Na Escola Fundamental de Magia de Tristam, Levi havia chegado uma hora mais cedo devido a um compromisso que sua mãe e seu tio tinham que comparecer. Ele havia se acomodado em sua carteira e dormido enquanto a aula não começava, afinal ele estava com sono.
Quando um forte baque em sua carteira o fez dar um pulo de susto.
BAAAM!
Era Brandr, que riu da reação de Levi.
— Bom dia, tudo certo? — perguntou Brandr, com um sorriso malicioso no rosto.
— Estava até você aparecer e bater na minha mesa! — disse Levi, nitidamente irritado.
— Hahaha! Foi mal, eu não resisti.
Os alunos já estavam todos na sala, sentados em suas cadeiras convencendo entre si. Quando um homem entrou na sala, fazendo-os ficar em silêncio. Era o professor Richard, responsável por lecionar aulas práticas envolvendo magia.
— Bom dia, alunos. Hoje, vamos abordar um tópico avançado que requer muita concentração e disciplina. Então, espero que estejam preparados — disse o professor Richard, enquanto passava os olhos pela turma.
O professor Richard caminhou até o quadro negro e escreveu alguns símbolos complexos, explicando que eles seriam usados como alvos. Ele então se virou para os alunos, que agora estavam totalmente atentos.
— Cada um de vocês irá concentrar sua magia em um desses símbolos e tentar ativar a runa correspondente. A runa emitirá uma luz quando a magia for canalizada corretamente. Vamos começar com algo simples: uma pequena esfera de luz para praticar o controle.
Os alunos começaram a se preparar, fechando os olhos e concentrando-se em seus respectivos símbolos.
Brandr, com confiança, foi um dos primeiros a conseguir. Sua esfera de luz era brilhante e clara, iluminando o símbolo que ele havia escolhido. Outros alunos também começaram a ter sucesso, um a um, ativando suas respectivas runas.
Levi, no entanto, estava lutando. Ele fechou os olhos, tentando canalizar a energia dentro de si. Ele sentiu a energia, densa e pesada, fluir por suas veias. Quando tentou concentrar essa energia em uma esfera de luz, o resultado foi uma esfera escura e instável que se dissipou rapidamente.
O professor Richard, observando todos atentamente, notou a dificuldade de Levi. Aproximando-se, ele cruzou os braços e franziu a testa.
— Levi, isso foi… lamentável — disse ele, com um tom de desapontamento. — Todos os outros conseguiram realizar o exercício corretamente. Você é o único que não conseguiu nem produzir uma simples esfera de luz. Isso é básico!
Os outros alunos começaram a olhar para Levi, alguns com curiosidade, outros com um leve desprezo.
— Talvez você devesse prestar mais atenção nas aulas, Levi. Ou talvez, magia simplesmente não seja para você — continuou Richard — Esperava mais de você, especialmente considerando que estamos apenas nos fundamentos.
Levi sentiu o rosto queimar de vergonha e frustração. Ele sabia que seu poder era diferente, mas não esperava ser tratado de forma tão dura por isso. As palavras do professor eram como facas, cortando profundamente. Ele abaixou a cabeça, tentando evitar os olhares dos colegas
Richard, ainda insatisfeito, suspirou e balançou a cabeça.
— Que tipo de magia você tem que nunca consegue produzir nada nas minhas aulas? Precisa se esforçar mais. Caso contrário, estará desperdiçando seu tempo e o nosso.
Com essas palavras, Richard se afastou para observar os outros alunos, deixando Levi com um peso enorme sobre os ombros.
Depois que as aulas acabaram, Levi voltou para a casa cabisbaixo depois de um dia ruim na escola. Brandr tentou consolá-lo, mas nada que ele falou foi capaz de animá-lo.
Ao chegar, encontrou a casa silenciosa. Sua mãe estava trabalhando, como de costume, deixando-o sozinho com seu tio Barden.
Barden estava na sala, lendo um livro antigo de feitiços, quando notou Levi entrar. Ele fechou o livro e levantou os olhos para o sobrinho, percebendo imediatamente a expressão abatida do garoto.
— O que aconteceu, Levi? — perguntou Barden, com um tom gentil e preocupado. — Você parece abatido.
Levi suspirou e se jogou no sofá ao lado do tio, apoiando a cabeça nas mãos.
— Tivemos um exercício de controle de magia, e eu fui o único que não conseguiu fazer nada direito. O professor me esculachou na frente de todo mundo por isso — desabafou Levi, sentindo a frustração o atingir novamente.
Barden colocou uma mão reconfortante no ombro de Levi e esperou um momento antes de falar.
— Levi, você é muito jovem e ainda está descobrindo seu poder — disse ele, com um tom compreensivo. — A maioria dos magos precisa de anos para dominar completamente suas habilidades. É normal ter dificuldades no começo.
Levi olhou para o tio, buscando algum conforto nas palavras dele. Barden sempre soube como lidar com essas situações, talvez porque ele mesmo já tivesse passado por algo semelhante.
— Sei que parece difícil agora, e eu sei que as palavras desse professor podem ter doído. Mas lembre-se de que ninguém tem o direito de definir o que você pode ou não pode fazer. — continuou Barden, com um brilho de orgulho nos olhos.
Levi se sentiu um pouco mais leve com as palavras do tio, mas ainda havia uma sombra de dúvida pairando sobre ele.
— E se eu nunca conseguir? E se eu não for um despertado? — perguntou Levi, com uma voz pequena.
Barden respirou fundo, buscando as palavras certas. Ele sabia que Levi enfrentava um desafio único e que não seria fácil encontrar uma resposta simples.
— Levi, todos temos nossas próprias batalhas e desafios. Alguns de nós descobrem nossas habilidades mais cedo, outros demoram um pouco mais. O importante é não desistir. Você tem um dom raro, algo que poucos entendem. Mas isso também significa que você terá que trabalhar mais para compreendê-lo e controlá-lo.
Barden sorriu e deu um tapinha nas costas de Levi.
— Obrigado, tio. Vou dar o meu melhor — disse ele, sentindo uma chama de esperança reacender dentro de si.
— É isso que eu queria ouvir. Lembre-se, Levi, nunca deixe que ninguém menospreze suas capacidades.
Levi subiu as escadas para seu quarto. Ele fechou a porta atrás de si e se jogou na cama, olhando para o teto. As palavras de Barden ainda ecoavam em sua mente, mas as palavras de Richard também. “Lamentável”, “incompetente”, “desperdiçando tempo”. Essas críticas mordiam mais profundamente do que ele queria admitir.
“Por que todo mundo consegue, menos eu?”
Seu coração começou a bater mais rápido, e ele sentiu uma onda de emoções negativas crescendo dentro de si. Raiva, vergonha, desespero… tudo se misturava em um redemoinho caótico. Sem que ele percebesse, uma neblina negra começou a se formar ao seu redor, espessa e fria.
“Inconpetente”, a voz repetiu, mais insistente desta vez. Levi tentou se levantar, mas sentiu uma pressão avassaladora em seu peito. A neblina ao seu redor ficou mais densa, quase sufocante. Ele tentou gritar, mas o som não saiu. Em vez disso, sentiu uma força sombria se acumulando em sua garganta, como se estivesse se preparando para explodir.
Antes que pudesse controlar o impulso, Levi abriu a boca e uma esfera negra de pura energia foi expelida. A esfera voou pela sala, atingindo a parede com uma força tremenda, quebrando-a e deixando uma rachadura profunda.
Barden, que havia subido as escadas ao ouvir o barulho, entrou no quarto, com os olhos arregalados de choque. Ele viu Levi, cercado por uma aura negra e sinistra, sua expressão uma mistura de terror e surpresa.
— Levi! O que está acontecendo? — gritou Barden, correndo para o sobrinho.
Levi, ainda ofegante e tremendo, olhou para seu tio com olhos arregalados. A neblina ao seu redor começou a dissipar, mas a sensação de frio e escuridão permaneceu. Ele não sabia o que acabara de acontecer, mas uma coisa era certa: havia mais em seu poder do que ele jamais imaginara, e isso o assustava.
A última visão de Levi, antes de desmaiar, foi a de Barden tentando alcançá-lo, enquanto a aura sinistra ao seu redor começava a desaparecer. Essa foi a primeira vez que ele manifestou seu poder de escuridão.
