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Capítulo 95 – Passado triste. X

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No momento seguinte em que o estudante concordou em passar a noite na casa da vidente, Tyrant sentou-se em uma cadeira próxima da porta e puxou conversa com Kazuki e Rei. 

Depois de um tempo em que a conversa prosseguiu, e a atmosfera parecia suficientemente confortável, a vidente sentiu-se à vontade para contar sobre o seu passado. 

Tudo isso aconteceu apenas em uma hora. Ao certo, ela não sabia como a simpatia em que sentiu pelos rapazes havia crescido ao ponto de começar a contar sobre sua vida. 

— Tyrant, tem algo que quero te perguntar faz um tempo. Por que você mora em uma região tão isolada, sendo que o vilarejo está bem próximo daqui. Tipo, não me leva a mal, mas…  

— … Você está meio acabada. Quando estávamos caminhando, você não parecia muito bem. Sério que você precisa fazer todo esse trajeto para chegar no vilarejo? Não é mais fácil viver por aquelas bandas do que aqui? 

Escutar aquele comentário do estudante deixou a vidente momentaneamente sem reação. Apesar do breve sentimento de raiva que sentiu, ela não mudou sua expressão no rosto. 

Contudo, era por não demonstrar um sentimento que o seu rosto tornou-se ainda mais sombrio do que o esperado. Seu semblante nesse momento parecia dizer enquanto tentava sorrir: “Está me chamando de velha?”

Kazuki apenas posicionou a sua mão no ombro de Rei e balançou a cabeça, envergonhado pela maneira como o estudante tinha sido rude e intrusivo. Ele chegou a pedir desculpas em nome do estudante para a vidente.

Após aquele silêncio mortal no cômodo, ela respondeu: 

— Está tudo bem. Não precisa se desculpar, ele só disse a verdade.

Mas no final das contas, Rei não entendeu o comportamento do companheiro e seu pedido de desculpas.

— Me desculpem, acabei assustando vocês — disse ela com um tom de voz simpático. 

— Realmente, você facilmente mataria alguém com seu olhar. — Rei respondeu levantando levemente as mãos em um sinal de dúvida. 

— Ah, e a culpa é de quem? — Tyrant disse, quase como se uma veia estivesse saltando de seu rosto. 

Nesse instante, ela soltou um suspiro profundo e relaxou em pouco tempo a expressão em seu rosto tenso. Em seguida, inclinou a cabeça para o lado e olhou para o estudante. 

— Antes de responder a sua pergunta anterior, sobre o por quê de eu morar nessa região, vou contar sobre a minha vida. 

— É realmente necessário?

— Você disse alguma coisa? 

— Nada. Pode continuar. 

—Nunca contei essa história a ninguém, pois temia pela minha vida! Para ser honesta, acho que não tive coragem. 

O seu comentário transparecia um sentimento de arrependimento, e até mesmo o semblante em seu rosto parecia alterado. Os pequenos feixes amarelos de luz da sala pareciam destacar a sua face, enquanto ela contava pausadamente. 

— A história que vou contar, aconteceu há muitos anos. 

— Meu nome completo é a Tyrantes. Tyrantes Lewis. A segunda filha do grão-duque do reino dos humanos, Zano Lewis, meu pai. E a grã-duquesa, Pfeya Lewis, a minha mãe. 

— Não sei se vocês já escutaram sobre a minha família. 

Após escutá-la, os olhos de Kazuki arregalaram levemente, ele lançou um olhar surpreso em sua direção e respondeu: 

— A sua família, a família ducal de Lewis! É claro que eu sei. Ela é famosa por todo o continente devido às suas conquistas em arqueologia e outras áreas, inclusive magia, certo? 

Tyrant sorriu. Entretanto, contrastando com a sua expressão doce, as palavras que saíram de sua boca soaram com tamanha indiferença. 

— Sim, você está certo, jovem… A família Lewis, sem contar as suas conquistas notáveis, eles possuem uma infinidade de relíquias e artefatos mágicos em sua posse, todos descobertos em tumbas e masmorras. Por causa disso, até mesmo o imperador os concedeu o título de nobreza por suas conquistas.

— Apesar do título ser apenas uma faixada. Afinal, o que realmente o imperador desejava nesse momento  era as relíquias da família. 

Depois que relatou isso, a vidente de repente parou de falar. Ela respirou fundo e começou a relatar pausadamente logo em seguida. 

— Nessa época, eu era muito jovem. Não compreendia ao certo a situação política da minha família. Então, quando eu ainda era criança, meus pais decidiram formar um casamento político entre o 2° príncipe da nação, Dmitry Roux, e eu, Tyrant Lewis. 

— No momento em que eu completasse a maioriadade, 16 anos, teria que me casar. Honestamente, eu não estava assustada com essa ideia. Dmitry era meu melhor amigo, sempre estávamos juntos na infância, então no começo eu não me senti pressionada. 

— Calma ai, a maioridade é 16 anos? Você teria que se casar com essa idade? — perguntou o estudante, ligeiramente surpreso com essa notícia. 

— Sim, jovem. Normalmente os homens podem se casar assim que completam 18 anos, e as mulheres quando fazem 15 anos ou 16! Porém isso depende da forma em que o casamento é realizado. 

Após ouvi-la, o estudante inclinou sua cabeça para baixo e pensou consigo mesmo: “Casar com uma menina que mal completou 15 anos? Que cultura nojenta. Não é muito diferente de ser um pedófilo.”

— Logo que esse acordo foi firmado entre as nossas famílias, fui submetida a aprender os costumes básicos da família imperial, para me tornar uma possível imperatriz. Costumes de como se portar, modos, etiquetas da nobreza e como administrar os assuntos do palácio. 

“Uma possível… imperatriz? Mas que tipo de passado é esse.” Pensou em uníssono Kazuki e Rei. 

Nessa hora, a vidente sorriu consigo mesma e vacilou por um momento, como se estivesse surpresa em como estava contando naturalmente seu passado, mas, surpreendente, continuou a relatar confiantemente. 

— Bem, não posso dizer que as coisas saíram como esperado. Afinal, eu era pressionada e julgada em minhas falas pelas pessoas, julgada pelo meu modo de pensar, meu modo de agir, minhas ideologias e até mesmo a forma em que caminhava. 

— Como eu ainda era criança, apenas aceitei. Sentia que esse comportamento rígido era normal, chegou um momento em que pensei que os meus pais e professores só estavam a me corrigir e polir.

❖ ❖ ❖

— Como eu fui iludida… 


 

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