”

Ganhando em força, Mayck puxou seu braço para si e forçou sua saída. Ele desceu as escadas plenamente e quando passou pela sala, lançou um olhar amedrontador para Haruna, que se escondeu trêmula.

A residência dos Mizuki, naquele dia, já não tinha mais uma atmosfera alegre. Ela foi substituída por rancor e desunião. 

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