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Capítulo 99 – Motivação que resplandece

Era tão brilhante quanto uma estrela. Tão quente quanto o sol. 

Aquela luz resplandeceu ao redor de Merlin, tornando aquele lugar caótico insignificante, e o par de asas imponentes se erguia atrás dele. Um arco reluzente em sua mão, uma flecha dourada que atingiu o monstro em um piscar de olhos. 

Resultou em uma explosão sem fogo, mas de um brilho puro e majestoso. 

Todos ficaram boquiabertos. 

“Isso é… um anjo?” 

Isha não desviou os olhos nem por um segundo. 

Citados em diversas obras diferentes, anjos eram seres místicos sob o comando de Deus. Eram mensageiros e protetores. 

Se eles estavam sob a proteção de um deles, então não havia nada a ser temido. 

A ID de Merlin… é um anjo?! Mayck estava tão perplexo quanto Isha e os outros. Isso fez seu interesse pelo pequeno mago, que não era tão mago assim, aumentar. 

Aquela visão aquecia o coração, dizendo “vocês não estão sozinhos”, e uma esperança crescente se mostrava. 

Alguns segundos de silêncio se ergueram depois do brilho, mas logo os sussurros rancorosos do monstro se fizeram ouvir, mostrando que a luta ainda não havia acabado. 

“Que insistente”, resmungou o garoto com asas. 

Ele se revelou novamente. Sua forma era diferente. Mantendo sua imagem humanóide, uma galhada começou a brotar em sua cabeça, seu rosto estava cheio de feridas, provenientes da explosão. Seus olhos escarlate sem pupilas lacrimejavam sangue. 

Ele abriu sua bocarra, revelando dentes pontiagudos e irregulares, emitindo o som como o de um animal sedento por sangue.

Seu urro ressoou fortemente nos ossos de quem ouviu. 

“Dor… matar… malditos”, ele dizia palavras aleatórias, mas que tornava possível entender seus objetivos. 

Era certo que ele havia tomado o controle de Haruo, num nível que já podia alterar sua forma como quisesse, mas ele também estava carregando o peso de seus desejos. Enquanto houvesse uma pitada de existência naquele ser, ele não cessaria até conseguir o que queria. 

Merlin era a última esperança para acabar com aquela criatura tenebrosa. 

“Certo, seu monstrengo horripilante. Venha até mim!” 

Merlin se posicionou com os braços abertos, exalando confiança. 

A criatura encurtou a distância até o ponto de energia mais forte naquele momento, correndo sob quatro patas com uma expressão assustadora em seu rosto distorcido, deixando uma trilha de sangue para trás. 

Merlin friamente o afastou com mais algumas flechas, mas a criatura insistiu em atacar, mesmo sendo lançada para trás e conseguindo feridas cada vez piores. As asas brilhantes se fecharam à sua frente, criando uma barreira e evitando os ataques brutais das garras da criatura. 

Com um movimento rápido das asas, ele a empurrou para longe, numa direção aleatória. 

Mayck teve que desviar para não ser atingido, então se juntou a Isha e ajudou a atônita e confusa Haruna a se levantar. 

“O que está acontecendo…?” Suas palavras eram frias, já que ela nem conseguia esboçar uma reação. 

Era justificável, no entanto. Tudo começou a ficar cada vez mais bizarro. Desde que foi para o outro mundo, ela não parava de imaginar que estava enlouquecendo. 

Com os olhos fixos na luta, Mayck respondeu calmamente, sua voz levemente rouca. 

“Só uma luta entre um recém despertado e um demônio.”

Eu só espero que ele vença. Se ele perder… acabou pra gente. 

Ele fixou os olhos na batalha, que ficava mais e mais frenética. 

Era uma batalha entre o bem e o mal, por assim dizer. O monstro lutava de forma irracional, tentando tudo ao seu alcance. Os fios de sangue se estenderam além do chão e imobilizaram Merlin, mas o calor de suas asas e armadura de luz os derreteu. 

Merlin olhou para suas mãos. Estava transbordando de poder. Finalmente havia despertado como um portador de verdade. 

Isso é incrível. Sinto que não vou perder pra ninguém. 

Ele cerrou os punhos. 

Essa é a sensação de ser forte?

As novas habilidades que ele adquiriu vinham em sua mente como se alguém sussurrasse para ele. 

Estendendo sua mão, ele anunciou:

“Empire of angel. Resplandeça!”

O chão abaixo dele se transformou num céu azul e tomou conta do ambiente. Milhares de flechas douradas se reuniram ao seu redor, e com a sua mão as fez chover sobre o monstro, que nada pôde fazer, além de ser bombardeado sem piedade. 

Parecia ser o golpe final. 

O céu azul se dissipou. Eles estavam de volta ao ambiente de sangue, onde uma cortina de poeira havia se erguido ao redor da criatura. 

Ela não deu nenhum sinal, então Merlin pensou positivo. 

“É isso aí”, comemorou. “Eu venci! Viu isso, mestre?!”

Ele parecia genuinamente feliz com sua evolução. Talvez ter ido até ali tenha sido a escolha certa afinal. 

Esse moleque… Mayck sorriu. 

No entanto, ele estava preocupado. Por mais que odiasse admitir, ele havia sido derrotado. 

Não é querendo me gabar, mas eu sou muito forte. Mesmo sem energia, eu ainda poderia ter feito alguma coisa. Enfrentar essa coisa que não pode ser tocada por mim foi uma surpresa, mas tudo bem. 

O problema, porém, não era nada disso. Não tinha nada a ver com seu orgulho. A verdade era que Merlin venceu fácil demais. E ele acabara de despertar. Não tinha como. Essa verdade não cabia em lugar algum. 

Não é impossível, mas também não me parece viável. 

“Ei…” Isha o chamou. “Eu estou feliz pela vitória dele, mas… o que é esse pressentimento horrível?”

Enquanto Merlin sorria e saltitava com sua suposta vitória, ele foi interrompido por um fio vermelho que se agarrou ao seu braço. Depois, outros começaram a agarrá-lo. 

“Hã? Você ainda não desistiu? Pois bem. Vamos acabar com isso logo. <Empire of angel>!”

“Idiota! Não use sua chave de comando duas vezes—”

Quando Isha ia alertá-lo, era tarde demais. A ID foi ativada, mas no segundo seguinte se desfez. 

“Hein?” Merlin caiu de joelhos. Seu corpo estava fraco, ele sentiu uma tontura junto a náuseas. “O que aconteceu?”

A energia de seu corpo era nula. Os fios começaram a cobrir seu corpo inteiro agressivamente, espremendo-o. A última visão de Merlin foi Mayck olhando-o com preocupação. 

Ahaha… entendi. Eu fui muito arrogante. Foi minha primeira vez usando ID então acabei me empolgando… Foi mal, pessoal…

Mayck era um portador raro, que podia usar ID sem sua chave de comando, embora ela ativasse com menos poder que o normal. Portanto, quando um portador anunciava sua chave de comando mais de uma vez e um curto espaço de tempo, toda a sua energia era drenada. 

Era como conectar dois carregadores num único dispositivo, o que causaria danos aos componentes internos ou levando a curto circuito. 

Um sentimento sombrio pairou sobre Mayck e os outros. Estava bom demais para ser verdade. 

Merlin caiu. O monstro se levantou muito mais furioso. As feridas em seu corpo estavam maiores e seu ódio havia aumentado consideravelmente. Uma aura sinistra emanava de seu corpo. 

“Matar… todos… pro inferno!”

Não havendo escolha, Isha deitou Saki ao lado de Mayck e se levantou. 

“Isha, o que você está pensando?”

“Eu vou tentar…”

“Você sabe que não temos como tocá-lo.”

“Sim. Eu vou ganhar tempo. Você pode descobrir um jeito de sair? Se conseguir, eu vou segurar ele até que vocês fujam.”

“Não seja idiota. O que vai fazer se eu não conseguir? Vai lutar aqui pelo resto da vida ou até sermos mortos da pior forma possível?”

O garoto mostrou uma leve irritação. As ações de Isha eram desconexas. Não tinha sentido em fazer alguma coisa. As únicas esperanças, Merlin e Saki, eram apenas novatos sem muita experiência. E eles estavam desacordados. Não acordariam a tempo de continuarem vivos. 

“E o que vai acontecer se eu ficar parada?! Vamos simplesmente deixar ele nos matar sem resistência? Me deixe fazer algo. Pelo menos no fim, eu quero partir sabendo que tentei.”

As palavras de Mayck ficaram presas em sua garganta. Isha tinha razão. Fazendo uma coisa ou outra, não havia escapatória. 

A garota andou até Merlin, que havia se tornado um casulo de fios vermelhos com odor de carne podre. 

“Bom, trabalho, Merlin-kun.” Não sabia o que poderia acontecer a ele naquele lugar, mas ele provavelmente ficaria bem. Ela acreditava

“Agora…” Posicionada com uma postura ofensiva, ela empunhou sua arma de combate — uma espécie de pistola com alguns circuitos brancos nas laterais. A criatura estava encarando-a intensamente. 

“Morram… Haruna… pague…”

Seus sussurros distorcidos ecoavam por sua mente, como pensamentos malignos. 

Mesmo sabendo que era inútil, Isha disparou. O projétil se perdeu em algum lugar, mas não atingiu seu alvo. 

Fios vermelhos brotaram embaixo dela, mas ela conseguiu escapar deles agilmente. 

Eu sou diferente de Merlin. Mesmo que eu não possa tocá-lo, ainda posso evitar que ele ataque os outros. Vou ganhar o máximo de tempo possível. Estou contando com você, M-san. Encontre uma forma de sair e tire todos daqui.

Poderia parecer besteira, mas se ela morresse salvando seus companheiros, então ela morreria feliz. Ela poderia ser igual a Clair e morrer com dignidade. 

Um fim perfeito para uma ninguém como eu. 

O monstro estava furioso. Ele atacava a garota com suas garras e fios que vinham do chão em golpes explosivos, mas a garota havia observado atentamente as lutas anteriores, então esperava por qualquer truque que ele pudesse ter. 

Pedregulhos, ossos e sangue voando para todos os lados enquanto a garota se esquivava dos ataques selvagens do monstro. 


Enquanto isso, Mayck foi tomado por seus pensamentos. Ele precisava ser rápido. Poderia ter uma forma de sair, afinal, eles entraram. 

Se ele buscasse a ajuda da Chave, provavelmente conseguiriam sair, mas ele tinha um motivo para não recorrer a ela. 

Eu não posso me dar ao luxo de gastar a energia dela, por menor que seja. Preciso que ela esteja pronta. Primeiro, eu tenho que descobrir em que tipo de espaço não estamos.

Quando eles saltaram para a casa, Mayck teve uma pequena sensação esquisita e ativou a <Manipulação de Alma> instintivamente. Num piscar de olhos, eles tiveram a visão de Haruna no chão e a criatura perto dela. 

Quando eu tentei atacar com a mesma habilidade, não teve efeito nenhum. Isso não foi por conta da baixa energia, mas por outra coisa. Eu não sei ao certo. Tem algo muito errado por aqui. Eu devo estar deixando algo passar. 

Ele se concentrou totalmente, depositando sua confiança em Isha, que disse para ele encontrar uma forma de sair. Tinha que alcançar aquelas expectativas. 

“Vo-você é o Mayck, não é?”

Hesitante, Haruna perguntou para confirmar. Ela obteve uma resposta positiva. Certamente estava confusa com tudo aquilo, mas estava lutando para não perder a calma. 

“Me diga, que lugar é esse? Eu estava no meu quarto e então tudo ficou estranho de repente…”

“Ficou estranho? O que aconteceu antes?”

Mayck buscou uma explicação. Talvez ele conseguisse uma pista sabendo da história toda. Haruna contou todos os detalhes que se lembrava. 

Vendo dessa forma, é parecido com <Moonlight Nightmare> e, embora tenha algumas diferenças, não devia ser impossível usar minhas habilidades aqui. O que tem de tão diferente?

As habilidades de Saki eram de rastreamento, o que a permitia lutar mesmo em ambiente sem visibilidade. Isso aumentava suas capacidades de percepção num nível absurdo. 

Merlin também conseguiu usar seus poderes sem problemas. Saki também. Até mesmo ele conseguiu usar sua velocidade no começo. 

Isso quer dizer que o problema está ligado diretamente à <Manipulação de Alma>.

“Em quais situações ela seria ineficaz?”

Ela só funcionava em seres sencientes. 

“Isso quer dizer que aquela coisa não tem uma alma?”

Se fosse o caso, como estaria existindo?

Essa coisa só pode ser fruto da imaginação, não é possível…!

Mayck parou de repente, pensando em sua própria afirmação. 

Imaginação. 

Com um vago pensamento, ele agarrou os ombros de Haruna, surpreendendo-a — ele quase deixou Saki cair nesse momento. 

“Haruna, você disse que as coisas começaram a acontecer de repente, não foi?”

“Sim…”

“O que você estava sentindo naquela hora?”

“Eu…?! Er… estava com medo… queria que alguém viesse me ajudar—”

“Com medo do que exatamente?” Ele foi incrivelmente insistente, querendo saber muito mais a fundo. 

“Er… e-eu estava com medo dele me machucar. Meu pai batia em mim e na minha mãe, então eu fiquei com medo disso…”

Sentindo calafrios, ela contou tudo o que estava em sua mente. 

“Entendi.” A cabeça de Mayck se clareou. 

Ele percebeu o porquê de não estar conseguindo usar a <Manipulação de Alma>. Isso porque parte daquilo não era real, de certa forma. 

O monstro tomou controle da mente de Haruo e foi completar a vingança dele. Portanto, suas habilidades estavam limitadas a um espaço mental. Ele só iria atacar o inconsciente do alvo. 

Por isso que só as habilidades de Merlin e Saki funcionavam. Eles não estavam lidando com um espírito maligno ou uma alma corrompida, mas estavam dentro do subconsciente de alguém. 

Isso não significava, no entanto, que o perigo deixava de ser real. Eles estavam correndo um sério risco, então nenhuma preocupação era à toa. 

Então nós estamos no subconsciente de Haruo? Se isso for a manifestação de seu estado mental, então estamos com sérios problemas… mas, tem algo estranho. Por que parte disso representa medo?

Um espaço de sangue, carne, osso e faces de agonia. Era tudo perturbador demais para ser a representação de apenas um estado mental. 

Mayck sentia que estava mais próximo da resposta. 

Ele ouviu os disparos. Era Isha atraindo a atenção da criatura que havia saído do curso por um momento. 

Era uma visão incrível vê-la dando tudo de si. Ela, com certeza, era uma das pessoas mais esforçadas que ele conhecia. 

“Hm.” Ele sorriu, baixando os olhos. 

Idiota. Por que você está tão nervoso? Você disse que ia conseguir solucionar qualquer coisa, então o que está fazendo agora? 

Ele deixou Saki ao lado e se levantou, deixando Haruna, que estava sentada, curiosa. 

Mayck respirou fundo. Não havia nada a temer. A solução estava diante de seus olhos. 

Como um monstro que invade a mente das pessoas, ele com certeza tem a capacidade de controlar até pensamentos alheios. 

Ele olhou para sua irmã mais nova. 

“O-o que foi?”

Ela estava trêmula. Mesmo sua presença ali não podia confortá-la totalmente. Ele conseguia ver em seus olhos. 

Tirou a máscara do seu rosto. Estendeu a mão, como se dissesse para Haruna pegá-la. 

“Haruna. Eu estou aqui. Eu disse que te ajudaria, não disse?”

“… Sim… você disse. Mas como podem vencer aquilo?! Aquela coisa está muito além da nossa imaginação…”

Ela abraçou o próprio corpo e evitou contato visual. 

“Isso aqui é muito pior que aquele mundo… aquela coisa consegue olhar no fundo da minha alma… eu não vou conseguir fugir…”

Ela podia ouvir a criatura gritando seu nome e amaldiçoando-a continuamente. O terror estava alojado em sua cabeça. 

“Se ele sair… vai matar minha mãe também.”

Ela acreditava profundamente nisso.

O abismo criado em seu passado estava mais profundo do que se podia imaginar. O medo de sofrer e ver sua mãe sofrendo a apunhalava dia e noite. 

Ela demorou para aceitar quando sua mãe disse sobre um novo casamento, mas não falou nada, pelo bem de sua felicidade. 

“Isso não vai acontecer. Veja, Isha está dando tudo de si. Ela também passou por muitos problemas, mas está ali, lutando por nós. Saki e Merlin alcançaram seus limites. Não diga que vamos morrer sem nem ao menos tentar.”

“…”

Em suas palavras, Mayck dizia que entendia os sentimentos dela. Afinal de contas, ele sabia muito bem o significado da dor. 

Todos ali sabiam. 

“É hora de se decidir, Haruna. Nós não podemos perder aqui.”

“Mas como—”

“Haruna-san”, Saki falou de repente, levantando-se com dificuldade. “Eu sei como você se sente, mas nós não temos escolha a não ser lutar.”

“Você está bem?” Mayck franziu o cenho. 

“Ah, sim. Me sinto melhor… me pergunto porquê.”

Talvez ela tenha se sentido bem ao dormir nos braços da pessoa que ela ainda amava, mas ninguém poderia afirmar isso. 

“Bem, é como ela disse, Haruna. Nós podemos vencer.” A mão estendida, esperando a atitude dela. 

É isso…

Pensando por um momento, ela ficou em silêncio. Logo, ergueu sua cabeça e segurou aquela mão estendida. 

“Está bem. Nós podemos vencer.”

A verdade disso tudo, é que nós não estamos num espaço criado pelo Ninkai, mas, sim, por Haruna, com a influência dele. Ela não acreditava na nossa vitória. Nesse espaço, estamos na divisão entre o subconsciente dela e de Haruo. 

Como forma de autodefesa, a mente de Haruna reagiu ao perigo ativando sua ID e criando um espaço onde ela poderia suportar aquele mal. Infelizmente, a influência que Haruo teve sobre ela foi muito alta, então se manifestou naquele lugar doentio. 

Assim sendo, ela tinha controle sobre o que se passava em sua mente. Isso queria dizer que, naquele lugar, as coisas tomariam o rumo que ela acreditasse que fosse possível. 

Mayck não sabia todos os detalhes. Ele só tinha uma vaga ideia depois de considerar os fatos. 

Ela acreditou em mim no momento que consegui acertá-lo. É hora de ir em frente. 

Eles se viraram para Isha, que finalmente conseguiu acertar um tiro à queima roupa na criatura. 

Ela ficou atônita, e logo viu o trio de pé, que foi ao socorro de Merlin. 

Então ele conseguiu. 

Um sorriso meigo, cheio de esperança apareceu em seu rosto. 

Mayck se aproximou dela. 

“Bom trabalho, Isha. Quer descansar?”

“Não brinque com uma coisa dessas. Não temos tempo pra isso”, falou. 

“Tem razão. Vamos acabar com isso. Que tal mostrarmos a nossa aluna como portadores lutam?”

“Uma boa ideia.”

Ambos se posicionaram em frente ao monstro. 

Dito isso, termos conseguido mudar o rumo da batalha, não anula o fato que o poder dele é real. Se as coisas saírem dos eixos, Haruna pode perder a esperança na nossa vitória. Aí é fim de jogo, pensou.

Essa era a última chance.

“Mas é óbvio que eu não vou perder.”

“Sim.”

A criatura urrou fortemente, fazendo o chão tremer. Àquele ponto, restava pouca coisa do que uma vez fora Haruo. Um monstro criado na mente de Haruna, assim que seu pai sempre lhe pareceu. 

Era a hora de vê-lo ser derrotado. 

Mayck sacou sua espada. Os receptores brilharam intensamente, assim como os receptores da arma de Isha. 

“Me dê cobertura, sim?”

“Pode ir sem medo.”

O garoto sorriu; Isha era realmente confiável. 

Então ele disparou como um raio contra o monstro, que não ficou parado, mas correu com todo o ódio que conseguiu reunir, amolando suas garras no caminho para destruir seus oponentes. 

Ambos se engajaram em uma sequência de golpes brutais um contra o outro. Os ataques da criatura eram irracionais, sem uma gota de técnica — como os ataques de um animal selvagem — isso que dificultava. 

Mas Mayck estava confiante. Embora não tivesse recuperado um terço de sua energia, o treinamento que tivera lhe deu alguma vantagem. 

É bom saber que eu não dependo totalmente das habilidades de ID ou elemento base. Dá pra vencer. 

Em um movimento de recuo para recuperar o fôlego, Isha atirou com balas cintilantes de energia pura para manter o monstro afastado. Os tiros atravessaram seu corpo, causando danos, mas ele só recuava por conta dos impactos. Afinal, sua irracionalidade era tão grande que ele desconhecia o que era dor. 

“É hora de testar isso. Eu venho treinando a um tempo, mas nunca tinha usado antes.”

Devido à sua baixa gama de habilidades, Isha não tinha opções de ataque, então ela só usava energia pura nos receptores. Até que decidiu mudar isso e começou a imbuir sua essência de elemento base nos receptores. 

Eles brilhavam fortemente. A próxima bala que saiu da arma e atingiu o monstro criou grandes cristais de gelo em seu corpo.

Isha ficou feliz com o sucesso e continuou a disparar. Logo, a criatura ficou cheia de cristais de gelo espalhados pelo corpo. 

Seu grito era o grito de um homem que levantava a voz com todas as suas forças. Mas não era um grito de dor; ele mal podia conter o rancor que estava acumulado em sua antiga existência. 

“Haruna!! Eu vou matar você!” Ele até mesmo conseguiu formar uma frase completa.

“Haruna-san, cuidado!”

Milhares de fios vermelhos se ergueram do chão como sentinelas, para capturar e estraçalhar a garota. Porém, foram cortados pela rápida lâmina de Mayck, que não hesitou em mudar sua trajetória. 

Ele não sabia como sairiam daquele lugar, mas imaginava que teriam uma resposta quando a ameaça fosse eliminada. 

Além disso, se é um espaço criado por Haruna, como ela consegue manter isso por tanto tempo? Eu já teria desmaiado. 

Tudo em sua hora. Ele se livrou dos pensamentos inúteis e atacou a criatura com êxito, cortando um de seus braços. 

Hora de acabar com isso. 

No mesmo lugar, ele girou e cortou fora o outro braço. Fez a mesma coisa com as duas pernas e a galhada. Sangue jorrou das partes desmembradas e a criatura caiu, se debatendo e fazendo barulho. 

Aquele estado, no entanto, não foi o suficiente para fazê-la parar. Os fios ainda estavam sob seu comando e caíram sobre Mayck como uma chuva de balas, perfurando todo o seu corpo. 

O garoto, porém, permaneceu inabalável. Os cortes em sua bochecha não o incomodavam. E, embora preocupadas, Isha, Saki e Haruna não pensavam em interferir. 

A criatura usou os fios para tentar se regenerar, mas seu plano foi frustrado por mais cortes de espada. 

“Acha mesmo que eu vou deixar você se recuperar na minha frente? Quanta audácia para um mero ladrão de corpos.”

Mayck pisou fortemente na cabeça da criatura. 

“Skreeee…!” Ela urrou. 

Estava quase acabado. Só restava uma coisa. Não dava para ter certeza, mas teria que cortar a cabeça para ver se aquela coisa morreria. 

Mayck finalmente ergueu sua lâmina. Um único movimento e todo aquele inferno teria fim, provavelmente. 

Mas algo inesperado aconteceu.

“Espera!” 

Foi Haruna quem gritou. 

“O que foi? Não vai tentar me impedir, né?”

“… Não é isso… Eu… eu quero fazer isso.”

“Haruna-san?” Saki ficou atônita. Assim como Isha, que olhava para a garota com um olhar surpreso. 

Haruna lançou um olhar firme para Mayck, que ficou em silêncio por um momento. Realmente, era um desenvolvimento inesperado.

Entendo. Então você quer colocar um fim nisso, hein…

“Você consegue fazer isso?”

“Sim. Eu quero. Me deixe por um fim no homem que fez minha família sofrer.”

“Okay. Vá em frente. Não precisa ter pressa. Ele se afastou ao cravar sua espada no chão. 

“Eu vou matar você… vadia… morra… Suzune… vou mandá-las pro inferno!” A criatura continuou a falar. 

Haruna olhou firmemente para aquela coisa medonha. Ela não podia negar que ainda sentia medo, mas a pulsação em seu peito a obrigava a suportar. 

Ela carregou um fardo por muitos anos, seria melhor para todos se ela colocasse um fim nessa história. 

Ela tentou pegar a espada, mas suas mãos hesitaram. 

É claro que isso aconteceria. Eu estou tentando tirar a vida de alguém, afinal. 

“Haruna…! Você se esqueceu de tudo o que eu fiz pra você?! No fim, vocês me retribuíram com veneno. Vocês mereciam sofrer para entender o que eu estava passando! Todos, todos não passavam de lixos nos meus pés, mas começaram a agir com superioridade!”

Aquele resquício de Haruo encheu a mente do monstro, que só estava jogando palavras ao ar. 

“Vocês são duas vagabundas que só precisavam me obedecer! Vão morrer como duas cachorras imundas por não terem sido gratas a mim!”

Ele continuou a gritar com todo o ar de seus pulmões. Era uma criatura irracional. Palavras eram só perda de tempo, mas Haruna tinha que dizer. 

“Eu só queria falar que eu sempre te odiei. Nunca te vi como um pai e me recuso a pensar em você dessa forma. Eu quero te esquecer pra sempre. Quero sua existência podre longe da minha família. Minha mãe está muito bem agora que está longe de você e vamos ficar ainda melhores quando você desaparecer.”

Sua mão agarrou o cabo da espada. Haruna ergueu a lâmina acima de sua cabeça. 

“O que você pensa que vai fazer, sua puta?! Você se esqueceu que eu sou seu pai?! Eu sou o dono da sua vida! Largue essa merda e pague com a sua vida medíocre por tudo o que você me fez passar!”

Haruna respirou fundo.

“Está entendendo, Vadia—”

Swish!

A lâmina cortou o ar, traçando um meio círculo que passava pela cabeça de Haruo. O sangue começou a se misturar com o chão de carne e ossos. 

Acabou… mãe… nós vamos ficar bem agora. 

Uma brisa soprou naquele lugar, que foi iluminado por uma luz misteriosa, enquanto se desfazia como poeira. 

Deixando para trás aquele monstro que ela criou em sua cabeça, Haruna também abandonou seus medos antigos em relação ao homem que a fez sofrer, que a traumatizou no fundo do coração. 

Era um peso sendo tirado de suas costas. 

Acho que… agora eu posso ir em frente sem medo, né?

Ela tinha receio da nova etapa que sua vida tinha chegado. Mesmo que, na superfície, ela parecesse bem com as mudanças que ocorreram nos últimos dias, só ela sabia como seu coração doía só de pensar que sua mãe poderia se machucar novamente.

Porém, naquele momento, em que aquele lugar infernal se tornava um lindo campo estrelado, ela sentia que poderia ser preenchida de felicidade. Com o coração leve, ela poderia sorrir para a família que sua mãe construiu junto à Takashi. 

Mayck a observou de longe.

Sim, ele pensou, esse é um bom desenvolvimento. Acredito que você vai poder criar o seu próprio ‘eu’ a partir de agora. O que fazer a seguir só depende de você. 

O garoto virou para o trio atrás dele. 

Isha e Saki estavam ajudando Merlin a se levantar. Os fios que o enrolavam como um casulo haviam sumido sem deixar resquícios, ele só estava zerado por conta do uso indevido da ID, mas ele ficaria bem. 

“Vamos, tente se manter de pé.”

“Ugh… Eu sinto que vou vomitar…”

“Se fizer isso em cima de mim, eu te enterro aqui, neste quintal.”

Realmente, aquele trio estava bem próximo, Mayck não pôde ignorar isso. Ele sorriu levemente, mas por pouco tempo. 

Ao pensar na palavra quintal, olhou ao redor. Sua casa estava logo atrás dele. 

“Ah… estamos de volta—”

“Ah!!” Haruna gritou e correu, escondendo-se atrás dele. Se perguntando o que houve, notou o corpo de Haruo no gramado perto da saída. Estava morto. Nem precisava verificar. 

Ao longe, dava para ouvir os sons da sirene de uma viatura policial. 

Era hora de sair dali. Numa rápida mudança de atitude. Merlin e as outras se despediram e sumiram na escuridão da madrugada. 

“O-o que vamos fazer? A polícia está vindo, não é?” 

Haruna olhou para o corpo, temendo o que viria a seguir. 

Mayck a confortou, dizendo que tinha um plano. 

“Convenientemente, quando você matou o monstro, ele acabou levando a mente de Haruo junto. O que quer dizer que não há feridas externas. Vou mudar isso.”

“Hã-hã?! O que quer dizer com isso?!”

Sem responder, ele correu rapidamente até o depósito que ficava atrás de sua casa e pegou uma pá. Sem hesitar, atacou a cabeça de Haruo com força o suficiente para dizer que um garoto de 15 anos fez aquilo. 

A garota ficou sem reação. Surpresa, perplexa? Um misto de emoções tomou conta dela e ela simplesmente não sabia o que fazer. Começou a pensar que seu irmão fosse um psicopata completo. 

“Pronto.” Mayck esfregou a testa como se tivesse trabalhado até suar. “Agora é só esperar a polícia aparecer. Huh? O que há com essa cara?”

“Você… você é maluco…”

Picture of Olá, eu sou RxtDarkn!

Olá, eu sou RxtDarkn!

Olha só… Pelo que eu pude ver, esse capítulo está saindo bem cedo. Sinto que estou evoluindo : )

Dito isso, eu comecei a usar Spotify (a versão free, claro) e encontrei umas playlists de músicas épicas que aumentaram minha motivação para escrever. Recomendo muito esse tipo de música, até por que elas dão um buff na criatividade.

Bom, espero que tenham gostado do capítulo e até o próximo. 🫡

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