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O som alto da voz de Matsuno ecoou por todos os cantos daquele salão — salão este que na realidade não era um salão, mas sim uma tenda ao ar livre.
A expressão de surpresa dos soldados e generais que estavam por perto ficou visível em seus rostos. Eles não conseguiam acreditar que Matsuno, que sempre se manteve calmo em todos os tipos de situações possíveis, pudesse estar gritando naquele momento.
— Se você não tem nada a acrescentar, apenas saia e volte para o reino.
Matsuno disse em seguida, diminuindo o tom de sua voz após perceber como toda a atenção estava voltada para si.
— O que disse? Acho que estou ouvindo errado… você me disse para voltar? Está doido?
O outro soldado respondeu, pois não estava nenhum pouco satisfeito com o modo que foi tratado.
— Veja bem, você é vice-capitão, mas ainda assim, age como uma criança de 5 anos. Seu plano? É uma droga sem iguais. Você não tem planejamento. Não pensa nas consequências. Irresponsável e insubordinado. Desapareça da minha frente, antes que eu perca a minha paciência.
Matsuno simplesmente disse, podia-se ver nesse instante uma veia saltando para fora de seu rosto. A sua aura era incrivelmente ameaçadora.
Por conta desta declaração, o soldado que tinha cabelos roxos claros — que mais parecia um cacho de uva — afastou-se dos demais, encolhendo-se na própria insignificância.
No instante em que saiu daquele local, ele foi acompanhado pelos olhares de desaprovação dos outros soldados e tenentes.
Enquanto observava toda aquela cena se desenrolar, Rei ficou surpreso em como Matsuno às vezes conseguia ser tão rígido e coerente em sua tomada de decisões.
— Legal, não acha? Ele parece ser alguém com muita confiança.
Rina disse com um sorrisinho ladino, seu olhar voltado para a figura de Rei.
Em seguida, ela acrescentou com certa arrogância:
— Ele gosta muito de você. Reparei que sempre está te olhando. Não um simples olhar, se é que você me entende…
O estudante ficou vermelho nesse momento, ele interrompeu o comentário da garota para dizer rapidamente:
— Ei, Rina! O que está falando. Aquele cara só está sendo atencioso com a gente, porque ajudei ele uma vez no passado…
A garota deu uma risadinha baixa, seu semblante nesse momento parecia dizer: “Oh, sério? Certo, certo. Se você diz, quem sou eu para discordar…”
— O que vocês estão conversando?
Kazuki entrou na conversa naquela mesma hora, após ouvir partes soltas do que os dois estavam conversando.
Após ver a atenção do homem-fera, a menina percebeu na mesma hora o que estava rolando.
Ela olhou de relance para Matsuno e depois olhou para Kazuki, cobriu a boca com a sua mão e compartilhou suas ideias.
— Nada demais. Nadinha. Rei só estava comentando de algumas pessoas que ele gosta… você sabe, não é mesmo? Conversas de relacionamento.
— Espera, Rina… O quê?
Rei disse surpreso, pois da maneira como a menina disse, dava a impressão de que ele estava falando antes de seus reais sentimentos.
— Ah, hahaha. Eu gostaria de ouvi-lo então, você não se importa. Não é?
Kazuki disse após levantar as sobrancelhas, ele não parecia nenhum pouco feliz com aquela afirmação de Rina.
Nesse momento, Kazuki aproximou-se de ambos. Ele sentou perto de onde o estudante estava sentando e aquecia as mãos — aproximou-se o suficiente ao ponto de sua cintura encostar-se as de Rei.
Nesse instante, enquanto via aquela cena de longe do outro lado da fogueira, Tyrant notou um sorrisinho sarcástico no rosto de Rina. A vidente deu um suspiro, pois sabia muito bem como era o comportamento da sua amiga de longa data.
Tyrant foi obrigada a ir em direção à menina, puxando as suas orelhas e a levando até o local em que estava.
— A-Ai! Tyrant. Tyrant! o que está fazendo. Para! Tá doendo, não tá vendo!
— Ninguém vai fazer nada mesmo não? Estou sendo agredida, não veem? — Rina acrescentou, mas percebeu que ninguém estava olhando para ela.
A única coisa que os outros podiam ver era; duas meninas brincando. Até mesmo os poucos soldados que estavam na mesa com Matsuno pensaram após verem aquela cena: “Que meninas fofas.”
— Venha comigo. Pare de incomodar os outros, sua intrometida, olhe para os céus. Eles não se orgulham de seu comportamento.
— Eu quero que os céus se fodam.
Ela respondeu fazendo biquinho, não conseguia esconder a cara de choro.
— Como? Ouvi errado?
Os olhos de Tyrant brilharam com fogo, parecia o próprio demônio encarnado.
— Quero dizer, como sua aprendiz… os céus são incríveis! Amo eles.
Rina teve que se defender rapidamente, temendo por sua miserável vida.
— Ah, sim. Muito bem. Que a deusa das constelações te ouça.
A vidente respondeu, atacando Rina para perto de Takayo e Mia, que começaram a rir daquela cena.
Enquanto esse desastre acontecia poucos metros de distância, Kazuki olhou para o estudante e disse:
— Notei que você estava meio perdido em pensamentos o dia todo. Mal conseguia manter contato visual, você está pensando sobre o que eu comentei da última vez?
Ele perguntou sério, suas orelhas estavam abaixadas. Com as mãos direcionadas para a fogueira adiante, assim como o estudante estava fazendo naquela hora.
— Eu não lembro o que você disse. Ah, foi mal. Sim, sim. Estava tão distraído que esqueci disso, cara. É meio complicado, você acha que tem alguma chance?
O estudante indagou, o timbre de sua voz transparecia um certo nível de preocupação.
Após escutá-lo, o homem-fera olhou para as chamas da fogueira. Elas queimavam intensamente enquanto devoravam as lenhas lentamente.
A única coisa que ele pôde ouvir durante esses minutos era o som inconsistente da madeira sendo devorada.
— Rei, eu não tenho certeza. Mas não posso ficar parado vendo as coisas piorarem, sabe? O reino está ficando cada vez pior. No passado, pensei que me esconder seria a resposta, mas vejo que as coisas não são assim. Elas não devem permanecer assim.
Ainda que dissesse isto, havia hesitação em sua declaração. Seus olhos não estavam repletos de confiança, visto o nível de perigo que iria enfrentar futuramente.
