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Capítulo 90 – Resistência de sobressalto

O vento e a neve cortavam o rosto de Mayck. Ele se movia tão rápido que parecia estar se teleportando aos olhos dos vários portadores, que usavam sua vasta gama de habilidades especiais para caçá-lo com afinco. 

A luta que começou naquela madrugada se estendeu grandemente, o frio já não era mais um problema. 

Os corpos espalhados pelo chão poderiam não estar mortos, mas poucos se importavam. Os sons de lâminas se chocando, habilidades sendo lançadas e o show de luzes parecia algo de um filme de ficção. 

E o alvo era uma única pessoa. 

O ódio e a frustração já estavam estampados nos rostos de vários indivíduos. 

“Não sejam tão idiotas. O alvo é só um. Como ninguém acerta esse merda?!” Gritavam um para o outro. 

Quando Mayck derrubava um com socos, vinha outro e ele o derrubava com um chute poderoso. Sua espada negra, brilhando com eletricidade, também tinha um papel fundamental ao cortar inimigos e abrir caminho, deixando rastros elétricos por todo lado. 

Suor escorria por seu rosto, mas ele não tinha tempo para ficar parado. Estava realmente ficando cansativo. 

Será que eu vou aguentar mais?

Essa era a única dúvida em sua mente. 

Cheguem logo, por favor. 

Enquanto não chegavam, o garoto iria fazer a maior bagunça possível — dentro dos seus limites, obviamente. 

“Aaah!” Um grito ecoou e uma garota atravessou a multidão velozmente, empunhando uma lâmina gigante, a qual brilhava com as luzes ao redor. “Seu maldito filho da puta!”

“Você de novo…?”

Era a garota de antes. 

Ela pulou e ergueu sua espada, soltando todo o peso da lâmina contra Mayck, o qual se esquivou de forma ágil e viu a lâmina brilhar bem próximo de seus olhos. O chão abaixo da espada se estilhaçou como vidro, jogando pedras para todos os lados. 

Mayck ficou incrédulo; ela era mais forte do que parecia.  

Parece que eu irritei ela…

Como se tivesse entrado em frenesi, ela continuou a avançar e balançar sua enorme espada, desferindo golpes que matariam Mayck na hora caso atingissem, mas o garoto desviava com uma agilidade sobre-humana.

Mas ter que ficar na defensiva não era uma boa ideia. 

Tá legal… vamos acelerar um pouco as coisas. 

Decidido, ele girou a espada em sua mão e a colocou na bainha, e se distanciou da garota enfurecida. 

Ele saltou mais de três metros e abriu os braços. Dois grandes círculos azuis surgiram aos dois lados, preparando uma grande quantidade de energia. 

Os portadores se assustaram; imediatamente tomaram posturas defensivas quando o trovão do poderoso raio cortou o ar na direção deles com um poder devastador, destruindo quase tudo em seu caminho.

Boooomrrrr!

Como Mayck esperava, todos sobreviveram, mas poucos resistiram. Boa parte deles ficaram debilitados devido à paralisia, os efeitos da eletricidade no corpo e desmaiaram, com queimaduras por toda a pele. 

Isso porque Mayck alterou a tensão do canhão, afinal de contas, seu objetivo não era causar um massacre, mas manter os portadores ali, naquele local. 

“Ainda não acabou”, ele disse em voz baixa. 

Um novo círculo, muito maior, surgiu acima de sua cabeça. Em um estalar de dedos disparou, como um canhão, um laser de carga positiva, arrasando tudo em sua frente. 

Depois que se dissipou, só sobrou o som da tempestade de neve e uma cortina de fumaça que lutava contra ela. 

Será que eu acabei com todos…? Hein? O que é aquilo?

Do meio da cortina, um círculo brilhante que parecia girar, foi parando aos poucos. 

“Oh… Parece que alguém aguentou com maestria”, Mayck falou, vendo a cortina sumir e uma pessoa girando um bastão em sua mão. 

O que ele tinha feito, o garoto não podia dizer, mas sabia que foi um método para conter a eletricidade. O que quer que fosse, tinha sido surpreendente. 

Os portadores ao redor também notaram isso e ficaram sem palavras. 

“Droga, Milli. Não seja tão apressada. Não dissemos que ele é perigoso?” A pessoa com o bastão se dirigiu à garota que havia atacado anteriormente, parecendo um pouco irritado. 

“Tsk. Cala a boca. Eu só queria testar ele”, ela cuspiu de volta. 

“Milli-san?” Mayck prestou atenção na interação. “Então esse é o nome dela?” Logo voltou-se a ela. “Milli-san, você deveria escutar seus amigos.”

“Vai se ferrar, idiota!” Ela não parecia muito amigável.

Abaixo do submundo, havia mais coisas do que se podia imaginar. Não havia apenas os criminosos ou gangues que lutavam contra a lei do país com armas brancas, de fogo e dinheiro — também existiam aqueles que usavam seus poderes para isso. Eram de uma linhagem sobreposta, com os portadores um pouco mais abaixo. 

Millicent, assim como seu irmão, Edgar, faziam parte de um desses grupos que só estavam atrás de recompensas — os chamados Golden Society. Eram um grupo de oito pessoas e tinham certa fama entre os portadores. 

Mayck se lembrou de já ter ouvido sobre eles, os dois irmãos alemães que faziam a festa onde andavam. 

Eles não são nada fracos. E se estão aqui, então os outros devem estar também. É melhor eu me cuidar—

Ele mal terminou seu pensamento e uma sensação estranha percorreu seu corpo. 

Uma lâmina reluziu perigosamente perto de seu pescoço, e o garoto se esquivou com agilidade, saltando para o lado e subindo em uma pilha de escombros.

Merda. Me distraí com esse dois e acabei esquecendo dos outros, pensou, enquanto a neve caía densamente ao seu redor, fazendo a vestimenta da Phantom tremular e o capuz ameaçar revelar sua máscara negra. 

“Você também…”, murmurou Mayck, percebendo que as coisas seriam um pouco mais difíceis a partir dali. 

Sem palavras ou sequer um cumprimento, Phantom se dissipou na escuridão da paisagem, deixando o garoto em alerta.

De onde ele vai vir? Questionou-se, sabendo que se estivessem sozinhos, seria uma história diferente, mas a presença de tantos portadores emanando energia naquele local tornava difícil detectar uma única pessoa. 

Atento a cada possibilidade, ele foi surpreendido pelo bastão de Edgar, que veio disparado em sua direção. Ele desviou por pouco, mas logo teve de lidar com Millicent, que saltou sobre ele, executando o mesmo ataque pesado.

Que irritantes.

Estendeu a mão e ativou <Manipulação de Alma>, parando Millicent em pleno ar. No entanto, esse momento de distração foi o suficiente para Phantom avançar com sua lâmina em direção às costas do garoto, pronto para um golpe fatal.

Porcaria—

Parecia ser o fim, mas antes disso uma flecha dourada atravessou o caminho entre ele e Phantom, fazendo o adversário recuar. 

Percebendo sua oportunidade, Mayck lançou Millicent para trás e tomou distância, respirando aliviado. 

Não sei o que aconteceu, mas foi muito conveniente. Obrigado, ele se sentiu na obrigação de agradecer que quer que o tivesse ajudado. 

“Mestre!!” Um grito cheio de aflição chegou aos ouvidos dele.

Apenas uma pessoa o chamava assim, então saber de imediato que era Merlin não foi tão difícil. 

Quase sem fôlego e em êxtase, ele se aproximou. 

“Vo-você está bem…?!”

“Sim, estou. Obrigado pela ajuda.”

“… Caramba… ainda bem que eu cheguei a tempo de… Aah…!” 

Merlin interrompeu sua fala com um susto ao olhar para o outro lado do que deveria ser uma avenida. 

Escombros para todos os lados, edifícios em ruínas e iluminação pública inexistente. Como se buscasse uma confirmação, ele olhou para a Tokyo Skytree e logo bateu uma mão na outra. 

“Ah, estamos em Sumida. O que foi que aconteceu aqui?!” Ele mudou seu tom de voz, mostrando um espanto genuíno. 

Era justificável, mas Mayck não poderia perder tempo com explicações. 

A voz de Millicent chegou em seus ouvidos. Ela mandou sua espada em dois movimentos e dois cortes brilhantes com formato de X encurtaram a distância entre eles em uma velocidade alucinante. 

“Depois falamos disso. Desvia.”

Quase sem tempo, Mayck pulou para o lado rapidamente. Merlin fez o mesmo, mas não conseguiu escapar sem um pequeno corte em sua calça. 

“Ah, merda! Isso queima!” Ele abraçou a perna e começou a rolar no chão. 

“Dá pra parar com isso…?”

Se recompondo, o garoto mago entendeu a situação em que estavam e se preparou para a batalha ao lado de Mayck; era como um sonho para ele. 

Edgar fechou a distância entre eles e girou seu bastão habilmente, forçando Mayck a empunhar sua espada novamente e se proteger dos golpes. 

A lâmina e o bastão de tungstênio se chocavam um contra o outro, forte e rapidamente, imperceptível aos olhos normais, soltando faíscas cintilantes e fazendo ressoar entre os corpos dos dois lutadores. 

Do outro lado, Merlin tentava se esquivar o máximo possível dos ataques brutais de Millicent, que destruíam o solo sempre que o atingia, demonstrando o poder que ele tinha. 

Se perguntassem, ele claramente estava numa situação desesperadora, mas não hesitaria em continuar avançando.

<—Da·Si—>

Completamente alheio à situação em que Mayck se encontrava, uma outra luta começou nas redondezas de Tokyo Bunka Kaikan. 

Stella aproveitou a baixa visibilidade da tempestade de neve e começou a correr em volta de Ryuu, a uma distância segura, enquanto disparava com precisão contra ele, o qual interceptava os tiros com agulhas assim que percebia a direção.

Correndo e rolando, os projéteis reluzentes cortavam o ar em instantes. 

“Cara… mas você é muito chata. Pare de se esconder, vamos”, ele dizia já sem paciência. 

No entanto, seus pedidos por uma luta justa não eram atendidos. Porém, os tiros cessaram e a voz da garota ecoou. 

“Me diga, Ryuu. Você ainda se lembra das suas vítimas?” Stella falou, mas sem se mostrar. 

“Huh? O que você quer dizer com isso? Eu não me importo com quem eu mato. Nunca se mostraram um desafio mesmo”, ele gesticulou indiferente. 

“Hmm… então você provavelmente não vai se lembrar de Clair-senpai, que você torturou e matou há alguns anos, não é?”

“Torturei…? Ah! Então você está aqui para se vingar dela? Interessante.” Ele riu alto. “Pois saiba que eu me lembro dela sim. Era aquela menina que ficava dizendo que iria proteger seus companheiros. Entendo. Então é isso.”

A memória divertia Ryuu, enquanto ele pensava em como o destino fazia pegadinhas. Por outro lado, Stella ficava cada vez mais enfurecida ao se lembrar do rosto de sua amada veterana. 

Não me lembro da última vez que alguém veio até mim atrás de vingança, pensou com certa empolgação. 

Seu sorriso de orelha a orelha era como o de um psicopata apaixonado por ver outras pessoas sofrerem. Era tenebroso, sombrio… repugnante. E agora ele tinha um desejo.

Eu quero quebrar essa garota. Quero acabar com ela da pior forma possível… Mal posso segurar a ansiedade de ver o rosto patético dela ao ver todos os seus desejos se quebrando, tão frágeis quanto vidro. 

“É. Eu me lembro sim. Ela falou com tanta confiança que eu acabei ficando tentado a testá-la. Os gritos dela enquanto eu arrancava seus olhos… Ahh! O melhor de tudo foi que ela estava mais focada em pedir para que aquela outra garota não visse tudo. Foi comovente…”

Sua voz carregada de malícia. Stella apenas ouvia em silêncio, reprimindo o ódio que aumentava mais, e mais, e mais…

“Mas sabe o que fiz? Hahahahah! Eu coloquei as duas sentadas frente a frente com os olhos bem abertos para assistir tudo!”

Sua obsessão na dor alheia era nojenta. Aos olhos de Stella, aquele homem não passava de lixo radioativo que precisava ser destruído o mais rápido possível. 

Suas pálpebras começaram a tremer e ela mordeu os lábios com força, assim como cerrou os punhos, tentando se conter. 

Eu vou matar ele… Se acalme, pensou Stella. Em sua mente, duas pessoas pareciam lutar pelo controle da garota, mas não era ninguém mais além do que ela mesma criou: uma versão de todos que ela conhecia. 

Em um movimento ágil, ela saiu de sua posição e começou a disparar novamente com seu fuzil de assalto. As pedras douradas embutidas nele brilhavam e os projéteis de energia pura cortavam os flocos de neve em seu caminho, visando Ryuu. 

“Aff… isso de novo? Tá começando a ficar chato”, reclamou, voltando a mesma sequência de interceptar os projéteis brilhantes, que vinham rapidamente em sua direção. “Você não vai me matar usando esse tipo de método.”

Em um movimento brusco de seus braços, ele invocou e lançou algumas dezenas de agulhas para todos os lados, pensando que pelo menos cinco ou dez deveriam acertá-la. 

Mas não foi o que aconteceu. O som das agulhas se fincando no chão foi abafado pela ventania. 

“O que foi isso?”

“Eu não vim até aqui sem pensar em nada. Sabe, eu tenho o poder de entender as emoções das pessoas. Normalmente, não tenho uma capacidade de julgamento tão boa, então preciso me apoiar em quem possui.”

E a pessoa que ela escolheu para isso era uma das mais racionais que ela conhecia. 

Stella abaixou sua arma e foi andando lentamente até o campo de visão de Ryuu. Um objeto balançava em sua mão direita. Era como uma pistola, mas ela possuía duas grandes pinças e parecia bem pesada. 

“Isso é…?!”

“É um equipamento novo que tem um poderoso ímã como principal fundamento, criado pela nossa engenheira de armas. Eu não vim te enfrentar sem pesquisar antes.”

A expressão do homem se tornou surpresa. Ele realmente conseguia sentir um enorme campo magnético vazando daquela coisa. Logo, ele caiu em gargalhada. 

“Porra, nunca pensei que alguém tentaria me enfrentar na minha área. Muito bom, muito bom. Vamos ver até onde sua arma idiota aguenta. E toda essa neve me irrita”, declarou. 

Com um passo firme para frente, Ryuu bateu palmas e emitiu uma onda sonora poderosa o suficiente para destruir as vidraças dos edifícios ao redor e tirar a neve do caminho. 

A onda foi tão poderosa que, segundos depois, dispersou parte das nuvens que estavam acima deles, deixando a lua à vista. 

A luz lunar clareou o rosto de ambos, e eles se encararam. 

Assim que a ventania retomou seu curso, os dois dispararam em direção ao outro. Ryuu sacou agulhas entre seus dedos e as arremessou. Stella ativou seu novo equipamento e mudou a direção delas. Ela rapidamente saltou para o lado e avançou novamente. 

Livre das agulhas, ela sacou uma adaga de sua manga e desferiu um golpe direto contra o homem, que, por sua vez, levantou a palma e direcionou uma onda magnética para repelir a lâmina. No entanto, o sangue de sua mão jorrou e cobriu seu dorso.

O quê—

Confuso, ele parou de se mover e ficou frente a Stella. Os olhos da garota refletiam seus sentimentos mais complexos, enquanto, ao mesmo tempo, escondia qualquer emoção. 

Entendi, pensou ele, vendo a luz atravessar a lâmina. Essa adaga é feita de vidro. Por isso não foi repelida. 

Ryuu manteve sua palma imóvel, para que Stella não perfurasse ainda mais. Ele a olhou com um sorriso malicioso. 

“Você até que manda bem. Seria uma companhia perfeita para o time. Talvez até melhor que aquelas pirralhas idiotas.”

Stella não sabia sobre o que ele falava, então ignorou. Seu foco estava em sua mão, que tremia apenas para empurrar o subordinado de Yang. 

Ele claramente tem muito mais força física que eu. Sem contar sua resistência… essa adaga de vidro é capaz de cortar ossos, já que foi feita com minério de Pedra Lunar. 

Na verdade, apenas o fio da lâmina. O minério de Pedra Lunar era tão resistente quanto o diamante, então não era uma tarefa simples lapidá-lo. O máximo que Michio pôde fazer foi uma espécie de fio para uma pequena faca, a qual foi entregue para Stella. 

Stella retirou a adaga da mão de Ryuu e tomou distância, sabendo que não iria muito longe com aquela estratégia. 

Ela precisava pensar. Mas enquanto isso, teria que manter seu oponente ocupado, evitando dar brechas para ele ganhar vantagem. 

Em um passo, ela avançou e começou uma série de cortes em várias direções, se afastando e se aproximando, para evitar ser atingida por qualquer ataque que Ryuu fizesse. A lâmina rasgava o ar e cortava as roupas do homem, que se mantinha atento aos movimentos. 

Stella sentiu algo estranho nisso. 

Ele não está revidando. O que ele planeja?

Ela odiou o fato de não ter uma habilidade de combate forte o suficiente para derrotá-lo em um só golpe. 

Preciso ter cuidado. 

A garota continuou deslizando suavemente e de forma quase instantânea, como se ela pudesse se teleportar. 

Um corte apareceu na bochecha de Ryuu. Outro em seus braços. 

Percebendo isso, olhou com aborrecimento e falou:

“Esse terno foi caro, sabia? Não quero que você fique destruindo ele.”

E com sua mão, segurou o rosto de Stella assim que ela passou ao seu lado para continuar a sequência. 

“Ah!”

Ela se debateu, tentando se soltar. 

“Me larga!”

Como esse maldito conseguiu fazer isso? Ele é mais habilidoso do que eu pensava—

Ela não pôde terminar seu pensamento, pois Ryuu se inclinou para frente e esmagou sua cabeça no chão, que também foi destruído.

“Argh—!”

“Você achou mesmo que poderia vencer assim? Que ingênua. Hahahaha!”

Ele jogou sua mão para o lado e agulhas surgiram entre seus dedos, depois foram lançadas na direção de Stella, que estava caída no chão. 

Ela rolou e conseguiu desviar, se levantando imediatamente e tomando distância. 

Havia sangue atrás de sua cabeça. 

Esse desgraçado…! 

Seus lábios se contorceram de raiva.

Eu vou matá-lo de qualquer forma—

A ponta de uma agulha brilhou na frente de seus olhos; seu olho direito se escureceu e uma dor aguda explodiu nele. 

“Argh!!”

Porra…! Merda!

A garota instintivamente cobriu seu rosto com a mão, enquanto a dor a torturava. Por um erro e por ter se deixado levar pela raiva, ela se desconcentrou e acabou recebendo um dano fatal. 

“Ha! Consegui tirar o primeiro. Falta mais um”, Ryuu comemorou com um sorriso radiante. 

O sangue escorrendo, agora pelo rosto da garota, se misturava à pouca neve que restou no chão. 

Isso dói…! Porcaria! 

Cambaleando, tentando resistir à dor. Essa foi a primeira vez que ela recebeu um ferimento tão grave, e não sabia a sensação até aquele momento. 

Era angustiante, desesperador. 

Ela respirou fundo algumas vezes, com seu corpo todo trêmulo por conta do frio e do medo. 

“Eu preciso continuar…”

Parar não era uma opção para ela, que tinha ido tão longe. Talvez devesse ter chamado aliados… mas essa era uma guerra que ela precisava vencer sozinha. 

“Surge da memórias as visões e impressões distantes…”

“Hm?” Ryuu levantou uma sobrancelha ao ouvir os sussurros da garota. “Não estou te ouvindo~.”

“… Copie a alma daquele que eu admiro e personifique parte de sua existência em meu ser: Mirror of Lies, arquivo 155!”

Um silêncio incomum se instaurou no local e uma luz dourada rodeou a garota, ofuscando toda a visão de Ryuu, que se perguntava o que estava havendo.

O cabelo loiro de Stella tornou-se preto com uma mecha branca em sua franja, seu único olho ficou castanho, e principalmente sua energia mudou quase por completo.

Ryuu arregalou os olhos, espantado. 

“Uou! Que surpresa. Nunca imaginei que pudesse existir uma ID como a sua.” Ele aplaudiu com empolgação. “Uma ID que pode clonar outras… Você é foda, garota!”

Como um raio, Stella disparou contra Ryuu. Uma espada holográfica surgiu em sua mão e ela desferiu um corte horizontal contra o pescoço dele. 

Foi a primeira vez que Ryuu recuou ao sentir o perigo. Ele riu alto. 

“É realmente impressionante. Portadores são uma praga mesmo. Sabe porque você não acha nenhum portador completamente são? Porque essas malditas IDs são feitas de ódio e todos os sentimentos amargos que alguém pode ter”, ele explicou, enquanto lançava mais centenas de agulhas contra a garota. 

Ela girou a espada suavemente e bloqueou todos. Em seguida, arrancou novamente, manuseando uma espada que não pertencia a ela. 

Ryuu não podia tirar a espada das mãos dela, já que não possuía uma lâmina física realmente. Era como uma cópia incompleta, que só reteve parte das informações. 

Ryuu sentia o calor da batalha aumentar cada vez mais. Ele queria ver até onde ela poderia chegar, então ficou apenas na defensiva, esquivando-se habilmente dos ataques. 

Um círculo azul se projetou no ar, e um laser azul de eletricidade com carga negativa disparou. Ryuu se salvou, mas o chão sofreu sérias consequências, como se uma bomba tivesse sido explodida ali. 

“Você pode fazer isso?!”

Sem responder, Stella projetou outro de mesma circunferência e disparou novamente, mas não acertou; apesar de ser por um fio, Ryuu conseguia escapar. 

De repente, ela tossiu sangue em sua mão. 

Era o esperado… eu não tenho o corpo para suportar as habilidades dele. Preciso encerrar isso logo, ou então—

Como em câmera lenta, Stella viu várias agulhas a poucos centímetros dela, prontas para furá-la. Porém, diferente da última vez, ela esquivou facilmente de todas. 

“Caramba! Hahahaha! Eu sinto que realmente estou lutando contra ele. Isso é muito foda!” Ele comemorou como um fanático. 

Stella investiu outra vez. Ryuu tentou fugir saltando para trás, mas seu corpo ficou onde estava, parado em pleno movimento de salto. 

Stella usou <Manipulação de Alma> para mantê-lo ali. Com sua chance de finalizar aquela luta, ela empunhou a espada e a direcionou para o pescoço de Ryuu. 

No entanto, mesmo que parasse seus movimentos por completo, não foi capaz de parar a boca. 

“Sinfonia.”

Tão forte quanto o estrondo de uma bomba atômica, uma onda sonora explodiu como uma corrente de ar poderosa, atirando Stella para longe e enterrando-a na neve ao longe. O ataque também destruiu residências nos arredores e limpou a neve quase que completamente, deixando um rastro de destruição maior que os dos <Canhões Elétricos>.

Ryuu limpou a poeira de seu terno e caminhou na direção da garota. 

“Isso foi incrível. Você é impressionante, de verdade. Subiu no meu conceito. Com sua quantidade de energia, poderia destruir o mundo só usando as habilidades dele. Mas bem, no fim, você é só uma garota atrás de vingança. Ehh… bom, não que você possa me ouvir, certo?”

Ele se inclinou com as mãos na cintura, olhando para uma Stella caída, desnorteada, com sangue saindo de suas orelhas, nariz e olhos.

“Falando nele, aquele moleque tem potencial para destruir o mundo e bater de frente com Yang”, ele refletiu com a mão no queixo, mas logo deu de ombros. “Mas não passa disso. Afinal, ele tem dois defeitos: não ter ambições como as nossas e não ter energia suficiente.” Rindo. “É ridículo.”

Stella não podia ouvir o que ele estava dizendo. Apenas um de seus olhos podia vê-lo sorrindo e com dificuldade. 

Eu não consigo me levantar… meu corpo está pesado e não tenho mais forças. Usar as habilidades de Mayck me causaram mais danos do que eu esperava… 

A garota lutava para respirar, uma tarefa dolorosa. 

Droga… Eu fui descuidada. É claro que ele seria extremamente forte. Eu não poderia vencê-lo, mesmo estando preparada. O pior de tudo… é que eu não pude vingar Clair-senpai… Porcaria…

Uma lágrima se formou no canto de seu olho e escorreu por sua bochecha, juntando-se ao sangue que estava ali. 

Stella lamentou amargamente sua fraqueza. Não tinha a capacidade de otimismo de Chika, não tinha o poder devastador de Mayck, e também não tinha a influência de Clair. Sua única arma era copiar essas coisas e ainda assim eram imperfeitas. 

Ela não tinha poder para fazer nada sozinha. Ela era obrigada a se apoiar em algo que não lhe pertencia — essa era a sua vida até aquele momento; uma vida de mentiras. 

Mas ela se esforçou o máximo que pôde. Evitou deixar Chika cuidar de tudo e evitou que sua equipe se quebrasse por completo, mas, no fim, só deixaria mais rancor para trás. 

Me desculpe… Chika. Eu não servi pra nada. 

Com a pouca força que lhe restava, ela moveu seus lábios, sua voz tão falha se fez ouvir.

“… Me mate…”

“Como?”

“Apenas me mate…” Naquele instante, para ela, continuar viva seria uma vergonha. Ela só teria remorso em sua alma. 

Ryuu não esperava por aquilo e acabou ficando decepcionado, na verdade — ele esperava mais resistência por parte da garota. 

“Tsk. Eu esperava um pouco mais de diversão. Estou seriamente aborrecido com você.” Ele suspirou, mas logo sorriu maliciosamente. “Mas não é como se a diversão tivesse acabado. Eu ainda posso torturar você até o fim da sua vida patética.”

Ele pôs a mão sobre ela, pegando fortemente em seu pescoço. Sua animação era visível ao olhar para a garota tossindo sangue em sua roupa, sem forças para resistir. 

Ele a ergueu na frente de seus olhos, apertando com força. 

“Kukuku… Isso vai ser divertido também—”

Swish!!

Stella de repente caiu no chão e Ryuu foi incapaz de segurá-la. A lâmina reluziu perto do solo, a mão perdida de Ryuu deixou sangue escorrer no chão, assim como o que sobrou de seu braço, que começou a jorrar o líquido vermelho. 

Foi um corte limpo e rápido, o qual nem manchou a lâmina. Um movimento perfeito para alguém que nunca havia usado uma arma do tipo antes. 

Chika podia se orgulhar disso.

Stella se perguntou o que havia acontecido, sua vista escurecida e avermelhada de sangue, não conseguiam identificar a figura que chegara ali, mas ela podia dizer quem era apenas pela presença reconfortante que ela sentia. 

Chika…

Sua consciência se esvaiu. 

<—Da·Si—>

Hana respirou fundo. Ela ainda sentia temor em enfrentar seu pai, mas aquela era a coisa certa a ser feita. E enquanto fosse assim, deveria fazer sem hesitar; esse era o significado de justiça. 

“Pai… você realmente não vai mudar de ideia sobre isso?”

“Ainda tem dúvidas? Eu trabalhei a minha vida toda para isso. Se você quiser me impedir, vai ter que me matar, pois vou fazer tudo ao meu alcance para conseguir aquele poder”, ele respondeu sem hesitar. 

Hana queria recuar, mas se manteve firme ante às palavras.

“Eu entendi. Isso é doloroso pra mim. Você não deve saber o quanto é difícil ter que ficar de frente pra você dessa forma. Eu não gosto disso, pai. Mas… vejo que você não tem nenhuma intenção de voltar atrás.” 

Com os punhos cerrados, Hana apertou os olhos. 

“Então farei o possível pra você desistir dessa ideia e pedir desculpas.”

“Oho~ Então vai tentar me convencer? De que forma,  exatamente? Pretende me atacar? E se eu não mudar de ideia? Vai me matar? Hahaha. Quer dizer que você está disposta a se tornar uma assassina igual aquele verme?”

“Eu não vou te matar. Nem em sonhos eu conseguiria fazer isso. Porém, foi você que me ensinou que a justiça deveria prevalecer sempre. E é isso o que eu vou fazer.”

Uma coisa em que Hana confiava era que, como portadora, ela tinha força e poder superior ao seu pai, o que lhe garantiria a vitória. 

O problema era se sua consciência a culpasse no processo. Ela corria o risco de não conseguir nem ao menos machucar Masato, dada a relação de longa data e de sangue que ambos possuíam.

Eu não queria ter de fazer isso…

O arrependimento estava à espreita. 

“Vá em frente. Se é que você consegue—”

Um cristal brilhou em sua bochecha e atingiu a parede com uma força absurda, deixando um corte na bochecha de Masato, o qual ficou perplexo por um momento. 

Foi aí que ele percebeu que sua filha não era mais uma garotinha que obedeceria suas palavras como se elas fossem a verdade absoluta. Esse tempo já havia passado. 

Então é assim que as coisas são…

Mesmo que a raiva e a insanidade tentassem tomar o controle dele, ele estava ciente de que não venceria sua filha em uma luta.

É realmente frustrante. Ainda bem que não usei isso quando aquele merda estava aqui. 

Mayck pensou que Ryuu era a única arma secreta que Masato escondia. Mas não era bem assim. 

De seu bolso, ele tirou um pequeno frasco de vidro, contendo um líquido amarelado. Hana ficou cautelosa. 

Assim que Masato o abriu, derramou seu conteúdo no chão. Um odor forte e fétido dominou o salão em instantes, fazendo Hana cobrir o nariz. 

A garota na galeria fez a mesma coisa, enquanto tentava se lembrar de onde era aquele odor.

Eu já senti isso antes… onde foi? Não consigo me lembrar, mas acho que senti isso em alguma missão que participei… missão de caça… em uma espécie de ninho…!

Ela conseguiu se lembrar. 

Aquele odor era exalado por Ninkais quando eram mortos e isso atraía outros Ninkais, como feromônios dos insetos. 

Sabendo do perigo que estavam correndo, ela saltou da galeria, desceu as escadas freneticamente e agarrou o pulso de Hana. 

“Nós temos que sair daqui”, disse ela. 

“Huh? Por quê?!” A garota ficou surpresa. 

“O que ele acabou de jogar no chão é uma substância que atrai até centenas de Ninkais que estejam próximos. Eles já devem ter sentido e estão vindo. Aqui não é seguro.”

Quando terminou de falar, ela percebeu um zumbido que ficava cada vez mais alto, conforme ficavam mais perto. 

Era tarde demais para fugir. 

“Droga…” A garota apenas desistiu, como se não fizesse mais diferença nenhuma sair ou não. 

Mas ela estava certa. Naquele momento, o Tokyo Bunka Kaikan estava completamente rodeado de monstros voadores como insetos gigantes, com presas afiadas e asas coloridas, também como insetos, as quais batiam freneticamente e invisíveis aos olhos humanos. 

Eles estavam atrás do odor do feromônio e fariam de tudo para alcançá-lo. A porta de vidro foi facilmente destruída e alguns conseguiram entrar, já que não eram excepcionalmente grandes. Eles tinham, em média, o tamanho de um homem adulto. 

Não podiam voar no interior do local, então foram andando, com dificuldades; mas fariam de tudo para alcançar a fonte do odor — nem que fosse destruindo uns aos outros. 

Era como uma guerra pelo Santo Graal.

Os que não conseguiam encontrar a entrada começaram a se chocar violentamente contra as paredes e se machucaram gravemente, mas fizeram isso até a morte. 

De dentro, dava para sentir os tremores da estrutura. 

“O que está havendo lá fora?” Hana perguntou, assustada. 

“São os monstros. Eles vão fazer o possível para virem até aqui. Tudo o que nos resta é ficarmos preparadas.”

“Ninkais? Por que você fez isso?!” Ela olhou para seu pai, que tinha um sorriso satisfeito no rosto. 

“Você me venceria facilmente numa luta apenas por ser portadora. Não venha dizer que é injusto.”

“Mas se eles entrarem aqui você corre risco também, não é?!”

“Hahahaha! Minha filha querida… Você não vai me deixar morrer”, disse ele com confiança, certo de que Hana acabaria o protegendo dos monstros no fim das contas. 

Hana hesitou — isso poderia ser verdade.

Ele era como o próprio mal que queria acabar com a vida da garota. 

Num instante, a porta de madeira da sala de concertos foi derrubada e alguns insetos entraram um após o outro, empurrando uns aos outros em uma verdadeira e sangrenta batalha de quem chegaria primeiro. O zumbido incessante encheu a sala, fazendo tudo vibrar. 

Mas eles foram recebidos por cristais vermelhos, que os fuzilaram, e morreram quase instantaneamente, soltando seus últimos grunhidos de vida. 

Os que vinham depois, começaram a se alimentar dos mortos, tornando tudo ainda mais aterrorizante. 

“O que eles estão fazendo?!”

“Não fique tão surpresa. Eles só vieram até aqui por causa do cheiro dos feromônios liberados por eles mesmos. Claro, eles também seguem o cheiro de sangue.”

Contudo, diferente dos feromônios, eles conseguiam sentir o cheiro de sangue mesmo que ele não estivesse vazando. Por isso não faziam ideia de que estavam devorando a si mesmos por conta da substância que emanavam de seus corpos. 

Eles não se alimentavam dos corpos, no entanto. Apenas o devoravam por instinto e isso também aumentava o seu próprio poder. 

A situação que eles se encontravam era mais crítica do que imaginavam. 

“Eles vão começar a se fortalecer. E com essa quantidade, quando restar apenas poucos deles, vai ser quase impossível para nós duas darmos conta deles. Por isso, são classificados como monstros de rank B.”

Aqueles insetos eram como armas projetadas para matar. Presas, veneno e ferrões na parte traseira. 

Não seria uma batalha fácil.

Os insetos entraram e avançaram como mísseis até eles. 

A garota de capuz empunhou um tipo de adaga e começou a cortar os insetos rapidamente, tomando cuidado para que eles não caíssem sobre Hana e Masato. 

“Eu vou avançar. Me dê cobertura.”

“Tá legal.”

A garota correu. Hana, ficando atrás, projetou alguns cristais e os lançou logo depois, atingindo os insetos que chegavam perto demais. 

A garota deslizava e saltava suavemente, cortando os insetos com tanta facilidade que eles nem pareciam ser uma ameaça. 

Mas isso só durou até eles começarem a se devorar novamente. 

O pior de tudo… havia alguns que poderiam ser classificados como fêmeas e eram as que mais se alimentavam. Tudo isso com o simples propósito de dar à luz a mais centenas de insetos menores. 

“Toma cuidado! Eles são pequenos, mas são difíceis de acertar”, gritou a garota, esquivando-se de um ferrão. 

“Eu já percebi…!” Hana respondeu, enquanto bloqueava um kamikaze de vários daqueles pequenos insetos com um escudo de cristal. 

Droga. Esse definitivamente não era o plano. Não vai ser tão difícil derrotar todos esses monstros. O problema vai ser lidar com meu pai depois. 

Mal podendo pensar direito, Hana disparava cristais quase a todo tempo, para cobrir a garota, que manuseava sua faca habilidosamente sem parar, cortando as cabeças e até as asas dos insetos gigantes. 

Elas poderiam sair vivas dali. Esse era o novo objetivo principal. 

Mas algumas coisas estavam estranhas. A garota com capuz percebeu isso e lutava com vários pensamentos em sua mente. 

Do muito que ouviu da conversa entre eles, algumas ações do policial não faziam muito sentido. 

No começo, ele estava quase explodindo. Quando Mayck saiu, ele poderia usar sua posição de pai para abalar Hana-san psicologicamente, mas não foi o que ele fez. 

Ela saltou da galeria para o palco e deu uma arrancada veloz, saltando e cortando vários insetos rapidamente. 

Ele invocou monstros aqui para nos manter ocupadas? Será que está esperando alguém vir ajudá-lo? Ou será que… Não. Não pode ser!

Ela pensou em uma certa possibilidade. As palavras de Masato martelavam em sua cabeça:

“Você não vai me deixar morrer.”

Um sentimento sombrio pairou sobre ela. Parando, ela olhou para Hana perto do palco. 

O que quer que ela fosse fazer, era tarde demais. 

Um disparo foi abafado pelo zumbido dos insetos; uma mancha vermelha se formou na roupa de Hana. 

Merda…

“Hana-san!”

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