O som dos passos ecoavam pelo corredor estreito em meio ao silêncio do ambiente. Barcímio, com seu cajado em mãos, conjurou uma chama que brilhava em sua ponta, iluminando o caminho diante do grupo. O cheiro de carniça impregnava o ar, deixando difícil de respirar.
— Para a entrada está organizada daquele jeito, aposto que estamos lidando com seres inteligentes — disse Milena, com a voz baixa e cautelosa. Se referindo às caveiras e velas.
— Está louca? — Bob retrucou, com o desprezo em seu tom — Não existem demônios inteligentes. Eles são burros e irracionais, como qualquer outro animal selvagem.
— Silêncio! — ordenou Norman, com sua voz firme e baixa. Ele fez um gesto para com a mão, para o grupo parar — Se continuarem assim, vamos atrair atenção desnecessária!
O grupo cumpriu a ordem de Norman, aumentando a tensão. Após caminharem por mais alguns metros, seus olhos se depararam com uma porta de madeira podre coberta de fungos à frente, encravada numa entrada ainda mais estreita.
Bob, exaltado, tomou à frente.
— Bob, espera! — Anna sussurrou com urgência, percebendo as intenções de seu companheiro. Mas era tarde demais.
BAAAAM!
Bob arrombou a porta com um forte chute, estraçalhando ela em pedaços. O som soou como uma explosão, interrompendo o silêncio da caverna. Assim que a madeira cedeu, os olhos do grupo foram atraídos pela escuridão do interior da sala.. No canto mais distante, algo começou a se mexer. Barcímio lançou uma esfera de fogo no ponto mais alto desta câmara, quando ela explodiu fez um flash de luz que iluminou todo o lugar.
Eram lobos demoníacos, tal como o que Levi havia matado no Deserto Glacial. As criaturas estavam em grande número, e claramente irritadas. Suas bocas espumavam, suas garras grandes e afiadas rasgavam o chão de pedra.
— Todos em posição de combate! — murmurou Norman, puxando rapidamente sua besta do ombro.
As bestas avançaram com sede de sangue. Bob e Levi tomaram a frente como guerreiros do grupo, erguendo suas armas. Bob empunhava seu machado de guerra, enquanto Levi desembainhava sua espada. Anna, Milena e Barcímio, mais afastados, começaram a preparar seus encantamentos necessários para seus feitiços. Norman, com um olhar frio e afiado, se concentrava em sua habilidade.
De forma apressada, Norman invocou vários círculos no chão com um gesto de suas mãos. Eram maldições mágicas, quase inviíseis a olho nu. Assim que as criaturas pisavam nelas, seus movimentos ficaram lentos, como se estivessem andando em lama espessa. Entretanto, algumas das bestas conseguiram evitar as armadilhas e continuaram avançando a toda velocidade.
Levi, sem hesitar, liberou sua escuridão através de seu anel. Em forma de névoa, ela envolveu sua espada, criando uma aura de chamas negras. Ele cortou o ar, e os demônios que eram atingidos por suas rajadas tinham todas as suas carnes carbonizadas pela energia sombria. Bob, ao seu lado, empunhava seu machado com firmeza, rachando qualquer lobo demoníaco que se aproximava.
Após se posicionar em um lugar estratégico, Norman disparou suas flechas envenenadas contra os demônios presos em suas armadilhas. Enquanto isso, os magos lançavam seus feitiços: Anna invocou um exército de esqueletos para lidar com os lobos; Milena criou uma barreira nos pontos cegos e Barcímio conjurou esferas de fogo que explodiam os lobos.
O cheiro de carne queimada dominou todo o lugar, os ronados dos lobos demôniacos se transformaram em gritos de agonia enquanto caíam, um por um. Após o que pareceu ser uma eternidade, a última besta caiu nos pés de Levi, que guardou sua espada com um suspiro pesado. Não foi uma luta, foi um massacre completo.
— HAHAHA! Isso foi incrível! — Bob exclamou, em euforia. Girando seu machado ensanguentado como se fosse um brinquedo. O sorriso largo em seu rosto era um misto de adrenalina e satisfação.
Milena, irritadíssima, agarrou Bob pela barba e o puxou com força.
— Ai! Ai! Ai! Calma aí! Está doendo! — resmungou ele.
— Idiota! — Milena o reprendeu, sua raiva era nítida pela seu tom de voz. — Poderíamos ter morrido!
Bob deu de ombros, ainda sorrindo disse: — Relaxa… Comigo aqui, nada de ruim iria acontecer com vocês.
— Eu sabia que tínhamos que ter deixado você no dormitório… — Milena suspirou, soltando a barba de Bob — Foi uma má ideia trazê-lo para missão nessas condições. A culpa é sua, Norman.
Norman, se sentido envergonhado e responsável, olhou para o chão.
— Perdão. Erro meu — admitiu, ele — Eu não esperava que ele fosse fazer isso. Faremos o seguinte a partir de agora: Bob, cuide da nossa retaguarda e não faça nada a não ser que eu peça, entendeu?
— Certo… foi mal, time — Bob respondeu, esfregando a barba, ainda dolorida.
— Podemos continuar então? — disse Barcímio, tentando dissipar o clima pesado — Esse lugar não vai se explorar sozinho.
Assim, o grupo continuou a sua infiltração nas câmaras daquele lugar sombrio e misterioso. Cada passo tinha que ser cuidadoso, a medida que eles avançavam o lugar ficava mais estreito e o cheiro de decomposição mais forte.
Enquanto caminhavam, Levi, discretamente, cochichou para Barcímio: — Bob está bem mesmo?
Barcímio olhou para Levi, percebendo a preocupação genuina em seus olhos, ele respondeu: — Sim. Ele está um pouco mentalmente afetado pela última tortura que sofreu. Mas não se preocupe, ele irá se recuperar aos poucos.
Levi acenou com a cabeça, embora ainda estivesse preocupado com seu parceiro de equipe.
Ao entrarem na próxima câmara, um novo cenário se revelou diante de seus olhos: uma sala ampla, cheia de ossos espalhados pelo chão. Esqueletos humanos, quebrados e amontoados em pilhas, como restos de vítimas de algo muito maior e mais terrível.
— Meu Deus… — murmurou Milena, levando a mão ao rosto. O horror nos olhos do grupo era visível.
— Isso… isso não é obra de demônios caninos — disse Norman, impressionado com a visão à sua frente.
— Não — Barcímio concordou, observando o padrão nos restos mortais — Isso é obra de algo muito mais inteligente… e cruel.”
Antes que pudessem reagir, um som profundo ecoou pela câmara, vindo das sombras além dos esqueletos. Algo gigantesco se movia, oculto na escuridão. E, com um rosnado baixo e ameaçador, uma nova presença começou a se aproximar do grupo.
— Olha, Alegria! Parece que temos convidados! — disse uma voz feminina e jovem.