“Quem diria que nosso primeiro contato seria assim…”
Em um dia qualquer sem que ninguém esperasse, um evento sem precedentes teve início. Uma gigantesca estrutura surge cruzando o céu, chamando a atenção de toda a população. Noticiários de todos os países transmitem o cenário, e o mundo para por completo.
De repente todos os televisores, celulares, computadores e até mesmo rádios passam a exibir uma única mensagem, traduzida instantaneamente em todos os idiomas.
“Em nome do povo de Gann, anuncio que cobiçamos seu planeta e viemos para torná-lo nossa propriedade. Entretanto vocês humanos, a raça governante, poderão decidir entre ceder em silêncio ou lutar por seu mundo. Selecionem seus melhores espécimes para representá-los em uma batalha contra nossas forças. O lado vitorioso terá justo direito à Terra.”
Logo em seguida uma onda de confusão e pânico toma conta do povo, que até o fim do dia não vê resposta de nenhum dos seus líderes políticos.
Sede da Organização das Nações Unidas, algumas horas depois…
— Como raios isso foi acontecer? Alguém precisa dar a resposta logo! — Um velho barrigudo de terno grita enquanto anda apressado por um corredor, limpando o suor que escorre de sua testa sem parar.
— Não temos ideia, senhor… E-estamos tentando encontrar alguma explicação lógica, ma-mas a pressão do outro problema está dificultando as coisas… — Um rapaz o seguindo responde. Cabelo castanho bem arrumado, olhos da mesma cor, pele clara e um terno, sem características únicas ou qualquer aspecto que chame atenção.
— Uma nave espacial aparece, e todos os presidentes somem. Que porra de explicação lógica vocês esperam encontrar?! — indaga em um tom irônico enquanto gesticula com raiva.
— Ta-talvez um… Atentado… Terrorista…?
Ele empurra com violência as duas portas que dão acesso à uma sala de reuniões no fim do corredor. Ao entrarem eles se deparam com uma mulher parada na extremidade de uma grande mesa. Cabelo loiro curto, pele clara, olhos castanhos, estatura média e também usando um terno.
— Pois bem, foi você quem me chamou aqui? — O velho pergunta, olhando para os lados em busca de outras pessoas.
— Sim, senhor — responde balançando levemente a cabeça.— Certo, comece a falar e rápido, tenho duas reuniões urgentes daqui a pouco.
— Não sou eu quem vai falar… — Ela diz enquanto aponta para outra direção.
De repente uma outra porta no fundo da sala se abre e algo como um robô humanoide adentra o lugar, chocando os dois homens. Ele se aproxima do grupo e cordialmente estende sua mão direita, oferecendo um cumprimento.
— Mas o que raios… É isso? — O velho questiona assustado, se negando a cumprimentar a coisa.
— Me chamo Halley — Ele fala em um inglês perfeito, com uma voz sintética levemente robotizada — E estou aqui para auxiliar sua raça.
— Auxiliar? Que droga de auxílio você quer prestar? — pergunta depois de alguns segundos em silêncio, nervoso.
— Com aquilo que anunciei a vocês mais cedo.
O androide projeta um holograma sobre a mesa, apresentando a imagem de um planeta distinto, com aspectos bem diferentes aos da Terra.
— A raça Gann vem de um planeta colapsado há algumas centenas de anos. Desde então vagam pelo espaço conquistando planetas ricos em recursos para a instalação de colônias. Se o planeta é habitado, eles obliteram a população e o tomam. Entretanto, geralmente não o fazem logo de início. Eles valorizam algo como o que vocês compreendem por “ritual” aqui na Terra — explica calmamente, exibindo imagens do planeta.
— Ritual? Que ritual? Que conversa maluca é essa? — murmura, cada vez mais impaciente.
— Uma série de batalhas individuais entre os melhores espécimes de cada raça — A mulher responde interrompendo o diálogo.
— Exato.
— Então aquela transmissão… Você foi o responsável? E mais uma coisa, quem é você? Se referindo a “eles” como se não fosse um. Qual o motivo?
— Sim, me atribuíram a função de anunciar. E não, não sou um Ganniano, mas sim uma criação com o propósito de servir — responde enquanto desfaz o holograma.
O velho encara a máquina com uma expressão de confusão misturada com raiva.
— O motivo pelo qual ele está oferecendo ajuda, senhor… É que os Gannianos possuem um certo senso de-
— Calada, eu quero que ELE diga o que tem para dizer! — fala de repente, calando a moça.
A mulher lança um olhar furioso para o homem, enquanto o mesmo ainda encara Halley.
— Meus mestres valorizam o combate. Para eles é importante avaliar o poder de uma criatura, especialmente através do confronto direto. Por isso oferecem a opção de lutar. Eles querem que o desejo de batalhar seja recíproco, mesmo que precisem forçar sua raça a isso.
— Está me dizendo que não temos escolha, a não ser obrigar um grupo de pessoas a lutar com esses seus criadores alienígenas?!
— Exato.O homem esfrega o rosto antes de se sentar abruptamente em uma cadeira.
— Aonde… Estão os nossos presidentes? — pergunta, com a mão sobre a testa.
— Abduzidos.
— O quê?! Mas…
Todos ficam em silêncio por alguns instantes, antes que o velho soque violentamente a mesa.
— COMO ASSIM?! O QUE QUER DIZER COM ISSO?!
— Alguns dos meus criadores chegaram primeiro há alguns meses, encarregados de realizarem o reconhecimento, estes permaneceram ocultos aqui até então. Agora com a chegada dos nossos governantes os infiltrados foram recolhidos, levando os seus governantes como uma forma de provocação. Não se preocupem, todos estão bem.
— Eles… Foram levados… Para onde? — O rapaz que não havia dito uma palavra até então pergunta, estático no mesmo lugar desde que entraram na sala.
— Para nossa nave.
— Meu Deus… — O velho murmura enquanto novamente esfrega seu rosto com as mãos — É um pesadelo… Isso não é real…
— A senhorita Íris vêm me ajudando a encontrar seus representantes desde que a contatei. Após uma breve investigação descobri sua ligação com uma grande variedade de indivíduos ao redor do mundo, o motivo pelo qual a escolhi — diz apontando para a mulher.
— E como… Como eles são? — O rapaz pergunta novamente, quase se tremendo — São como aquelas criaturas gro-grotescas dos filmes…?
— Ei! Quem te deu permissão para fazer essas perguntas, James?! — indaga furioso olhando para ele.
— Semelhantes aos humanos em alguns aspectos. Porém, por terem se desenvolvido em um ambiente indiscutivelmente mais hostil, e pela cultura do combate, a diferença de aptidão já foi provada enorme.
— Ah?! Então como raios um homem pode vencer um deles?! — O velho pergunta, irritado agora com a resposta da máquina.
— Um humano convencional realmente não seria adequado. Mas não se preocupem, eu posso lidar com esse problema. Com os recursos que tenho à disposição posso reduzir essa diferença. Além disso, encontramos indivíduos bem peculiares. Admito que não esperava espécimes assim dentro da sua raça.
O velho respira fundo, se levantando lentamente.
— Diga logo… Como devemos encarar esse problema… — Ele diz, agora em um tom desanimado. — Se for tudo verdade… Podemos realmente fazer isso?
— Não posso dizer com certeza. Mas garanto que caso vençam, meus criadores irão honrar com sua palavra e sua espécie será poupada.
— E se atacarmos a nave?
— Até então não expressamos nenhum sinal de agressividade contra seu povo. Seria inapropriado.
— Que inferno! Vários países estão exigindo medidas drásticas! Porra, vocês pegaram os presidentes, botaram uma nave gigante na cara de todo mundo e ainda saíram espalhando pânico com aquela transmissão! O que esperavam?! Isso foi bem agressivo, não acha?! — fala enquanto se debate na frente do androide, quase o socando.
— Vocês não podem atacar. Toda sua tecnologia bélica foi desabilitada assim que chegamos.
— É o único jeito — diz Íris interrompendo a discussão, já se preparando para sair — Vamos, Halley. Vamos fazer isso com ou sem o consenso deles.
— Ah?! Ei, parem aí mesmo! Sou eu quem decide o que vamos fa-
A moça golpeia o rosto do homem com um soco perfeito, fazendo ele cair inconsciente nos braços de James.
— E-esperem! — O rapaz exclama chocado enquanto coloca o velho no chão — A-aonde vocês…
Após alguns segundos observando confuso, ele decide seguir a dupla, que havia cruzado a porta no fim da sala.
“Eles foram para o terraço?” Ele pensa.
Rapidamente James atravessa a porta e percorre uma escadaria até o topo, aonde se depara com uma espécie de pequena nave do tamanho de um caminhão baú, na qual Íris e Halley entram através de uma porta retrátil na parte de trás, que agora já está se fechando.
Sem pensar direito ele corre, e antes que se feche totalmente consegue entrar na nave, assustando Íris que não havia notado o rapaz se aproximando.
— Ei! O que você está fazendo?!
— E-eu… Eu não sei… Eu só… Eu só…
— Caramba, o que deu em você?! Halley, abra, vou colocá-lo pra fora! — diz arrebatando as mangas.
— Não vejo problema em tê-lo nos acompanhando — O androide responde enquanto se senta frente ao painel de controle.
— Como assim?! Quer mesmo levar mais um humano para lá?!
— Meus criadores não se importarão. Estão muito ocupados com os preparativos do evento.
— E-evento…? — James indaga.
— Sim. Transmitiremos os combates para seu povo.
— Se decidirem matá-lo a culpa será sua, Halley — A mulher murmura irritada enquanto se senta em um dos acentos, antes que a nave repentinamente saia do chão fazendo o rapaz cambalear no processo.
— E-EI! — grita antes de cair por conta do movimento brusco.
— Perdão — Halley fala.
Timidamente James rasteja até um assento.
— Enfim, você já pegou todos? — pergunta Íris se recompondo.
— Sim. Todos os dez estão aguardando seus respectivos combates.
— Ótimo…
“Os… Dez…? Eles estão falando sobre os humanos escolhidos…? E espera um pouco… QUE DROGA DE IDEIA FOI ESSA DE ENTRAR AQUI?! EU QUERO IR PRA CASA!”