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Capítulo 2: A Proposta

O padre sentou-se e colocou a mão sobre seu rosto enquanto mergulhava em seus pensamentos. A história de Levi o atingiu com força, o fazendo perceber que talvez a humanidade tenha subestimado os demônios.

— Por acaso, você é filho desse Belial?

— Não sei quem é meu pai. Fui criado pela minha mãe. Mas eu acho que não, sei lá. — Já desacorrentado, Levi dá umas mordidas na maçã que recebeu do padre.

“Se a história que ele me contou for verdadeira e ele for filho desse Belial, tanto eu quanto Galego estaremos em perigo!”

— Obrigado pela maçã, mas agora eu vou indo, preciso ir até Constantino. — O padre observou detalhes em Levi que ele não havia se atentado antes por achar que poderia ser um potencial demônio asqueroso.

A túnica do garoto estava toda surrada, seus pés estavam cheios de calos e feridas, seus membros estavam marcados com cicatrizes e ralados e ele aparentava estar desnutrido. Mesmo sendo um demônio, por algum motivo o padre sentiu pena da pobre criança desgastada pelo fardo da existência. Aos poucos ele percebeu que ele não enxergava Levi como um emissário do mal, mas como um humano carente de ajuda e compaixão.

— Garoto, Constantino é muito longe para ir de a pé. Fique aqui por um tempo. — O padre começou a sentir empatia pelo Levi.

— Foi mal mas eu preciso ir… — Levi soltou um enorme bocejo, suas pálpebras começaram a ficar pesadas e seus músculos gritavam por um repouso.

Sem perceber, Levi adormeceu na cadeira, largando até mesmo a maçã mordida que estava em sua mão. 

Ao ser despertado pela luz solar que atravessava seu quarto. Levi piscou os olhos algumas vezes, ajustando sua visão ao ambiente. Ele olhou ainda um pouco confuso ao espaço reduzido ao seu redor, onde apenas sua cama ocupava maior parte. Os burburinhos das ruas ecoavam além das quatro paredes, sussurrando conversa entre os moradores. Consciente do ressentimento que os humanos nutrem pelos demônios, ele teme com a possibilidade de ser descoberto.

TOC! TOC! TOC!

O coração de Levi deu um pulo com tamanho susto, quando a porta foi aberta, ele suspirou aliviado, era apenas o padre que o encontrou nas ruas de Galego. 

— Desculpa te acordar, mas já está um pouco tarde. Você dormiu tanto que eu achei que tinha acontecido algo. Está tudo bem?

Levi esfregou seus olhos inchados de tanto dormir. — Estou bem, só estou com fome.

— Eu queria te oferecer algo nutritivo, mas a verdade é que eu não tenho muito. Somos um povo pobre, vivemos apenas do que produzimos, e digamos que esse mês não foi dos melhores para a gente. 

— Por que está me ajudando? Você não tem raiva de mim? — Levi lembrou o ódio mortal que os humanos geralmente sentem pelos demônios.

— Você já matou algum humano?

— Não. 

— Já fez mal a alguém?

— Não.

— Então não tem porque sentir ódio de você, aos meus olhos você é apenas uma criança que precisa de ajuda — disse o padre com um sorriso gentil. Levi ficou sem jeito, lembrando que apenas duas pessoas haviam sido gentis com ele em sua vida: sua mãe e seu tio.

 — Enfim, você pretende ir mesmo para Constantino? Levaria muitos anos para você chegar lá de a pé.

— Eu não tenho escolha, minha mãe está lá, eu preciso ir de qualquer jeito. — Pela forma que Levi se expressava e pelo fato dele ter sido encontrado ao acaso na rua do vilarejo, o padre tinha certeza que ele não estava brincando.

— Digamos que você consiga chegar em Constantino, como você pretende entrar com essa aparência?

Levi fechou os olhos e uma metamorfose sutil começou a acontecer. Os pigmentos da sua pele se ajustaram para uma cor mais próxima à dos humano, seu cabelos antes brancos, agora se tornaram castanho, suas orelhas pontudas arredondaram-se, e como se fossem uma ilusão momentânea, seus chifres diminuíram até sumirem, como se nunca estivesse ocupado sua cabeça.

 O padre sorriu consigo mesmo, ele ficou surpreso, afinal,  nunca viu algo parecido em toda sua vida.

“Nem parece a mesma pessoa… Os demônios são realmente assustadores. Isso me faz pensar, será que temos mais algum entre nós?”, O padre balançou a cabeça, não deixou que esses pensamentos se desenvolvessem.

— Com essa aparência você poderia se estabelecer aqui por um tempo, o que acha de trabalhar para nós, ganhar uma grana e pagar uma carona com um comerciante? É melhor do que ir de bolso vazio e andando — sugeriu o padre, fazendo Levi ponderar sobre a proposta.

— Até que não é uma ideia ruim… Tudo bem, eu aceito. — Como uma boa criança ingênua, Levi confiou cegamente no padre.

Após saborear um pão seco acompanhado de um copo de suco de laranja, Levi seguiu ao lado do padre pelas ruas estreitas de Galego, ele foi apresentado como uma criança órfã que foi abandonada pelos pais, o que de certa forma não deixava de ser uma verdade. Os moradores o acolheram calorosamente, assentindo com a sua permanência no vilarejo. 

Embora Galego seja caracterizada pela sua paisagem rural e por ser uma região produtora de grãos, legumes e verduras. Havia uma diversidade surpreendente de profissões entre seus habitantes, como artesãos, costureiros, pedreiros, padeiros, mas o que captou o interesse de Levi dentre todos é a função de ferreiro.

No momento que ele entrou na forja seus olhos brilharam em fascinação, uma grande exibição de armas com espadas afiadas, machados imponentes e lanças meticulosamente forjadas. O som distante distante do ferreiro martelando no metal ecoava pelas câmaras, cada golpe moldando a matéria-prima em formato de lâmina. No entanto, ele parou tudo que estava fazendo quando avistou o padre acompanhado de uma criança.

— Bom dia, Padre Ernesto. A que devo sua visita? 

 O ferreiro é um homem de meia-idade, seus olhos castanhos afiados refletem uma seriedade profunda, sua cabeça  completamente desprovida de cabelo contrasta com sua grande barba castanha mal-feita salpicada com fios grisalhos, suas roupas são sujas e desgastadas devido ao seu trabalho na forja.  Seu corpo é esculpido com músculos rígidos, frutos do trabalho árduo que ele fez diariamente durante sua vida.

— Bom dia, Paulo. Eu vim aqui apenas para mostrar Galego ao nosso novo morador, peço perdão pela interrupção.

— Não se preocupe com isso. O senhor será sempre bem-vindo a vir aqui quando quiser. Falando em novo morador, quem é o rapazinho? — perguntou o ferreiro, olhando para o pequeno Levi.

— Meu nome é Levi, estou precisando de um trabalho, me deixa trabalhar com você? — À primeira vista, Paulo ficou surpreso com a candidatura do garoto. Em seguida, ele riu.

— HAHAHAHA! Foi mal garoto, mas eu trabalho sozinho, não aceito discípulos! — Paulo não riu de Levi, mas sim da forma como ele foi direto.

— Tem certeza? Eu posso ser muito útil para você. — Insistiu Levi.

Paulo agachou-se na altura de Levi e olhou no grão de seus olhos. — Então fala para mim rapazinho, me dê apenas um motivo para contratá-lo.

— Eu vou ser de grande ajuda e dois é melhor do que um. — Levi não se mostrou intimidado diante da expressão mal encarada de Paulo.

Paulo olhou para o Ernesto, que apenas consentiu com a cabeça como se estivesse apoiando a ideia da contratação do garoto. 

*Paulo suspira.*

— Tudo bem. Vou deixar você ser o meu ajudante, mas não espere que eu o deixe usar minha forja ou ensinar minhas técnicas de ferraria. Também deverá obedecer todas as minhas ordens sem reclamar, entendeu? O pagamento discutiremos no futuro. — Paulo estendeu a mão e Levi apertou, selando o acordo entre os dois.

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Olá, eu sou Dr. Reverse!

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