Devido ao fato de não conseguirem escapar daquele cômodo sombrio e empoeirado, que mais se assemelha a uma prisão subterrânea, a maioria das mulheres sequer tentam escapar ou resistir.
E, a cada minuto que passa, mais mulheres são mantidas presas atrás das enormes grades que dividem a sala em várias partes. O espaço tornava-se cada vez menor à medida que o tempo passava.
Algumas tiveram dificuldades em respirar e outras apenas deitaram no chão para descansar — pensando que aquilo fosse um sonho e que logo acordariam deste tipo de pesadelo.
— Irmã, você está bem?!
Indaga uma mulher com as roupas rasgadas e desgastadas, para a moça ao seu lado, que não consegue parar de chorar por um instante.
— A minha cunhada. — Ela tenta responder, sem conseguir conter os soluços. — Eles a mataram agora pouco — explica em poucas palavras, logo em seguida começa a chorar.
— Ah, pobrezinha. Eles fizeram isso com várias pessoas, meu bem. Meus pêsames por sua amiga, ela deve ter sido uma ótima pessoa.
Apesar da resposta calorosa, o tom da mulher é carregada com tamanha indiferença. Não que ela não se importasse, mas após passar alguns dias aprisionada naquele local, relatos trágicos como aquele chegavam a ser normais.
— Ela foi. — Ela diz com a voz aperta. — Se não fosse por ela, eu não estaria viva agora.
A mulher com roupas rasgadas não responde, decidindo apenas permanecer em silêncio — “possivelmente, a melhor decisão agora é deixá-la sozinha, ela realmente precisa de um tempo sozinha”, pensa consigo mesma.
Nesse momento, ela começa a recordar as suas últimas memórias:
Antes de ser capturada, uma única palavra parecia ecoar persistentemente em sua mente:
Fuja.
Ela tentou correr com todas as suas forças, deixando marcas sangrentas dos pés feridos no chão. Atravessou parte do vilarejo e escondeu-se em arbustos densos e espinhosos. Espinhos esses que rasgaram suas roupas e machucaram a sua pele.
Sua respiração estava ofegante, ela precisava desesperadamente descansar, mas seus pulmões queimavam e uma voz interior a impedia de desistir.
Apesar do seu esforço em não ser capturada, no final, o que ela mais temia aconteceu: Ao tropeçar numa raiz, ela acabou caindo e deparando-se com dois fiéis, que haviam-na encontrado nos limites do vilarejo e a prenderam.
Nesse momento, a mulher com roupas rasgadas, porém com olhos inteiramente azuis e um cabelo majestosamente loiro, desvia seu olhar para o lado.
A sua única intenção é parar de recordar o passado, mas ela acaba notando a presença de uma senhora sentada não muito longe de onde ela está.
— Como você pode ficar tão calma nessa situação, Tyrant?
Ela pergunta com certa irritação, após perceber que a vidente não demonstra nenhum tipo de expressão ou sentimento visíveis em seu rosto — Na realidade, na visão da mulher, parece mais que a vidente está meditando.
Em resposta, Tyrant comenta: — Pelos cosmos, Rina! Você acha que permanecer nervosa ou pensar desnecessariamente vai nos ajudar?
— Por que nós não confiamos no universo? Se pensarmos positivamente e enviarmos o máximo de nossa energia para o celeste, podemos encontrar a salvação.
Com aquele tipo de resposta absurda, a mulher com roupas desgastadas, Rina, apenas abre um sorriso irônico e uma expressão torta com certa incredulidade forma-se em seu rosto.
— Ah, não pode ser. Isso é… impressionante. Como você consegue dizer essas coisas até mesmo nessa situação, Tyrant? Acho que você não está entendendo bem em que ponto chegamos.
— Olha só, veja bem. Você foi presa, PRESA! Você assim como eu e todas aqui vamos morrer. O que você acha que o universo vai fazer? Enviar uma estrela? Ou enviar um prometido para cá? Ah, me poupe.
A vidente apenas olha para a jovem sem mudar seu rosto repleto de calma, dirigindo seu olhar para a mesma.
— Tenha um pouco mais de fé, Rina. Eu sei que tudo está indo de acordo com a vontade universal! Se não nos apoiarmos em nossas crenças e ideais neste momento trágico, o que poderemos fazer?
— Infelizmente, desastres que não consegui prever sobrecairam sobre nós. E, para ser honesta, me sinto patética e sem forças com tudo o que está acontecendo. Era isso que você queria que eu dissesse?
Ela então prossegue: — Pois bem, a verdade é que… estou desesperada. Se não fosse pela barreira sagrada anti-magia que os fanáticos colocaram nesse lugar, nós poderíamos fugir facilmente…
Tyrant então solta um suspiro profundo, como se tivesse aceitado o seu destino. Apesar de não querer mostrar a sua insegurança na frente de Rina, ela acabou falando tudo o que pensava e como escondeu seu medo atrás de sua religião.
— Talvez eu tenha vivido por muito tempo. O meu tempo de vida deve acabar, assim como todos os seres vivos… Só não queria morrer assim.
Quando termina com a declaração, uma enorme dor é sentida por Tyrant naquele exato momento. Forte o suficiente para colocar as mãos na cabeça e incliná-la levemente para baixo.
— Ahhhhrr!!
Assustada com a súbita mudança da senhora, os olhares de todos os indivíduos da sala são voltados para Tyrant, e até mesmo Rina aproxima-se rapidamente.
— Tyrant? O que foi? O que está acontecendo?
— O universo… O universo falou comigo, Rina.
— Ah, é? O universo ou a sua habilidade, meu amor?
— Cala a boca, Rina. Agora me ouça, alguém irá nos salvar, o universo me avisou. Ele disse que vamos ser salvas, temos salvação.
— Sério? Bom, se você estiver mesmo certa, isso não vai fazer diferença. Porém, vou depositar o meu pouco de fé, quase nada, em você então — responde ironicamente, ao juntar as mãos e fazer um gesto de oração.
Escutar o comentário da jovem não deixa a vidente nenhum pouco feliz, e ela se levanta rapidamente de onde está sentada.
— Pelos céus, Rina! Quanta falta de fé, minha irmã! Só foi eu ter esses tipos de pensamentos duvidosos induzidos por você, que o universo através dessa revelação, me mostrou o meu desvio de fé.
— Oh, universo! Por favor, me perdoe, nunca deveria ter duvidado de vossa excelência, caso vá punir alguém, puna o ser cheio de malícias que está ao meu lado!!!
— Hein? Eu? Deixa de piadas, Tyrant — responde a mulher, inquieta com aquele tipo de comentário.
Em seguida, acrescenta: — Me poupe do seu fanatismo. Se sua fé realmente nos tirar daqui, quero seguir esse caminho.
— Viva as constelações divinas e que a benção do universo sobrecaia sobre você, Rina. Isso é uma promessa, certo?
— Claro, claro. Eu não volto atrás da minha palavra — responde a jovem deliberadamente, sem levar a sério o assunto.
“Quem essa velhota pensa que é? Acha mesmo que alguém vai tirar a gente desse inferno de lugar?”
“Oh, tadinha. Revelação divina…? Habilidade única…? Ela finalmente está mostrando os sinais dos seus delírios.”
“Mas que coisa. Tyrant, a mulher que sempre é idolatrada pelo vilarejo, devido às suas grandes revelações proféticas… Blábláblá.”
“Acho que não deveria confiar tanto em rumores. Duvido que alguém realmente vá nos resgatar desse quinto dos infernos.”
Declara em pensamentos Rina, soltando um grande bocejo.
Continua…