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Em meio à vasta quantidade de líquido preto pegajoso e asqueroso que percorre toda a superfície do chão, Rei, abaixa sua cabeça para esconder a recorrente sensação de desprazer e disforia. 

Franze a testa, dirigindo sua visão para a palma de suas mãos trêmulas, e, inconscientemente algumas palavras saem de sua boca antes que pudesse detê-las.

— Nojento — murmura. Extremamente cansado, depois de sentir toda aquela adrenalina. Verificando o corpo exposto e dilacerado à sua frente.

Neste momento de instabilidade, lentamente o som de algo metálico se tornar evidente. A presença instaurada é sentida pelo garoto, que por sua vez, temendo ser outra criatura, vira-se bruscamente, e, se depara com a figura de Kazuki adiante. 

No instante em que estava a ocorrer o confronto de Rei, o homem fera por meio de sua perseverança, conseguiu eliminar o restante dos monstros que o caçoavam.  

— Vocês estão bem? 

Em uma de suas mãos, o homem está tampando o ferimento localizado em seu peito. Suas vestes estão parcialmente rasgadas… Mas, em maioria, ainda inteiras. O sangue de seu corte escorre sobre todo o caminho percorrido. 

Em sua mão esquerda está a espada de ferro, encharcada do mesmo líquido preto expelido pelos demogorges. Arma essa que foi usada para a execução dos demônios, sendo arrastada por todo o caminho, enquanto seu som ecoava por toda a região. 

Ao notar que Kazuki está em um péssimo estado, tanto físico quanto emocional, os olhos de Rei chamejam momentaneamente em surpresa. Aproximando-se subitamente dele, de modo a segurar a espada que está em sua mão, apoiando os seus braços em seus ombros. Com o intuito de ajudar. 

— Você está bem? — questiona o garoto. 

— Me desculpe.

— Se eu… Se eu tivesse prestado mais atenção ao arredor. Isso… Não teria acontecido — declara, enquanto faz uma expressão de insatisfação. Cerrando os dentes, relutante, observando as crianças no chão.  

Antes de respondê-lo, Rei pensa sobre como deve dizer algo naquela situação deprimente. Kazuki deve estar se lamentando e culpando pelo ocorrido, é o pensamento que martela na cabeça do garoto.  

— Se liga, Kazuki!

O homem fica surpreso com aquele comando repentino, mas não deixa visível tal sentimento. 

— Como você saberia que tinha a desgraça de um demogorge gigante atrás dos escombros? — declara, cortando os pensamentos de contrição e remorso momentâneos sentidos por Kazuki.  

— Você tentou os salvar, não se culpe por isso… — acrescentou, tentando o animar. 

Quando recebe a indagação em forma de uma suave crítica seguida de um reconforto, Kazuki faz uma expressão desnorteada em seu rosto, mas responde confiantemente: — Sim. Você está certo. 

Os dois ficam em silêncio por um tempo. Um silêncio relativo, considerando a voracidade do incêndio, as explosões violentas de estruturas caindo, e os gritos ouvidos ao longe. 

— Agora não é hora disso. Precisamos correr.

— Pode ter demogorges nas proximidades, vamos fugir daqui e depois conversamos — afirma o garoto, soltando um suspiro de inquietação. 

(…) 


A conversa é encerrada com os dois correndo, Kazuki apoiando-se sobre Rei, acompanhados de Mia e Takayo. Em meio ao caos, fumaça, chamas residuais, pessoas gritando, corpos estilhaçados aos montes nas ruas e estradas que seguem até o pórtico da vila. Em um trajeto pavimentado em ruínas. 

Na entrada dos portões do vilarejo, indivíduos vestindo armaduras de ferro, e outros com armaduras esfarrapadas de couro, ajudam os aldeões e vítimas próximas… Provavelmente, esses indivíduos são os mercenários. A única força local potente. 

Apesar dos auxílios incessantes, é visível que estão extremamente exaustos, suas expressões de medo e angústia estão estampadas em seus rostos. E, embora estejam desesperados, tentam ao máximo amparar as pessoas. 

Mesmo com parte das estruturas de pedra desmoronando, e alguns demogorges relativamente próximos da região, os mercenários socorrem os cidadãos machucados e incapazes de mover-se, os levando até a saída do vilarejo. 

De fato, uma atitude heroica. Salvar o máximo de aldeões possíveis em meio ao infortúnio e tribulação.

(…) 


Assim que conseguem atravessar os enormes portões da vila e saírem, Rei percebe que a situação exterior aparenta estar péssima. Porém, estável em comparação a antes.  

Aglomerados de pessoas e multidões estão alocados nas proximidades, seguindo a estrada que liga a vila até o caminho da capital. 

Alguns ignoram a estrada pavimentada, dispersando-se na floresta de Heir, na região. Enquanto outros seguem a estrada, locomovendo-se através de carroças de madeira, movidas por cavalos.   

A visão à frente do garoto é inflexível e inóspita: uma estrada repleta de pessoas feridas com um semblante de tristeza e desamparo. 

Caminham incessantemente, tropeçando em seus próprios pés, por conta dos ferimentos de queimação ou cortes profundos. Próximo delas, as carroças superlotadas. 

Seu coração está batendo aceleradamente. Mia e Takayo permanecem com os olhos fechados, assim como antes. 

E, por outro lado, está Kazuki, que, apesar de mostrar-se confiante, está repleto de pensamentos imersos em angústia e culpa. Apoiando seu braço sobre os ombros de Rei. 

“Guerra? Está mais para um massacre em massa.”

“Isso é a porra de uma guerra unilateral.” 

Pensa o garoto, alarmado. 

Não conseguindo se conter, solta algumas palavras de aversão e desprezo. 

— Fala sério… isso realmente é uma guerra? Em que só um lado tem poder e ataca os que não tem nada? 

— Qual o propósito de atacar pessoas que mal conseguem se defender? 

— Sério, cara… — O garoto dirige seu olhar para baixo, decepcionado. 

— Tudo isso por poder ou territórios? Mas que merda — declara, transparecendo em seu tom um misto de indignação e revolta.  

Kazuki, que ouve toda a indignação, somente assente com a cabeça, concordando. 

(…)

Rei, dando um passo para o lado, percebe inclinando sua cabeça para a lateral, uma carroça com cobertura de tecido, em meio a floresta, juntamente com dois cavalos presos por cabrestos (corda ou couro, que serve para prender o cavalo e controlar os seus passos) 

Próximo dela, um senhor posiciona caixas de madeiras e mercadorias sobre a sua base lateral. 

Ele veste algumas roupas de tecido que sobrepõem as de linho marrom. Pelas vestimentas, facilmente deduz ser um comerciante. 

Assim que avista, Rei pensa em um plano improvisado. 

Pede a Kazuki para esperar um momento, e logo, começa a correr, se aproximando do senhor, apressado.

Continua… 

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