Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 23: A Maldição de Davi, parte 1

A dor sumia conforme circulava a energia, tirando o conceito dali pela raiz, aplicando-o em seus braços.

Uma vez mais, ficou maravilhado com a facilidade que tinha, notando como o Diário parecia brilhar e vibrar com satisfação. Sorrindo, caminhou lentamente até eles, que se livraram da surpresa e começaram a preparar mais ataques.

Diversas ondas sonoras e tornados foram contra si. Desviando primeiro das ondas, dissipou o vento ao aplicar o conceito de ferimento nele, e seu corpo foi elevado para desviar dos destroços que foram disparados contra si após a quebra do chão.

Nisso, modificou a energia e foi disparado contra aquele que estava mais perto. O Grazé, invés de mostrar preocupação, meramente gerou um pequeno tornado que serviria de barreira, esperando que o oponente desviasse.

“Patético…” pensou, colocando a mão direita no tornado e sentindo os vários cortes. A dor durou apenas um segundo, e o vento foi, uma vez mais desfeito, com o conceito de “Ferimento” fora da mão e a inversão do mesmo, “Cura”, sendo aplicada. “É tão fácil que chega a ser risível.”

Colocou a mão no abdômen do alvo, permitindo que a semente brotasse ali e, então, desviou das ondas sonoras e destruiu as pedras com diversos socos.

“Segundo meus cálculos, acho que…” Invés de inverter a carga energética, John Hollick fez algo que nenhum de seus oponentes esperava. Ele amplificou a polarização, forçando o corpo dele e do lutador a se atraírem e impedindo que o punho ganhasse velocidade.

Nisso, deu uma cotovelada no nariz e então um chute na perna, forçando-o a ficar de joelhos.

Seguido disso, tocou no rosto dele e, respirando a raiva para fora, controlou a energia o suficiente para não matá-lo.

Com as duas sementes plantadas, desviou de mais ondas de choque e, antes que um deles controlasse o vento, antes que o outro pudesse se levantar; fez com que os frutos do “Ferimento” brotassem.

O Grazé caiu no joelhos, sentindo uma imensa dor e fraqueza provenientes da hemorragia inteira que teve. Já o bruxo misterioso gritou de dor quando a pele da face secou e explodiu em sangue e veias, deixando apenas a carne ali.

— Isso deve impedi-los de se mover por um tempo… Agora… — Olhou para os dois que sobraram, o sorriso aumentando conforme o rosto deles mostrava preocupação. — Digam-me, quem é o idiota que quer minha cabeça?

Antes que pudessem responder, avançou e puxou o Alamar, impedindo-o de usar seu contrato para criar ondas. Com o punho pronto, deu dois Jabs rápidos no peito dele e fez com que a semente florescesse, destruindo os dois pulmões que acabara de atacar e matando-o instantaneamente.

— Parece que não consegui me controlar direito… Bem, isso pouco importa — murmurou, forçando a atração entre ele e o encantador e, com um rápido movimento, estourou o olho dele. — Agora, cante um pouco para mim, passarinho.

— Por… por favor… Alguém…

— Essa não é a música que queria ouvir. — Virou o corpo dele para baixo e esmagou a cabeça contra o concreto, espalhando sangue; pedaços de ossos e cérebro no chão. — Se não cantarem o que quero ouvir, haverá consequências.

Nisso, olhou para os dois restantes e caminhou para o Grazé ajoelhado, que segurava o abdômen com uma expressão de dor enquanto tentava se arrastar para longe.

— Mesmo que eu te poupe, você não vai sobreviver sem o estômago, sabia? Quer dizer, não acho que inventaram o transplante desse órgão em específico ainda. — Nisso, pisou na mão dele, aplicando força o suficiente para quebrar o osso.

O grito que se seguiu foi como música para seus ouvidos.

Então, moveu o pé para o mindinho, esmagando-o novamente, e então foi para o anelar. — Espera… eu… eu falo… esperaAAAGHT! — O grito foi ouvido após o osso ser destroçado e o dedo arrancado.

— Então cante… quem sabe assim eu te dou um petisco.

— Foi… foi um pedido que recebemos de um membro dos Hollick… Não posso dizer quem, mas… — Antes que pudesse terminar, o pé esmagou a cabeça dele, o sangue manchando os sapatos do jovem, que caminhou até o último.

— Quem mandou me matar. Vou contar até cinco… Um, dois…

— Kruger! Kruger Hollick…

— Três, quatro…

— Espera, é verdade, eu juro que é verdade! Por favor não… — Seja lá o que fosse falar foi interrompido com a chegada no Cinco e o pescoço explodindo.

— Eu sei que é verdade, idiota… Mas como eu disse antes, vocês iam se arrepender. — A expressão no rosto era estranha, quieta, mas que carregava um profundo peso.

Não era a primeira vez que matava. Quando começou o treino, Fausto o jogou na floresta e colocou diversos animais, pequenos e feridos, para conseguir se alimentar…

Ter que matar e limpar eles foi difícil no início, mas era necessário para que pudesse matar não-humanos mais facilmente. Contudo, era a primeira vez que matava um semelhante.

Pior que isso, ele torturou eles, ele fez o possível para que fosse o mais doloroso e desesperador possível, como uma breve amostra do inferno que os esperava.

A sensação que teve era semelhante a que antecedia o vômito, um profundo nojo, uma profunda angústia e arrependimento.

Ele engoliu a bile e olhou para o céu. Era tarde, quase de noite.

Suspirando, aplicou uma barreira através de si para não chamar a atenção dos pedestres e levou os corpos para a floresta.

Um enterro era o mínimo que devia à eles.

A caminhada foi brutal. Teve certeza de ser o mais delicado possível, evitando usar telecinesia. Isso era algo que sentia que devia fazer, mas a dor do peso e o nojo do sangue faziam com que sentisse uma enorme dificuldade.

Mesmo assim, perseverou.

John não sabia explicar o porquê de fazer tudo isso, não conseguia usar a lógica… Na verdade, a lógica ditava que só deixasse os corpos ali e fugisse, para evitar mais assassinos… Tudo que tinha era a sensação, o medo, de que, se o fizesse, estaria falhando com Fausto de alguma forma.

Ele sabia o que era esperado de si como Portador. Sabia que eles eram quase máquinas, que não deviam, não podiam ter sentimentos. Que essa empatia por si só era um pecado…

Mas ele não foi criado como um. Ainda que fosse isolado dos demais, ainda foi como um humano. Por isso, não podia só deixar para lá. Não com o que fez antes de matá-los.

O mais assustador para John é que não era só uma questão de justiça, nem de enviar uma mensagem, muito menos de autopreservação.

Ele gostou do que fez.

Não do resultado, não dos corpos mutilados. Não, isso era algo que o perturbava mesmo agora, enquanto cavava o primeiro buraco.

Ele gostou de sentir o poder que exercia, gostou de sentir o medo vindo dos mortos, gostou de sentir como seu corpo se movia, como era só preciso um toque e um comando para que eles agonizassem.

Era um sentimento horrendo, uma felicidade distorcida que não trazia nada de bom. Algo que devia pertencer aos monstros que caçava, não ao mocinho que protegia os “normais” das bestas.

Após enterrar o primeiro, o trabalho ficou mais fácil. A culpa acalmou-se e deu lugar para um vazio, tão frio quanto o corpo que colocara ali.

Com um comando, a terra caiu, e, com outro, mais um buraco se abriu. Era algo que seria difícil de fazer com suas reservas anteriores, mas, com o Diário, sentia ser algo trivial, que só precisava do controle absoluto que tinha para mover tudo com a telecinesia.

Assim seguiu, até suspirar e limpar o suor após finalizar o quinto.

— Desculpem, mas não sei quais eram seus nomes, então não posso dar uma lápide. — Com um último olhar, voltou a caminhar e seguiu viagem, dessa vez com bem mais calma.

Tinha tempo, tempo mais que o suficiente para pensar e focar no que devia fazer. Kruger era uma figura importante na família, uma que se mantinha nas sombras, mas que John conhecia pelo nome.

Era um homem perigoso pelo que diziam. Um membro do conselho, sendo um dos anciões do clã e tendo quase tanto poder quanto o Patriarca.

Contratar assassinos para lidar com ele era algo que, sem dúvidas, faria. Aquele homem não sujava as mãos, não diretamente. E, mesmo que nunca tivesse visto ele, ouviu as histórias que o cercavam.

O tio de Fausto, um homem que sempre cobiçou o Diário de Davi. Que sempre quis poder acima de tudo. Ele não pôde herdar o diário devido ao talento do irmão mais velho, e, depois da morte do mesmo, o diário foi para Fausto, alguém que não tinha tanto talento quanto os outros candidatos, mas que era o único que sobreviveu.

Pela própria natureza dos diários, não se podia voltar uma geração na sucessão. Fazer tal coisa era uma mancha a vontade de Davi, algo que os herdeiros juraram manter.

Um trono e uma vontade.

Esses eram os símbolos do clã e quem detinha um deles tinha o poder de decidir o futuro. Por isso que Kruger queria o diário. Pois o velho Patriarca não partiria tão cedo, pois o diário era a melhor forma de conseguir controlar a família.

Davi acreditou nas futuras gerações, acreditou que a família prosperaria. Era um dos motivos pelos quais a geração atual era tão fraca.

A família principal aceitou várias outras sob sua bandeira, cada uma sendo secundária e servindo a uma vontade maior. Mas, depois do patriarca anterior ganhar o cargo, não aceitaram mais ninguém e focaram apenas na linhagem própria.

Os membros da casa principal foram forçados a casar um com o outro, com vários casamentos arranjados pelo patriarca, focando em conceber crianças com os genes ideias…

É por esse motivo que a conexão vinha se tornando fraca. Mesmo que a geração atual tivesse o maior número de Sinas de Sangue, ela pertencia ao mundo.

O Plano Astral era ganancioso e egoísta. Não aceitava que aqueles que abençoou buscassem outros caminhos, buscassem outros fins. Tudo que ele dava, ele pegava algo de volta e, se a pessoa não fosse capaz de pagar o custo, ele tomava de outras formas.

Seja a carne, seja a vida, ele sempre tomava algo daqueles que abusavam de seu poder. Para Davi, que controlou o Diário dos Ferimentos e Chagas com tanta maestria, o preço veio de outra forma.

O Plano Astral era ganancioso e egoísta, e ele sempre achava uma forma de tomar de volta aquilo que usavam.

De uma forma ou de outra.

Por ser aquele que salvou tantos, por ser aquele que foi salvo no final, Davi acabou amaldiçoando sua linhagem, uma maldição vinda direto dos Ladrões de Yw, uma que todo Portador devia enfrentar…

O Plano Astral era ganancioso e egoísta, e, dessa forma, ver aqueles que lhe pertenciam tentar uma rebelião fez com que aquela massa de poder punisse eles.

Davi sentiria vergonha do que sua casa se tornou.

Picture of Olá, eu sou Pedro Tibulo Carvalho!

Olá, eu sou Pedro Tibulo Carvalho!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥