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Capítulo 18: Alegria


A garota surgiu das sombras, se revelando para o grupo de caçadores. Ela estava montada em uma criatura colossal, no mínimo três vezes maior que os lobos demoníacos que eles haviam enfrentado, seus músculos eram rígidos e seus pelos eram negros. O que mais chamava a atenção nesse monstro eram suas três cabeças, cada uma sorrindo com bocas cheias de dentes grandes e afiados, e emitindo um som de risos perturbadores.

A garota que estava sentada em cima da besta possuia cabelos negros que caíam até os ombros, sua roupa era toda escura, estava tão justa que fazia parecer parte de seu corpo, olhos dela se assemelha ao de Levi transformado: As escleras negras como a noite  e as pupilas roxas. Ele estava relaxado, acariciando com delicadeza uma das cabeças da criatura, como se fosse um animal de estimação.

— Quem é você? — perguntou Norman, com os olhos fixos na menina e na criatura.

A garota sorriu, sem interromper o carinho em seu animal e disse: — Vocês invadem minha casa e têm a audácia de perguntar minha identidade? — Ela riu, em um tom irônico — Sou eu quem pergunta: Quem são vocês?

— Somos caçadores enviados pela Associação para investigar o sumiço de alguns moradores da Vila das Batatas, mas pelo visto já sabemos os seus paradeiros.

A jovem inclinou a cabeça levemente e continuou acariciando a cabeça do meio da criatura, que começou a ronronar de uma maneira grotesca. 

— O que eu posso fazer se meu bebê tem preferência por carne humana? — Ela riu novamente, com um toque de sadismo.

— Eu só vou pedir uma vez. — disse Norman, em um tom de autoridade enquanto apontava sua besta para a criatura. — Desça dessa coisa e se entregue. Você está em desvantagem aqui.

Antes da garota responder, um som estranho ecoou pela câmara. Era a barriga de Cerberus, que roncou como um trovão. A garota ignorou o aviso de Norman, olhando para sua criatura com um sorriso maternal.

— Meu bebê está com fome… Felizmente, não precisaremos nos dar ao trabalho de pegar comida. Ela veio até nós —  A garota sussurrou palavras incompreensíveis no ouvido do Cerberus e a cabeça do meio começou a emitir um som estranho, semelhante a um engasgo. Um momento depois, chamas saíram violentamente da sua boca, tal como um dragão.

O calor intenso transformou a câmara em uma sauna, o fogo consumiu tudo em seu caminho. No entanto, quando cessou, a garota percebeu que os caçadores não estavam mais lá. Ela franziu a sobrancelha e olhou para longe. O grupo havia se afastado para uma posição segura.

— Obrigado, Barcímio. Essa foi por pouco —  disse Norman, aliviado.

— Magia Espacial me custou muita mana. Agora é com vocês —  disse ele, exausto e se apoiando em seu cajado após teleportar todos os seus companheiros.

— Tudo bem, amigo. Deixe o resto conosco —  disse Bob, sorrindo com confiança.

Anna levantou a mão, erguendo algo das sombras. Ossos começaram a se mover no chão, juntando-se em esqueletos armados com espadas. Em questão de segundos, uma pequena legião de mortos-vivos formou-se ao redor do Cerberus.

Apesar da tentativa, a enorme criatura deu um rugido profundo com as três cabeças, despedaçando os esqueletos apenas com isso. Impaciente, a besta começou a correr em direção ao grupo, suas patas gigantescas faziam o chão da caverna tremer.

Norman agiu rápido, após anunciar sua habilidade “Maldição de Lentidão!”, ele jogou uma pequena esfera negra em direção à criatura, esperando diminuir sua velocidade. Mas, para seu desespero, o Cerberus apenas sacudiu a cabeça, ignorando completamente o feitiço.

A criatura avançava a uma velocidade alarmante, e antes que pudesse se aproximar ainda mais, Bob correu à frente, interceptando o ataque. Com força sobre-humana, ele segurou as presas da cabeça do meio do Cerberus, impedindo que se aproximasse do grupo.

Levi não perdeu tempo. Sua espada estava envolta em chamas negras, e ele correu em direção ao flanco da criatura. A jovem no topo do Cerberus riu enquanto assistia ao esforço deles.

—  Vocês não entenderam? Ataques comuns não funcionam na Alegria.

Mas Levi não parou. Com uma precisão impressionante, ele fincou a espada no corpo da criatura, perfurando sua pele grossa. Continuando seu movimento, ele correu ao longo da lateral do Cerberus, abrindo um grande ferimento que se alargava à medida que ele avançava. Sangue  e vísceras jorraram em grandes quantidades, pintando o chão da caverna de um vermelho escuro.

A criatura soltou um grito de dor, suas três cabeças rugindo em uníssono. Tremendo, o Cerberus tombou para o lado, o impacto fazendo a caverna estremecer. A garota foi lançada ao chão junto com sua companheira.

—  BOA, GAROTO! — gritou Bob, orgulhoso do feito de seu aprendiz e parceiro.

A garota, que havia caído de joelhos ao lado da criatura, olhou para sua companheira com os olhos arregalados de desespero.

— N-não é possível… — murmurou ela, em descrença.

 Lágrimas começaram a encher seus olhos enquanto ela desesperadamente tentava estancar o sangue que fluía do grande ferimento no corpo da Alegria. Suas mãos tremiam enquanto pressionava o local da ferida, mas era inútil. O Cerberus estava à beira da morte.

— POR QUE VOCÊ NÃO ESTÁ SE REGENERADO!? ISSO NÃO É NADA PARA VOCÊ! —  Os olhos da besta se fecharam, seu último suspiro havia sido dado.

Uma aura sombria começou a emanar do corpo da garota. Seus olhos, antes cheios de desespero, agora estavam repletos de ódio puro. Ela se ergueu lentamente, a aura escura girando ao seu redor como uma tempestade.

— Ué? Aonde foi parar toda aquela arrogancância? — disse Bob, em um tom provocativo. Ignorando o sofrimento da garota.

— VOU FAZER VOCÊS PAGAREM POR ISSO! — Os caçadores podiam sentir a forte pressão emanada pela garota. Sua voz havia ficado mais grave

Enquanto isso, em Petrovski.

O som de sino ecoava por todo o reino, e ele tinha significava apenas uma coisa: Alerta máximo de perigo iminente. Em estado de pânico, os moradores correram para suas casas e se trancaram rezando para que não fossem afetados ou até mortos. 

Fazendo uma barreira humana na entrada do Reino, os soldados reais empunhavam suas armas enquanto observavam um exército se aproximando no horizonte. Na dianteira, havia uma figura tenebrosa e demoníaca que se destacava, sua presença por si só assustava mais do que a horda numerosa que marchava atrás dele.

— Então… É aqui que o jovem mestre está se escondendo? — murmurou Belial.

— Sim, mestre — respondeu seu assistente.

— Tsc, eles acham que aqueles vermes são o suficiente para me parar? — Ele olhou com desprezo para os soldados à sua frente — Eu poderia aniquilar eles em segundos.

Na linha de frente, o general Becker que até então observava atentamente, se aproximou de Belial com passos pesados, avançando escoltado por dois de seus melhores homens. 

“Que criatura imensa”, pensou Becker, com o coração acelerado. “Mesmo tendo 1,86, eu mal chego na cintura dele!”

— V-você entende a minha língua? — perguntou Becker, visivelmente intimidado pela presença do Belial.

Ignorando qualquer cordialidade, Belial se aproximou de Becker e o pegou pelo pescoço, em seguida o ergueu até a altura de seus olhos como se não fosse nada.  Os soldados que o escoltavam o general tentaram atacá-lo com suas lanças, mas elas sequer causaram arranhões. 

Ignorando essa insolência, o Belial perguntou: — Me diga, por acaso você viu um demônio de pele lilás e cabelos brancos passar por aqui?

— N-não..! Nenhum demônio passou por esse portões. 

— Mestre, o jovem mestre assume outra forma quando está no meio dos humanos.

— Ah, claro, claro… Corrigindo: estou procurando um garotinho de cabelos e olhos castanhos. Ele também possui uma pele clara também  Agora sabe de quem estou falando?

Becker, com a visão ficando turva pela falta de ar, lembrou-se de algo. Apesar do fluxo constante de pessoas que passavam pelos portões de Petrovski, havia uma lembrança recente: um garoto acompanhado de Norman, um homem conhecido na cidade. “Era ele… era o jovem mestre.”

— S-sim! E-eu vi… — Becker tentava debater-se, mas sua força não era nada comparada a de Belial.

— Ótimo. — O sorriso de Belial se alargou — E onde ele está agora? 

Antes que Becker pudesse responder, algo caiu do céu como um meteoro, caindo no chão com um som ensurdecedor. O choque levantou uma cortina de poeira densa, fazendo todos os soldados e até mesmo o exército de Belial recuarem por um breve momento.

Quando a poeira começou a baixar, a visão se clareou. Belial não estava mais segurando Becker. Em vez disso, sua mão estava presa, forçada a se abrir por uma força inesperada. Ele olhou com surpresa e irritação para a figura que se postava à sua frente.

— O que trás o Soberano da Mentira a essas terras? — perguntou Andariel, com suas asas expostas e seu corpo transformado para ficar quase da altura de Belial.

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