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Capítulo 29 – Vigia


 

Ainda que Takayo e Mia estivessem aflitos, sem conseguir processar todos os eventos catastróficos subsequentes que ocorreram ao longo do dia, eles queriam acreditar que as coisas iriam melhorar futuramente. 

O que os mantém de pé é saber que o homem-fera sempre esteve por perto, mesmo nos piores momentos de suas vidas. 

No instante em que as crianças entram na barraca ao lado, Kazuki caminha até chegar próximo de Rei, que está sentado ao lado, vislumbrando o céu estrelado.

— As crianças já estão na barraca, eu… vou ficar de guarda enquanto isso — avisa o homem com o olhar trêmulo, porém com a postura ainda firme. 

Ah, a voz dele é triste.

Todos os eventos anteriores ainda o afetam. Todas as vezes que ele lembra que tanto Mia quanto Takayo, mentalmente, passam constantemente por uma experiência pior ainda, como um trauma, isso só causa uma ressalta em seus pensamentos de lástima. 

A única coisa que consegue pensar é que, no momento em que houver um resquício de estabilidade, deve ajudá-los a se recompor, não importando as adversidades. 

Pouco segundos depois que falou daquela forma, Rei sentiu-se pressionado, como se a declaração de Kazuki o fizesse esquecer que anteriormente estava resoluto e com raiva.

— Está tudo bem, não precisa se preocupar com as crianças, elas são fortes. Tenho certeza que irão conseguir superar — diz Rei, percebendo que o homem está perdido em pensares.

Sua cabeça lateja. Quem dera sua mente não tivesse tão enevoada. Quem dera se todos os conflitos e consequências da guerra não existissem.

E, tentando desvencilhar-se desses pensamentos, em resposta ao comentário de Rei, Kazuki pergunta como as crianças iriam conseguir superar aquela situação.

— Mas… como? Eu quase não consigo conversar com eles, principalmente com Takayo! Ele está visivelmente abalado, e é compreensível estar, ainda mais pelo que teve que passar. 

— Ele quase não consegue dizer nada, não consegue se expressar, seus olhos estão sem vida, o que eu… o que eu faço?

Antes de respondê-lo, o garoto respira um pouco e pensa sobre isso durante um tempo, pois sabe muito bem que, todo o fardo emocional de cuidar de duas crianças parece o afetar. 

Com uma expressão séria, ele declara de forma imparcial: — Cara, você não deveria forçar uma conversa agora. Tudo que eles precisam é de tempo para que possam assimilar a realidade. Querendo ou não, tudo rolou ainda hoje… Ou seja, é algo recente.

Após o conselho do garoto, o local é inundado por um silêncio que dura por alguns momentos. Não que a atmosfera esteja pesada, pelo contrário, é mais como um momento de reflexão. 

Até que Rei que olha para cima em uma onda de dúvida e inquietação, em seguida, prossegue com o seu ponto de vista: — Acredito que você deveria esperar, dê tempo ao tempo. Não digo para deixá-los sozinhos, mas digo para não forçar uma conversa, eles provavelmente não estão prontos ainda. 

Por fim, ele diz, tentando consolá-lo: — Bem, eu na situação deles não estaria ~ hehe. 

— Aqui. Fique à vontade. — Rei então aponta para o outro lado da barraca, sinalizando para que Kazuki também pudesse sentar próximo. 

Kazuki, ao ouvir suas palavras, senta no chão, apoia suas costas na barraca e inclina sua cabeça para a mesma direção do garoto.

Os dois se sentam lado a lado, para observar todo o céu acima enquanto a brisa da noite bate em seus rostos. 

É quase romântico… para quem acha esse tipo de coisa romântica. Que não é exatamente o caso dos dois, que estão com as cabeças enevoadas. 

— Por que você está fazendo isso por mim? Você deve me achar patético nessa situação, ainda mais por não saber como ajudá-los corretamente — declara Kazuki, com as orelhas abaixadas e o olhar para cima. 

— Não, você só está se comportando de forma protetiva e cuidadosa. É diferente. 

— …

Quando observa a relutância que ele parece ter em dizer algo, Rei quebra o silêncio rapidamente. 

— Cara, eu não acho que sou a melhor pessoa para dar conselhos ou algo do gênero, mas você também não parece legal.

— Você sempre se preocupa com todos, mas e quanto a você? Alguma vez você já foi a sua própria prioridade? Só estou dizendo que deveria se cuidar antes de mais nada — diz por fim, com certa cautela em suas palavras. Sem que aquilo o ofendesse.

Kazuki, após ouvi-lo, momentos depois se vira para Rei e diz com um pequeno sorriso: — Você tem razão… Eu sempre fui assim, principalmente com os meus irmãos.

Quando percebe que citou a sua família, ele troca rapidamente o rumo da conversa. Não que o assunto o incomodasse, mas dizer sobre o passado apenas o faria lembrar de eventos trágicos. 

— Para ser sincero, tudo isso ainda parece mais um sonho do que a própria realidade — comenta Kazuki. — Nunca pensei que as cidades fossem destruídas tão rapidamente, chega a ser meio estranho. 

— Sim… até mesmo eu não consigo acreditar nisso — concorda Rei. — Cara, ainda consigo me lembrar de todos os problemas que tivemos que passar antes para chegarmos aqui… mas que doideira. 

Assim que termina de falar, o garoto se levanta subitamente de onde está sentado.

— Bem, não sei você, mas eu tô indo para a barraca me trocar. Estou cansadão, quem me dera tivesse água quente para tomar um banho agora, igual na sua casa… hehe.

Ele se vira, abre a parte da frente da barraca e adentra o seu interior. 

Antes que Kazuki pudesse entrar também, Rei o impede subitamente. 

— Opa, opa. Eu preciso trocar de roupa primeiro. Tem como me esperar do lado de fora? Vai ser rapido.

Quando escuta o garoto, o homem apenas assente com a cabeça e retorna para a sua posição anterior.


 

No interior da barraca, ao colocar as mãos em sua calça, Rei percebe que as suas vestimentas estão parcialmente sujas. Ainda mais a camisa de seda, que teve parte do suor devidamente absorvido durante o percurso do dia. 

Ele cogita a hipótese de dormir daquela forma, mas acaba mudando de ideia após pensar sobre isso. 

Por fim, ainda cansado de toda a situação, usa mais uma vez sua habilidade de criação para materializar um kimono azul masculino, como um pijama, parecido com o que usava na terra. 

Continua… 

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