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O homem-fera que estava deitado e com as mãos agarradas no lençol da cama, franziu as sobrancelhas cada vez mais após notar a presença do estudante na porta.
— Por favor… se afaste.
Ele exclamou com o tom de voz trêmulo, tentando ao máximo desviar seu olhar possessivo, dirigindo-os de repente para a parte baixa do próprio corpo, como uma tentativa que iria provavelmente falhar.
Kazuki estava com o rosto suado enquanto tentava suplicar em palavras, deliberadamente, para que Rei se afastasse. Em sua visão, aquela cena dele mesmo naquela ocasião era realmente deplorável.
Pressionava e agarrava as cobertas com força… Provavelmente com o intuito de dissolver parte de sua dor com a força que exercia sobre o tecido.
Ele estava passando por um processo de cio. Onde os seus feromônios de Alfa eram letais, sendo injetados gradativamente na atmosfera e afetando todos os outros seres humanos presentes naquele espaço.
Mas por algum motivo, Rei conseguiu aguentar toda aquela exposição de feromônios. Embora sua cabeça estivesse latejando, e seus sentimentos estivessem embaralhados.
Sem entender a situação, o estudante ficou surpreso após ver seu companheiro naquele estado. Ele ponderou por alguns segundos o que deveria fazer, então logo surgiu-lhe um pensamento para clarear sua mente.
“Ele está no cio?”
Ele colocou a mão no rosto, inclinando a cabeça para o lado; com base nas expressões de nervosismo de Kazuki, considerou que aquela ocasião não era uma das melhores e pensou em sair do cômodo.
Em contrário ao pensamento de hesitação, momentos depois ele apenas abriu um grande sorriso no rosto e se aproximou de Kazuki.
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Havia duas camas de solteiro juntas uma da outra, armários e móveis de madeira antigos que se destacavam no ambiente… O cômodo que Tyrant disponibilizou, apesar de extenso, era reconfortante.
Apesar da imensa quantidade de feromônios expelidas pelo corpo do homem-fera, ainda assim, no meio delas ainda era possível sentir a fragrância incomum de ervas.
Aquele cômodo deveria ser o lugar em que a vidente guardava as ervas e poções, visto que a prateleira dos armários próximos às paredes estavam lotados de frascos e potes.
Embora não houvesse luz no quarto, a forte iluminação das luas pairando no céu cobria parcialmente os arredores… criando uma área clara e visivelmente iluminada.
As enormes janelas abertas que estavam próximas da cama faziam eventualmente as brisas de vento adentrarem o quarto, de maneira a refrescar e confortar o ambiente. Ao lado de fora da janela, a presença de uma cerejeira rosa nas proximidades parecia resultar em um cenário digno, com pétalas caindo sobre o piso do quarto.
Os cobertores e travesseiros em que Kazuki exercia sua pressão de força eram revestidos de algodão e forrados a tecido.
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— Kazuki!
O estudante exclamou com o tom de voz debilitado, à medida que sua expressão mudava de hesitação para preocupação. Ele tomou fôlego o suficiente e caminhou apressadamente, até chegar perto de Kazuki.
Mesmo que os feromônios fossem fortes o bastante para imobilizar qualquer pessoa, Rei permaneceu confiante e andou sem medos, aproximando-se da cama que o homem-fera estava deitado.
— V-Você está bem? — disse ao colocar as mãos em seu ombro.
Kazuki, que estava de olhos fechados, concentrando-se em sua própria respiração, e tentando controlar ao máximo seus feromônios, sentiu o toque suave das mãos do estudante em seus ombros e a sua voz que transmitia preocupação.
O homem-fera saiu de sua postura original. Ele abriu os olhos rapidamente, e viu a sua frente a imagem do Rei. A luz do luar destacava o seu rosto.
Os seus cabelos ainda molhados tremulavam aos fortes ventos, e o brilho da lua parecia destacar seus olhos de coloração âmbares que brilhavam incessantemente.
O olhar fixo de um profundo dourado para um azul oceano.
— Rei… Mas o quê…
Kazuki tentou dizer algo, mas foi interrompido assim que sentiu uma intensa dor ao levantar a cabeça.
— O que você está fazendo aqui? Agr! Eu já te disse, por favor… saia daqui. — Ele finalmente declarou, pausadamente e ofegante, dirigindo seu olhar para o jovem.
— Você está no Cio? — Rei perguntou, já sabendo a resposta.
Após receber a indagação, Kazuki congelou. E, após notar que era encarado fixamente, ele respondeu com sinceridade.
— Sim… Eu estou…
— … O meu Cio, por algum… motivo, está irregular. Isto não deveria acontecer nessa época. — O homem-fera disse com o corpo tremendo, ainda a exercer força com as mãos sob os lençóis.
No final, ele complementou hesitantemente depois de levantar a cabeça:
— Então, por favor, se afaste daqui. Não quero te machucar.
Percebendo a situação em que estava, Rei tirou vantagem daquela oportunidade para perguntar com uma expressão um tanto peculiar; — a sua expressão parecia expressar algo como “rapaz inocente de olhinhos chorosos”.
— Não tem nenhuma forma… De, sabe, te ajudar com isso?
— Eu já disse para sair, você não pode me ajudar — reafirmou novamente Kazuki, franzindo a testa. — Você mal sabe como usar seus feromônios, então, como você pretende me…
Ele até tentou se explicar, mas foi interrompido subitamente pelo estudante. O corpo dele foi rapidamente levado por ele. Seus lábios quentes e grossos foram cobertos complementamente aos seus.
Rei passou os braços em volta da sua cintura. Encostando seus peitos sem uma pausa. O homem-fera pode sentir seu coração batendo cada vez mais forte.
O estudante mordeu os seus lábios inferiores levemente. Seus lábios se separaram involuntariamente e a sua língua quente penetrou entre eles.
Enquanto suas salivas se misturavam, o som do beijo ecoou pelo tranquilo cômodo. Foi um beijo excessivamente obsceno. A cabeça de Kazuki estava tonta. Ele não conseguia se libertar dos braços que o seguravam com força. Assim que sua língua tentou escapar, a língua de Rei rapidamente o seguiu, o prendendo.
— O que você está fazendo? — perguntou perplexo Kazuki, afastando o corpo do rapaz com suas mãos. Seu rosto não conseguia esconder a animação.
No entanto, o estudante não respondeu.
— Você tem ideia de como é um Alfa no Cio?
— Não.
Respondeu brevemente, mas deu uma pequena risada.
(…)